terça-feira, dezembro 28, 2004

Dor profunda

Morreu o Sr. JOÃO CARREIRO E SILVA, e com ele, mais um importante naco do “Santa Clara” que desde criança aprendi a gostar!
Mais do que sócio, o Sr. João Carreiro e Silva tinha uma forte ligação familiar à génese do CLUBE DESPORTIVO SANTA CLARA. De facto, quando hoje se refere um CDSC fundado em 1921 – com o 31 Janeiro a enfeitar o ramalhete –, tal como antes, também leviana e abusivamente se escreveu que o clube havia sido fundado em 1920, o mais que isso evoca é a recordação dos “Campeonatos de Santa Clara”, uma renhida competição entre as lojas do bairro, uma delas; a do Sr. “Antoninho Carreiro”, nem mais nem menos que António José Carreiro e Silva, tio daquele que foi o sócio nº1 do CDSC nas últimas duas décadas. Da conjugação dos atletas do “team do Sr. Antoninho Carreiro” com os do seu principal rival – o “team” do Sr. João Travassos – nasceu o primeiro “Santa Clara”; o SANTA CLARA FOOT-BALL CLUB, que segundo crónicas da época equipava de azul e foi “instruído por um sportman das primeiras categorias”; o Alferes José Joaquim de Souza. Isso – tão e só – no Outono de 1922!
Quando – e se – um dia for feita a verdadeira história do CDSC, quer na galeria dos presidentes nados e criados no bairro – foi talvez o primeiro –, quer junto dos muitos filhos de Agua Retorta que engrandeceram o clube, onde quer que seja, o Sr. João Carreiro e Silva tem nela assegurado destacado lugar. Um verdadeiro SENHOR!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Marracho por “peixe rosa” (parte I)



O Victor, e o "peixinho" que "pescou" com uma picareta naquele sábado de Santa Clara

Sábado de Santa Clara, numa das primeiras horas de sol daquela manhã de fim de Verão, tal como havia ficado combinado a meio da semana depois da reunião da JOC, primeiro um, e logo depois o duo restante, cedo ficou reunido o grupo dos três que se haviam comprometido a ir apanhar lapas, cujo proveito da venda, como petisco na barraca do adro da igreja, reverteria a favor das festas.
Quando o João e o Manuel chegaram “à beira da rocha”, já o Victor, o mais velho e experimentado dos três naquelas lides, tinha decidido que com aquele tempo o melhor seria “ir mergulhar” para trás da Fabrica do Lory.
Sem dúvida, embora mais para o Victor do que para os outros dois, o calhau de Santa Clara não tinha segredos de maior. Se era para “ir às lapas” para trás da Fábrica do Lory, pois então qual o problema? Nenhum! Para além, claro, de ter de caminhar um pouco mais. Ir até ao Farol, e daí, mesmo junto ao muro de vedação daquela instalação industrial, descer até à beira mar, e procurar o pesqueiro que garantisse, depois do “mergulho”, uma entrada tranquila.
Difícil mesmo era despir, aclimatar o corpo praticamente nu ao ar fresco da manhã, e entrar na água. Depois dos primeiros dois ou três mergulhos, e apanhada que estivesse a primeira dúzia de lapas, logo o corpo aqueceria, só voltando a arrefecer passados trinta ou quarenta minutos, talvez até mesmo uma hora. Tudo dependeria do ritmo da apanha!
Combinado também havia ficado que o Manuel não iria “mergulhar”. Só o Victor e o João iam à água. O Manuel daria apoio. Nunca é demais ter alguém por perto, principalmente quando o mar encapelava e rebentava sobre as rochas, como tinha acontecido nas últimas semanas, sem que já amainasse completamente.
Foi o João o primeiro a despachar-se. Como quase sempre, aliás. E, já se preparava para entrar na água, quando viu uma barbatana ali próximo.
- Olha um marracho! - Gritou com um misto de espanto e medo.
- Porra. Já não vou para a água!
- Marracho! Qual marracho? Deves estar atoleimado. Um marracho não vem tão aqui para dentro - respondeu o Victor aproximando-se da borda água, para logo também gritar:
- Êpá! É mesmo um marracho.
- Possa! Temos de apanhar aquilo!
- O quê? Tu és é tolo. Vou é já vestir-me! - Retorqui-lhe o João.

Era de facto “um marracho”, e eles apanharam-no. Com uma picareta. Por incrível que pareça!

terça-feira, dezembro 21, 2004

Competência. E a falta que fez!

Após ter passado uma série de anos a criticar e denunciar o sistemático, e confrangedor, “fechar de olhos” de quem competia fiscalizar os actos da Direcção, não podia deixar de elogiar o Presidente da AG, quando este, pela primeira vez nos últimos anos, termina com a irregularidade “mãe” de muitas outras.
Estou convicto que se assim acontecesse desde que foi insistentemente chamada a atenção para esta e outras questões, o CDSC não estaria na desagradável situação em que hoje se encontra!
O que não fiz, como – dito e escrito – já insinuaram, foi elogiar o colectivo dos O. S. do Clube. Nunca o poderia fazer, sobretudo no que respeita ao Presidente da Direcção e ao seu adjunto; quanto ao primeiro, porque apesar de ter já despertado – “tarde e a más horas” – para as companhias que escolheu, não esqueço que é o principal responsável pela grave situação em que o clube se encontra. Sobre o segundo – e esperando que, quanto ao Santa Clara, o futuro não me volte a dar razão –, não retiro, nem uma vírgula, do que sobre ele já disse e escrevi. Com isso não deixo de reconhecer que nos actuais O.S. do CDSC existe gente séria, e muito empenhada em dar a volta à situação. Os resultados já estão à vista. Deus lhes dê saúde. Pena ser tarde, talvez tarde de mais!
Claro que reparei que o Sr. Presidente da AG tornou extensivo ao colectivo o elogio pessoal que lhe fiz. Ficou-lhe bem.
A mim é que não ficava!
PS: Morreu o Sr. João Carreiro e Silva. Por ele, para a semana voltarei ao “Santa Clara”!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém

quarta-feira, dezembro 15, 2004

DURO, MAS SENTIDO; com o devido respeito.

Memória (linguagem pouco cuidada, desabafo de café)
Não deixa de ser curioso: enquanto o PS foi poder da República o governo açoriano aceitou tudo, de colónia para baixo, recusando a verdade, justiça, decência, designadamente sobre o acordo de utilização de uma base militar que também beneficia – do lado português -financeiramente meia dúzia de bandidos, financiadores de partidos e canalhas. E é agora que vem falar, em Dezembro de 2004? Vão para «a puta que os pariu», pois não sei o que é pior se um povo que aceita tudo, se esta gente tirana, hipócrita, cínica e mentirosa que vê na ignorância alheia espaço para justificar o exercício de cargos públicos.
( Escumalha, será que esta gente gosta de ser enganada por escumalha, aqui no sentido de escória ?)
(e lembro-me dos cobardes que aceitaram trair a sua terra para não ofender os colonizadores, cobardes todos de joelhos, de cócoras).
(li as actas verdadeiras de 2000-2001 e nunca tive tanto orgulho, pois houve alguém que disse que primeiro que as alianças da maçonaria, do PS, do PSD, dos negócios, da máfia, estava o povo açoriano)
António João Correia. in RESISTIR http://resistir.blogspot.com

terça-feira, dezembro 14, 2004

A cada um, sua cruz

Ainda estão por aí – até nas estradas – resquícios da anterior, e eis que nos achamos, de novo, em campanha eleitoral.
Sou daqueles que pensa que, se o PR errou, fê-lo apenas por não ter resolvido o assunto, convenientemente, há quatro meses; uma coisa é Santana substituir Durão na liderança do PSD – fora do partido ninguém mais tinha nada a ver com o assunto –, outra, bem diferente como se viu, foi promovê-lo a Primeiro-ministro. Aí, as mazelas foram muito para além do PSD!
A justificação que encontro para a forma “facilitada” como o Jorge Sampaio permitiu a chegada de PSL à chefia do governo, só pode ter a ver com o desejo do PR esperar tudo, menos uma ponta final de mandato como aquela que a “taluda europeia” de José Barroso lhe proporcionou; sorte grande para um, e, literalmente, uma desagradável terminação para o outro! É que não será fácil a Sampaio livrar-se da penumbra de maquiavelismo que paira sobre todo o processo, sobretudo tendo em conta a ferrugenta época pré-socrática!
Santana Lopes, por sua vez, não defraudou “sua galera”. Espectáculo não faltou. O facto foi que em cada cinco foguetes ao ar, quatro caíam-lhe em cima, com Paulo Portas a ser, entre ambos, quem ganhou com o prolongar do arraial. Podiam ter poupado Victor Cruz. Que mais não fosse, por ainda recentemente, também arrastado por Pedro & Paulo, já ter tido o seu: - “Amanhã é um novo dia”!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém

