domingo, dezembro 23, 2012

A RTP/A “janelinha”, outro garrote centralista


Mais do que a obsessão ultra liberal, capitaneada por dois ou três “old yuppies” a soldo da finança internacional que norteia ideologicamente a “Relvas/passista” forma de espremer e fazer definhar a que alguns chamam governar; mais até do que o despudorado modo como está a ser desmantelado, e a bel-prazer “do dono” controlado, aquilo que deveria ser o Serviço Público de Rádio e Televisão em Portugal, o que se está a passar com a RTP/Açores mais não é do que a consequência lógica do esmagamento provocado pelo “rolo compressor centralista”, agora conduzido por manobradores de elevado preconceito neocolonial. Nada de novo: já assim foi no século XIX com a “questão do álcool”; assim voltou a ser, no início do segundo quartel do século XX, com Salazar a dar fim à moeda própria; já no nosso tempo e sob a autonomia vigente desde 1976, assim também aconteceu com a estratégica desvalorização (e consequente substituição de “cash” por sucata bélica) da Base das Lajes; e – oxalá me engane – assim irá acontecer brevemente com a usurpação dos direitos de exploração dos recursos naturais existentes no fundo do Mar dos Açores!
Mas, voltando à RTP/Açores, ou melhor, à vergonhosa “janelinha” em que a estão transformando, não será demais aqui trazer as conclusões da tese de Doutoramento de Catarina Burnay, documento de Junho de 2010 que recentemente voltou “à baila”, onde é demonstrado o enorme contributo da televisão dos Açores (em especial da sua produção) no fortalecimento da identidade açoriana, concluindo também que nenhuma outra televisão atingiu esse mesmo objectivo em relação à identidade portuguesa.
Eis pois aqui, muito mais do que nas evocadas razões de racionalização e redução de custos, aquilo com que os preconceituosos neocolonialistas estão preocupados. E não é para menos. Se poucos (mas bons) açorianos, como Antero, Arriaga e Teófilo – só para citar três – provocaram em Portugal as revoluções e mudanças que se conhecem, natural se torna que os neocolonialistas temam que o valor da Açorianidade se imponha, nos liberte e, quiçá, ainda os subjugue. Olhem o exemplo de Angola!

A.O. 22/12/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, dezembro 09, 2012

Manuel Ferreira

Eu e o Senhor Manuel Ferreira, em Outubro de 2002 (como o tempo passa), quando lhe fui dar a conhecer as ruínas do "Catelinho de Santa Clara", estava então a ser finalizado o "As voltas que Santa Clara deu".

Faz hoje exactamente sete dias que o Senhor Manuel Ferreira - o Comendador Manuel Ferreira -, mui digno paladino da Açorianidade e estóico portador/guardião do testemunho da “Livre Administração dos Açores pelos Açorianos” desde o ocaso dos “velhos autonomistas” até à Autonomia conquistada com o 6 de Junho de 1975, fisicamente, deixou-nos. Partiu ficando, pois o legado que nos proporcionou fará com que Homem e Obra, agora para sempre fundidos, entre nós permaneçam!

Mais de três dezenas de títulos publicados e milhares de peças jornalísticas dispersas em vários periódicos – sempre bem fundamentadas, na sua grande maioria exigindo minuciosa preparação, algumas delas geradoras de forte polémica, bastas vezes dando origem a réplicas e tréplicas – dão bem a ideia da enorme capacidade de trabalho que Manuel Ferreira patenteava, facto ainda mais relevante tendo em conta que durante largo tempo acumulou as actividades jornalística e literária com as que realmente lhe garantiam subsistência. A si e aos seus! Um labor frenético que, acompanhado de austera disciplina e suportado por um sempre lúcido raciocínio e uma prodigiosa memória manteve praticamente até aos últimos tempos, deixando “como que esmirrado” quem, mesmo que com pouco mais da metade da sua idade e só o fazendo pontualmente, procurasse acompanhar tamanha energia e produtividade.

Da obra de Manuel Ferreira permitam-me, até também pela actualidade (num tempo de esbulho fiscal e “caça à multa”), aqui trazer o “Alevante da isca”, conto, histórico, com o qual, em 1948, ganhou, os Jogos Florais do Instituto Cultural de Ponta Delgada. A acção remonta a 1898, dois anos depois das Cortes ratificarem o hoje já mais que centenário “decreto de 2 de Março de 1895”. Além do “retrato” da Ponta Delgada de então que nos é proporcionado, onde, distintos personagens como o industrial João de Melo Abreu mas também outros bem mais humildes como o pescador santaclarense “João Viúva” são “apanhados na foto”, o uso de expressões como: “O pulha, com cara de tratador de porcos, anos antes destacado do continente para cá, como soldado raso e impedido do comandante da Guarda-fiscal (…)”, ou; “Lisboa só nos mandava daquelas encomendas!”, ou ainda; “Cães danados. – E fala-se em regalias…. em autonomias… – Qual autonomia, nem meia autonomia? – Nem na nossa casa uma pessoa manda!”, dão bem conta do que “ia na alma” do então jovem escritor, que, não obstante serem tempos de ditadura, além das criticas veladamente romanceadas, não se coibiu em lhes dar contexto e personalizar com o paragrafo com que remata o texto: “Daqui vou-me direito, sem mais conversas, tirar a minha licença de isqueiro…”.

Obrigado Manuel Ferreira. Um eterno bem-haja!

A.O. 08/12/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, novembro 25, 2012

Negócios da china

Têm sido manchete recorrente notícias avulsas dando conta de um eventual interesse da República Popular da China nos Açores. Não estranho, até considero “boas notícias”!
O mais normal, facto confirmado ao longo de séculos, é a cobiça que os Açores suscitam à potência expansionista dominante num determinado momento. Foi assim com Portugal, com a Espanha, com Inglaterra, e mais recentemente com os EUA. Anormal seria o contrário. Como anómalo é também o facto de os açorianos serem, por regra, não obstante os riscos inerentes, quem menos lucra com “o negócio” em que terceiros os envolvem.
Mas as singularidades deste processo não se ficam por aí: é a FLAD ser sediada em Portugal quando podia (e devia) estar nos Açores; é a “renda da parcela da quinta” ser paga em “sucata bélica” quando os Açores tanto necessitam de investimento economicamente reprodutivo e/ou cultural e cientificamente consistente; é o assistir, sem contrariar (pelo menos de forma eficaz), à sistemática campanha de desvalorização da importância geoestratégica dos Açores, e mais, e mais, e mais...
Por tudo isso são “boas notícias” as que dão conta do interesse da China nos Açores. No mínimo – é da lei da oferta e da procura –, acrescenta valor!

Esclarecimento (O fim do Império) A.O. 15Nov2012

Sobre o assunto em epígrafe, as minhas primeiras palavras são de agradecimento. Surpreendeu-me tanta importância, para mais vinda de tão alargado, distinto e douto conjunto de personalidades. Um dos meus “vai lá saber-se porquê” fica assim mitigado. Muito obrigado!
Mas não é tudo. Não posso deixar passar os “delírios”: o dito meu (chamar-lhe-ia “delírio de colonizado”) e os de outrem. O que me é atribuído pretendo mantê-lo: não escondo que gostava de viver num país Livre e Independente chamado Açores (mais utópico é acreditar que o processo se faça pacificamente, tipo “divórcio de veludo” entre gente civilizada. Mas quero manter esta esperança!). Tal como os cabo-verdianos, nós, açorianos, temos também direito a ser “delirantes”! Sobre o “delírio imperial”, reitero: há muito de comum entre os que antes gritavam que Portugal ia do Minho a Timor e os que hoje o desejam, uno e indivisível, porém agora só do Minho ao Corvo.


