terça-feira, dezembro 20, 2011

Recordar: “Xalim”


"Xalim" e o irmão mais velho (Zé Henrique), antes de um CDSC vs "Oliveirenses", Agosto de 1982;
"Xalim" na sede do CDSC, Maio de 2008.

Sem andar muito longe da verdade é possível afirmar que o “Xalim” foi um dos últimos valiosos frutos do grande e proveitoso “viveiro de futebolistas” em que Santa Clara se transformou ao longo de quase todo o século XX.
De facto, Santa Clara, beneficiando dos espaços livres que existiam, quer junto da sua orla marítima, quer, em especial, dentro do perímetro da “Mata da Doca”, acabou desempenhando um papel muito importante no desenvolvimento do futebol micaelense. Recintos, uns mais improvisados que outros, não faltavam. Só à beira mar, desde o “largo da eira” (mais ou menos onde hoje está o farol, já esteve uma peça que os EUA instalaram em 1917 e antes de um e da outra também lá estiveram os moinhos de vento) até “ao Calço”, já próximo dos “Tanques do Óleo”, com este último campo tendo uma das suas linhas laterais coincidindo com os carris da “locomotiva da doca”, contavam-se pelo menos três. Também os havia na “Mata da Doca”, com o “Campo Açores” à cabeça, mais uns quantos na sua lateral nascente e, ainda – a partir dos anos 60 –, também o “ring do Patronato”. Se não faltavam locais para a prática do futebol, também não faltava quem os utilizasse, sobretudo ao fim-de-semana, em especial ao sábado à tarde, altura em que se verificavam autênticas enchentes, com filas de espera aguardando vez, em consecutivos “perdidos/rua”.
Carlos Silveira, ou “Xalim”, como ficou conhecido para o futebol, integrou ainda uma geração (a última) que obteve usufruto das condições que desde início do século XX fizeram de Santa Clara um fenómeno sócio-desportivo considerável: uma geração que ainda assistiu às últimas edições (versão anos 60/70) dos “Campeonatos de Santa Clara”, então renhidamente disputados pelas equipas do “Calço” das “Cancelas” e do “Farol”, grupos que integrando atletas mais tarde insubstituíveis nas primeiras linhas do CDSC (por exemplo: “Capinha”, Costa Pedro e “Malaco”- com estes dois últimos o “Xalim” haveria, mais tarde, de integrar “onze titulares”), por aqueles anos ocupavam o lugar das que na segunda e terceira década do século XX, patrocinadas pelas “Lojas de Santa Clara”, precederam o futebol organizado em São Miguel; geração que, e sobretudo, pôde ainda, interagir, conviver, herdar vivências e aprender com autênticas centelhas futebolísticas locais, como o “Mestre Artur Garalha” – para referir apenas um exemplo –, que, no caso em concreto do “Xalim”, além de referência, acabou tendo também uma importância capital na sua carreira desportiva.
Desde cedo revelando-se um futebolista bem dotado, ainda muito jovem o “Xalim” passou de assistente ou participante de segundo plano nas clássicas maratonas futebolísticas do “Campo Açores” e do “ring do Patronato”, para figura de primeiro plano nos juniores do CDSC. Foi ainda enquanto júnior, em situação de recurso – a equipa estava a disputar uma prova na Madeira e o guarda-redes titular lesionou-se –, que Xalim passou desempenhar as funções em que se distinguiu.
Era então “Mestre Artur Garalha” o treinador da equipa de juniores, e, conhecendo os dotes que o “miúdo” revelava para a função sempre que para tal era chamado nos “clássicos perdidos/rua” das tardes de sábado, confiou-lhe a guarda das redes naquela excepcional situação.
Foi o início de uma brilhante carreira: “Xalim” rapidamente passou dos juniores à equipa principal – já o CDSC disputava a III divisão série E –, distinguindo-se também no “Os Oliveirenses” (a parte da história mais difícil de contar), ganhando igualmente grande notoriedade na LASA – Liga Norte-americana – já que, passando ao lado do que noutras condições poderia ter sido uma grande carreira, cedo emigrou para os EUA, onde reside.


A.O. 20/12/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Gordura não falta: desde toucinho a tutano




Fartaram-se de falar em “cortar nas gorduras”. Como tema de discurso pré eleitoral o “cortar nas gorduras” foi – e é – assunto sempre presente e conveniente.
Falar, falam – e continuam –, porém quando chega a “hora da verdade” é o que se vê: só o músculo é sacrificado, comprimido, retalhado. Os golpes entraram pela carne dentro. A muitos, à maioria, já atingiram o osso. Só as gorduras, em alguns casos autêntico “toucinho de quatro dedos”, continuam por aí a medrar doentiamente sem que ninguém lhes toque (ou, quando tocam, é com “muito jeitinho” e ainda mais “respeitinho”).
É ver como o chorume por alguns acumulado durante a época de engoda – o BPN é só um exemplo; o mais pungente – continua bem conservado, nalguns casos a secar ao sol, noutros em salmoura, mas sempre resguardado e completamente isento dos cortes pré anunciados. O mesmo já não acontece com o Subsídio de Natal de muitos, da maioria, a quem, sem dó nem piedade – nem as preocupações legais e constitucionais que noutras ocasiões são pretextos para tudo e mais alguma coisa, até para ajudar a ilibar vigaristas e charlatães – já os “chupam até ao tutano”!
É ver a enorme cerimónia com que abordam a possibilidade do agravamento fiscal de alguns artigos de luxo e/ou provenientes de importações supérfluas, sem que o mesmo aconteça quando se trata de bens de primeira necessidade – alimentação e saúde (medicamentos incluídos) são só dois exemplos; os mais comuns – para os mais desfavorecidos, a quem, sem dó nem piedade, já “chupam o tutano”!
Foi ver como nos entreteram com manobras de diversão – ir para a tomada de posse de “scooter”, ou dar publicidade às viagens do PM em classe económica são só dois exemplos; os mais vistosos –, quando na prática pouco mudou, inclusive, logo na primeira oportunidade, um carro topo de gama substituiu a humilde motorizada do “show”.
Gordura também é – ou era – regular e moralizar os contratos leolinos em que assentam as Parcerias Público Privadas, assunto sobre o qual, agora, pouco ou nada se adianta. De facto as PPP’s não são “gordura”, são “toucinho-do-céu”!
Mas, dos mais recentes, o melhor exemplo do falar em “cortar gorduras” para que o pretendido seja chegar com a faca até ao osso – e tudo feito com enorme hipocrisia, como o demonstra a carta enviada às freguesias, se já não bastasse o televisivo sorrisinho cínico – é a “passos/relvista” proposta de reforma para a Administração Local!
Não são necessários documentos verdes, ou livros brancos, para se saber que são as Câmaras Municipais – algumas, autênticos mini governos, ninho de vícios e corrupção, fonte de prebendas, um santuário para prosélitos, afilhados e protegidos – e o conglomerado de Empresas Municipais que pariram recentemente, o grande sorvedouro dos recursos destinados ao Poder Local. Como é público, só as Empresas Municipais (cujo numero em concreto é desconhecido) já acumulam milhares de milhões de euros de divida. Aí sim, há “toucinho” com fartura para cortar e retalhar. É porém pelas Juntas de Freguesia, o músculo, que pretendem começar. Sintomático!
*
“Chupar até ao tutano” é também aquilo que Portugal anda a fazer com os Açores. Agora até o custo das evacuações de emergência feitas nos Açores pela FAP são, como já foi dito, para facturar aos Açores! Triste sina a nossa (açorianos): ocupam-nos o território, por aqui pouco ou nada fazem além de estorvar e enriquecer, para logo nos obrigarem a pagar (sempre caro e com juros) a pouca utilidade que proporcionam.
E que tal fazer um “encontro de contas” com o valor da renda?
A preços de mercado (perguntem à TROIKA) ficaríamos (nós, os Açores e os açorianos) a ganhar, e muito.
Mas isso merece outro tratamento!