quinta-feira, dezembro 09, 2004

...E também isso

Um "Choque de gerações"*... e peras

Joel: bem vindos ao CDG, o programa dos pensadores, artistas e jovens intelectuais Açoreanos. Hoje vamos falar de Lech Walesa. Miguel, o que pensas sobre o Walesa???
Miguel: Personagem pioneira e marcante. É Polaco. Tem bigodes. Gosta de salsichas e passa muito tempo sem lavar os dentes.
Joel: E, Mário, do ponto de vista teorico-filosofico vanguardista, o que se pode dizer acerca de Walesa?
Mario: Acho que foi uma pessoa impoooooorrtanntissiiimmaaa. É um homem do dever. Renunciou o ser quando percebeu aos 14 anos que 14 horas e 2 da tarde não são tempos idênticos.
Joel: E, Barata, o que me dizes acerca do Lech?
Barata: Um sindicalista mafioso, que teve, indiscutivelmente, um papel crucial na dissolução das nomenclaturas tirânicas do comunismo. Vi-o uma vez em Barcelona a comer um hot dog com a sua namorada finlandesa. Tinha um casaco Burberry e, assim de repente, sem os bigodes, até parecia uma versão polaca do Paulo Portas (estou a brincar..riso contido)
Mário: Sim, porque o Walesa, aparece no momento fulcral da transição civilizacional ,cultural e pluridimensional da transição da eeesssqueeerda para a dirreeeeiita neo liberal insensível e indiferente. Li isto nos anúncios da danone. Chocou-me. Senti arrepios nos peitos dos pés. Miguel: Mas acho que não é disto que se deve falar. O Walesa trabalhou num think thank em Washington. Foi uma experiência marcante para ele. É urgente considerar esta dimensão da sua complexa personalidade política. Era responsável pelos peixes tropicais. Alimentava-os sempre a horas. Um funcionário exemplar.
Mª. Graça: Tenho uma amiga Holandesa que o entrevistou o Lech na prisão. Levou-lhe uns splifs para ver se ele se descontraia e falava da sua conturbada vida política. Ficou a conhece-lo muito bem.
TODOS: CONTA LÁ!!!!
Mª. Graça: É obvio que a minha amiga de Leiden, que é jornalista, só estava interessada na historia do Walesa. Mas o Walesa, que já não via mulheres há alguns anos, fazia referencias subliminais constantes ao Eros polaco e às teorias de Freud sobre os efeitos nefastos da acumulação de energias sexuais.Pediu à minha amiga que lhe enviasse um vídeo porno Brasileiro. Quando foi interrogado acerca das lutas históricas do Solidarinost Walesa respondeu: “A malta só queria chatear o Jaruselski, e sacar mais umas salsichas!”
TODOS: COMO??? Meu Deus, não pode ser. A política não pode ser reduzida a algo tão leviano, tão mundano.
Lech Walesa (em videophone de Varsóvia) :Pois, sim, mas, já provou umas salsichas Polacas?? Gostaria de vos enviar algumas!!!!
Todos: uuhhhhhh Como?
Luciano Barcelos: OLÁ RAPAZIADA!!!
Joel: Mas, ó Luciano, tu não fazes parte deste programa!!!!
Luciano Barcelos: Mas eu quero! Quero muito! Se não conseguir escrevo uma carta de protesto para o Ministro da Republica. Fiu correspondente em Ho Chi Min city e tenho muitas coisas interessantes para vos contar.
Joel: Mas o CDG é uma produção independente!
Aaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Mª. Graça: QUE HORROR O JUIZ CAIU DO TERCEIRO ANDAR!!!!!!
Joel: Não te preocupes, ele não quer ser incomodado.
Miguel: Estudos estatísticos revelam que as profissões com maior incidência de insanidade mental são os Psicólogos, os Juizes, os dentistas, os contabilistas e os enfermeiros......
Mário: Uuufa uufa
Barata: PORRA! Será que alguém me ajuda a levantar o Juiz???
Durão Barroso: Meus caros/as, por favor respondam ao vosso confrere Europeu que está na linha!!!!
Mário: Sim, envie lá as salsichas. Vamos fazer um barbeque e o Sr Walesa está convidado. Nada de camisas com flores. Só Armani e Dominguez, por favor!
Lech Walesa: Obrigado, mas não posso ir. Sofro de hemorróidas.
Durão Barroso: Temos muitos bons médicos em Portugal
Lech Walesa: Mas o Papa é Polaco!D Barroso: Sim, um verdadeiro Europeu
Lech Walesa: Barroso, tens um nariz enorme e tens que cortar o cabelo. Usas L´Oreal=???
Joel: Mas o que é que se está a passar?? O nosso programa está ser sequestrado pela globalização.
Durão Barroso: Como ?? Como???
Lech Walesa: Ó Barroso, nem tocas nas nossas salsichas até recebermos os nossos fundos estruturais.
Durão Barroso: Aprovamos ontem um subsidio para os bigodes Europeus de qualidade.
Miguel: Foi um processo complexo, mas a lógica da negociata finalmente sobrepôs-se a lógica da negociata. É assim que se constrói a personalidade estratégica Europeia.
Mário: Não concordo! A personalidade já existe. Está aqui, lá, por detrás destas palavras inúteis, está no implícito, no tácito, ali, por aqui, debaixo, invisível, é como o super homem, está por todo o lado, connosco e convosco..isto choca-me
Miguel: uuhhh????
Joel: Onde???
Mário: Isto irrita-me. Magoa-me, o neo-liberalismo selvagem, o semáforo da minha rua, a minha vizinha Gertrudes, a quinta das celebridades...afinal, a nossa identidade comum existe aqui, ali, e por todo o lado...está omnipresente!
Mª. Graça: Estes filósofos são todos troblidoooss!!!!!
Lech Walesa no ódio de estimação (via videophone): RUSSOS!! RUSSOS!!!!
Miguel: Compreensível, os Russos roubaram toda a vodka polaca nos anos 40 e 50.
Joel: Mas, Miguel, achas que esta é uma razão suficientemente forte para justificar este ódio??
Miguel: Alem disso, os Russos roubaram o stock de palitos dos Polacos.
Joel: Agora tudo faz sentido.
Lech Walesa: E AS SALSICHAS?????!!!!
Durão Barroso: Olhe, envie algumas aqui para a comissão. O Italiano adora salsichas e sempre podemos mandar algumas para o parlamento.
Lech Walesa: Ah. Durão logo vi que usavas L´Oreal. Sabes, gosto muito de ti, especialmente quando falas Francês!!!
Durão Barroso: Sim, obrigado, sou irresistível!
Lech Walesa: E os nossos fundinhos????
...
No fim de tudo isso, depois de cinco "encores", alguém, na primeira fila, "partido de rir", grita:
Ei ZeKe, tu és o melhor meu, tu é que devias ir ao CDG.
Vou lançar uma campanha Ezequiel ao CDG já!!!
.
.
Ezequiel. In http://fogotabrase.blogspot.com/. Comentários do post de "Mais um Choque" de 07/12/2004
* Choque de Gerações : RTP/Açores, Terças Feiras. Com repetição no dia seguinte!

Gostaria de ter escrito isso ...