A.O. 24/11/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

segunda-feira, novembro 12, 2012

O fim do Império



Tinha planeado a minha vida de forma a hoje, Sábado (09.11.2012), poder ir assistir, na Universidade dos Açores, à dissertação: “Pensar Açores – o fim do Império”, proferida pelo Dr. José Almeida. Vá lá saber-se porquê (mas imagino: há temas e pessoas que causam urticária ao “zeladores da pátria”, sobretudo agora que o “império”, para além do retângulo ibérico, está reduzido aos Açores e à Madeira), notícias de última hora deram conta que o Dr. José Almeida já não incluiu o painel de palestrantes.

Passam os anos, modificam-se os arquétipos e paradigmas, mas fica quase inalterável o “delírio imperial” de uns quantos, que não obstante já pouco mais serem do que meros regentes por conta da Troika, quais “duquesas de Mântua” ou “Migueis de Vasconcelos”, tudo fazem para não perderem uma oportunidade de “puxar pelos galões” ou “arejar a farpela” de representantes do “dono da quinta”, uma "quinta" que desde há muito já deu provas de saber (e poder) viver sem tutelas que nada acrescentam, bem pelo contrário.

Há coisas que não mudam, ou mudando, o que se altera é muito pouco! Perante tanta inércia, tanta presunção e tanta desavergonhada representação – quem se pode esquecer da presença de Miguel Relvas na tomada de posse do novo Governo dos Açores? –, vá lá mais uma vez saber-se porquê, fica-me sempre a sensação que há quem ainda se inflame com o grito salazarento que nos impingiam em criança nas tardes de Mocidade Portuguesa, só que agora, passados todos estes anos, com menor amplitude. Dantes gritava-se: “Do Minho a Timor…. Portugal, Portugal, Portugal”. Agora, impelidos pelo mesmo desejo, porém impedidos de repetir a mesma coisa, parece que dão largas ao “delírio imperial” que os consome gritando em êxtase: “Do Minho ao Corvo … Portugal, Portugal, Portugal”.

A.O. 09/11/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

sábado, outubro 27, 2012

Renovar sim, também as mentalidades

Duarte Freitas, agindo como quem ainda não percebeu parte importante do que acabou de acontecer, numa das suas primeiras aparições como candidato à sucessão de Berta Cabral, não encontrou melhor forma de afirmar o seu “espírito de missão”, senão, inspirando-se em Victor Gaspar. Que pena. Parece que não há forma de aprenderem, nem mesmo depois dos erros recentes.

É que, mais do que a excessiva austeridade provocada pelo incompetente desacerto do governo “Relvas/passista” que a partir de Portugal nos esmaga, sufoca e tudo faz para restringir ao mínimo a escassa autonomia já conquistada; mais do que a tentativa de extrapolar para todos os Açores (vá lá, excepto o Corvo) as práticas e estratégias políticas utilizadas no Concelho de Ponta Delgada, ainda por cima, quando estas já demonstravam visível desgaste; talvez mais (porque começou mais cedo) do que os vários “tiros nos pés” dados ao longo dos meses de Setembro e Outubro – atemorizar com o “resgate” Açores/Portugal para logo apontar quem melhor o podia renegociar e/ou “desfazer” / acenar com um n x 9 que antes de o ser já era um n x 8 / desembainhar o contraditório chorrilho de promessas que ouvimos, a última das quais (os 15.000 empregos) a fazer lembrar o pior da “era socrática” –; mais do que tudo isso, dizia e estou convencido, a recente derrota eleitoral, sobretudo a alargada margem que aquela consubstanciou, teve muito a ver com a terrível tendência que o PSD/A tem patenteado: aplaudir e louvar submissa e de forma seguidista os líderes do partido em Portugal.

Acredito na renovação. Aliás, mais ainda do que todos os outros motivos antes referidos, estou certo ter sido a renovação, muito propalada e não menos bem evidenciada no projecto de Vasco Cordeiro – em contraponto com o de Berta Cabral, não obstante o célebre “out door” dos figurantes – o verdadeiro “motor” da vitoriosa campanha que renovará a presidência do Governo dos Açores.

A renovação no PSD/A também é bem-vinda. Porém, não há renovação sem que, antes de tudo o mais, se renove as mentalidades (esperemos que o “tropeção de Duarte Freitas seja só isso mesmo: “um tropeção”).

Só com uma nova geração: arejada, descomplexada, desejosa de emancipação e capaz de aceitar o risco de encarar o mundo sem se agarrar às “pernas do papá”, os Açores podem também, um dia, renovando, emancipar-se.

Venham os mais jovens, cheguem sem peias nem teias: a Mátria açoriana agradece!

A.O. 27/10/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


sexta-feira, outubro 12, 2012

Este ano, 7: No futuro, 70x7

Está patente em Santa Clara, no Centro Cívico e Cultural da freguesia (caso emblemático da gestão social e política do município de Ponta Delgada, que dá guarida e emprego aos que nas listas lideradas pela ex - presidente da CMPD perderam eleições nas suas freguesias e mantém cativa, como inquilina enjeitada, a Junta de Freguesia local), uma exposição de documentos, publicações, fotos e objectos, mostrando parte do muito que mudou em Santa Clara desde que se emancipou de São José, mas fazendo também, e simultaneamente, um retrato de Santa Clara desde 2005 a 2012.

“Sete anos, sete vidas”, patente ao público até dia 16 de Outubro (embora só nos dias úteis e entre as 18:00 e as 20:30), pretende com o seu título aludir à tenacidade em fazer nascer e manter a mais jovem freguesia urbana de Ponta Delgada e com o seu conteúdo mostrar a muita “obra” (mais humana do que material) feita em resultado de um mobilizador projecto de cidadania, pois como se sabe – mas nunca é demais repetir – os destinos da freguesia estão desde a primeira hora entregues a um grupo de cidadãos, intitulado “Santa Clara – Vida Nova”, que à margem dos partidos (mas não contra estes – só o PSD não entendeu o projecto), com grande dedicação e perseverança, reflectindo a forte identidade de Santa Clara, não se poupam a esforços para recuperar o tempo perdido (anos em que Santa Clara foi considerada, e tratada, como o “fundo do quintal de Ponta Delgada”).

Neste seu sétimo ano de vida, Santa Clara recebeu uma especial prenda, pois as suas contas, auditadas pelo Tribunal de Contas, passaram sem mácula, com o único reparo referindo a obrigatoriedade das mesmas serem publicadas no “website” da freguesia (o que de imediato foi efectuado).

“Renovação: avança uma nova geração” foi o lema de campanha usado para o segundo mandato de “Santa Clara – Vida Nova” à frente dos destinos de Santa Clara. Avançou mesmo uma nova geração! Mudaram as pessoas. O que ficou inalterável foi a competência o esforço e a dedicação emprestadas ao projecto, com a juventude – e a vitalidade que daí advém – do novo executivo apresentando-se como mais valia considerável.

Longos anos para Santa Clara.

A.O. 13/10/2012; “Cá à minha moda" (revisto e muito acrescentado, sobretudo com o que não pode ser publicado em dia de reflexão eleitoral)


sábado, setembro 29, 2012

“Ganda noia”!



Talvez porque não interesse dar grande visibilidade aos “pesos pesados” de cá – vá lá saber-se porquê?? –, e porque tampouco interessará – presumo ?? – cá trazer as “primas donas” portuguesas que, fosse outro o resultado da sua governação, aqui estariam dia sim, dia sim, coube a Marcelo Rebelo de Sousa (este mais discretamente porque parece “já não ter aço” para riscos desnecessários) e a Marques Mendes (mais voluntarioso, com menos a perder, mas pelos vistos muito mal informado) o suporte dado pelo PSD de Portugal ao PSD de Berta Cabral (dito Açores, agora só com oito ilhas. Foi-se o Corvo!).