A.O. 06/12/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, novembro 23, 2011

É no que dá ir a jogo com “duques”


Duque de "Relvas"


E, como que a ignorância – diabolicamente manipulada – fosse coisa apreciável, lá tentaram mais uma vez “fazer a cabeça” dos portugueses, desta feita, anunciando pomposamente que “missão histórica” da RTP/Açores já está cumprida!
O disparate foi de tal monta (o Relatório, no seu todo e não só nas escassas linhas que aos Açores e Madeira disseram respeito) que nem mesmo “amigos” e correligionários se furtaram a fazer duras críticas, alguns deles, inteligente e oportunamente, dando pública e notória nota das suas divergências: a disputa eleitoral que se aproxima a isso obriga (não é sensato colocar os ovos todos na mesma cesta).
Mas o Adjunto Relvas, embora com cada vez mais dificuldade em esconder as suas despóticas tendências, usando o Mogadouro para comparar o que é incomparável, lá continuou a sua impetuosa senda neocolonialista.
É caso para dizer:
Com certeza que Sua Ex.ª. sabe que não se pode circular, por via ordinária, entre Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta. Mas – pelo menos assim parece – já não é tão certo que SEXA tenha a concreta noção do quanto estão geograficamente afastados entre si os açorianos de Vila Nova do Corvo dos de Vila do Porto, burgos que, distam um do outro quase tantas milhas marítimas quantas aquelas que separam os Açores de Portugal.
Mas há outras questões sobre as quais ficam sérias dúvidas. Por exemplo:
- Terá Sua Ex.ª. consciência que, mesmo tendo os “seus meninos” escrito que a “missão histórica da RTP/Açores” já estava cumprida, ainda há, nos Açores, quem, não obstante pagar as respectivas taxas, não tenha direito a usufruir – por falta de cobertura minimamente decente – daquele serviço?
- Terá Sua Ex.ª. conhecimento que, nos Açores, o Serviço Público de televisão é muito mais do que “o serviço de promoção pública de quem num determinado momento está no poder”?
- Saberá Sua Ex.ª. que, nos Açores, a rádio desempenha há mais de setenta anos a “sua missão histórica”, sem que ninguém tenha ainda dado conta que a mesma – a “missão história” em causa – possa por isso alguma vez ser dispensada?
Sinceramente. Não tenho dúvidas que o actual momento até pode justificar muita coisa, mas não pode justificar tudo!
Pode e deve justificar alguma contenção e grande racionalização: não pode, nem deve, justificar destruição!
Pode e deve justificar um maior esforço de justiça e equidade: não pode, nem deve, justificar cinismo, cobardia, exploração, colonialismo e desonestidade!
É que a “Troika” e os seus ditames parecem tudo justificar. Tudo, desde que as vítimas estejam na base e não no topo da pirâmide social: bastará ver como o realce dado àquilo que se dizem ser os custos de funcionamento da RTP/Açores (e RTP/Madeira) não tem paralelo no que diz respeito ao que se continua a gastar com os “chefões” e as vedetas do universo da RTP SA!
E não é só quanto à RTP que o cinismo dos “Relvas” e “Relvinhas” se revela e confirma. Também a dita Reforma Administrativa, que por imperativo da “Troika” – dizia-se – iria acabar com não sei quantos Municípios e Empresas Municipais, expõe a “valentia” dos que sempre se apresentam fortes e vigorosos para com os mais humildes, mas perfeitamente inofensivos perante os poderosos. Os lóbis “cerraram fileiras” e logo as “exigências da Troika” quanto ao número de Câmaras Municipais, de Empresas Municipais e do excessivo número funcionários municipais (dirigentes, vereadores a tempo inteiro e trabalhadores das E.M.) – tomara, é por aí que se começam a acomodar os “amiguinhos” – saíram “milagrosamente” de cena.
Protegidos “os poderosos”, sobrou para as Juntas de Freguesia – de novo a base da pirâmide –, cujos custos de funcionamento praticamente não tem representatividade no OE. Temos portanto as Juntas de Freguesia, e não os verdadeiros sorvedouros de dinheiros públicos, como “alvos a abater”.
“Pega valente”!


A.O. 22/11/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

sábado, novembro 12, 2011

Pois é... “não se ponham a pau”, não!



Incomoda-me muito menos assistir à forma “mandona” e prepotente como a chanceler Merkel e o presidente Sarkozy tratam os “seus pares” europeus, do que – sobretudo quando acomanhado da indiferença dos que lhes são mais próximos e deles até se dizem seus amigos –, presenciar, ouvir, ou pura e simplesmente apenas admitir terem existido as tão ufanas quanto autoritárias sentenças dos recém chegados “salvadores da pátria”, alguns deles (não tão poucos assim), autênticos “salazarzinhos”, pretensos aprendizes da arte de bem subjugar.
Como é habitual nestas ocasiões, com excepção dos mais poderosos (ou daqueles que ao passarem pelo poder poderosos também se tornaram, pelo menos perante a Justiça: lista que cresce a cada dia que passa), “tudo o que mexe leva”. Para os novos “pais da pátria” (e nisso até o outro - o Salazar “à sério”- se preocupava em parecer mais justo) parece ser mais fácil “sacar” 50% de um salário mínimo a quem ganha pouco mais de 600€/mês, do que retirar uma pensão vitalícia, de milhares de €/mês, que outra origem não teve do que o desempenho, temporário (que quando mais breve fora, tanto melhor teria sido), de um cargo político. Como mais fácil também parece ser sobretaxar um bem de primeira necessidade, tipo água e luz, quando se desfazem em cerimónias para taxar bens de luxo, ou rendimentos privilegiados.
Mas não se pense ser só a este nível que se assiste à enorme degradação da vida democrática, pelo menos tal como a temos conhecido nas últimas três para quatro décadas. É que este afã autoritário nem as instituições poupa. Tal como as Autonomias (dos Açores e da Madeira – das quais nem sou grande defensor: em especial para os Açores ambiciono muito mais), que têm atraindo sobre si fortes e nefastas agressões.
Para não ir mais longe (nem recuar muito):
- Quem já se esqueceu das “corajosas”, “justas”, “muito bem fundamentadas” e “exemplarmente dialogantes” sentenças do Ministro Miguel Relvas, aquando da sua reunião com os deputados eleitos para o Parlamento Açoriano, sobre a “RTP/A, janela”?
- Ou ainda mais recentemente, quando, como se já não existisse Governo dos Açores, Órgãos de Poder Local são directamente contactados pelo Governo de Portugal, para lhes ser pedido parecer sobre a “Reforma da Administração Local”, como se esta, nos Açores, não fosse competência NOSSA.
“Inconstitucionalidades” existem muitas, para todos os gostos e “feitios”. Com os Açores como pano de fundo, algumas, como já testemunhamos, até provocaram interrupções de férias e exigiram cerimoniosos e avultados “temos de antena”. Porém, para outras, não faltarão “orelhas moucas”. Podem ter a certeza!
Por tudo isso, nestes dias, tenho-me lembrado, e muito, daquele sermão proferido por um pastor luterano, em pleno nazismo, que, mais coisa menos coisa, assim rezava:
“Um dia vieram e levaram o meu vizinho judeu. Não sendo judeu, não me incomodei. No seguinte vieram e levaram outro vizinho, que era comunista. Não sendo eu comunista, também não me incomodei. Ao terceiro dia vieram de novo e desta vez levaram um vizinho católico. Como não era católico, voltei a não me incomodar. Ao quarto dia levaram-me: já não havia mais ninguém para reclamar!”
Não, “não se ponham a pau”, não!


