sábado, setembro 28, 2013

Tirar o pauzinho do ombro


Brigam dois se um quer”, refrão velho e acertado, não é porém, como quase todos os outros aforismos populares, uma verdade absoluta!
Em Santa Clara, onde nasci e cresci, havia um generalizado hábito – não creio ser exclusivo de Santa Clara, mas só lá o presenciei –, quase sempre estimulado por terceiros que não os dois contendores em confronto, que tinha por objectivo impelir uma luta entre dois rapazes. Acontecia quando o “conflito” estava quase a ser amenizado, em regra porque um deles, o mais ponderado, o mais das vezes o mais forte e seguro de si, o tentava evitar. Nesta ocasião sempre havia alguém que “picasse” para que a coisa não ficasse por ali. O costume era, um dos “outsiders”, geralmente mais velho que ambos os “putos” em questão, colocar “um pauzinho” sobre o ombro de um deles – tendencialmente do adversário daquele que conscientemente procurava evitar “a briga” –, dizendo ao outro: «Vê lá se és capaz de “tirar o pauzinho”, se não o tirares é porque tens medo dele!». É óbvio que “a briga” começava logo ali, geralmente acabando sem grandes consequências, e, apesar de tudo, muitas vezes cimentando amizades que se prolongaram pela vida. As excepções existem, mas são irrelevantes!
Também só excepcionalmente o vencedor “da briga” não era aquele que, sensatamente, a tinha procurado evitar. Claro que “aos terceiros”, com pouco a perder fosse qualquer que fosse o desfecho da refrega, o que mais interessava era o espectáculo e só por isso o incentivavam, para tal chegando a convencer aquele que pela consequência lógica dos acontecimentos logo se tornaria vítima, que o mais ponderado, mais seguro de si e em regra mais forte, estava a evitar “a briga” por fraqueza ou por alguma debilidade momentânea: não por ponderação, humildade (aquela que só alguns vencedores têm) e interesse geral de todo o grupo.
Logo que “a briga” acabava tudo voltava ao normal. Ainda antes de “saradas as feridas” já todos tinham percebido que afinal não brigam dois só porque um quer; que “os terceiros”, “moquencos” e ávidos de por uma “briga”, tinham sempre uma enorme cota parte na demanda. Mas algum tempo depois já se tinham esquecido da lição, caindo de novo noutras “esparrelas”!

A.O. 28/09/2013; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)