É fácil agitar “bandeiras dos Açores”. É ainda mais fácil usar palavras que “caiem bem no ouvido”, tipo “primeiro os Açores e os açorianos”, difícil é ser-se coerente com estas “facilidades”. Trocar, a pedido, Duarte Freitas por Patrão Neves foi uma clara demonstração desta incoerência e de como cede rápido, deixando-se subjugar facilmente, a autoproclamada “negociadora difícil”. O mesmo aconteceu com a ambígua posição tomada a propósito da relvista pretensão de extinguir freguesias, com o “a cortar serão só as freguesias urbanas”, como se as realidades Lisboa e Ponta Delgada (ou Porto/Angra, Coimbra/Horta, etc. e tal) fossem para este e outros efeitos minimamente comparáveis!

Agora – a inoportunidade a isso obriga –, é mais que notória a preocupação em “descolar” (por vezes de forma tão primária que roça o ridículo) de Passos Coelho e da sua desastrosa desgovernação. Mas antes, e até recentemente, quando a maré era favorável e a onda surfável, os putativos méritos “relvas/passistas” foram explorados até à exaustão e os próprios, Relvas e Passos, ufanos e de “peito feito”, apresentados como autênticos ases de trunfo.

“Primeiro os Açores” é bem mais do que isso. Será, para já, acreditar na renovação e dar oportunidade a uma nova geração: uma geração que não esteja já esgotada; que apresente grande potencial para continuar a evoluir; que rompa com conservadorismos em desuso (independentemente do que rendem eleitoralmente); que aposte na modernidade e no futuro; que busque cada vez mais autonomia, mais autodeterminação.

Os Açores agradecem!

A.O. 29/09/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, setembro 16, 2012

Pois, é no que dá.

Quando os dados estavam a ser lançados para começar “o jogo a sério”; com os “marqueteiros” de Passos Coelho já a darem os primeiros palpites (afora os milhafres descolorados os “brazucas” bem que recomendaram cuidado com as companhias: além “dos bonecos”, também na constituição da lista - digo eu???); com os devotos das medidas da TROIKA eufóricos, prevendo visíveis melhorias nas contas e até crescimento económico para o 2º semestre de 2012, vivia-se a época dos “beijos e abraços”; o tempo dos convites para tudo e mais alguma coisa.

Bem que a sabedoria popular avisa que “não nos devemos fiar em sapatos de defunto”! Mas há quem não resista, sobretudo não resistem aqueles que, por antigo e entranhado hábito, “surfam todas as ondas” que lhe dão jeito, mesmo quando a última os obriga a dar o dito por não dito em relação à penúltima.

Depois, foi o que se (vê e) está vendo: se até não há muito tempo Berta Cabral usava como trunfo eleitoral estar em melhor condição do que os demais para negociar com os relvas/passistas que desgovernam Portugal (levando por arrasto os Açores), agora que parece ter “caído o céu” sobre a cabeça de Passos Coelho – nada que não fosse esperado, embora para alguns desse jeito que os destroços aparecessem só “depois da vindima” – é impressionante, e cada vez mais desajeitada (por vezes até ridícula) a tentativa das hostes bertistas em se demarcarem dos executores do experimentalismo ultra liberal implementado em Portugal, solução até recentemente merecedora de muitas hossanas e das mais excelsas loas pela quase generalidade dos que apressadamente agora dela se demarcam. O desnorte é tal que, em jeito de descarte, a situação até já mereceu uma analogia desportiva do tipo: “é como se o Santa Clara fosse culpado pelo Benfica jogar mal!” Louvado seja Deus: como se os dirigentes do Santa Clara fossem eleitos nas listas do Benfica para as assembleias da Liga e as vedetas da Luz (dirigentes e jogadores) sistematicamente chamados, como “cabeças de cartaz”, para atrair público ao Estádio de São Miguel.

Pelo “andar da carruagem” um dia destes ainda veremos (à boleia da dita, como já aconteceu em tempos para aproveitar os holofotes focados em outros mais distintos), num qualquer palco dos Açores, Manuela Ferreira Leite rivalizando com Marcelo Rebelo de Sousa pelo papel de “estrela principal”.

“Pois alevá” (como diria Victor Cruz, avô)!


A.O. 15/09/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


sábado, setembro 01, 2012

A notória diferença



Foi tal a surpresa causada pela presença do Pedro Moura na lista de Vasco Cordeiro que o alarido gerado (mais entre internautas, diga-se em abono da verdade) acabou relegando para segundo plano algumas das virtuosidades que representa a sua integração, tal como a de outros independentes, naquela lista. Pedro Moura para além de uma agradável surpresa foi também, inegavelmente, uma grande mais valia para a lista de Vasco Cordeiro. Tal como o será, estou convicto, na Assembleia Legislativa dos Açores! Mas, porque tal como acontece com Pedro Moura são de elevada qualidade e credibilidade os outros independentes com eleição garantida que renovam e refrescam aquela lista, todos eles em conjunto, e sobretudo aquilo que as suas presenças simbolizam como renovação e amplitude de representatividade sócio/política, é uma das grandes vantagens da lista de Vasco Cordeiro. É por exemplo este o caso de Graça Silva, outra competente, agradável e valiosa presença (menos mediática, até algo discreta, mas, e se calhar por isso mesmo, importantíssima) no topo da lista de Vasco Cordeiro. Porém, ainda muito mais relevante do que Graça Silva – de um lado – e Pedro Moura – no outro – é todo o vasto espaço que medeia um e outro, tal como o alargado leque político nele contido, onde muitos se sentem bem representados! E não tenhamos dúvidas, a marca geracional de cada um dos cabeças de lista – num dos casos apontando para o futuro e noutro para o passado – apresenta-se como aquilo que, indo além das condicionantes ideológicas e/ou atitudes de maior ou menor resistência ao sectarismo, também facilita e/ou dificulta a aceitação de opções mais arrojadas e abrangentes de abertura à sociedade, acentuando a diferença entre ambas as listas, com larga vantagem para a de Vasco Cordeiro.

Como se já não bastassem “as figuras de proa”, salvo escassas excepções, são também muitos dos outros integrantes de ambas as listas a fazer a notória diferença entre a via que pode conduzir a uma desejada renovação e o atalho que, apontando para uma alternância, fá-lo de forma regressiva, quase retrógrada.

A.O. 31/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)



domingo, agosto 19, 2012

Triste sina


Pior do que a “cruzada” (só em democracia já com quase quatro décadas) que desrespeitando a Declaração Universal dos Direitos Humanos continua a criar obstáculos – até constitucionais – à verdadeira “Livre Administração dos Açores pelos Açorianos”, pior ainda do que a actual manifesta tendência para castrar a escassa Autonomia conquistada desde o 25 de Abril para cá, pior do que tudo isso, dizia, só mesmo sermos governados por autênticas marionetes do ultra liberalismo internacional, que, por não existirem outros, apresentam como atributo de valor o facto de serem referidos como os “meninos bonitos” – sim, porque “bom aluno” é outra coisa – da “senhora mestre escola”.

O resultado está à vista. Apenas um ano volvido, são mais que muitas as fragilidades patenteadas por Passos Coelho para entregar a Garcia a carta que tanto prometeu. Como se já não bastasse o recente “estou-me lixando para as eleições”, esgar de verbo que pela oportunidade com que foi usado fez “mossa de tinir”, o homem na “rentrée” continuou desnorteado. Nem parecia que vinha de férias: mais pareceu uma retirada para repouso, por esgotamento!