A.O. 08/11/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)






quarta-feira, outubro 12, 2011

Mais um aniversário: o sexto


Parece que foi ontem, mas entretanto já passaram seis anos sobre a eleição dos primeiros Órgãos Autárquicos de Santa Clara, o culminar de um longo processo (“a luta” durou meio século) iniciado pelo incontornável Padre Fernando “de Santa Clara” em meados da década de cinquenta do século XX, percurso ora dinâmico, ora silencioso – e também silenciado –, que, como se viu, bem semeado que foi, e por ter sido sempre devidamente alimentado pela férrea perseverança dos santaclareses, frutificou.
Seis anos parecem poucos (quando comparado com o muito que Santa Clara mudou para melhor neste mesmo período), mas, e sobretudo tendo em conta as pretensões daqueles que reverenciando os poderosos não vacilam quando se trata de esmagar os mais fracos (vejam como eles já deixaram de falar em acabar com Municípios – e respectivas gastadoras empresas municipais - e agora só falam de Juntas de Freguesia. Há empresas municipais que gastam mais, e servem menos, do que todas as Juntas de Freguesia do respectivo Município!), e as “nuvens negras” com que se alimentam e dopam, meia dúzia de anos é já tempo suficiente para apresentar um bem representativo balanço.
Ora vejamos (só o mais “grado”, para não nos dispersarmos com pormenores):
Quem não se lembra da “Príncipe do Mónaco”, de como aquela nobre via de Ponta Delgada era, e de como agora está (desde “as Cancelas” até ao Ramalho”)?
E quem se pode esquecer da enorme “armadilha” que constituía o entroncamento na saída da “envolvente a Ponta Delgada”, agora substituído pela “Rotunda Vida Nova” (assim já é habitual chamar-lhe), que a Norte da “Príncipe do Mónaco”, entre o mais, ordena e disciplina a passagem de veículos em direcção a Santa Clara, em especial o grande fluxo de transito pesado originado pelo Porto de Ponta Delgada?
E do degradante baldio, autêntica “sala de chuto a céu aberto” em que estava transformado o que restava da “Mata da Doca”, zona que hoje, reabilitada, se metamorfoseou no pitoresco, ameno, frondoso e agradável “Jardim Padre Fernando”?
Ou do velho “Caminho Velho do Ramalho”, antes impróprio até para peões, mas já – embora ainda não concluído –, completamente melhorado, com passeios e espaços de estacionamento, que assim irá proporcionar mais conforto aos seus utentes e residentes?
Mais podia já estar feito (recordo a 2ª Rua de Santa Clara e a Rua do João do Rego: birras, teimosias e as naturais complicações o impedem) e mais terá de ser feito (do “Matadouro” o pior já passou, e para os “Tanques do Óleo” o 2013 já está a chegar), mas o que já está resolvido permite apresentar um balanço com resultados altamente positivos.
Porém não é só o que está à vista aquilo que valoriza este balanço. No seu “Deve” e “Haver”, para além das coisas, há também que salientar o projecto e as pessoas. De forma especial estas últimas, que são principal activo a valorizar nesta, e em muitas outras prestação de contas. Neste sentido, nunca é demais repetir que a gestão da Freguesia de Santa Clara assenta num projecto de cidadania, não subordinado aos habituais interesses político-partidários – ou, dito de outra forma, colocando sempre muito acima destes os reais interesses de Santa Clara (que pena alguns, uma minoria felismente, não perceberem isso!) –, um desígnio de participação cívica, de mobilização, de proximidade e grande interacção com a comunidade, e cujos resultados já são perfeitamente visíveis: é assim com a elevada participação na discussão dos problemas nucleares da freguesia; assim é quando há que mobilizar para chamar a atenção e agitar consciências sempre que a freguesia é discriminada ou vítima de falsas promessas; assim foi para minimizar, e praticamente tornar residual um grave problema de tráfico de estupefacientes que, às claras, e durante largos anos, incomodou e envergonhou toda a comunidade; assim tem sido, e será, na organização e promoção de variadas acções, eventos que honrando Santa Clara extravasam as fronteiras de Ponta Delgada e dos Açores. E tudo com conta, peso, medida e endividamento ZERO: esta é que é esta!
Parabéns!
A.O. 11/10/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, setembro 28, 2011

Faltou o cartaz de boas vindas




Fazendo lembrar “velhos tempos”, de forma especial os da transição da década de 20 para a de 30 do século XX, começa a ganhar embalagem um pesado “rolo compressor”, ultra-centralista, que outra finalidade não tem do que esmagar a escassa autonomia entretanto conseguida. Tal como no advento do “Estado Novo”, a crise e os seus fantasmas estão a transformar-se no combustível ideal deste “espremedor”, um comburente que fica fortemente aditivado quando para além do mais a mescla é amparada por governantes portugueses com propensão autoritária.
Ultimamente – nalguns casos servindo de útil manobra de diversão com o intuito de relegar para segundo plano questões bem mais graves – não têm faltado demonstrações do imperial funcionamento da “trituradora”. A pretensão de transformar a RTP/Açores (a "RDP/A" tem sido pouco referida mas é também alvo de similar esmagamento) em janela “seja lá do que for”, tal como a oportunidade e a forma com que a “sentença” foi proferida, são disso bom exemplo.
Muitos outros exemplos não faltam, rivalizando em numero e espectacularidade com as, anormalmente frequentes, demonstrações de ignorância sobre a realidade dos Açores (e da Madeira) a que vamos assistindo com espanto, sobretudo quando oriundas de donde menos se esperaria. A recente visita para exibição de soberania, tal como o farto conjunto de patacoadas que gerou, não constituiu excepção a esta regra. Aliás, o oportuno passeio de um séquito de mais de meia centena de cortesãos e cortesãs às “Ilhas da Coesão”, que, como convinha, não poderia deixar de terminar em Ponta Delgada (“não tivesse Natália Correia sido cremada e, com certeza, no sábado passado não pararia de andar às voltas no caixão”, escreveu e tem dito, de forma mordaz, mas com graça, pessoa amiga), só foi excepção aos sacrifícios e à contenção de custos que por via da crise são constantemente recomendados e exigidos (aos outros). Claro que como não podia deixar de ser – está nos manuais: embora o Império devolva sempre menos do que aquilo que da parcela retira, as “ofertas” de contrapartida deverão ser feitas de modo a manter a aparência de que, não fora o ocupante, a “feitoria” jamais garantiria a sua subsistência –, à laia de justificação prévia foi dito que a pomposa viagem serviria para promover os Açores e os seus produtos.
Trocando o sério pelo irónico, resta dizer que os Açores foram de facto promovidos:

- Santa Cruz da Graciosa ganhou, de um momento para o outro, uma catedral;

- Os portugueses ficaram a saber que as vacas açorianas conseguem sorrir;

- E, até, o generoso “Queijo de São Jorge”, mesmo que reduzido a apenas dois quilos (foi o que se chamou fazer o "queijo de peso” perder peso) ganhou tempo de antena.

Faltou apenas – com grande pena minha – um merecido cartaz de boas vindas. Qualquer coisa do tipo: Obrigado Sr. Presidente: pelas suas birras, pelos seus vetos. / Desculpe lá se alguma vez teve de interromper férias por nossa causa. / Na próxima, não se esqueça, traga também os Loureiros, os Costas e todos aqueles amigos que nos estão a obrigar a “tapar um buraco” igual ou ainda maior do que o da Madeira. / Volte sempre (de preferência a expensas suas).


A.O. 27/09/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, setembro 13, 2011

Anthero de Quental (18/04/1842 – 11/09/1891)


Solar do Bom Despacho, Rua direita do Ramalho, Santa Clara - Ponta Delgada - Açores
Propriedade pertencente à famíla de Antero de Quental, e por ele muito visitada

Casa onde nasceu Antero de Quental. Rua do Castilho, São Sebastião - Ponta Delgada - Açores

Por ser o nosso maior, porque nunca é demais recordar Antero, permitam-me que, com sua e vossa licença, o convoque aqui para este espaço.
Antecipadamente agradecido.
Ponta Delgada, 11 de Setembro de 2011

Excertos da carta autobiográfica enviada a Wilhelm Storck, Maio de 1887

“Nasci nesta ilha de São Miguel descendente de uma das mais antigas famílias dos seus colonizadores, em Abril de 1842.

