No início do século XX, ainda antes do futebol ser entre nós uma modalidade associativamente organizada, a exibição da “força bruta” – expressão então usada, até pela imprensa –, era uma das oportunidades de espectáculo desportivo disponível para as massas.
João Joaquim d’Azevedo, jovem micaelense (na última década do séc. XIX trabalhou como aprendiz de marceneiro com o mestre Carreiro na rua da Vila Nova de Cima) que cedo descobriu e começou a desenvolver as suas capacidades atléticas relacionadas com o uso da força, rapidamente se tornou num “showman” de sucesso, com publico garantido em diversos palcos, mesmo nos mais exigentes, como aconteceu, por exemplo, aquando da sua passagem por Nova York. Em meados de 1910, num dos momentos altos da carreira do “Hércules Açoriano” em Portugal, Azevedo fez a travessia parcial do Tejo suspenso num cabo fixo entre o Terreiro do Paço e um barco fundeado no rio apenas seguro pela força dos seus maxilares e firmeza dos seus dentes, proeza que em Lisboa encheu as primeiras páginas dos jornais.
Como “o bom tempo” não dura sempre, quem chegou a ganhar 2.500USD/semana – recordo; isto aconteceu no início do século passado! –, acabou dependendo da solidariedade pública para poder sobreviver.
Em diversas actividades – do desporto à política – o que por aí não faltam são “artistas” como o “nosso Hércules”, que não sabendo gerir a carreira e/ou, simplesmente, sair de cena na hora certa, começam como “primas donas” e acabam compondo “tristes papeis”!
Acontecimentos recentes, e o impulso de com eles, ironicamente, fazer analogia, trouxeram-me à memória o rijo Azevedo. Mas, ao reler as notas que sobre ele coleccionei, e recordar as suas muitas façanhas e outras tantas desventuras, foram tantos os “Hércules” que desfilaram pela mente que a tal me não atrevi. Fica em aberto; cada um faça as suas!
A. O. 06/05/08; “Cá à minha moda”