As contradições começaram com a escolha do local. Passar da praça pública, tão ao gosto dos “relvas/passistas”, para um comício “in-door”, deu bem conta da insegurança das hostes. Também não era para menos: se as contínuas “trapalhadas” de Relvas e o ufano “encher de peito” que estas proporcionam a Portas já inquietavam qualquer um, é imaginar o que não fazem a quem já está fragilizado! Mas contradições a sério, aquelas que vão deixar marcas e serão muito recordadas, foram as em volta dos dois mais fortes “bitaites” daquela noite: “o fim da recessão anunciado já para 2013” e o “fim do regabofe”. O primeiro, mais não foi do que a tentativa de imitação (barata) de Sócrates. Só que em 2008 foi o “ajudante” Teixeira dos Santos o porta-voz e agora – sintomático! – os “ajudantes” tiveram que saltar a terreiro para minimizar os estragos da tirada do chefe. Bom, quanto ao segundo “bitaite”, só pode ter sido um momento de ironia mal conseguido. Fim do regabofe? E o Catorga? E as recentes nomeações na ARS do Norte?

Tenham dó!

A.O. 20/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


domingo, agosto 05, 2012

Os eirós da Calheta de Pero de Teve



O antes, e um depois diferente da porcaria que lá está feita:
Mesmo não sendo para ficar como antes, podiam ao menos manter a enseada, o seu espelho de água e o uso da interessante muralha (que se mantém mas agora sem sentido). Mas, claro, não havia lugar para os "elefantes brancos", nem para os interesses privados que por regra são mais protegidos pelos decisores políticos do que o interesse público.  


De há uns anos a esta parte (digamos, grosso modo, uma dúzia deles), “meia volta, volta e meia”, quase sempre em período pré eleitoral mas sempre sem que se vá “até ao fundo da questão”, os “negócios” da Calheta de Pero de Teve “saltam para os jornais”.

Recordo-me de ir em criança, com outras crianças da altura (agora todas já na casa dos sessenta, mas que felizmente ainda estão por aí), para o ponto encontro do mar com varadouro poente do “porto da Calheta”, que quando a maré estava vazia, numas poças que recolhiam água salobra que de terra jorrava, se viam e apanhavam eirós. Aquela calheta, os seus dois varadouros, a confrontar com o tão austero quanto belo paredão (contendo diversos pontos de acesso ao natural “espelho de água” que a pequena enseada proporcionava), uma robusta construção que protegia as características casas que ali ainda existem transformando aquela histórica frente de mar numa zona muito pitoresca de Ponta Delgada, com tudo o mais que outrora fizera daquele local um dos importantes portos desta longitude da ilha, foram, de supetão, barbaramente entulhados e assim destruídos.

Este sim, foi o principal “crime” que vitimizou aquela zona: o primeiro, o “pai”, o originador de todos os outros “crimes” que se lhe seguiram. Os “elefantes brancos” depois ali plantados, que agora, e mais uma vez, dão azo a animada “esgrima política”, mais não são do que a natural – e pretendida – consequência daquele criminoso aterro. Um complexo emaranhado de interesses que umas vezes mais discretamente, outras nem por isso, parece que ainda não deixaram de alimentar os “eirós” e as “enguias” que empenhadamente contribuíram para a destruição do natural habitat dos verdadeiros (mas agora já lendários) eirós da Calheta de Pedro de Teve.

O processo de regeneração é lento (nem a mais velha democracia do mundo é exemplo de virtude) e é por isso que acredito que não basta mudar: há que RENOVAR. Só a renovação, nomeadamente a geracional e muito especialmente a das mentalidades, sobretudo ao nível das lideranças, é deveras regeneradora.
Como tudo seria mais fácil se isso não fosse, aparentemente, tão difícil de entender!

A.O. 06/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, julho 22, 2012

Relvas, “o despachado”

      

Numa tirada que não sei como ainda não foi aproveitada para enriquecer o cada vez mais vasto anedotário que por aí circula, como que em defesa do Dr. Miguel Relvas, alguém – agora não me ocorre quem! –, por palavras muito diferentes das que aqui uso, dizia que a tão lusófona quanto supersónica licenciatura seria apenas e só mais um exemplo da forma “rápida e ligeira” como o “super ministro” – eu cá diria o “dono” do primeiro-ministro – se movimenta e vive. E logo se seguiram alguns exemplos dos “dossiers” que lhe haviam sido entregues para despachar, despachadamente: a redução dos municípios (que rapidamente virou apenas extinção de freguesias) e a privatização da RTP. Tendo em conta o número de “inimigos” supostamente criados, o pseudo defensor do detentor da recente turbo licenciatura não deixou de aproveitar a ocasião para, vitimizando o “triste desgraçadinho”, ao epíteto de “despachadinho” lhe tentar associar também o de “coitadinho”. Não creio que tenham sido muitos os convencidos, uma coisa porém ficou devidamente esclarecida: por comparação com o processo de licenciatura (alô José Sócrates, também nesta já foste ultrapassado, e pela direita. Perdoado ainda não mas equiparado já estás), irregularidades à parte, tendo em conta a “ligeireza” do processo, está mais que percebida a forma grosseira e leviana como, pelo menos no caso “Documento Verde da Reforma da Administração Local” bem como do diploma que deste documento acabou resultando (Lei 44/XII), este assunto foi abordado.

Como um mal nunca vem só, por cá, os subservientes amigos dos condutores do “medonho rolo compressor centralista” já em marcha, sem saberem como se demarcar da obsessão ideológica “Relvas/passista” que os comanda e empurra, “embrulham-se” em pontos e vírgulas (ver o caso das “freguesias urbanas”: como se Lisboa e Ponta Delgada tivessem muito a ver uma com a outra) e/ou em receitas ultra liberais (ver o caso da RTP/Açores: triste janelinha onde na maior parte do tempo a informação açoriana é transmitida no rodapé) para assim, em simultâneo, agradar aos caudilhos do Terreiro do Paço e confundir aqueles a quem pedem o voto.

Renovação: que avance uma nova geração!

A.O. 23/07/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, julho 08, 2012

Avançar SIM; regredir NÃO!


Se dúvidas houvessem, as recentes intervenções de Vasco Cordeiro (tanto os discursos proferidos como a entrevista que se lhes seguiu) foram demonstração inequívoca das vantagens da Renovação: uma renovação autêntica, marcadamente geracional, facilmente identificada – quer no conteúdo das mensagens quer na forma – com o mensageiro que as transmitiu, e a dispensar cenários, figurantes e demais adereços.

Há estilos que marcaram uma época mas já estão ultrapassados. Podem até ainda ter alguma eficácia junto de uma franja do eleitorado, mormente o mais conservador e idoso, falta-lhes porém uma perspectiva de futuro; o encanto da irreverência; e, sobretudo, a tolerância para aceitação da crítica – e até da derrota – sem logo retaliar com a mesquinha “vingançazinha” ou fazendo uso de uma perversa dádiva ao ”vizinho do lado”, como quem diz: “já viste o que perdes por me contrariares?”. Muitos podem, por falta de idade ou memória, já não se lembrarem até de como antes era (de facto dezasseis anos são muito tempo), mas para estes a Madeira é um bom exemplo da aplicação do “old fashion style”, sendo também a mesma Madeira – e isso não é de somenos importância – um significativo figurino do que a falta de renovação provoca.

“Estilos” à parte, é o próprio momento actual o que mais recomenda a energia e determinação – bem expressas nas comunicações já referidas – que só a vitalidade de uma nova geração, ainda para mais já experiente, pode proporcionar: importa sim, em vez de acenar com a pedincha das “ajudas da república” (estou a lembrar-me do caso da RTP/A), saber exigir o cumprimento das prerrogativas já conquistadas pela (escassa) Autonomia entretanto conseguida. É que, com “amigos” como Cavaco, Coelho e Relvas – entre outros: que o digam João Jardim ou Mota Amaral – que não obstante as afinidades partidárias, foram, são e sempre serão, antes de tudo o mais, uns incorrigíveis centralistas, bem que os Açores podem esperar, sentadinhos, pelas “ajudas da república”. Até porque estes senhores insistem fingir desconhecer que, tal como nos ensina a história, foram (e são) sempre mais as ajudas idas dos Açores para Portugal do que as vindas em sentido contrário.