(…)
Dela saiu, no século XVII. O Padre Bartolomeu de Quental, varão douto e de grandes virtudes, fundador, em Portugal, da Congregação do Oratório, e cujos sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade. Meu avô, André da Ponte de Quental, foi da roda de Bocage, e, segundo o testemunho deste, poeta nada vulgar; infelizmente, nada resta das suas composições porque as não escrevia. A sua reputação morreu com ele.
(…)
Morrerei, depois de uma vida moralmente tão agitada e dolorosa, na placidez de pensamentos tão irmãos das mais íntimas aspirações da alma humana, e, como diziam os antigos, na paz do Senhor! – Assim o espero.”
Fotobiografia, INCM, Abril de 1986

E três sonetos mais ou menos a eito:

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Sonho oriental

Sonho-me às vezes rei, n’alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha…

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente …
Lambe a orla dos bosques vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha…

E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n’um cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descalça debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.

Aspiração

Meus dias vão correndo vagarosos,
Sem prazer e sem dor parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.

Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém, do pressentir dá-ma a certeza,
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!


A.O. 13/09/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

(um destes dias, após me decidir por quais, coloco mais um ou dois sonetos do "santo")

sexta-feira, setembro 09, 2011

terça-feira, agosto 30, 2011

Os mesmos tiques de sempre




Portugal não é um país pequeno, diziam então.
Também posso dizer: nem os Açores serão!



Em tempo de “vacas gordas”, mesmo quando artificialmente engordadas, há um conjunto de “tiques”, reveladores de outros tantos preconceitos – no caso, mais do que isso, são claras manifestações neo-coloniais –, que com maior ou menor dificuldade conseguem ser disfarçados. Porém, quando a crise “bate à porta” – o fazer “cair máscaras”, tal como o “aguçar do engenho”, são das poucas vantagens das crises – sobejam, por vezes surpreendendo, as grandes revelações. Muitas delas insólitas!
Não há muito tempo, no decorrer de uma entrevista ao actual Ministro das Finanças de Portugal, a jornalista – Judite Sousa, se não estou em erro – instou o ilustre entrevistado a “ter mãos neles”. “Eles” eram o Governo dos Açores e da Madeira, Órgãos de Governo Próprio, meia volta/volta e meia tidos ou confundidos com uma simples autarquia, vezes sem conta referidos como Órgãos de Poder Local, e, porventura vingasse a vontade de alguns, “qualquer coisa” a ser completamente subjugada (umas vezes pela disciplina partidária outras pelo emaranhado do quadro politico/legislativo, pois importante mesmo é que sejam “autónomos”, mas não muito. Basta que conste!).
Em abono da verdade deve dizer-se que o governante em causa, não obstante a forma tendenciosamente dirigida como a questão lhe foi colocada, não amesquinhou, ainda mais, o Estatuto de Autonomia, forma de Lei que ao invés de progredir, de se consolidar e valorizar, tem sentido enormes dificuldades em se libertar das grilhetas que, de uma ou de outra forma, insistem em colocar-lhe. A mesma verdade manda também dizer que Alberto João Jardim se tem farto de dar trunfos aos adversários das autonomias: uma pena, porque aquele estilo destemido, e o correspondente “falar grosso”, fazem falta. Bom, mas deixemos a Madeira para os madeirenses!
Quanto aos Açores, nunca é demais lembrar a quem finge insistentemente esquecer, que ao contrário do que alguns gostam de fazer crer, é – e de maneira geral sempre foi – muito maior a contribuição daqui originária para “o grande império” do que aquilo que dele, “império” (em formato grande ou minúsculo), reciprocamente, aos Açores chega. Monta que apesar de tudo poderia aumentar substancialmente não fora a forma aparentemente displicente – há que disfarçar para melhor “vender por baixo da mesa” – com que “o senhorio” negoceia a justa valia da “enorme quinta do meio do Atlântico” com os senhores do “mercado internacional”.
Exemplos não faltam, com um dos últimos, a acontecer já no advento da crise de 2008, fazendo dos Açores, “a insignificante autarquia” – vejam lá se escolheram Lisboa, ou até mesmo Beja? – palco onde Durão Barroso (acompanhado de Bush, Blair e Aznar) se colocou “em bicos de pés” perante o Mundo e a Europa. Ele ainda hoje tira disso dividendos, para os Açores, além dos riscos, ficaram apenas as imagens!
Pior do que as crises que fazem vacas emagrecer são as crises de crescimento, e com estas os Açores têm uma má relação. Diria mesmo que a Autonomia dos Açores quando atinge a idade madura em vez de se fortalecer, “é deitada ao chão” (a Autonomia, não evoluindo, tende a apodrecer). Foi assim com Salazar (finais da década de 20, inicio da de 30 do século XX, com o fim da moeda própria anunciando o “golpe de misericórdia”. Eram também tempos de crise!) e assim, de novo, tentarão que seja. Sinais não faltam: é a crise; é a condescendência aos estilos autoritários (o consulado de Sócrates foi disso inusitado paradigma); e, “last but not the least”, uma conveniente troika: um Presidente, um Governo, uma Maioria (em estreia após “o tempo da velha senhora”).
“Aguçar o engenho”, sim. “Botar sentido”, também!



A.O. 30/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


quarta-feira, agosto 17, 2011

Conveniências, conluios: há quem lhes chame coincidências


Outras Troikas, que com trocas e baldrocas criaram a aprofundaram o buraco BPN



A "instalação Bidão", a ganhar "patine" para se candidatar ao "CMC Niemeyer"