Natal Tribal

Se não fosse a compensação dos feriados da época também me libertarem de outras obrigações penosas, detestava o Natal! Em absoluto. Quer pelo seu espírito, quer pelo que realmente é. Postais de Natal. Prendas de Natal. Almoços e jantares de Natal. Visitas de Natal. Um nunca mais acabar de obrigações que, como dizia, só são algo suportáveis pelo facto de existirem outras que desaparecem. E as coisas tendem a piorar. De ano para ano. Se pensar nos postais, há uns anos safava-me apenas com meia dúzia deles. O mesmo com as prendas e almoços e jantares, que também aumentaram exponencialmente. Só as visitas é que se mantêm, talvez por serem menos contamináveis pelo vírus do consumismo. Quando damos por nós, estamos outra vez perdidos entre luzes e cânticos. De Natal. Num rodopio de compras e comidas. De Natal. Debitando palavras e votos de felicidade. De Natal. Sempre, ou quase sempre, em circuito fechado. Apenas ao nosso nível. Entre as nossas relações pessoais ou profissionais. Não contribuindo nada, ou quase nada, para melhorar nada. Só colocando entre parênteses, por umas horas ou por uns dias, aquilo que se retomará logo de seguida. Exactamente como antes. Continuando a dar o nosso contributo para o curso inexorável deste mundo de contrastes, cada vez maiores fossos, entre afortunados e deserdados. Como insistem em mostrar-nos as estatísticas. Por nossa culpa. Por nossa infinita culpa. Por continuarmos a assobiar para o ar, sossegando a consciência com estas horas ou estes dias do ano de espírito de Natal. Tribal.
Francisco Botelho. In "http://entramula.blogspot.com"

terça-feira, dezembro 07, 2004

Constância

Noutro tempo, em outras circunstâncias, seria com um “apito negro” – cor do basalto – que enchia, hoje, esta coluna. Não quero! Vou continuar resistindo, calado. Mesmo que, para assim proceder, tenha que ocupar o espírito doutra forma, regra geral bem mais sadia. Por exemplo: lendo quase de uma só tirada as “Farpas” do Eça de Queirós que Maria Filomena Mónica recentemente nos proporcionou, e cujo parcial proveito, aproveito, para “ainda em quente”, convosco partilhar.

“Portugal, não tendo princípios, ou não tendo fé nos seus princípios, não pode propriamente ter costumes. Com uma política de acaso, com uma literatura de retórica e de cópia, com uma legislação desorganizada, não se pode deixar de ter uma moralidade decadente.
Fomos outrora o povo do caldo da portaria, das procissões, da navalha e da taberna. Compreendeu-se que esta situação era um aviltamento da dignidade humana: fizemos muitas revoluções para sair dela. Ficámos exactamente em condições idênticas. O caldo da portaria não acabou. Não é como outrora uma multidão pitoresca de mendigos, beatos, ciganos ladrões, caceteiros, carrascos, que o vai buscar alegremente, ao meio-dia, cantando o Bendito; é uma classe inteira que vive dele, de chapéu alto e paletó.
Este caldo é o Estado. (…)”


Eça mantém-se actual. Há de facto coisas que não se alteram. Para melhor; claro!
Mais palavras para quê? Talvez apitos. Negros!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Com a devida vénia

Excertos de entrevista a Antero de Quental

O que é feito de si?
Bem, apenas digo que não é verdade que tenha comprado um andar no Cacém, máquina de bronzear, Fiat Uno e que ande a ler livros do Lobo Antunes. De relevante apenas o facto de ter pedido desculpas ao tolo do António Castilho (dizem-me que agora é fiscal do tribunal de contas). O resto é a vida.
Segue o movimento literário em Portugal?
Sim o Cesariny e o Luiz Pacheco mandam-me recortes dos jornais. O Eusébio, que era do Benfica, também me manda cópias das novidades poéticas.
Mas continua em actividade?
Sim, mas em territórios modernos. Seguindo exemplos de sucesso,
penso até gerir uma associação de utilidade pública, género clube de futebol ou uma empresa de construção civil que trabalhe em exclusividade para entidades públicas.
Disse futebol?
Claro. O governo dá-me uns milhões do orçamento (nunca fiscalizado) e eu gasto com casas de alterne, algumas drogas, políticos, despesas de campanhas eleitorais, alimento a pior escumalha que existe na ilha, vou nas procissões católicas, apareço na televisão(também são pagos pela manjedoura), arranjo emprego para as amantes, para os amantes dos amigos, aldrabões, deputados, cornos, chulos, homens de bem, padres, médicos, advogados, engenheiros, arquitectos, empresários, pedintes, funcionários públicos, caixeiros, eu sei lá, sou um gestor moderno, um cavaleiro andante, meto-me nesta trampa toda e tenho resultados, aquilo que se chama sucesso. Talvez regional, mas êxito. Até fui condecorado e tratam-me por excelência.
Não percebo...
Oiça, tentei aquilo que se sabe. Não resultou. Ninguém lê poesia, tenho uma sepultura em cima de um centro comercial (nem o cemitério pouparam), o povo e os políticos brutos e rascas..., eu estava deprimido e pensei: se estes gajos conseguem isto, então eu também sei fazer igual. O próximo passo é a hotelaria com fundos públicos e talvez o negócio dos casinos. Aliás, tenho sociedade com o Camilo Pessanha, António Nobre e o Mário de Sá Carneiro (o Junqueiro disse que sim mas está um pouco doente).
E o que vão fazer?
Olhe, vamos abandonar esta treta da poesia.... de uma vez por todas, e tratar da vida. Da vida ! Falámos bem do governo, os gajos dão dinheiro. Estamos em silêncio, os gajos dão dinheiro. Pagamos algumas coisas, mais dinheiro. Nem temos que passar recibo, ninguém fiscaliza. Eles dão e nós damos uma percentagem para as campanhas: é futebol, turismo, construção civil, consultadorias, publicidade, o raio que os parta. Até pagamos a jornalistas, artistas, homens da cultura, gente de opinião. Uma verdadeira democracia....Não, não é ironia, é apenas aquilo em que a minha terra se tornou.
E a poesia ?
Não sei. Juro que não sei.
António João Correia. in RESISTIR http://resistir.blogspot.com

terça-feira, novembro 30, 2004

“Alto astral” na incubadora

Por uma questão de filosofia ou estilo do protagonista - um "style" que se complementa com cabelo esticado a gel, óculos escuros e gravatas vistosas -, quase sem se saber como - tipo delfinato -, passamos a ser iluminados por invejável optimismo, como que se, da noite para o dia, tudo o que sempre foi difícil de obter, exigente para manter, e muito custoso de acrescentar, passasse a estar ao alcance de qualquer um, bastando para isso, apenas, seguir um caprichoso líder!
Quem isso se dispuser contrariar, por mais que sejam as provas dadas, o trabalho desenvolvido, e a competência reconhecidamente demonstrada, mais não é do que um pessimista; um empecilho. E isso, sobretudo, porque insiste em pensar pela sua cabeça, recusando-se a ser guiado pelo mediaticamente ampliado feixe de luz que – a quase todos – vai indicando o caminho, omitindo sistematicamente, por encandeamento, os acidentes de percurso.
A grande habilidade do artista está no valorizar – mesmo se insignificantes – todos os aspectos positivos. E, se estes não existem, também não há que esmorecer; “marcar passo” é uma habilidade de recurso! Os retrocessos – demasiados por ser tão frágil o ponto de partida – são como se nunca existissem, e desvalorizá-los é táctica recorrente!
Só a facilidade na obtenção da benesse justifica tanta leviandade, co-responsabilizando quem cumplicemente a proporcionou ou possibilitou a sua manutenção. Nada que se resolva com um “saltar do barco”, ou com a demonstração de um tardio incómodo!
Parece-me até que, num cinema perto de casa, já vi este filme.
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém

terça-feira, novembro 23, 2004

ZEE; questões de soberania

É angustiante, e estranho, o silêncio de alguns sectores políticos açorianos – com, ou sem, o “fait diver” de um agora hipotético alargamento para as 350 milhas – acerca da aplicação da PCP nos actuais modos. Nem deixa de ser sintomática a semelhança, quer dos processos, quer dos protagonistas, com o que em tempos se passou com a tentativa de fazer sair dos Açores o controlo do tráfego aéreo do Atlântico Norte, ou – este um caso consumado a nosso desfavor – com a renegociação do acordo das Lajes!
Sempre que a questão da ZEE vem à baila recordo Hilário Estevez Morera e a muita informação que connosco partilhou por ocasião do primeiro FORÚM AÇORES LIVRES. Este nacionalista canarino que integrou várias comissões de pescas do estado espanhol (Marrocos, Mauritânia e CEE), defende que nas Canárias, nos Açores, assim como em toda a macaronésia, só com a utilização – e rigorosa fiscalização – das artes de pesca tradicionais se pode contribuir para a preservação das espécies piscícolas, e, simultaneamente, garantir dignidade para as suas comunidades piscatórias.
Alguém, que não os pescadores açorianos, irá ganhar com tanta passividade. Já foi assim noutras ocasiões; desvalorizou-se a importância das Lajes; trocou-se dinheiro por sucata bélica, mas há um luxuoso palácio em Portugal, na Lapa, garantindo mordomias a uns quantos que não os directamente envolvidos!
Do próprio. Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

