terça-feira, dezembro 21, 2010

O fim do mundo em cuecas







Tenham medo. Muito medo.
Não. Não tem nada a ver com o veto de S. Exa. o Representante da República Portuguesa aqui nos Açores. Com isso podemos nós bem. Podemos bem melhor com o veto de S. Exa. do que com a descriminação remuneratória de uns quantos – cada vez em maior número – funcionários da República Portuguesa que à laia privilegiados representantes coloniais, vêem para estas ilhas fruir douradas comissões de serviço.
Tenham medo. Muito medo. Mas não das queixas de falta de solidariedade Açores vs Portugal de muitos mais – parte deles inexplicavelmente entre nós (é incrível como tudo serve de arma de arremesso político-partidário) – que se esquecem que este mesmo Portugal não foi solidário com outros, nomeadamente aqueles a quem, no Oriente, espoliou das especiarias e do seu comércio, ou na América do Sul, do ouro e de outras preciosidades, e em África, de diamantes, petróleo e do muito mais. Um Portugal ao qual agora pouco mais resta do Império Colonial do que os Açores, o valor geoestratégico, e a imensidão e riqueza do seu mar, o que só por si torna insignificante aquilo que alguns dizem serem os “milhões que para cá são enviados para os açorianos poderem sobreviver” (veja-se como o mar de Timor permite a um país "paupérrimo" solidarizar-se com Portugal, "chegando-se à frente" para comprar divida soberana portuguesa!).
Tenham medo, muito medo, mas não das balelas. Balela por balela, tenham medo sim, porque já faltam menos de dois anos para aquele que muitos dizem ser o fatídico 21 de Dezembro de 2012: resultado da colisão de um asteróide com a Terra, dizem uns. Estranho alinhamento da Terra, Sol e um buraco negro existente no centro da nossa galáxia, invulgar orientação da qual resultará a alteração do campo magnético da Terra com consequências dramáticas, dizem outros. Do abandono da sua orbita por parte do planeta verde, que assim, errante, iniciará um longo e desregulado percurso pelo Universo, referem outros ainda. E, como nem todos são assim tão pessimistas, há também aqueles que apontam para 22 de Dezembro de 2012 o dia da chegada dos extraterrestres, o que não será obrigatoriamente uma má notícia.
E é de ter medo sim, porque estes anúncios de fim do mundo não provêm de apenas uma fonte: desde as antigas filosofias chinesas sobre concepções do mundo contidas em “I Ching” aos argumentistas da série “Ficheiros Secretos”; da Sibyl da Roma Clássica ao Nostradamus da Idade Média; dos astrónomos Maias a Einstein – saltando Merlin e outros profetas (incluindo os dos últimos dias) – têm sido muitos a profetizá-lo e são muitas as coincidências entre as profecias.
Tenham portanto medo. Tanto quanto o que tenho, sobretudo agora, tranquilo que estou, depois de ter encontrado no 21 de Dezembro de 2012 assunto para terminar com a angústia que desde o final do Domingo p.p. sentia por se aproximar o 21 de Dezembro de 2010 (data de publicação desta coluna, sem eu ter assunto para ela).
Por mim, e por agora, já está.
Quanto à eficácia do veto de S. Exa., julgo que ainda antes do fim de 2010 a poderemos aferir.
Mais difícil será para conhecer a forma como Portugal irá adiar a “banca rota” que há séculos o assola. Para tal há que esperar um pouco mais: talvez no segundo trimestre de 2011 já saibamos se o FMI deixa que outros façam aquilo que ele gosta e sabe fazer.
Bem. Sobre o fim do mundo – no que às cuecas diz respeito, ficará, talvez, para outra ocasião –, bom, esta é a melhor parte, até porque, dizem outros profetas e sábios, nesta altura, em Portugal, a economia já está a recuperar. Profecias!
Daqui a dois anos veremos se é para rir ou chorar por mais.