Fotos "roubadas" na net, a do "Bidão" no FB do João Raposo

Existem assuntos sobre os quais, por mais que prometa a mim mesmo não voltar a eles, atazanam-me de tal forma que quando dou por mim já falhei ao prometido.
Seguem-se dois bons exemplos:
1 – O BPN, que apesar de parecer já antigo, porque se reinventa, torna-se inesgotável – com cada fase mais bizarra do que a anterior – mantendo-se sempre actual!
Onde é que vão as centenas de M€ que Miguel Cadilhe pediu (em forma de aval) para dar solução ao assunto? Quantos mil M€, no entretanto, já ali foram “enterrados”? De Miguel Cadilhe – tire-se-lhe o chapéu, pois não fora ele a “agitar o lodo daquele pântano”, talvez hoje nem os “casos de polícia” (que se irão eternizar qual Casa Pia e outros que tais) existissem – já nem se fala. Não descansaram enquanto o não neutralizaram. Como já não se fala de Victor Constâncio, o ineficaz “fiscalizador”, promovido que foi, e agora no BCE, à distância, melhor do que nunca para continuar a “ver a banda passar”. Teixeira dos Santos vai pelo mesmo caminho. Só do BPN, mesmo depois de mudar de nome, dificilmente se poderá deixar de falar. Nacionalizaram o que era “doloroso” deixando “escapar” o que podia valer alguma coisa (a SLN), como quem diz, à descarada: o Passivo pagam todos, os Activos é para “eles se abotoarem”. O problema aqui – que não é de somenos importância – é quem são “eles”: um qualquer “desgraçado” falha um pagamento e logo lhe penhoram a conta bancária, a casa, e o mais que houver. Mas Dias Loureiro, por exemplo, já não tem bens (em seu nome) que possam servir de garantia para o normal desenrolar da investigação em curso. Agora, para “rematar o ramalhete”, a reprivatização segue os mesmos moldes. O que não presta foi de novo repartido por TODOS, para ALGUÉM – e nunca alguém é só alguém – comprar “chicha” pelo preço “da uva mijona”! “Tolos a dar, espertos a aceitar”, não custa entender. A questão é que, ou há quem saiba explicar tudo isso muito bem, ou não convencem – ninguém – que isto “não está tudo ligado”!
2 – Quem diria que a requalificação da 2ª Rua de Santa Clara, uma promessa eleitoral de Setembro de 2005 – “Estou certa que com a requalificação que defendemos e que iremos desenvolver desde a rotunda de Santa Clara até ao inicio desta via, quer a freguesia de Santa Clara quer a própria Relva não mais serão as mesmas.”-, ainda para mais quando associada a uma provocação logo depois muito difícil de digerir – “Esperamos agora que o Governo possa também cumprir a promessa de requalificação da Avenida Príncipe do Mónaco (…).”–, e ao longo dos tempos sempre reforçada com um – “cumprimos o que prometemos” –, o que como se vê, infelizmente, não se aplica a todos, passado todos estes anos estivesse ainda por cumprir?
Um conjunto de “azares” e burocracias, dizem, está na origem deste crónico incumprimento. “Azares” sucessivos, digo eu, que por mero acaso (ou não), ao que parece, só acontecem em Santa Clara. Coincidências! Noutros locais, e para outros destinatários, não faltam empenhos, esforços que chegam ao ponto de “contornar” o PDM, ou a desmanchar e refazer o que foi recentemente feito! Só para a 2ª Rua de Santa Clara não há “mãos à obra” neste "Concelho Feliz" que lhe valham. Coincidências! E as coincidências ficam por aqui, agora, porque não é tempo de referir outras “coincidências”.
Consequência de sucessivos “azares” e burocracias não será com certeza, também, a prolongada “distracção” que votou ao abandono os “bidões” colocados para sinalizar a derrocada da “Rocha da Nordela”. Velhos, enferrujados, podres, carregados de lixo, passados cinco anos eles lá continuam. Para a segurança do local contribuem pouco – está provado –, o que não deixam de ser, feliz ou infelizmente, é um forte de sinal de desmazelo (só muito recentemente minimizado com uma "limpeza" de ocasião) e do óbvio incumprimento de promessas recorrentemente anunciadas, para logo serem adiadas. Seis anos. É muito tempo! Como seria se todos fossem assim?

A.O. 16/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, agosto 02, 2011

A “Fontinha da Alta”


A "Fontinha da Alta" (em 1947), o seu proprietário, e João Mariano (filho do distinto jogador e Capitão do CDSC nas décadas de 30 e 40), ainda de bibe e "xucha" ao pescoço.
"Clikando sobre a foto esta aumenta, mostrando pormenores"


Nos finais da década de 40 início da de 50 do século passado, bem “no coração” de Santa Clara, já depois do Largo da Igreja, após percorridos os primeiros cem metros da 2ª Rua de Santa Clara, quem por ali circulasse deparava-se com a “Fontinha da Alta”, uma “Chic” Cervejaria/Café, referência em Ponta Delgada nos estabelecimentos do ramo. Licores finos, reputadas marcas de vinhos do Porto, champanhes, espumantes, outros vinhos licorosos, vasta e requintada doçaria, um esmerado serviço – imagem de marca do proprietário – e a discrição e tranquilidade que aquele espaço proporcionava, apresentavam-se como vantagens competitivas apreciáveis, seriamente prezadas pela significativa clientela que, vinda de Ponta Delgada, da “Fontinha da Alta” faziam local de culto e paragem tão tranquila quanto retemperadora. Futebol e política (esta especialmente discutida sob um ponto de vista conservador, bastas vezes saudoso dos tempos da monarquia) eram temas frequentes nas tertúlias da “Fontinha da Alta”.
António José Carreiro e Silva, “o Sr. Antoninho Carreiro” como era conhecido em Santa Clara, proprietário e promotor do projecto, expandira naquele sentido o negócio que já há muito dedicada e meticulosamente geria, com o novo empreendimento a ser levado a efeito paredes meias com a sua original “loja”, um ícone já então contando mais de três décadas, umbilicalmente ligado aos “Campeonatos de Santa Clara” e com estes ao popular fenómeno sócio desportivo ocorrido pelo menos entre 1917 e 1922, sucessão de “desafios” vs “desforras” e outros episódios que desempenharam um importante papel na promoção e divulgação do futebol em São Miguel, culminando na organização associativa da modalidade.
De facto os “Campeonatos de Santa Clara” tiveram as “lojas” da localidade como núcleo agregador, organizador e patrocinador das equipas que os disputavam, e destas, por factores que tinham a ver com concorrência comercial, mas também com óbvias divergências politicas entre os proprietários – “o sal” da rivalidade das equipas que ambos representavam –, duas destacavam-se como as grandes animadoras daquelas renhidas disputas: a loja do Sr. João Travassos, estabelecimento que não obstante depois conhecer muitos outros administradores continua a desempenhar actividade similar no mesmo local (Largo da Igreja); e a loja do Sr. “Antoninho Carreiro”, que já não existe, com o prédio que a comportava hoje apenas destinado a habitação, transformação que só aconteceu após o falecimento do proprietário (Abril de 1974), não sem que antes, na senda da cuidada gestão que era apanágio do seu detentor, o negócio se ter expandido, dando lugar ao requintado Café/Cervejaria que é mote destas linhas, cuja firma, “A Fontinha da Alta”, isso mesmo parecia indicar logo à partida.

Fazem falta “Fontinhas da Alta” em Santa Clara, mas adiar sistematicamente promessas como a de proceder há urgente e necessária requalificação da 2ª Rua de Santa Clara, por muito esforço que outros façam, em nada contribuiu para o colmatar desta, e de outras carências.
Quando será que, em Santa Clara, as “Mãos à Obra” deste “Concelho Feliz” transformam velhas promessas, já estafadas de incumprimento, em realidades levadas à prática?

A.O. 02/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, julho 19, 2011

Promover os Açores e os açorianos





Fotos: Só a primeira é minha (Curva dos Carvalhos, Sete Cidades, "Volta à Ilha S. Miguel", início da década de 70)
As três seguintes são do João Luís Raposo, a última foi "roubada" no FB (A Bandeira).


[Mesmo quando a foto não a capta, há sempre uma outra bandeira a ondular ao vento, hasteada mais alto]