terça-feira, novembro 16, 2004

O terceiro mandato

Fazendo fé nas suas próprias palavras, Carlos César tem – e não a devia desperdiçar – uma enorme oportunidade para fazer história. Basta para tal que nos próximos quatro anos pense decididamente AÇORES, mesmo quando isso não sirva ao P S!
É bom ter em conta as lições do passado. Recordar que foi no terceiro mandato de Mota Amaral que começou o actual ciclo do PSD/Açores – com a derrota em Ponta Delgada logo à cabeça –, tendo sido a sua última vitória nas legislativas, por sinal folgada, como que; “o canto do cisne”!
Em 2008, por muito que César e o PS se esforcem, não será fácil – eu atrever-me-ia a acrescentar; desejável – obter uma quarta legislatura cor-de-rosa, consecutiva. Daí que a aposta acertada seja no futuro, nos Açores, no seu verdadeiro progresso e desenvolvimento; o das suas gentes!
O slogan: “CHEGOU A HORA DE MUDAR”, que até tinha a seu desfavor o facto de muitos dos municípios açorianos nunca terem conhecido a mudança, por ter vindo de fora, e sobretudo por ter sido pensado por quem nos conhece mal – aí João Jardim foi sábio –, desta vez não obteve êxito. Mas não deixa de ser um apelo inteligente, e até um bom mote, tanto para as próximas autárquicas, como também, em coerência, para 2008!O poder vicia. Mais cedo ou mais tarde também corrompe. Convém passar por ele como se fora comissão de serviço. Demonstra desapego, e até os orçamentos agradecem.
Do próprio. Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém.

segunda-feira, novembro 15, 2004

Subscrevo na íntegra

Se há coisa que me enfurece...
é a prosápia dos figurões que mentem e não têm vergonha na cara.

Alfredo Barroso. FORMULÁRIO. Grande Reportagem. 13 Novembro 2004

Só acrescentava: ... e figurinhas...

domingo, novembro 14, 2004

Lição terminada

Depois de muito "queimar pestanas" e parte do já pouco fósforo que resta, conseguí melhorar a minha "VISITA GUIADA".
Agora, estou convencido, está bastante melhor apresentada, faltando-lhe apenas - será a próxima etapa - uma revisão "à maneira". Não será tarefa fácil!
Resta agradecer ao Francisco Botelho pela sua preciosa ajuda.
Uffa.
Demorou.
Mas já está bem melhor, e valeu a pena.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Experiência

Vamos lá a ver se consigo dar mais um passo. Por exemplo daqui para ali, ou para aqui.

CONSEGUÍ!

Obrigado Pedro.
Obrigado Barata.

"Já papei" mais uma etapa!

terça-feira, novembro 09, 2004

Descubra as diferenças

Suspendi a “gulosa” leitura de uma pilha de “papéis velhos” para assistir à celebração do 80º aniversário da “velha” AFPD, sessão onde foi reafirmado, por mais de uma vez, o determinante papel dos clubes no desenvolvimento do futebol, segundo alguns, em contraste com os modelos ecónomo/mercantilistas agora em moda.
Sobre este assunto estou em perfeita sintonia com o Prof. José Romão. Acrescentava apenas serem aqueles – os novos modelos – autênticas “bolas de neve” que na sua desvairada “fuga prá frente” atraem por sucção um sem número de oportuno/vigaristas!
Com corpo ali mas espírito ainda ocupado pelas leituras interrompidas, ocorreu-me o plano idealizado em 1923 para financiar o projecto de uma sede para a então AFSM, onde os 50c. (insulanos) tidos por necessários, seriam obtidos com a emissão de mil obrigações de 50$, subscritas equitativamente por cada um dos quatro clubes fundadores, que por sua vez as distribuiriam pelos seus associados. Ou, como, em anos seguintes, para cá trazer as equipas que ajudaram a promover a modalidade entre nós, era feito um acordo prévio (AFSM/clubes) garantindo a execução financeira da iniciativa.
Nas notícias recentes, e não obstante a facilidade com que agora se obtém “milho para os pardais”, são cada vez mais; as irregularidades, os arrestos, as hipotecas e penhoras.É o vil desrespeito pelo esforço colectivo anterior. “Mete nojo”!
Do póprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, novembro 08, 2004

Agradecer e justificar

O :Ilhas elegeu este seu humilde concorrente - qual aprendiz de feiticeiro - com o prémio “esperança”. Não o merecia. Existem verdadeiras esperanças, de facto, na globosfera açoriana.
De qualquer forma; OBRIGADO!
Juro que quando ouvi pela primeira vez a notícia da nomeação, temendo o corrosivo sentido de humor da vossa excelente equipa de criativos, criadores e escribas, senti um “arrepio na espinha”. Sensação que, meio brincando meio a sério, revelei quando eu próprio li o “post” anunciador.
Da nomeação ao prémio efectivo quase nem dei conta; o Lagido como “quebra gelo” foi óptimo, o Tinto com que acompanhei a refeição caiu muito bem, e a conversa, com ou sem o SALMO, manteve-se sempre viva. Para mais, fui o primeiro a “subir ao palco” para a cena dos “Óscares”. Só aí, “caí de novo em mim”!
O “arrepio na espinha” voltou quando pressenti ser um livro o prémio que o João Nuno tinha para me entregar!
É que, assim, quando já parecia ter escapado ileso da vossa cáustica sátira, tudo poderia voltar à estaca zero se o livro a receber fosse – e confesso que isso me passou pela cabeça – o “Saber escrever….” da Edite Estrela e companhia. O que, bem vistas as coisas, não era mal feito!
Não foi. Que simpáticos. Foram uns anjos.
Assim, já que não consegui resistir à tentação provocadora do Nuno Barata quanto ao divulgar “O lugar da Ponta Delgada”, prometo daqui para a frente cuidar – só um pouco mais. Conheço as minhas limitações! – melhor deste meu arquivo de velharias.
É uma obrigação que me criaram.
Também por isso vos agradeço!
Irei tentar merecer o prémio; o “Outra vez” do Che Guevara é que já ninguém mo tira!
OBRIGADO .

terça-feira, novembro 02, 2004

Pão por Deus

O feriado de ontem e o encurtar de prazo que provocou – estes 1400 caracteres já são rotina de fim-de-semana – trouxe-me alguma inquietação. Reajo mal ao síndroma da folha fazia, sobretudo se espartilhado pelo tempo!
O título saiu com naturalidade. Não só o próprio 1º de Novembro o sugeria, como também, por ainda recentemente – na “defesa da honra” – ter sido fiel companheiro de ardina durante dois dias, dei sentido em concreto ao “Pão por Deus” da minha infância. Mas o tempo corre e eu continuo “bloqueado”! Assim sendo, o Pão por Deus “que se pode amanhar”, fica por conta de Inês Serra Lopes, e do Indy da semana passada:
“Não é preciso confirmar o que a própria realidade atesta: o nosso sistema de Justiça é um verdadeiro passador no que toca à investigação de crimes como a corrupção e o tráfico de influências. O sistema é, em si mesmo, corrupto.
Há tempos apropriei-me de uma frase que me parece tristemente sintomática: somos o único país africano a norte de Gibraltar. Hoje, ocorre-me o que me disse, há mais de 10 anos, um amigo que andava então militantemente pela política: a distinção entre nós e os países africanos é que a corrupção lá não gera riqueza, porque o dinheiro é todo mandado para cá, para a Europa. Em Portugal, pelo contrário, o dinheiro da corrupção sempre fica por cá e vai, bem ou mal, alimentando a economia doméstica.”
Pão o quê? “Halloween”, é que é!
Do próprio. In Açoriano Oriental/ Crónicas do Aquém.