A.O. 08/07/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


domingo, junho 10, 2012

Ainda o 6 de Junho

Por mais que se esforcem para o negar, o 6 de Junho de 1975 está para a autonomia dos Açores – e da Madeira – como 25 de Abril de 1974 para a democracia em Portugal!
Para aqueles que continuam renitentes em aceitar a importância do 6 de Junho em favor do mais recente processo de desenvolvimento dos Açores, alguns deles insistindo em chamar “manifestação de lavradores” a um levantamento popular que colocou milhares de pessoas à entrada do Governo Civil de Ponta Delgada exigindo INDEPENDÊNCIA, convém avivar-lhes a memória (porque há coisas que não mudam, e ressurgem com a oportunidade: foi assim com Salazar, também assim foi, em 1975, com o Conselho da Revolução, e hoje, com este governo “relvas/passista” bem escudado na finalmente conseguida “uma maioria/um governo/um presidente”, bem tentam que volte a sê-lo) e lembrar-lhes que, já após o 25 de Abril em Portugal, o MAI da altura preparava uma nova divisão administrativa do território, transformando os Açores numa província – que não podia deixar de ser ultramarina –, que com outras oito parcelas (Madeira e mais cinco províncias em “terra firme”), todas dotadas de autonomia político administrativa, corporizariam o projecto de regionalização ao tempo em curso (não faltam semelhanças com a recentemente promulgada Lei 44/XII).
Só após o 6 de Junho de 1975, e em consequência directa deste – por muito que a uns quantos isto custe a admitir –, se foi mais além no que aos Açores e à Madeira dizia respeito. Mas os efeitos imediatos do “6 de Junho” apareceram quase de imediato. Ainda com os gritos de INDEPENDÊNCIA ecoando bem alto em Portugal, o Conselho da Revolução, "para amansar", determinou como medidas a implementar nos Açores, entre outras, as seguintes: a atribuição imediata de 100.000c ao Plano Pecuário dos Açores; um significativo apoio ao sector das pescas e conservas de peixe; a urgente cobertura médica do arquipélago; e até, imagine-se, a instalação de um Secretariado Regional da Banca.
Hoje, para continuar a dar sentido às conquistas do 6 de Junho, há que persistir na luta, começando por coisas tão simples como: não ter de pedir licença a ninguém para ensinar ao Povo a que pertencemos a nossa própria História e revoltarmo-nos contra leis que nos conotam com o fascismo por defendermos a INDEPENDÊNCIA da nossa terra e/ou nos impedem de organizar em partidos aqui originários (único modo democrático de lutar, sem subtilezas, pelos nossos próprios interesses).
6 de Junho: ontem, hoje e sempre!
A.O. 09/06/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, maio 29, 2012

A completa rendição

Algo de muito estranho se deve andar a passar com o PSD/Açores. É absolutamente confrangedor observar como, com a passiva cumplicidade de deputados açorianos, têm passado facilmente – “como faca quente em manteiga” – alguns dos mais recentes ataques aos Açores, à sua já de si escassa Autonomia, e ao Estatuto que a regula. É caso para perguntar: que pacto estará feito (o que se pretende e quem com tal ganhará) com o acintoso grupo que conduz o pesado “Rolo Compressor Centralista” que está em movimento em Portugal?

Por vezes disfarçada de disciplina, todos sabemos que a submissão fácil é uma matriz (diria mesmo uma “característica genética”) das hostes conservadoras. Mas nem mesmo isso pode e deve justificar a completa vassalagem que está a ser prestada por quem tem – ou devia ter – como principal missão defender os Açores, as suas gentes e o que estas a muito custo conquistaram de autonomia nos últimos anos. Isto mesmo quando os personagens têm de conviver com o “inimigo”, como é o caso dos deputados do PSD/A e a prepotente maioria “Relvas/passista” que como se vê os submete e manieta. É que, ainda não “assentou pó” o caso da “lei da extinção das freguesias” – que, não me canso de dizer: trata as Autonomias “abaixo de cão”, chegando ao ponto de equiparar a Assembleias Legislativas dos Açores e da Madeira a meras Assembleias Municipais – e já o Estatuto dos Açores, mais uma vez com a passiva cumplicidade de deputados supostamente eleitos para com ele serem solidários, é de novo vítima de outra tentativa de subalternização (o caso do DLR 51/2006/A – sobre o “reconhecimento das Fundações”). Com tanto “dobrar de espinha” (e já diz o Povo que quem muito se abaixa……) não admira pois que até o nobre milhafre, buteo buteo acastanhado que desde há séculos nos simboliza, agora nos seja apresentado em versão albina, descolorado, como que já expressando as criaturas submissas, “domesticadas” (mas sempre prontas para exibição quando necessário) em que, parece, os actuais regentes e os seus delegados locais nos pretendem transformar.

Nada que outras crises – a da década de 30 do século XX, por exemplo –, oportunistamente aproveitadas por outros autoritários governantes, já não tivessem experimentado, e até conseguido.

Há no entanto que saber resistir!

A.O. 26/05/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

domingo, maio 13, 2012

A triste dependência


É  doloroso ver a forma como um partido como o PSD/A, que se diz – e foi – fundador desta última fase do processo autonomista, agora, não obstante a sua líder se escudar em atributos tipo “ser uma negociadora difícil”, o que mais faz é vender a alma por questões de táctica política, o que se torna gravíssimo sobretudo quando estão em jogo, como é o caso, Causas e Ideais, Princípios que deviam ser intocáveis, nunca “moeda de troca”. A desesperada busca de uma vitória eleitoral, que com tanta vassalagem mais parece uma quimera que a cada dia que passa mais se desvanece, não pode “valer tudo”, muito menos cedências naquilo que muito custou a conquistar e se exige consolidar: a escassa autonomia até agora conseguida!

A forte subserviência deste PSD/A ao poder centralista já tinha ficado bem evidenciada por ocasião das últimas eleições para o Parlamento Europeu, com a “troca”, à última hora, de um açoriano com meritório trabalho desenvolvido por uma “portuguesa imposta”, no caso, não pelo “Terreiro do Paço” mas pelo “Palácio de Belém”.

Se já assim fora em tempos, agora, quando o “torniquete centralizador” arrocha mais a cada dia que passa, e as tendências autoritárias se evidenciam como já não havia memória, a propensão deste PSD/A pela submissão angustia, aflige e inquieta. Os sinais são mais que muitos, desde os mais atabalhoados e aparentemente displicentes – quem não se lembra como, de uma semana para outra, quem antes disse que só governaria em maioria mudou de opinião a “toque de caixa”, para tal bastando apenas o som de um distante clarim –, até a outros mais sofisticados, como tal bem elucidativos, e, estou em crer, muito perigosos. Atenda-se à forma como têm sido tratadas questões como: a RTP/A, a Universidade dos Açores, a SATA e até o caso da “fibra óptica para as Flores e Corvo”. Também o caso da “lei da extinção das freguesias” – relvista obsessão que trata as Autonomias “abaixo de cão” chegando ao ponto de equiparar a Assembleias Legislativas dos Açores e da Madeira a meras Assembleias Municipais –, ofensiva que em “São Bento” contou com a cumplicidade dos deputados do PSD/A para a aprovação da malfadada Lei n.º 44/XII (facto muito pouco, ou mesmo nada noticiado nos Açores), nos ajuda a demonstrar com quem se pode contar. Que tristeza!