O automobilismo, de forma muito especial o “Sata Rally Açores” – onde já vai a “Volta à Ilha de São Miguel”? – tem sido um eficaz meio de promoção dos Açores e dos açorianos.
Há uma estratégia de gestão de espectáculos, tipo aquela em regra utilizada no universo circense onde não obstante os artistas serem provenientes de vários quadrantes do Globo a origem da Companhia fica sempre associada à dos seus empresários, que se levada ao extremo, consome recursos sem deixar sementes que germinem no futuro. No Circo, que tem a sua raiz na itinerância, isso até faz algum sentido. Mas é exemplo que não pode nem deve – como alguns defendem – ser extrapolado para outras áreas. Importar “artistas” (o mesmo se aplica aos outros profissionais do “métier”), geralmente com grande esforço e dispêndio de meios, para fazer algum sentido deve exigir que estes, de qualquer modo – de preferência obedecendo a um plano previamente delineado – contribuam para ajudar a “fazer crescer” aqueles que por cá despontam, enriquecendo-os com o seu saber e aptidão, potenciando assim a valorização e promoção dos recursos e capacidades endógenos/nas. No mínimo, há que garantir que a sua passagem e/ou permanência venha estimular, e desenvolver, análogas competências locais. O automobilismo nos Açores tem sido um bom exemplo disso!
Já passaram aos anais da História os pioneiras desempenhos de Toste Rego, Labieno Machado, Faria e Maia, e, até, Raul Mendonça, todos eles ao volante dos carros com que faziam o seu “dia a dia”.
Numa fase subsequente, de transição algo longa, foram surgindo mais uns quantos entusiastas da modalidade, alguns deles dotados de elevadas capacidades, pilotos que inseridos noutros contextos, com certeza, teriam ido bastante mais além. Destes, pela sua longevidade na prática da modalidade, mas também porque é aquele que melhor fez a ponte entre os “históricos” e os actuais, permitam-me destacar o Horácio Franco.
Hoje estamos decididamente numa outra era, e nesta o Ricardo Moura tem patenteado grande classe, exibindo-se, mesmo quando fora dos Açores, a um nível que mostra o quanto ele mereceu a oportunidade que conquistou, demonstrando também que, se porventura tivesse sido desobstruída mais cedo a “janela de oportunidade” que merecidamente agarrou, maior ainda poderia ser o brilhantismo com que promove Açores e açorianos.
Neste sentido a última edição do “Sata Rally Açores” foi um bom exemplo disso: em primeiro do Grupo N, um açoriano – Ricardo Moura –, e também em primeiro mas do Grupo A, um escalão mais baixo (mas não menos interessante nem competitivo), outro açoriano – Paulo Maciel –, que sem dar a mínima hipótese à concorrência (muito melhor apetrechada do que ele no que à máquina diz respeito), foi inexcedível.
Sem com isso pretender desmerecer o brilhante desempenho do Ricardo Moura, é impossível não dar realce especial à excelente prestação do Paulo Maciel, que, em crescendo e de forma tão consistente quanto regular, vem construindo uma carreira já a merecer – diria mesmo exigir – mais e melhores apoios, e em consequência a possibilidade de competir noutros palcos (talvez mesmo a um nível superior).
Se o “Sata Rally Açores” foi mais uma vez um bom veículo de promoção dos Açores, as participações do Ricardo Moura e do Paulo Maciel – que me perdoem outros – honraram os Açores, e encheram de orgulho os açorianos.


A.O. 19/07/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, julho 05, 2011

Açorianos vs ingleses: a primeira vinda da RAF a Ponta Delgada


Foto (imprensa da época) da equipa da RAF, e brazões dos dois Esquadrões RAF que em 1945 e 1946 estiveram nos Açores


Hoje em dia já são poucos aqueles que podem testemunhar – ou se recordam – do que era, nos Açores, disputar uma partida de futebol após uma longa viagem de barco. Tempos houve em que com alguma regularidade (anual) as disputas entre equipas de diferentes ilhas, de forma especial entre as de São Miguel, Terceira e Faial, só se faziam após longas horas de navegação, não sendo assim tão raras as ocasiões em que o jogo se realizava logo após o desembarque. Recuando um pouco mais no tempo, o mesmo também aconteceu com a disputa de jogos entre açorianos e madeirenses, e, embora ainda mais raramente, e com viagens mais difíceis e longas, há também os casos das viagens marítimas de alguns clubes portuguesas aos Açores, e de outros tantos açorianos a Portugal. São disso primeiros exemplos a vinda aos Açores do “Casa Pia” (em 1921, então Campeão de Lisboa em título), e a ida do Clube Desportivo Santa Clara (em 1935, já Pentacampeão Micaelense: uma notícia anunciando-o em Portugal como “Campeão Açoriano” em título despoletou uma polémica de enorme grandeza) para a alargada digressão durante a qual defrontou, ainda no Campo das Amoreiras, o S. L. Benfica, naquele ano Campeão de Portugal (derrota por 11-2, com 4-2 ao intervalo).
O transporte aéreo veio facilitar, e muito, o intercâmbio desportivo (não obstante ainda hoje em dia as viagens serem apontadas como forte handicap), datando de 1945 a primeira vez que o futebol, nos Açores, usou o avião como meio de transporte.
De facto, completam-se esta semana 66 anos sobre a data em que uma equipa da Royal Air Force, vinda da Terceira, aterrou em São Miguel expressamente para disputar dois jogos de futebol.
A iniciativa – numa primeira fase fruto de contactos estabelecidos entre a Direcção do Clube Desportivo Santa Clara e o Delegado Marítimo Britânico em Ponta Delgada – que depois de cuidadas e diplomáticas diligências acabou rapidamente passando para o âmbito da Associação de Futebol de Ponta Delgada, obrigou a organização de duas selecções locais, “Os prováveis” e “Os possíveis”, esta última maioritariamente constituída por jogadores do CDSC: Mariano de Sousa, Manuel Pedro, Manuel de Sousa (Americano), Artur de Sousa (Garalha), João Vicente (Ratana) e José Vicente. Integraram ainda “Os possíveis”: João Maciel, Alírio Fontes, Manuel Azevedo, Tomás Azevedo (Talefa), todos do Micaelense Futebol Club, e António Duarte do Marítimo Sport Club.
Na equipa “Os prováveis” destacavam-se: Armando Goyanes, Manuel Salsa, Bento Macedo, Manuel Maria, Reinaldo Simões, Alberto Ferreira, Hélder Miranda, Humberto Correia, João Casanova, João de Medeiros e Norberto Pacheco. Uma e outra contavam ainda, como suplentes, com: José Pacheco, Manuel Luís, Carlos Lopes, Hugo Correia Machado e Francisco da Costa Santos.
A equipa da RAF valia desportivamente quase tanto quanto o valor tecnológico do meio de transporte que utilizou, integrando-a os seguintes jogadores: Harrison, Burton, Grant, Potter, Nudle, Gilloney, Nuncie, McAnally, Bowers, Mitter e Lambert, sendo os cinco últimos todos jogadores profissionais, e Lambert, para além de profissional, um dos notáveis internacionais ingleses de então.
O resultados dos dois jogos disputados – 6/1 no da estreia contra “Os possíveis”, e 2/0 dois dias depois contra “Os prováveis” – espelharam bem a diferença do futebol patenteado por ambas as partes, rezando as crónicas que foi João Maciel, e as suas espectaculares defesas, o que mais contribuiu para o aparente equilíbrio do derradeiro e mais aguardado jogo.