terça-feira, outubro 26, 2004

Pelotão de Serviço a Parquímetros

Como se já não bastasse a estreiteza das ruas de Ponta Delgada – traçadas, já lá vão 500 anos, para diferente tipo de tráfego –, assiste-se, de uns tempos a esta parte, à sua agressiva exploração como negócio privado de parqueamento, legitimando pelo pagamento o atravancamento a que o excessivo estacionamento as sujeita!
Os peões – nem São Turismo os vale! –, coitados, são tidos como piões.
Tampouco importa saber se para quem nelas vive, ou está estabelecido, ficaram garantidas as condições de uso na sua função principal; via de circulação. O carregar e descarregar diário é uma aventura quando não mesmo um delito. Até os serviços regulares; distribuição de bens de primeira necessidade, de encomendas postais, de gás, e outros, estão cada vez mais dificultados. Bom, nem quero falar na eventualidade de uma emergência, médica ou de outra ordem; “longe vá o agoiro!”
O prioritário, parece, é rentabilizar ao máximo o negócio dos parquímetros. E como é eficaz o método utilizado – parceria Vigilantes/Polícias gratificados –; nunca se viu tanta gente, tão dedicada, em cata de tanto. Bom seria se, pelos mesmos locais, face a normais problemas de segurança pública, fossem adoptados métodos similares. De certo que diminuiriam os assaltos; o vandalismo; o ruído nocturno; o enorme rasto de lixo – copos, garrafas e até seringas – que se observa após “as noites de borga”; e até os excessos de velocidade!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 25, 2004

CIDADE MINHA

Das nuvens onde voava
Vi-te cidade minha
À noite, brilhando!
Vi-te bela e algemada
De mil cores vestida.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita em manso prado
Salpicada de luzes, colorida.
E amei-te serenamente.
Cidade minha, cidade bela.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita e delgada.
Pareces o céu estrelado,
Brilhando na noite,
Paraíso terreal
Onde sonhei uma infância
Descuidada e feliz
Sem ódio nem inveja,
Pelas tuas ruas estreitas.
Sem a malícia do malvado
Esparramado pelo chão da ira
E do impropério que resvala
No palácio senhorial,
Ou se arrasta pelo adro
Da igreja secular,
Carregando aos ombros
A luxúria de bêbado
Impotente e alvar
Que ao som dos sinos
Em abjecto escárnio
Abomina o talento
E o sucesso dos outros,
Inventando perfídias
Que lhe alimentam
O vazio porco
De imunda existência
E baixa condição.
Vi-te cidade minha
De torres e jardins,
Bordada de montes e mar
Vi castelo e pomar
E, sempre do ar,
Bebi perfumes
Ao recordar feliz
Que fui alguém
Por em ti nascer.
Inalei sons do teu canto
E apreciei o teu falar
Que ninguém ama
Senão os filhos que geraste.
Vi fontes e tanta gente,
Alegre ao passear.
Vi homens a pescar
E mulheres de encantar.
Vi sábios e estudantes,
E crianças a brincar.
Vi políticos a mandar
E nababos a descansar.
Vi velhinhos a chorar,
Por terem de te deixar.
Vi velhacos a enganar,
E Pobres a trabalhar.
Vi ricos a penar,
Por medo de gastar.
Vi ventos e chuvas
E males de espantar.
Vi bonança e céu azul,
E verdes de estontear.
Vi circos a bailar,
Vi pintores a decorar.
Vi poetas a chorar,
Vi bruxas, vi fadas,
Tanta coisa de pasmar.
Vi-te cidade minha de noite a brilhar.
E brilhando ficou minh’alma,
Ao lado da tua a descansar.

CARLOS MELO BENTO
Outubro de 2000

quarta-feira, outubro 20, 2004

Visita guiada

Convido-vos a uma visita guiada a Santa Clara.
É esta a forma que encontrei – depois de começar este texto, um sem número de vezes nunca me satisfazendo com a tentativa anterior – para corresponder ao convite do ilustre director daquele que é o decano dos jornais em língua portuguesa, participando nesta edição comemorativa dos quinhentos anos de elevação a vila, sede de concelho, do burgo onde nasci. Disfarçando alguma falta de talento para a abordagem que se irá seguir convém prevenir para o facto de, mais do que como cidadão de Ponta Delgada, aqui estou por ter sido nado e criado em Santa Clara, pois não fora esta casualidade possivelmente não tinha despertado da tese que atribuiu àquele modesto bairro – de certa forma desprezado (e não sendo por via do futebol, praticamente ignorado) –, uma invulgar importância na formação e baptismo, da hoje maior e mais importante cidade dos Açores.
Feitos que estão estes considerandos, proponho então que me acompanhem na visita ao bairro onde, eu e – segundo alguns nos quais também me incluo – a cidade de Ponta Delgada, nascemos.
Sendo possível, sugiro que sejam portadores do livro IV das “Saudades da Terra”, de preferência, a sua última edição - Instituto Cultural de Ponta Delgada 1998 -, ainda não esgotada e portanto disponível nas boas livrarias desta cidade.

Edição do Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1998

Escolhendo um dia claro e numa hora de maré vazia, iniciemos o nosso périplo no adro da actual igreja de Santa Clara. Avançando pela direita do templo, depois de atravessar uma passagem estreita, somos chegados a um recente e praticamente improvisado recanto com dois bancos e uma árvore, que, com muitta dificuldade, pois o ar marítimo, ali, dificilmente o permitirá, algum dia poderá vir a proporcionar sombra.

Embora a árvore primitiva já tivesse sido substituída, hoje, é este o "amanho" do local.

Sentemo-nos num dos bancos. Nas nossas costas está um pequeno núcleo de casas, algo desorganizado quando analisados em função da lógica da situação actual, mas que ainda num passado recente permitia que algumas delas, orientadas como estão para nascente, estivessem simultaneamente de frente para o mar. Mesmo por baixo de nós, ainda há alguns meses atrás, eram visíveis ruínas, que muito bem poderiam ser as de uma das primeiras construções de pedra, barro e cal de Ponta Delgada. Levantemo-nos, e recomecemos o passeio. Continuando em frente, e depois de atravessar a via que agora aqui existe, entre os carros e autocarros que usam o muito entulho por aqui depositado como parque de estacionamento, chegamos então à “beira da rocha”, já próximo da Ponta Delgada.

Assim!

Avancemos agora para poente cerca de cento e cinquenta metros; aí está a “Ponta da Sardinha”, nome porque é vulgarmente conhecida em Santa Clara uma fina e baixa língua de basalto, agora também ela praticamente toda coberta de entulho, apenas com a sua extremidade ainda à mostra, entrando pelo mar adentro, que mesmo depois de submersa assim continua prolongando-se por cerca de mais cento e cinquenta metros, terminando num baixio a dois ou três metros do nível do mar.

Anos60/70.Uma família de Santa Clara - a família Moniz - "à beira da rocha", em local onde mais ou menos hoje está o parque de estacionamento do Restaurante Farol. Ao fundo vê-se a extremidade da "Ponta da Sardinha", Ponta de Santa Clara ou ainda Ponta Delgada, quando esta, ainda pouco entulhada, visivelmente entrava pelo "mar adentro".

Local muito próximo do anterior, hoje em dia!

Para aqueles que se fizeram acompanhar do livro, é chegada a altura de, pela primeira vez o abrir, e, na página cento e setenta e dois, ler: “Esta cidade de Ponta Delgada é assim chamada por estar situada junto de uma ponta de pedra de biscouto, delgada e não grossa como as outras da ilha, quase rasa com o mar, que depois, por se edificar mais perto dela uma ermida de Santa Clara, se chamou ponta de Santa Clara; entre a qual e a da Galé se faz uma grande enseada, já dita, de compridão de três léguas.”
Por favor digam lá! Emoldurada por tetrápodes, coberta de lixo e apesar do muito entulho que tem sido aqui depositado, não é possível reconhecer a ponta que Frutuoso descreveu?
Independentemente da vossa resposta, continuemos a caminhar para poente. Logo a seguir ao farol existe um pequeno promontório que protegeu e dissimulou a casamata e o paiol da “peça de Santa Clara”, que aqui instalada pelo exército dos EUA, no fim da Primeira Guerra Mundial defendeu a costa e o acesso ao porto da cidade. Subamos ao alto desta pequena elevação.

A "peça" instalada em Santa Clara no final da I Guerra Mundial, quando já se preparava para ser desmontada e retirada para outro local. Vê-se também, em segundo plano, o promontório que abrigava o paiol e a casamata, e ao fundo, as antigas chaminés da Fábrica do Açucar de Santa Clara ainda intactas.

