sábado, janeiro 04, 2014

Gato por lebre

Foto "roubada" aqui: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201061679296095&set=a.1488333220249.2061711.1591514390&type=1&theater

Um catarino afrontamento, tão desagradável quanto a velha e mediática expressão que aquele súbito alardeio recordou, remeteu-nos para meados da década de oitenta do século passado, relembrando um célebre “gato por lebre” e o “crash” bolsista português que aquela imprevidente “tirada” ajudou a compelir. Mas não foi só. Como que animado por um efeito sequencial o catarino suplício recordou também uns quantos outros “gatos por lebre” mais recentes, e até, pelo menos, duas “lebres por gato” que, dispendiosa, descarada e desenvergonhadamente alguns se esforçam a branquear se não mesmo em as fazer esquecer.
Vejamos estes casos: “Gato por lebre” logo pareceu a célebre cena gaga em que um abrutalhado mastigar de bolo-rei funcionou como descortês forma de fugir a uma pergunta menos conveniente; também só pode ser “gato por lebre”, digo eu, o sucessivo servir de muleta a um governo obcecado em levar por diante uma política ultraliberal, isto sobretudo depois de, passado apenas um ano, do mesmo amparo ter vindo o amplificar das vozes que preveniam para a “espiral recessiva” que esta mesma política ameaçava despoletar; “gato por lebre” é da mesma forma a manifesta e repetida preocupação tida com a entrada em vigor em Janeiro de um OE que, além das reiteradas dúvidas sobre a sua constitucionalidade, desta feita até arranca já necessitado de rectificação. Mas se há os “gatos por lebre” também não faltam as “lebres por gato”: Em contraponto com a “previdente” recomendação do Outono de 1987, foi uma clara “lebre por gato” o que entre 2001 e 2003 resultou da rentabilíssima aquisição e venda das acções SLN/BPN; e não pode deixar de ser “lebre por gato” quando, ao contrário do que se passou com o orçamento de Portugal, no caso dos Açores, não é tida em conta a preocupação com o facto de haver, ou não, orçamento a tempo e horas!
Mas é na flexibilidade do critério – total desarticulação, diria –, que varia conforme as conveniências, onde melhor se vê “gato por lebre”: atenda-se à tolerância dos dias de hoje com o OE vs a intransigência (para com o Estatuto dos Açores) que até levou a interromper férias para fazer a inusitada comunicação do Verão de 2008. 
A muito se obrigam os neocolonialistas quanto aos Açores! 

A.O. 04/01/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)