A.O. 12/05/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


quarta-feira, maio 02, 2012

Do PREC ao PRAC




Trinta e oito anos após o 25 de Abril, e quase outros tantos depois do célebre PREC, que, como que em consequência da espontânea descompressão dos quarenta e oito anos da ditadura se lhe seguiu, eis que a muito ambicionada – e finalmente conseguida – “uma maioria, um governo, um presidente”, logo na sua primeira oportunidade, nos presenteia com um PRAC: Processo de Regresso ao Autoritarismo Compulsivo.

Se as bastas marcas até agora registadas já não deixavam grandes dúvidas sobre esta pretensa forma tendencialmente déspota de governar – padrão “custe o que custar” –, os sinais que apontam para o futuro são ainda mais preocupantes. É que, como se já não bastasse o continuo “impõe, espreme e esfola” a que se tem assistido, agora, até o respeito pela Constitucional separação dos poderes parece estar em causa. Atenda-se ao polémico processo de nomeação dos juízes do Tribunal Constitucional, claro exemplo da instrumentalização do “Poder Judicial” pelo “Poder Legislativo”. E/ou, cumulativamente, à forma como a Ministra da Justiça, publicamente, exerceu a sua inaceitável pressão sobre aquela que, em Portugal, também é a mais alta estância de recurso judicial. Bom, “pelo andar da carruagem” é hora de começar a fazer figas para que não regressem os Tribunais Plenários que tanto jeito deu ao anterior regime!

Como escreveu recentemente Pedro Guerreiro dos Santos, em Editorial no Negócios Online, o Tribunal Constitucional estaria prestes a chumbar o corte dos subsídios da Função Pública, e por isso as polémicas escolhas poderiam ter sido feitas à medida, para inverter aquilo que, acontecendo, constituir-se-ia como uma calamidade política para o Governo de Passos Coelho. Para que as dúvidas ficassem esclarecidas logo à partida, concluindo a sua dedução, o autor do Editorial acrescentou que tal acontecia porque: “Não que os escolhidos sejam manipuláveis. Mas por saber-se o que pensavam. E teriam sido escolhidos em função disso. E isso sim será manipulação.”

“A manipulação do Estado de Direito” foi o título que o autor deu ao seu trabalho. A mim, apetece dizer: é de ter dó, o estado a que isto chegou!

A.O. 28/04/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)




domingo, abril 15, 2012

Passos perdido

Portugal parece-se cada vez mais com o palco de um concurso de mentiras e menos com um País, capaz sobreviver em democracia!
De lapso em “lapso”, apresenta-se já muito íngreme a “via dolorosa” que os “senhores da verdade” apontam como “o caminho da redenção”. Íngreme, e enlameada, forçando os seus próprios promotores – que já “patinam” – a dar o dito por não dito, a mudar rapidamente de discurso, de opinião, e até o seu modo de intervenção (metamorfose ainda mais evidente quando comparamos o que antes, na oposição, diziam, com aquilo que, agora, no poder, dizem e fazem).
As “trocas e baldrocas” da passada semana, sucessão de acontecimentos que culminou (beneficiando da cúmplice cobertura do Presidente da Republica Portuguesa) com um “expediente salazarista” (secreto e totalitário), disso nos dão perfeita conta. Vejamos três exemplos:
1º - O aparentemente convicto “não será necessário nem mais tempo nem mais dinheiro [para cumprir o “troikano” programa]” que cedo deu lugar à dúvida – já quase certeza! – em Portugal poder “regressar aos mercados” na data prevista. Não por coincidência – digo eu! – com a confessa incerteza expressa em língua germânica;
2º - A já de si dura subtracção, supostamente só por dois anos, dos subsídios de férias e Natal, que agora, como foi dito, só serão repostos para lá de 2014, e aos “bocadinhos” – bem o recomenda Maquiavel –, em ocasião eleitoralmente oportuna;
3º - O solenemente anunciado: “Este ano não vão haver mais medidas de austeridade”, que logo foi seguindo, dia sim, dia sim, de um contínuo arrochar do “medonho torniquete”.
É certo que o mal não é só de agora, mas certo também é que, em democracia, nunca como agora se assistiu a tão grande insensibilidade social – bastas vezes cinicamente disfarçada – e a tanta obsessão por um autoritarismo tipo “quero posso e mando”, que, em crescendo, recai continuamente sobre uns, os mais desfavorecidos, e poupa sistematicamente outros, sempre os mesmos, em regra os que mais podiam – e deviam – serem justa e devidamente colectados.
Passos Coelho começa a parecer perdido. E, já inquieta – quase levando ao desespero – amigos, apoiantes, companheiros, parceiros, e alguns apaniguados (sobremaneira os que têm a curto e médio prazo eleições para disputar).
A.O. 14/04/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

sábado, março 31, 2012

Troika a uns, não troika a todos



Pois é! A “Troika mandou” – tal como eles gostam de dizer –, e, sem dó nem piedade, com a rapidez de um piscar de olhos: os impostos subiram em flecha; o custo de vida “disparou”; os rendimentos de trabalho, da maioria, “foram esmagados”, sem que, para tudo isso e muito mais (o subsídio de férias e de Natal também mirraram) não houvessem “direitos adquiridos” que valessem nem consciência que obrigasse a pensar duas vezes!
No entanto, quando os destinatários são outros, de casta superior, não obstante serem também pela Troika visados, “a coisa pia mais fininho”. Digamos que a capacidade deste governo “relvas/gaspar/passista” para implementar as “medidas da Troika” é adaptável: muito forte e determinada quando se tratam de destinatários/vítimas (a base da pirâmide social), mas substancialmente reduzida sempre que se dirige aos que mais podem, a destinatários “de peso”, àqueles a quem as medidas se aplicariam com mais justiça. “Um governo forte com os fracos, mas fraco com os fortes” como por aí se diz. Demasiado fraco com os fortes, atrevo-me a acrescentar: o caso EDP, com as rendas excessivas – que já fizeram “rolar cabeças” – e os 180 M euros de dividendos recebidos por antecipação, são bom exemplo disso (a reforma autárquica também)!
O actual primeiro-ministro, e, pelo menos como consta, o chefe deste governo “Relvas/gaspar/troikista” que nos esfola e desespera, bem que se esforça para passar uma ideia contrária. Ele bem que fala em equidade e justiça social. Porém, e a cada dia que passa isso se torna mais óbvio, é no agravar da já enorme desigualdade de rendimentos existente entre uns e outros que Passos Coelho parece estar mais empenhado. E, numa hora destas, já nem a “pesada herança” – quem recebeu uma grande herança foi o “negociador Catorga”! – funciona bem como descarte.
Como é diferente o antes e o depois: os impostos que com ele não iam subir, mas subiram; os subsídios de Natal que com ele não iam ser retirados, mas foram; o acomodar de amigos e correligionários que com ele iria acabar, mas que continua...
Acredito que entre “mortos e feridos, alguém há-de escapar”. Só espero que sejam muitos, e que estes não se esqueçam do refrão: “pelos domingos se tiram os dias santos”!
A.O. 31/03/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, março 14, 2012

Terá sido do zapping?