De frente para o mar e ligeiramente virados a poente, temos sob o nosso olhar a “ponta da eira".


De Poente para Nascente; a Ponta da Eira em primeiro plano, com a Ponta da Sardinha (versão popular local), ou Ponta Delgada em segundo plano - por baixo dos tetrápodes - , e a Ponta da Galera - só com a foto ampliada se vê - sobre a linha de orizonte.

De Nascente para Poente; a Ponta da Eira, com a Ponta Baltazar Roiz em fundo. (Recorte. Pág. 459 do livro "PONTA DELGADA a História e o Armorial. Manuel Ferreira 1992)

É assim que é conhecida em Santa Clara, por associação aos moinhos de vento que outrora por aqui existiram, esta última saliência da costa antes que esta, iniciando definitivamente a sua orientação para noroeste, se torne alta e alcantilada praticamente até aos Mosteiros.

A Ponta Baltazar Roiz ao fundo, com o muro da antiga fábrica de conservas - que agora ocupa a área onde outrora estiveram os moinhos de vento - em primeiro plano.

É então altura de abrir mais uma vez o livro e fazer uma nova leitura, agora na página cento e setenta e oito. Lá está: “Da ponta de Santa Clara começa a varrer a costa com rocha baixa para noroeste, até uma pequena ponta ao mar, que se chama a ponta de Baltazar Roiz (porque morou ali um homem principal, deste nome) em que se acaba o comprido da cidade. Vai logo além alevantando a rocha mui alta, e fazendo uma baía, na qual está o lugar da Relva, meia légua da cidade, ao longo da costa (…)”.

Ainda sem fechar o livro, neste mesmo lugar, viremo-nos agora um pouco para nascente fazendo um esforço para imaginar como seria a costa sem o enorme maciço artificial que é o porto, desde a ponta da Galera até ao local onde nos encontramos.

A enorme baía balizada pelas duas pontas; a da Galera e a Delgada (de Santa Clara ou da Sardinha segundo versão local), agora com o Porto de Ponta Delgada dissimulhando-lhe o profundo recorte original.

Feito o exercício de imaginação – facilitado, já que o recorte da costa que o porto abriga é bem visível deste ponto – regressemos ao livro, agora a páginas cento e quarenta e um, para aí ler outra descrição do cronista: “ ( a ilha …) é de comprido dezoito léguas e de largura duas e meia, a partes, e em algumas, uma, que é no meio dela, onde a fazem mais estreita duas baías grandes que tem, uma da parte do sul, de uma ponta que se chama da Galé até à ponta de Santa Clara, da cidade de Ponta Delgada, e outra, da parte norte (…)”

Em minha opinião as descrições que Frutuoso fez, coincidem com os locais que temos andado a visitar e ver, sendo óbvio que estamos na extremidade poente da enorme baía iniciada, lá ao fundo, na Ponta da Galera.
Antes de abandonar este local, sugiro que, virando as costas para o mar, olhemos em direcção ao interior da ilha. Lá está, por cima do casario, como que atraindo o nosso olhar, a enorme elevação artificial que suporta o acrescento em tempos feito à pista do aeroporto.

Sem palavras
O cenário daqui obtido nem sempre foi este. Ainda recordo a frondosa mata que ocupava quase toda aquela extensão, terminando nas “pedreiras da doca”, por cima da qual existiam terrenos de cultivo confrontando a Norte com o Ramalho e a Este com a Relva.
Amostra, do pouco que sobrou da frondosa "Mata da Doca".
Pormenor da foto aérea já "postada", desta feita com detalhes do interior de Santa Clara antes referido, realçando-se a "mata da doca" quando o campo de futebol ainda existia estando as barrocas da pedreira ainda bem visíveis. Vêem-se também os terrenos de cultivo do Ramalho (em cima), e da Relva (à esquerda), e à direita, a Avenida do Principe do Mónaco com a respectiva rotunda ao cimo.

Mas muito antes da exploração as pedereiras e da intervenção paisagística do Eng. Dinis da Motta, quando o lugar da ponta delgada era ainda um “solitário ermo”, tal como escreveu Frutuoso, toda esta zona era um cerrado matagal.
De novo recorrendo ao livro, agora logo na página dez, podemos ler: “E de Vila Franca vinham correndo a costa em barcos, e saindo na Ponta Delgada, cinco léguas de Vila Franca, na Ponta de Santa Clara, iam a montear, e, entrando por terra adentro um tiro de besta, e tiro e meio, sem poder mais entrar nela, pelo mato ser muito maninho e espesso, estavam dois dias e três, em que carregavam de porcos monteses, com que se tornavam para suas casas bem providos.”
E depois, já na página duzentos e vinte e sete: “ Os porcos do monte eram tantos e tão bravos que davam grande trabalho aos monteiros. Havia infinidade deles além da cidade da Ponta Delgada, para aquela banda de Santa Clara, e até à casa de Francisco Ramalho, onde os iam montear os moradores de Vila Franca, levando mantimentos em seus bateis para alguns dias, nos quais, fazendo salga neles, se tornavam com muitos para a mesma Vila"."
Feito que está, o possível “retrato” desta área, regressemos ao ponto de partida, para nos determos um pouco na extrema oeste do improvisado parque de estacionamento. Avançando agora para nascente, depois de ultrapassadas as pedras que delimitam esta improvisada zona, já mesmo sobre o limite do aterro, muito próximo do já soterrado “Cunhal da Maré”, uma enorme pedra em formato de ovo que a natureza moldou sobre um a base também de basalto, uma referência nesta zona da costa.

O "Cunhal da Maré", hoje completamente soterrado, é a enorme pedra que está por detrás do braço direito da criança representada em primeiro plano.

Algures, aqui por baixo, está agora o "Cunhal da Maré"


Desolador aspecto do que resta do "Calhau da Areia", com a "Entrada" e respectiva ponta em fundo, vendo-se ainda os "Tanques do Óleo" sobre aquela que Frutuoso chamou de "Ponta dos Algares"

Daqui até à Ponta da Entrada – lá ao fundo -, separada pelo “esguicho” (um poceirão outrora fundo, excelente para mergulhar, nadar e pescar) da Ponta do Salteio (nome como em Santa Clara é conhecida a ponta sobre a qual estão os “tanques do óleo”. A Ponta dos Algares como Frutuoso escreveu), estende-se o “Calhau da Areia”, nome popular desta pequena enseada onde hoje só existe “calhau rolado”.

Também este local já foi bem diferente. Mais recortado, muito mais limpo, com muito mais areia. Era uma aprazível zona de banhos para os habitantes de Santa Clara. E quanto mais recuarmos no tempo, maior e mais profunda foi esta baía em que o mar chegava até à primeira linha de construções que hoje daqui vemos.
Chegou a hora de, pela última vez abrir o livro que vos sugeri, e, na página cento e setenta e oito, ler como Frutuoso descreveu o “Calhau da Areia”. Tenhamos porém em conta que o fez de uma posição exactamente oposta aquela em que nos encontramos; de nascente para poente: “Além, pouco espaço da Fortaleza para loeste, está uma ponta que se chama dos Algares (…) Defronte da qual está um baixo, entre o qual e terra passam barcos, e logo está uma pequena baía de areia, defronte das casas do em tudo grandioso Francisco Arruda da Costa, merecedor de grandes coisas, por toda a sua indústria, e com grande custo seu cercada de muros e cubelos, com sua porta para o mar, tudo muito defensável, e pegado com a porta, chamada de Santa Clara, por ali estar a igreja paroquial desta Santa, onde se acaba a principal costa da cidade, que ainda chega à outra ponta de Baltazar Roiz. Entre a qual e a da Galé (como já se disse), fica a grande baía de três léguas de comprido ( … )”

A Ponta dos Algares - do Salteio segundo a versão popular ou ainda das Aringas -vista do antigo Estradinho, cumprindo o sentido da descrição feita por Gaspar Frutuoso.

Costa de Santa Clara, com o "Calhau da Areia" ao centro entre a Ponta Delgada e a Ponta das Aringas (ou dos Algares), cuja estrema oeste é popularmente conhecida por Ponta da Entrada. Eram aliás, a Ponta da Entrada, a nascente, e o "Cunhal da Maré", a poente, o que definia em concreto a enseada em cujo extremidade mais abrigada se situava o "Calhau da Areia".

