terça-feira, maio 19, 2009

Ao som dos primeiros foguetes


Este ano, uma das grandes novidades surgidas em tempo de festa, foi o importante contributo de Daniel de Sá para a história do culto do Senhor Santo Cristo, de forma especial, a sua minuciosa pesquisa que aponta para a sexta-feira, 11 de Abril de 1698, como a data de realização da primeira procissão.

Além disso, e de verdadeiramente de substantivo, pouco mais posso acrescentar ao que, noutra ocasião, também com alguma antecedência, já aqui escrevi:

O temor a Deus e a educação para a evocação divina sempre que algo aparentemente sobrenatural necessitava de ser aplacado, levaram os nossos ancestrais que viveram a transição do século XVII para o XVIII, quando confrontados com o pavor causado por uma crise sísmica que parecia não querer terminar, a iniciarem um cortejo penitencial que se mantém até hoje, durante o qual, ainda se podem observar singulares expressões de fé, devoção e religiosidade.
Logo numa das primeiras vezes que o Senhor Santo Cristo percorreu as ruas de Ponta Delgada, com nobres – foram estes, reza a tradição, quem tomou a iniciativa do evento – e plebeus, todos descalços, acompanhando em cortejo a imagem que, ainda hoje, ao passar, suscita estranhos sentimentos mesmo a muitos daqueles que se apresentam como agnósticos, uma “misteriosa” queda da efígie a meio do percurso tornou ainda mais pungente aquela que já era, e durante muito tempo assim continuou sendo, apenas, uma dramática, humilde, e eminentemente religiosa demonstração de fé.
Hoje, para o bem e para o mal, é a parte profana da festa aquela que mais impacto causa; ela é cartaz turístico, é enorme oportunidade de negócio, e até mesmo – há que assumi-lo –, é um autêntico desfile de vaidades onde, o caminhar com pés descalços, deu lugar a minuciosas regras protocolares estabelecendo a ordem de aproximação à venerada imagem, não por motivos de fé, mas de maior visibilidade e destaque!


A.O. 19/05/09; “Cá à minha moda”

terça-feira, maio 05, 2009

Jorge Amaral Borges: O Professor




No passado Sábado, dia em que o Professor Jorge Amaral completou oitenta anos, um grupo de antigos alunos da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, em acto prenhe de simbolismo, promoveu-lhe uma justa homenagem. Até quanto ao local escolhido para tal, a “Velha Escola”, hoje completamente remodelada, não podia ter havido melhor escolha.

Uma aula de ginástica deu início ao programa. Oportunidade para o Professor, apresentando-se em invejável forma física, recordar princípios que fazendo escola entre os seus discípulos nortearam a sua actividade pedagógica, entre os quais; a disciplina, o rigor científico, os hábitos de higiene e de vida saudável. Quem não se recorda do Professor, repreendendo aqueles que por pudores exagerados ou outros motivos inconfessados insistiam em levar para a aula a roupa interior que traziam vestida de casa, dizer-lhes:

Oh pázinho, tira já as cuecas – e/ou descalça estas peúgas – se não queres apanhar falta!”.

Não havia contemplações para com o cigarro, o uso de equipamento que não fosse exclusivo para a aula, tampouco com as tentativas de fuga ao duche final.

Julgo não exagerar – outros certamente serão também credores deste mérito – ao apontar o Professor Jorge Amaral como o principal responsável pela expansão e consolidação entre nós das ditas “modalidades pobres” (tão pobres que só muito mais tarde ganharam direito ao associativismo per se). É que, enquanto os alunos do Liceu, por regra, partiam para ir estudar em Portugal, os da “Escola” por cá ficavam, transformando-se assim no núcleo duro daqueles que durante as décadas de 60 e 70 alimentaram o ecletismo do desporto micaelense. Aliás, entre as quase duas centenas dos que se reuniram em homenagem ao Mestre, sem grande esforço podiam ver-se vários ex atletas (alguns de “primeira agua”) de modalidades como o andebol, basquetebol e voleibol. Isto para além daqueles que, à condição de atleta, acresceram também a de técnico e dirigente.

Bem hajas Professor. Felicidades e longa vida!

A.O. 05/05/09; “Cá à minha moda” (Revisto e acrescentado)