No fim de tarde, início de noite, do passado Domingo, com a atenção repartida entre as notícias que passavam em diversos canais e o “Estado de Graça” da Maria Rueff e os demais “estadistas” que a acompanham naquele horário, não pude deixar de andar espreitando, embora com intermitência, a homilia semanal do Prof. Marcelo. Fi-lo porque tinha uma enorme curiosidade a satisfazer: saber se também ele iria exigir a retratação dos responsáveis pelo tal anuário que, enganando a Exma. Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, levaram-na a anunciar “boas novas” que depois se verificou não serem assim tão boas, e, sobretudo, serem muito diferentes das que haviam sido anunciadas. Admito ter sido de tanto “zapping”, mas, confesso, a esta parte (a correcção da notícia que segundo um qualquer critério colocava a CMPD em primeiro lugar num qualquer “ranking”) eu não assisti.
Porém, como que em contrapartida, vi e gostei das duas fortes “chibatadas” que o Prof. Marcelo desferiu no Prof. Cavaco. Não é que tenha saudades de José Sócrates. Até acho que está muito bem onde está – em Paris, melhorando o seu currículo académico – e que foi tempo perdido o seu 2º mandato. Só que também acho ter sido uma pena que a mudança não tenha acontecido para melhor. É que, como com imenso saber já dizia José Régio: “ [mudar] para melhor, está bem, está bem / para pior já basta assim”. E, como se viu – se vê e sente na pele –, para melhor nada mudou: a não ser as moscas!
Bom. Mas sem ter conseguido dar pela correcção da notícia sobre o tal “ranking”, ficou ainda mais evidente o registo das “chibatadas”, em especial a forma como com elas, a seu jeito – e bem –, o Professor, interrogando-se, também nos interrogou:
- Quando por parte do primeiro-ministro Sócrates se verificou uma deslealdade institucional, para mais, algo com um nível de gravidade que nunca ocorrera nos trinta anteriores anos de Democracia, será muito difícil (ou talvez não) entender o porquê do Presidente da República, então, não ter agido em conformidade.
E não se ficou por aqui. Rematando o assunto, Marcelo Rebelo de Sousa logo de seguida acrescentou, “ao decidir manter silêncio acerca de uma deslealdade dita como de grande gravidade, Cavaco Silva transmite a ideia de que no futuro, e perante um caso idêntico, não demite nenhum Governo”.
No que a demissões possa dizer respeito, longe de mim – oh santa ingenuidade – esperar do actual Presidente da Republica Portuguesa que faça com o actual Governo de Portugal (e não é que não merecesse!) aquilo que não fez com o anterior. Mas, e contrariando o que aconteceu com a notícia sobre o tal “ranking”, não posso deixar de dar razão – “carradas dela” – à análise que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa fez ao procedimento do actual Presidente da Republica Portuguesa: pelo que devia fazer e não fez; pelo que devia dizer e não disse. Convinha-lhe (acrescento eu), pois não se pode esquecer que, por muito menos, em pleno Verão, interrompendo férias, ele não se conteve, e foi feita aquela inusitada comunicação. Não, na altura não estava em causa a “mais grave deslealdade institucional dos últimos 30 anos”. Nem a “Independência dos Açores”, infelizmente (digo eu).

A.O. 13/03/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Zeca Afonso, 25 anos depois





Só o tempo passa.
Parece ter sido ontem, quando logo depois do memorável concerto proporcionado por Zeca Afonso em Lisboa, num longo e também inesquecível serão, alguém que desde há muito acompanhava de perto o iconográfico baladeiro, relembrando alguns momentos do evento que ali estava ainda muito presente, enfatizava o esforço do cantor em superar as suas dificuldades, pois já se encontrava muito debilitado fisicamente.
Quatro anos depois, a 23 Fevereiro de 1987, Zeca Afonso deixava-nos. Partiu o homem, o poeta, o músico. Mas ficou a sua memória, a sua obra, a sua música, e com ela a forte e profunda mensagem que a mesma contém e integra. Ficou, e, por incrível que pareça, volvidos todos estes anos, continua actual: casos há, a fazer hoje tanto ou mais sentido do que aquele que fazia quando foi pensada, escrita, dita e cantada!
Como acontece com todos – ou quase todos – os visionários, Zeca Afonso pagou caro, nada recebeu em troca, e até pouco fruiu da saudável aragem que soprou após se terem esboroado as penosas barreiras que ajudou a derrubar. O que talvez Zeca Afonso nunca imaginasse – neste sentido ganhou, pelo menos a tal foi poupado – é que a sua obra, edificada com propósito de dar combate a uma ditadura já então contando quase quatro décadas, se mantivesse com tão grande actualidade outro tanto tempo depois de destituída “a velha senhora”.
Dá muito que pensar a contemporaneidade de, por exemplo, os “Vampiros”. Ora vejamos:

“No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada.

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada.

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas.

São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as talhas, bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei.

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada.

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo, eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada.”




A.O. 28/02/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Loas, lérias e sussurros perversos



Carlos César, Presidente do Governo dos Açores, escolheu Santa Clara para dizer que não existem freguesias a mais nos Açores. Como em política não há coincidências, e tendo o desígnio sido proferido por ocasião da inauguração de uma importante beneficiação na freguesia – a necessária, muito reclamada e desde há muito aguardada requalificação da “Rua Direita do Ramalho” –, a sua mensagem foi também, sem dúvida nenhuma, um sinal de reconhecimento ao muito e bom trabalho desenvolvido em Santa Clara desde que a localidade se afirmou como freguesia: realidade que “entra pelos olhos adentro” de todos – até mesmo daqueles que muito se empenham para que assim não fosse –, e é prova de como a proximidade, a tolerância, a actuação persistente e empenhada, sobretudo (como acontece no caso de Santa Clara) quando devidamente enquadradas num consistente projecto de cidadania activa, podem fazer milagres. Basta lembrar como era Santa Clara em 2005 e comparar com o que é Santa Clara hoje para constatar “o milagre” em tão pouco tempo realizado, prodígio que, não fora a “2ª Rua da Teimosia” – ou Via Marginal dos “bidãs” (nome que também lhe assenta bem) –, seria ainda mais notável.
Num outro registo – o da submissão (no caso dupla submissão) –, Berta Cabral, Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, escolheu o Carnaval para, a propósito de uma tolerância de ponto, que lhe era conveniente mas não queria que fosse entendida como afronta ao Primeiro-ministro de Portugal, mostrar uma oportuna subordinação ao Presidente do Governo dos Açores. Também aqui não existem coincidências (nem “Batalha de Limas” ou “ressaca” de Baile no Coliseu que o justifique), e não sendo coincidência tampouco é um bom sinal. Sobretudo quando o “Rolo Compressor Centralista”, hoje conduzido com os tiques autoritários que se conhecem, e que a cada dia que passa se manifestam com maior sobranceria, tem ao seu volante operadores que competem entre si pelo título de “campeão da insensibilidade social” ou da “arrogância política”, cujo exemplo máximo é o Ministro Relvas.
Hoje mais do que nunca – e de forma preferencial assegurando uma transmissão de testemunho geracional – a afirmação identitária dos Açores não pode ser tida como uma conveniência politica da ocasião, mas sim, e obrigatoriamente, como uma convicção, uma causa, um nobre dever a cumprir!
Os tempos que correm não diferem muito dos vividos em finais da década de 20 inicio da de 30 do século XX, e, é sabido, como, em pouco tempo, o “Rolo Compressor Centralista” colocado em marcha na época por António Oliveira Salazar, nuns casos esmagou, noutros seduziu e/ou absorveu muitos, uns quantos mesmo entre aqueles que ainda poucos anos antes andavam tão empolgados com projectos de aprofundamento da autonomia dos Açores.

Outro sinal dos tempos foi o sussurro feito pelo Ministro das Finanças de Portugal ao ouvido do “patrão” europeu. Se dúvidas haviam ficaram praticamente dissipadas. Há uma estratégia: passa por espremer e fazer sangrar quase até à última gota, para depois, o mais próximo possível das eleições, uma qualquer folgazinha poder ser dada “à laia de rebuçado”. Resta saber se os estrategas resistem, e, resistindo estes, se as vitimas desta estratégia, depois de “sangradas até ao limite”, sobreviverão com alguma utilidade?