Sendo tantas, e tão exactas as referências a todos estes locais, permitam-me admitir ter sido no “Calhau da Areia”, quando era maior e tão apropriado para desembarcar que até foi necessário defendê-lo com uma muralha, que os caçadores de Vila Franca deixavam os seus barcos quando para aqui vinham montear. E assim tendo sido, possível se torna aceitar, que alguns deles tivessem, naturalmente, por aqui se fixado dando origem ao início do povoamento do lugar da ponta delgada.
Vou já terminar, mas não sem antes escrever que enquanto o “progresso” não a arrasar completamente, sem grande esforço – e com muito prazer -, podia também conduzir-vos até ao que julgo ser o que resta da muralha com cubelos que Francisco Arruda da Costa construiu, e que poderá ser uma forma de se chegar à localização da ermida original em evocação a Santa Clara, que estando na origem do renomear da ponta, lhe retirou o nome inicial para com ele baptizar; primeiro o lugar, depois a aldeia, e mais tarde a vila que deu lugar à cidade de Ponta Delgada.
Do próprio. Texto (revisitado) publicado no suplemento do Açoriano Oriental de 19 de Julho de 1999, comemorativo dos 500 anos do Concelho de Ponta Delgada



terça-feira, outubro 19, 2004

"VIVA OS AÇORES"

Já desde os, por muitos quase esquecidos – e por outros, desconhecidos – anos 76 e 80, que a açorianidade se não tinha mostrado tão determinante na obtenção de uma vitória eleitoral. Acresce importância ao facto se tivermos em conta que a democracia entretanto foi “amadurecendo”; que os cadernos eleitorais agora integram uma nova geração; e que, em alternância, os dois principais partidos “inverteram os papeis”!
O Azul e Branco predominou como cenário dos vencedores, e o discurso político – do PS ao BE – deixou de evidenciar alguns dos complexos da esquerda local contrariando um dos mais gratos princípios da esquerda em geral; a defesa da autodeterminação dos povos. Bom prenúncio.
A 17 Out. 2004, em confronto com a descarada conivência e subjugação ao “poder de Lisboa”, ganharam as instituições açorianas reforçando a escassa autonomia até agora conquistada. O que não é de somenos importância, tendo em conta a descomunal diferença de meios empregues – incluindo a instrumentalização dos OCS públicos –, para a auto estima dos açorianos como Povo!
Melhor, mas a requerer ainda maior amadurecimento democrático, só mesmo quando na ALR existir mais pluralidade. Aliás, a única nota menos positiva destas eleições foi a redução do leque de representatividade partidária no Parlamento Açoriano. Decq Mota dispensava “o presente” que lhe foram levar à Horta. Foi, também neste caso, a insensibilidade “do poder central”!
Última nota: Será que haverá quem continue encomendando sondagens IPOM?
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 18, 2004

domingo, outubro 17, 2004

Orla marítima de Santa Clara II


Pormenor de uma foto aérea de 1955, publicada por Manuel Ferreira no seu livro:
"As voltas que Santa Clara deu" - 2003
Posted by Hello

Orla marítima de Santa Clara I


Carta com pormenores da costa de Santa Clara (meados da década de sessenta do século XX), incluindo as curvas bati métricas de maior proximidade, estas, de grande interesse para comparar a "evolução" - é de degradação, de facto, que se trata - da orla marítima daquela zona.

Descrição que Gaspar Frutuoso fez desta zona da costa de Ponta Delgada:
"Além, pouco espaço da Fortaleza (1) para loeste, está uma ponta que se chama a Ponta dos Algares (3), porque saem ali dois com suas bocas, (...) Defronte da qual ponta está um baixo(2), entre o qual e terra passam barcos, e logo está uma pequena baía de areia(4), defronte da casa do generoso e em tudo grandioso Francisco Arruda da Costa(?) (...), com sua porta para o mar, tudo muito defensável, e pegado com a porta, chamada de Santa Clara, por estar ali a igreja paroquial desta Santa, onde se acaba a principal costa da cidade, que ainda chega à outra ponta de Baltazar Roiz (5)".

Descrição actual - incluindo os nomes populares adoptados - da mesma zona da costa:
Partindo do Castelo de S. Braz (1) para poente, temos então; o Estradinho (A), a Baixa das Aringas (2), a Ponta das Aringas, dos Algares, (do Salteio ou da Entrada nas versões populares) (3), (o "Calhau da Areia" também na versão popular) (4), a Ponta Delgada ou Ponta de Santa Clara, (da Sardinha na versão popular) (B), e por fim a Ponta Baltazar Roiz, (da Eira ou do Farol nas versões populares) (5).
Posted by Hello

sábado, outubro 16, 2004

MEDEIROS CABRAL IV


Estudo - Nu masculino
Lapis de cor sobre papel 41x30
Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL III


Estudo - Nu masculino
Lápis de cor sobre papel 41x30
Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL II


Auto Retrato
Acrílico sobre tela 73x53,5


Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL


José Manuel de Medeiros Cabral
Ponta Delgada - Açores
Setembro 1955 - Dezembro 1979

Em 1977 expõe individualmente o tríptico " A História" no Museu Carlos Machado e ingressa na ESBAP (Escola Superior de Belas Artes do Porto).

Ainda muito jovem - 1973, com 18 anos - participa na exposição colectiva do Extrenato do Infante em Ponta Delgada, para dois anos depois, 1º de Maio de 1975, expor individualmente na Praça Gonçalo Velho, também em Ponta Delgada; "Uma exposição para trocar".

Os seus trabalhos integraram as exposições colectivas "Os Sentidos"( apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian) 1989, e "Meio Século de Arte nos Açores", promovida pela Direcção Regional da Educação e Cultura por ocasião da Presidência Aberta, ainda em 1989.

Está representado no Museu Carlos Machado em Ponta Delgada assim como em várias colecções partirculares.
São de sua autoria as vinhetas que ilustram "O Barco e o Sonho"; primeiro livro de Manuel Ferreira.
Posted by Hello

sexta-feira, outubro 15, 2004

O tríptico "A História"


O Esclavagismo
Acrílico sobre tela 100x60 - 1977
O Feudalismo
Acrílico sobre tela 100x80 - 1977
O Capitalismo
Acrílico sobre tela 100x100 - 1977
Medeiros Cabral Posted by Hello

quinta-feira, outubro 14, 2004

quarta-feira, outubro 13, 2004

A TENDA DO MESTRE VIRGÍNIO

Julgo não exagerar se considerar “a tenda do Mestre Virgínio” – algures entre os nºs 132 e 136 da 1ª Rua de Santa Clara – como mais um dos locais de culto em Santa Clara, que, infelizmente, já deixaram de existir!
Desde sempre – e até recentemente quando já próximo do fim da sua vida tive oportunidade de com ele privar e conversar longamente – tinha interiorizado a ideia que o Mestre Virgínio era um homem distante e “carrancudo”. Desde criança via-o passar, sempre sozinho, com aquele passo seguro de “falso lento”, e com os olhos ora no chão ora no infinito, como quem se está consumindo em nada de acordo com a vida simples e pacata que parecia ter.
Já mais “crescidinho”, quase adulto, alguém – sinceramente já não me recordo quem! – disse-me que Mestre Virgínio era comunista e que a sua muito discreta tenda de barbeiro, teria sido um importante local da logística do PCP nos mais difíceis tempos de oposição clandestina. Se isso é verdade, nem o próprio mo confirmou quando tive oportunidade – começamos a ficar mais à vontade um com o outro dois ou três anos após termos iniciado longas e francas conversas – de lhe questionar pessoalmente sobre o assunto. Na altura, o melhor que lhe consegui arrancar, foi um sorriso quase inexpressivo, acompanhado de um mal dissimulado brilho nos olhos!
Logo nos primeiros tempos após o 25 de Abril – quase como que confirmando que a partir daquela altura aquele local poderia ser dispensável – a tenda do Mestre Virgínio mudou de dono.
Foi lá, com amigos já na altura possuidores de consistente formação política – iniciada, primeiro na JOC de Santa Clara, e mais tarde aprofundada nos contactos e saberes que a SEXTANTE proporcionou -, que mantive longas e profundas discussões, enquanto se mudavam algumas pedras num tabuleiro de xadrez , em dupla competição, onde era muito mais renhida, e acalorada, a troca de ideias propriamente dita do que a partida de xadrez em si.
Depois de ter sido também um embrião da dinamização cultural, a tenda do Mestre Virgínio foi ainda, durante algum tempo, o espaço que José Manuel Medeiros Cabral –“ Zé Manel Cabral” para os amigos, e Medeiros Cabral no mundo das artes – utilizou como atelier.
Lá assisti - mais uma vez entre interessantes e intermináveis conversas – ao demorado parto da sua obra prima; o tríptico “A HISTÓRIA”, que denunciando com a emoção daquela época a sempre presente luta entre opressores e oprimidos, na terceira tela do conjunto; “O CAPITALISMO”, perpetuou o registo da Santa Clara Industrial do início do século XX.
Estou convicto que atenda mo Mestre Virgínio foi o último bastião – talvez o único que, resistindo à ditadura tenha chegado até ao último quartel do século XX –, dos vários que chegaram a existir em Santa Clara, dando corpo ao anarco-sindicalismo que antecedeu a Republica, e mais tarde, aos movimentos operários dos primeiros anos do século XX.