A.O. 12/21/10; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, dezembro 07, 2010

O bom é não dar Cavaco





Cada vez mais me convenço que Cavaco Silva tem um sério – e já antigo – problema com os Açores. Questão velha e complicada. Nada que se resolva com oportunas mini férias no arquipélago, ou comitivas arrebanhadas a contra gosto quando ainda se engolem sapos, que mesmo escorregadios, deixam marcas visíveis por muito tempo. Há mesmo quem diga que o problema é tão velho que remonta ao célebre Congresso da Figueira da Foz – consequência de um “erro táctico” de Mota Amaral. Mas, como dizia a outra, “isso para agora não interessa nada”!
Interessa, isso sim, é não deixar de exercitar a memória. Para não recuar muito regressemos ao Verão de 2008:
A 31 Julho de 2008, em consequência das negociatas de Oliveira e Costa e seus amigos – tudo “boa gente” como os considerava o então ainda Conselheiro de Estado, Dias Loureiro –, já o BPN era um sério candidato a ensopar as largas centenas de milhares de Milhões de €uros que tanto ajudaram no agravar da situação de que todos (uns mais que outros claro, pois cortar 10% na remuneração do Presidente da República Portuguesa não é nada quando comparado com um corte de 200 ou 300 €uros no rendimento de uma família carenciada ou até mesmo remediada), mas TODOS, somos agora vítima. Tal como, por esta mesma altura, as transferências para “off shores” e o “fantasma Banco Insular” já haviam levado o Banco de Portugal a decretar a necessária auditoria interna ao BPN!.
Mas estes eram assuntos que dada a sua insignificância em nada justificavam interromper um qualquer período de férias. O Estatuto dos Açores, e o terrível precedente que ele incorporava (terrível, mas não tão assustador que justificasse a apreciação preventiva do TC), isso sim: E não só justificou a interrupção das férias, como, tal como se pôde assistir com espanto e pasmo, também exigiu aquela tão mediática quanto dramática comunicação feita no pino da “silly season” 2008!
Agora também, no Outono de 2010 (dois anos e quatro meses depois), não foi muito diferente:
* A PT, em clara manobra de fuga ao fisco, prepara-se para antecipar a distribuição do dividendo?
- Eh …, isso é de somenos importância!
* São cada vez mais evidentes as manobras para que seja criado um regime de excepção que contemple o pessoal (de preferência os melhor remunerados) do sector empresarial do Estado?
- Eh …, para quê embarcar em populismos. Isto são “peanuts”!
* Nos Açores vão ser criadas compensações para que três ou quatro milhares de funcionários públicos (da parte inferior da pirâmide salarial) contornem as restrições impostas pelo Governo de Portugal!
- Espera aí! O quê? Onde? Nos Açores? Não podem! Isto é uma discriminação gravíssima. É inconstitucional. Viola o princípio da equidade, pois não se podem distinguir as pessoas em função do lugar onde habitam (nestas alturas lembro-me sempre dos cabo-verdianos)! E a corte aplaude. Tomara: sabem por experiência própria que nem sempre é conveniente querer ser “Povo Açoriano”. O que a mesma corte parece não saber é que determinadas pessoas respeitam mais quem lhes “bate o pé” do que aqueles que se desfazem em vénias e salamaleques. E o exemplo não está muito longe: basta ver como é poupado, e até “acarinhado”, quem que um dia imortalizou o “Sr. Silva”!

Em jeito de rodapé (bem que o podia evitar, mas fazê-lo não seria “à minha moda”) resta acrescentar que tenho muitas reservas quanto à justiça da proposta de Carlos César que está na origem de toda esta polémica. O que não posso deixar de apoiar, incondicionalmente, é que aqui, nos Açores, devemos ser NÓS, Povo Açoriano, a mandar.
E todos os passos dados neste sentido serão sempre poucos!

A.O. 12/07/10; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)