Este ano, uma das grandes novidades surgidas em tempo de festa, foi o importante contributo de Daniel de Sá para a história do culto do Senhor Santo Cristo, de forma especial, a sua minuciosa pesquisa que aponta para a sexta-feira, 11 de Abril de 1698, como a data de realização da primeira procissão.
Além disso, e de verdadeiramente de substantivo, pouco mais posso acrescentar ao que, noutra ocasião, também com alguma antecedência, já aqui escrevi:
O temor a Deus e a educação para a evocação divina sempre que algo aparentemente sobrenatural necessitava de ser aplacado, levaram os nossos ancestrais que viveram a transição do século XVII para o XVIII, quando confrontados com o pavor causado por uma crise sísmica que parecia não querer terminar, a iniciarem um cortejo penitencial que se mantém até hoje, durante o qual, ainda se podem observar singulares expressões de fé, devoção e religiosidade.
Logo numa das primeiras vezes que o Senhor Santo Cristo percorreu as ruas de Ponta Delgada, com nobres – foram estes, reza a tradição, quem tomou a iniciativa do evento – e plebeus, todos descalços, acompanhando em cortejo a imagem que, ainda hoje, ao passar, suscita estranhos sentimentos mesmo a muitos daqueles que se apresentam como agnósticos, uma “misteriosa” queda da efígie a meio do percurso tornou ainda mais pungente aquela que já era, e durante muito tempo assim continuou sendo, apenas, uma dramática, humilde, e eminentemente religiosa demonstração de fé.
Hoje, para o bem e para o mal, é a parte profana da festa aquela que mais impacto causa; ela é cartaz turístico, é enorme oportunidade de negócio, e até mesmo – há que assumi-lo –, é um autêntico desfile de vaidades onde, o caminhar com pés descalços, deu lugar a minuciosas regras protocolares estabelecendo a ordem de aproximação à venerada imagem, não por motivos de fé, mas de maior visibilidade e destaque!
A.O. 19/05/09; “Cá à minha moda”