Do próprio. Texto (revisitado) publicado na imprensa local no fim da década de 90.

terça-feira, outubro 12, 2004

ALTAS e baixas pressões

Em democracia “o poder” não é exercido só por quem governa. Tampouco o 4º poder, cada vez mais presente e poderoso, é independente. Depende de quem o sustenta, via mercado publicitário, ou, sobretudo, quando estão em causa negócios e interesses fundamentais para a sua sobrevivência. É abrir os olhos e ver. Tarefa fácil por exemplo no nosso meio. Com excepções. Claro. Poucas!
O verdadeiro poder está na sociedade – no povo segundo o discurso político –, mas só quando esta tem uma vivência democrática amadurecida; já lhe proporcionaram níveis aceitáveis de instrução e conhecimento; exige, com naturalidade, o que sabe ser seu de direito. Em suma, quando já exerce a plena cidadania. O que, convenhamos, trinta anos após o 25 Abril, ainda é excepção e não regra! É ver como mesmo em círculos restritos, quase diariamente, se assiste à auto-censura. É ver como, com indesejada frequência, se constatam várias e variadas tentativas de silenciamento às vozes incómodas!
O “caso Marcelo” – esta alta pressão continental – só o é por ter sido com quem foi; por ocorrer em clima de denso rebuliço político; por bulir com estrondo com uma audiência superior a um milhão de almas. Paradigmático é como este acaba remetendo para o devido lugar um outro caso – o telefonema em CD –, qual baixa pressão atlântica de grande aparato mas insignificante intensidade.
Enfim, campanha eleitoral!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 11, 2004

O "Field Azores"


Com o avançar da exploração da Pedreira da "Mata da Doca", a base dos diversos filões de basalto, à medida que este ia sendo extraído, transformava-se em terreno plano que ia sendo progressivamente ocupado pelo estaleiro, pelos resíduos resultantes de toda aquela actividade, e pelo depósito dos "blocos" - enormes paralelipipedos (em média : 5mt comp. por 3mt larg. e 2mt alt.) constituídos por enúmeras peças de basalto chumbadas umas às outras com cimento - destinados à construção do porto e respectivo quebra mar.
Foi na zona nascente desta planície artificial, depois de devidamente limpa e preparada para o efeito, que no final da I Grande Guerra esteve acantonado o "destacamento americano" encarregue, entre outras funções, de operar " a peça" instalada em Santa Clara para defesa da costa e do porto.
O "Field Azores", é mais tarde, depois de definitivamente denominado "Campo Açores", o berço do futebol micaelense; um recinto que após de ter deixado de servir para a prática de futebol oficial, adoptando popularmente o nome de "Campo da Mata da Doca", manteve utilização prática até ficar completamente soterrado pelo prolongamento do aeroporto de Ponta Delgada. Posted by Hello

domingo, outubro 10, 2004

Pic-Nic na "Mata da Doca"


Uma família de Santa Clara em pic-nic domingueiro na "Mata da Doca".
Com uma foto tirada cerca de quarenta anos depois de escrito o texto de Bruno Diniz que parcialmente reproduzimos no "post" anterior, e como que cumprindo o sonho do Eng. Diniz Moreira da Motta, aqui fica registado um hábito frequente entre as classes populares de população de Ponta Delgada, de modo muito especial, das gentes de Santa Clara, uma forma de ocupar as quentes tardes dos Domingos de Verão.
Foto pertencente à coleção particular da família Santos
Posted by Hello

A Mata da Doca, ou, Parque Diniz da Motta

(…)

Desapareceram as antigas Pedreiras da Doca!
Por sobre aqueles montículos pitorescos, colocado pelos vales em cima das esplanadas, bordando veredas e caminhos, estende-se, cerrado, o arvoredo q’ entremeia e tece os ramos, numa confusão imensa de folhagens, matiza os seus verdes diferentes e derrama, gratamente, por sobre a terra que o nutre, uma sobra protectora e amiga.
Dum deserto fez-se um bosque! Por entre as pedras brotaram acácias e pinheiros; o antigo solo abrasado ostenta hoje carvalhos, angélias, araucárias, rubínias, piteiras …e sobre aquela terra vermelha e tórrida, que escaldava, que feria a vista, estendeu-se um tapete verde de relva húmida e tenra que nos descansa a retina.
Quanto podem o entusiasmo de um homem, o escorregar vagaroso do tempo e o forte viço das plantas!
No meio do parque – seu coração – espairando-se largamente como a arena de um coliseu titânico – O Campo Açores. Plano, nivelado, extenso, presta-se magnificamente a todos os jogos, a todos os desportos: tennis, foot-ball, croquet, birlo, barra, gyncanas, corridas de velocidade, de resistência, de bicicleta, concursos hípicos etc. (…)

(…) Diniz da Motta acariciava este projecto; mas não se limitavam a isso os seus projectos. Desejava traçar ali avenidas de rodagem, arruamentos para peões, veredas e atalhos nos sítios mais íngremes. Propunha-se desbastar o arvoredo, semeado assim compacto com intuitos de protecção e para obviar às recusas tão frequentes das plantas mais delicadas, introduzindo depois espécies mimosas e belas mas de resistência menor. Ajardinaria uns dois ou três pontos, deixando o resto na sua rudeza de mata, convidando às excursões, aos piqueniques.
Junto à casa do Século XX abrir-se-hia um lago (a cargo do mar enche-lo), e construir-se-hia uma piscina. Uns barquinhos, montes de areia aqui e além, algumas redoiças e outros brinquedos eram destinados às crianças…
Assim haveriam de passar algumas horas de bom ar, paz e simplicidade aqueles a quem a Vida não permitisse gozar o campo nos meses de verão.
O estabelecimento do seu Parque da Alegria (assim tencionava chamar-lhe); a organização da Praia de S. Roque, aproveitando a variante da Estrada Nacional entre S. Roque e o Pópulo (chegou a expropriar os terrenos precisos), que viria a proporcionar a Ponta Delgada as vantagens de uma praia, que o acaso verdadeiramente lhe destinou; o aproveitamento da Ribeira dos Tambores, feito paralelamente com a construção da estrada da Ribeira Quente (serviço que deixou começado), – tais foram as três últimas ideias que lhe inflamavam o coração altruísta “É o meu testamento à minha terra”, disse uma vez, com um sorriso nos olhos de veludo.
Dentro de poucos dias expirava…

Bruno Diniz
28 – XI – 1920.

Exploração da Pedreira da "Mata da Doca"


Exploração mecanizada da Pedreiras da "Mata da Doca", vendo-se ao centro uma das históricas locomotivas rodeada de vários dos seus "wagons", equipamento que ali teve desempenhodeveras importante Mantendo-se em actividade até meados da década de 60 do século XX.
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terça-feira, outubro 05, 2004

ZAPATOS EN PONTA DELGADA II


Recorte de 03.29

Pormenor do exercício de José Silva

In:
CAMBIO + ENERGIA + INFORMACIÓN / PALACIOS DE LA DIVERSIÓN / ISLA DE SAN MIGUEL / MEMORIA DE PROYECTOS CURSO 2003/04 / UNIDAD Q - ETSAM
Juan Herreros Posted by Hello