A.O. 05/07/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, junho 21, 2011

Porque hoje é 21 de Junho




No hemisfério Norte o 21 de Junho coincide em regra com o Solstício de Verão. Este ápice místico e mítico, ancestralmente relacionado com a pujança e fertilidade, mesmo depois de cristianizado, com "a bênção" de S. João Batista, continua encontrando na folia, nas fogueiras e no orvalho matinal, referências actuais para a sua celebração. O momento é também fonte de bons presságios, de abundância, e, remetendo para o “Sol Invictus”, vaticínio de vitória.
Há coincidências? Claro que as há! Mas não acredito que tenha sido simples coincidência – sobretudo tendo em conta o saber e a cultura de indivíduos como o Dr. Lúcio Agnelo Casimiro, o Capitão Eduardo Reis Rebelo e o Tenente João Joaquim Vicente Jr. – a escolha do dia 21 de Junho de 1927 para a realização da AG de fundação do Clube Desportivo Santa Clara, um processo que então já decorria há mais de um mês.
De facto, na sequência a expulsão do Santa Clara Foot-ball Club da Associação de Foot-bal de San Miguel (12/03/1927), e mesmo depois de o Sport Club Santa Clara ter sido aceite na AFSM como sucessor e continuador do “velho Santa Clara” (30/03/1927), um ilustre grupo de cidadãos de Ponta Delgada, procurando apaziguar e reunir as facções santaclaristas desavindas, empenhou-se competentemente na constituição e organização do “Santa Clara” que chegou aos nossos dias. Assim, depois de a 12 de Maio de 1927 ter sido nomeada uma Direcção Interina (Eduardo dos Reis Rebelo, João Joaquim Vicente Jr., Humberto Pacheco Botelho, Álvaro Pimenta dos Santos e José Cardoso), o estabelecimento do CDSC conheceu o seu ponto mais importante na AG que, sob a Presidência João Joaquim Vicente Jr., aprovou os Estatutos de Fundação da nova colectividade (21/06/1927), documento que obteve o Alvará do Governo Civil a 29 de Julho de 1927, e levou à eleição dos primeiros O.S. do clube (5/08/1927), que ficaram assim constituídos: AG – João Batista Rodrigues, Jacinto Medeiros de Sousa e Carlos Manuel Simões; Direcção – Eduardo Reis Rebelo, João Joaquim Vicente Jr., Humberto Pacheco Botelho, Álvaro Pimenta dos Santos, José Cardoso, Ivo José Custódio e Carlos Augusto Raposo; CF – Manuel Inácio de Sousa, Júlio César Ferreira Pacheco e Amável de Medeiros Casanova.
No entretanto o CDSC havia feito chegar à AFSM uma missiva solicitando a sua inscrição naquele organismo, carta de Maio de 1927, escrita e assinada pelo punho de Eduardo Reis Rebelo, e que referia clara e textualmente (os documentos e a atenção aos seus pormenores ajudam muito no dissipar das dúvidas): “Tendo-se fundado nesta cidade uma nova agremiação desportiva com o nome de «Clube Desportivo Santa Clara» pretende a mesma ser inscrita nessa Associação (…)”.
Para além dos “Santas Claras” filiados na Associação: o Santa Clara Foot-ball Club, o Sport Club Santa Clara e o Clube Desportivo Santa Clara, há ainda o fenómeno sócio desportivo “Santa Clara”, e, aí sim, com este podemos recuar - à vontade e de forma séria - uma década.
Remontam pelo menos ao “four July” de 1917 os “Campeonatos de Santa Clara”, com o ataque do U 155, a pronta resposta da tripulação do “Orion” afugentando o submarino alemão, e algumas das consequências daí advindas, condicionando uma das importantes “Desforras” daquele Verão.
Com “os americanos no Field Azores” o futebol em Santa Clara esmoreceu, para voltar a reaparecer, em força, em 1919.
Em 1920 “brilhou” o Sport Club Terror. Ainda em 1920, mas sobretudo durante 1921 (já com Joaquim de Sousa por perto) apareceu o Ginásio Club Micaelense / Instituto de Educação Física. No Verão de 1922 (também com Joaquim de Sousa no processo) a União Sportiva dos Empregados do Comércio transformou-se em Club União Sportiva. Só depois disso, em Outubro de 1922, e de novo beneficiando das boas graças de Joaquim de Sousa – ainda Alferes – o primeiro dos três “Santas Claras” federados fez a sua estreia, e fê-lo com vitória folgada: uns expressivos 4-0 sobre o “velho e temível Terror”.
Passados alguns meses, em Março de 1923, a Associação de Foot-ball de San Miguel dava também os primeiros passos. Tenho-o dito!

A.O. 21/06/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, junho 07, 2011

2011: um 6 de Junho diferente


Saber Açores, nº55, Junho de 2004








6 de Junho: 1975, 1976, 1977, 1978 e sempre



Ontem (hoje quando escrevo) foi 6 de Junho – mais um, o 36º após o histórico 6 de Junho de 1975 –, por coincidência ou talvez não (no caso, mais do que o Divino Espírito Santo foi o Senhor Santo Cristo dos Milagres o determinante), um 6 de Junho cujo “day before” tenderá ofuscar-lhe, ainda mais, a visibilidade e dimensão que deveria ter, e não tem!
Na presente conjuntura, e em falta de “uma marca política açoriana” mais genuína (mas aglutinadora o suficiente para marcar posição), valha-nos a diferença horária, já que tem sido esta, mais do que a completa “mão cheia” de deputados por cá eleitos, o que nos Açores contribuiu de forma bem visível no condicionar da vida política portuguesa, sobretudo em dia de eleições. É a consolação dos subjugados: deixar Portugal suspenso durante uma hora. Adianta muito pouco, mas não deixa de ser uma consolação!
Quanto ao resto, nestes penedos, não obstante o variar da cor predominante no habitual 3x2, não existem – nem agora são de esperar – grandes diferenças. A não ser para os próprios, num dos casos, salvo erro, já com pelo menos dois recordes acumulados: o da antiguidade na função, e o de ser, actualmente, o único que deputou nos dois diferentes regimes. Tirado isso, e apesar da indiferença da maioria; da grande euforia de uns; da preocupação de outros; e da justificada tristeza de uns quantos (por uma unha negra Artur Lima não fez a diferença), no que de importante há para resolver, os avanços são poucos ou nenhuns. Se não vejamos:
Quase quatro décadas depois o “papão do fascismo” – como que por ironia do destino vertido em texto constitucional que se pretendia libertador – é ainda uma das alegações que continua a obstruir os açorianos de, por forma legal, lutarem pela sua total emancipação. Um escárnio! E a situação é de tal vilipêndio que chega ao ponto, passado todo este tempo, de não ser necessário andar nem procurar muito para se encontrarem, ainda, referências – até toponímicas – em louvor da “Revolução Nacional” de 1926, ou do “Estado Novo”. Porém, e à luz da actual Constituição Portuguesa, continua sendo fascista quem defende a Independência dos Açores. Parece anedota: é equivalente a fascismo defender a Independência dos Açores, mas, “democraticamente proibido” criar partidos açorianos. Isto, 37 anos após o 25 de Abril!
Por tudo isso, na falta de melhor e jogando pelo seguro, um VIVA para o fuso horário e outro para o anticiclone. Assim, quando, mais dia, menos dia, for inconstitucional, e logo proibido, que a hora dos Açores seja diferente da hora de Portugal, só nos restará o anticiclone: bem mais difícil de ser condicionado pela Constituição Portuguesa. Uma Constituição, dizem os entendidos, avançadíssima. Que permite quase tudo: aos políticos constituírem-se em casta prenhe de direitos e mordomias sem que a tal corresponda deveres e obrigações proporcionais; aos interesses instalados terem trocado o escudo pelo euro, mesmo sem consultar os óbvios e principais prejudicados; e, até, à “Troika”, governarem por procuração depois de terem obrigado os seus delegados a realizarem um acordo prévio, ao que parece, “assinado de cruz”. Uma Constituição exemplar como se vê, que só não permite uma coisa básica e fundamental: que o Povo dos Açores – e já agora o da Madeira – se organize politicamente tendo em vista a sua emancipação e total autodeterminação.
Só mesmo com um novo 6 de Junho, mas desta vez reivindicando conquistar Portugal.
Em 1975, gritando por Independência conseguimos uma “autonomiazinha”. Quem sabe se agora, ameaçando conquistar Portugal, não obtemos a Independência?




