P – O que pensa do actual momento político?
R – O que se mete pelos olhos dentro de toda a gente: que nem os homens da Situação compreenderam ainda que estão a levar o país ao desespero, nem a Oposição se considera vencida ao cabo de trinta anos de opressão.
P – Julga então que caminhamos para um ponto crítico da nossa vida colectiva?
R – Pois julgo. O fosso que divide a família portuguesa torna-se de hora a hora mais profundo. E uma tensão desta natureza não se pode prolongar indefinidamente. É ver como basta que se abra uma fenda de expressão no muro de silêncio que nos empareda para que as duas metades se mostrem como são: uma a dar livre curso à sua indignação represada; a outra, aterrada perante a avalanche, a colmatar o rombo de qualquer maneira. (…)
R – O que se mete pelos olhos dentro de toda a gente: que nem os homens da Situação compreenderam ainda que estão a levar o país ao desespero, nem a Oposição se considera vencida ao cabo de trinta anos de opressão.
P – Julga então que caminhamos para um ponto crítico da nossa vida colectiva?
R – Pois julgo. O fosso que divide a família portuguesa torna-se de hora a hora mais profundo. E uma tensão desta natureza não se pode prolongar indefinidamente. É ver como basta que se abra uma fenda de expressão no muro de silêncio que nos empareda para que as duas metades se mostrem como são: uma a dar livre curso à sua indignação represada; a outra, aterrada perante a avalanche, a colmatar o rombo de qualquer maneira. (…)
Foram estas as duas primeiras perguntas, e respectivas respostas, formuladas ao médico Adolfo Correia Rocha com o intuito de serem incluídas numa entrevista escrita para o Diário de Lisboa – que não chegou a ser publicada por aquele jornal –, por morte de Carmona, estava então em curso a campanha eleitoral de 1951 (Craveiro Lopes, Quintão Meireles e Ruy Gomes).
Hoje, salvaguardadas as comparações; então a ditadura decorria à trinta anos, outro tanto tempo tem a actual democracia, a Miguel Torga, apartidário activista social, que já em democracia foi autor de alfinetadas do género; “fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura”, continuariam a não faltar razões para mais, e mais profundos lamentos.
O autor de “Bichos” não lamentaria porém, estou certo, as ausências institucionais que marcaram a celebração do centenário da data em que nasceu. “Pão Ázimo” já esgotou há muito.
Do próprio, in A. O. 14/08/07; “Cá à minha moda”