A.O. 14/02/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Jogo de espelhos com imagens invertidas



Na vida em geral, e na política em especial – sobretudo nesta, até porque, em política, os erros e/ou as mordomias de uns poucos são pagos com o “sangue suor e lágrimas” de muitos –, não há nada pior do que corrigir uma ou um conjunto de acções/intenções menos acertadas ou completamente erradas, com outra, ou outras tantas, de sentido diametralmente oposto. É do mais elementar bom senso emendar o que quer que seja gradualmente, por aproximações sucessivas, avançando no sentido daquele que foi entendido ser o “novo rumo”. Nunca de supetão! Já diz o povo que “quem muito arrocha pouco aperta”. É sabedoria popular, e, tenho a certeza, não será quaisquer Troikas e toikistas, Relvas e relvistas, uns e outros mais ou menos amparados pelo seu serviçal exército de fulanos e beltranos, quem, mesmo numa hora destas, contrarie o rifão popular.
Os sinais, tal como o rol de contradições que os realçam, já são visíveis!
“Trocando por miúdos”:
Sim. Já poucos suportavam o excessivo optimismo socrático que até recentemente nos foi “vendido”: também por isso, tornou-se desejada, se não mesmo inevitável, a mudança. O que não era espectável, nem há Troika que o justifique – por mais que o repitam para parecer verdade –, é que a correcção da “ilusão socrática” possa ser feita recorrendo à “terapia Relvas/passista”, um culto pelo empobrecimento que mais do que austero é miserabilista, castrador da confiança e da esperança, comprovadamente eficaz na transformação do mau em péssimo!
Sim. Não obstante a eficaz equipa de comunicação contratada para promover “a ilusão socrática”, foram os muitos “gatos” que não conseguiram passar por “lebre” (um só exemplo: o novo aeroporto de Lisboa e as suas localizações) o que mais ajudou a desmontar “um altar” corrompido por outras questões menores (de novo um só exemplo: a célere licenciatura de Domingo à tarde). O que não era espectável – pelo menos em tão curto espaço de tempo –, é que a “terapia Relvas/passista”, dando o dito por não dito e desde cedo afogueada pela troca de uns por outros (na EDP um António de Almeida por um Eduardo de Almeida, Catorga, de seu último nome, e na Administração das AdP uma colocaçãozita para os apaniguados Manuel Frexes e Álvaro Castelo-Branco), rapidamente esquecesse as “gorduras do Estado”, os “custos intermédios”, as grandes negociatas – e seus beneficiários – tipo PPP’s, BPN’s e BPP’s, para, em seu lugar, atacar com sofreguidão aqueles que já só têm osso. Ossos mal nutridos, nalguns casos a definharem até serem encontrados como cadáver depois de durante anos se terem arrastando a fazer “esticar” os parcos meios de subsistência com que sobreviveram (rendimentos mensais cujos valores chegam a ser a centésima parte dos auferidos por quem, não o devendo fazer, descaradamente, diz que cerca de 10.000 euros/mês são insuficientes para cobrir as suas despesas).

Pior só mesmo os reflexos que aqui (aos Açores) nos chegam “destes espelhos”: os pretextos que “a crise” proporciona para estrangular a escassa Autonomia no entretanto conquistada, sobretudo quando vindos de quem tem, e cultiva, tendências autoritárias (nunca será demais recordar os autoritarismos anteriores, nomeadamente aquele que em situação similar até com a moeda açoriana acabou). Os reflexos “destes espelhos”, que cegam, são tão ou mais perigosos quando mais submissa for a relação político-partidária entre os detentores do poder em Portugal e os seus “afins” nos Açores.
Uma subserviência que, por vezes (e para alguns), até admite entregar os dedos desde que lhes seja permitido “brilhar com os anéis”.
Há que resistir!

A.O. 31/01/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, janeiro 03, 2012

Santa Clara: História e Identidade para dar e vender



Vai para 432 anos - quase meio milénio antes desta “Troika” e seus cavaleiros (sem esquecer as amazonas) mandar ou recomendar o que quer que seja - que D. Pedro de Castilho, a autoridade de então, determinou a criação de uma terceira freguesia para Ponta Delgada: nada mais, nada menos que Santa Clara. A decisão foi tomada decorria o ano de 1580, e, sobre o assunto, com os habituais detalhes, o incontornável Gaspar Frutuoso deixou escrito para a posteridade: “a terceira freguesia, novamente feita, de Santa Clara, antes de ser acrescentada, tinha sessenta e dois fogos e almas de confissão duzentas e noventa e sete, das quais eram de comunhão duzentas e três.” No ano seguinte, a 22 de Setembro, de visita à paroquial de Santa Clara, exigua ermida que haveria de ser causa e pretexto para “as voltas que Santa Clara deu”, o mesmo D. Pedro de Castilho achou por bem acrescentar a freguesia de Santa Clara para Nascente, até à Rua da Cruz.
Depois de mais de um século e uma série de peripécias, terminada que foi finalmente a construção de uma nova igreja – evocando São José –, em 1714 foi mudada para esta a sede da paróquia e alterada, de Santa Clara para São José, a denominação da 3ª freguesia constituída em Ponta Delgada, já então contando mais de 130 anos.
Sob a protecção do orago original, a instituidora das “damas pobres”, Santa Clara, subsistiu no entanto um singelo curato, à volta do qual não só Santa Clara continuou a enriquecer a sua História como os santaclarenses o forte sentimento identitário que sempre os caracterizou: prova disso é que Santa Clara, mesmo como curato, para os santaclarenses nunca deixou de ser “a sua freguesia”.
A construção do porto de Ponta Delgada e a transformação sócio-cultural que esta empreitada veio trazer ao povoado só contribuiram para a afirmação da identidade dos santaclarenses, uma marca de carácter que saiu imensamente reforçada, na transição do século XIX para o século XX, em consequência do polo industrial que, construído o porto, escolheu Santa Clara para se instalar.
Já bem entrados no século XX, o futebol e os vários “santas claras” que ajudaram a modalidade a desenvolver e a afirmar-se em Ponta Delgada – e nos Açores – demonstram mais uma vez a forte identidade dos santaclarenses. Como o demonstra também, já em meados do século XX, um interessante texto de Lopes de Araújo (pai) com o sugestivo título: “Santa Clara – a aldeia dentro da cidade”.
Foi esta singularidade dos santaclarenses que o “Padre Fernando” soube agregar e mobilizar na tentativa de restaurar o estatuto de freguesia que Santa Clara já tivera e perdera. Numa primeira fase não foi possível ir além do que promover o curato a paróquia – eram “os temos de Salazar” -, mas a seriedade, coragem, determinação e coerência do Padre Fernando, tal como a forte identidade dos santaclarenses, vingou (que falta fazem os discursos de lideranças sérias e coerentes: comparem o que dizem hoje sobre Santa Clara os mesmos que, à cerca de seis anos, aproveitando boleia “na onda” que outros formaram, diziam e escreviam o que ainda se pode ler sobre a criação da freguesia). Vingou, “e cá está para o que der e vier”!
História Santa Clara tem. Identidade também. Se é uma freguesia rural ou urbana (o que serão: São Roque, Fajã de Baixo, Fajã de Cima e Relva?) logo se verá!
Está provado como os santaclarenses do pouco fazem muito, todos o vêem e podem testemunhar (o que não acontece, por exemplo, quando se constituem Empresas Municipais, que pouco mais fazem do que “desorçamentar” e dar guarida a amigos e apaniguados).
Portanto: Viva Santa Clara. Longa vida para Santa Clara!

A.O. 03/01/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)