A.O. 07/06/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, maio 24, 2011

Mar, submarinos e informação entretanto desclassificada


Nunca como nos últimos tempos – Cavaco Silva deu o mote, os seus obedientes seguidores encarregam-se de retransmitir a mensagem, e a campanha eleitoral em curso ajuda na sua amplificação – se tem falado tanto do mar. É o “novo nicho de mercado”; o mais recente “El Dourado” português; uma das fórmulas mágicas para o messiânico crescimento económico; aquele que será um dos caminhos para debelar o malfadado deficit; a solução para salvar Portugal da bancarrota, etc., e tal. O que não se diz, nem convém que muitos o saibam, é que quase todo este mar é Mar dos Açores. Sim Mar dos Açores! Como o ouro do Século XVI e XVII era do Brasil, e o petróleo, diamantes, algodão e muito mais, no século XX, de Angola!
Mar é fonte inesgotável de riqueza: pelos seus recursos – que são muitos para além da pesca –, mas sobretudo pelo seu valor geoestratégico, para mais quando se localiza no Atlântico Norte, a meio caminho entre a Europa e a América.
Se o valor estratégico do Mar dos Açores foi enorme no tempo do “dar novos mundos ao mundo”, por maioria de razão, muito superior se tornou à medida que a tecnologia foi evoluindo, que os recursos naturais foram escasseando, e o mundo ligando-se e interdependendo. E não pensem que é de agora: a globalização é tão ou mais velha “que a guerra de catorze”!
Aproveitem, já que actualmente Portugal tem na Chanceler Merkel uma governanta, e perguntem aos alemães – os mesmos que impingiram os submarinos e querem impingir os TGVs – porque mandaram em Julho de 1917 o U 155 bombardear Ponta Delgada? E, para garantir o contraditório, pois a “Troika” que governa Portugal também incluiu o FMI, perguntem também aos americanos, nos Açores desde 1917 – primeiro com uma base da US Navy implantada desde o porto de Ponta Delgada até aos confins de Santa Clara (que tal igualmente esmiuçar as trapalhadas que isso provocou com os ingleses?)-, e ainda hoje, como se sabe, com base nas Lajes, porque lhes interessam tanto os Açores?
Para nos defender (Açores) já não é: o submarino bombardeou, o Orion ripostou, mas há muito que a guerra acabou. Só o interesse continuou! Como alguém diria: “É a economia, estúpido”. Claro. Alias, cada vez mais claramente.
E aqui entra um documento de Agosto de 1975, outrora confidencial hoje razoavelmente disseminado (mas nunca é demais divulgá-lo – obrigado à “mão amiga” que mo enviou, “obrigando-me” a relê-lo), cujo conteúdo, que aponta para a viabilidade económica dos Açores como país soberano, apesar do óbvio era então – e assim procuram que continue sendo – desmentido. Aqui vão excertos do dito cujo:
1. DOCTOR NORMAN BAILEY AND EDMOND TONDU OF BKW ASSOCIATES, INC., WASHINGTON BASED MANAGEMENT CONSULTANT FIRM, ARE IN THE AZORES PERSUING ECONOMIC STUDY STARTED SEVERAL YEARS AGO AT REQUEST OF CAETANO GOVERNMENT. BAILEY SAYS FIRM NOW ATTEMPTING COMPLETE STUDY IN ORDER TO PERSUADE WHATEVER GOVERNMENT MAY EMERGE IN AZORES TO RETAIN FIRM AS ECONOMIC ADVISORS. BAILEY AND TONDU HAVE BEEN TALKING TO GOOD NUMBER OF PEOPLE IN PONTA DELGADA AND ANGRA. (…)
2. BAILEY BELIEVES AZORES ECONOMICALLY VIABLE AND PROFITABLE TO LISBON. HE DESCRIES PRESENT ECONOMIC RELATIONSHIP BETWEEN LISBON AND AZORES AS 18TH CENTURY MERCANTILISM.
(…) BAILEY AND TONDU BELIEVE THAT ECONOMICALLY AZORES WOULD BE BETTER OFF INDEPENDENT THAN AUTONOMOUS SINCE AUTONOMY WILL TAKE MONTHS TO ESTABLISH AND COULD BE REVOKED AT ANY TIME. IT THUS WOULD NOT PROVIDE STABILITY NECESSARY FOR INVESTMENT AND GROWTH.
3. BAILEYN CREDIT MANAGER OF BANCO PORTUGUESE DO ATLANTICO WHO DESCRIED RECENT IN DEPTH STUDY OF TOTAL COMMERCIAL AND FINANCIAL RELATIONSHIP BETWEEN AZORES AND CONTINENTAL PORTUGAL. REPORTEDLY GOP HAS NOT PERMITTED PUBLICATION OF STUDY WHICH CONCLUDED THAT CONTINENTAL PORTUGAL GAINS ABOUT 280 MILLION DOLLARS PER YEAR FROM AZORES.
Bom, o telegrama continua com outras tantas palavras, eu é que não tenho mais espaço!

A.O. 10/05/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, maio 11, 2011

Outros tempos, outras crises, os mesmos tiques coloniais







Se há coisa com que Portugal sabe lidar com à vontade e ligeireza – basta ler/ouvir os seus responsáveis: de ontem, de hoje e de amanhã – é a bancarrota!
Recuemos algumas “bancarrotas” atrás, para logo depois do “Grito do Ipiranga”, tempo em que Portugal ao perder o manancial vindo do Brasil que lhe permitia fartos “regabofes” – o ouro do Brasil está para o Convento de Mafra tal como o dinheiro da UE para os CCBs e outros luxos perfeitamente dispensáveis da última década do século XX e primeira do século XXI – garantiu a inevitabilidade do “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”, e logo uma guerra civil (1828/34), seguindo-se a esta um buraco que até final daquele século não mais parou de crescer.
É deste tempo, fruto do primeiro prelo instalado nos Açores, e escrito por Simão Soriano e Bernardo Sá da Nogueira – futuro Marquês de Sá da Bandeira, várias vezes ministro e também Chefe do Governo de Portugal (ambos então emigrados nos Açores, como nos deixou escrito Francisco Maria Supico) – a “Folhinha da Terceira”, em cujo índice de 1832 está bem detalhado o que sobrou do Império depois de “perdido" que estava o Brasil: “Arquipélago dos Açores”, “Arquipélago da Madeira”, Arquipélago de Cabo Verde”, “Bissau e Cacheu”, “Costa da Mina ou S. João Batista da Ajuda”, “Arquipélago da Guiné”, “Costa de Loango, ou Molento e Cabinda”, “Angola e Benguela”, “Governo de Moçambique”, “Estado da Índia”, “Costa da China ou Macau” e “Timor e Solor”.
Nesta mesma publicação, em tom benevolente, algo até galante, porém tipicamente colonialista, pode também ler-se: “O povo dos Açores é em geral de bela aparência, e de muita inteligência e habilidade; tendo as melhores qualidades para o serviço militar. Em breve tempo os Açoreanos aprendem as suas obrigações, são nelas cuidadosos, são asseados, subordinados e briosos (…)”. Não foram referidos, mas seria bom conhecer os termos de comparação, sobretudo no caso da segunda metade da citação.
Depois de descritos os nativos, há também referências ao território, feitas aliás de forma descomplexada (o complexo colonialista aumentou na proporção inversa à redução do Império. Agora é quase blasfemo chamar “Açores” e “Portugal” pelos seus nomes: não falta de imediato quem troque o “Portugal” por “Continente”, como se os Urais fossem logo ali entre Elvas e Badajoz). Atenda-se por exemplo a esta nota geográfica: “Da ilha de São Miguel ao Cabo da Roca, em Portugal, são 210 léguas”.
No documento não poderia faltar – e não faltou – a inventariação dos recursos com que a colónia tinha de nutrir a Capital do Império. E lá se especificava: “O solo destas ilhas é da maior fertilidade; (…) produzem grande quantidade de cereais e legumes de toda a espécie, de batatas, inhames, hortaliças, frutas, vinho e outros géneros: cria-se em grande abundância toda a sorte de gado e aves domésticas, fabrica-se manteiga e queijo, e há bastante lã. (…) Em alguns anos tem-se exportado dos Açores 140 a 150 mil caixas de laranja; 15 a 20 mil moios de cerais; (…); 15 a 20 mil pipas de vinho e aguardente, (…): além destes géneros principais exportam estas ilhas carne de porco, batatas-doces (...), assim como uma considerável quantidade de panos de linho para o Brasil”. Não era pouco, digo eu!
Mas, perdida que estava a grande mina do Império, por mais que espremessem as restantes possessões não houve como evitar o crescimento de uma dívida externa que com o aproximar do final do século XIX atingia já os 75% do PIB, originando assim a bancarrota de 1891 (nota: hoje a divida externa portuguesa é cerca de 100% do PIB).

Aqui nos Açores, por esta altura, adensava e ganhava músculo a campanha autonómico/independentista que culminou no decreto de 2 de Março de 1895, com o surto de desenvolvimento e industrialismo que se seguiu justificando – e merecendo – outra evolução que não o triste fim que lhe foi dado por Salazar, em Fevereiro de 1928, quando ensaiava os primeiros passos da longa ditadura com que nos subjugou.

A.O. 10/05/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)