A Associação de Futebol deu os
seus primeiros passos em 1923: era a “Associação” a dar os primeiros passos e a
I Republica os derradeiros.
Logo em 1923/24 (há coisas que
são como o célebre anúncio: “vêm de longe”), tendo como protagonistas os Drs.
Francisco Luís Tavares e Lúcio Agnelo Casimiro, começaram as demandas
sociopolíticas. Mas então, porque com o tempo iria endurecer, foi mesmo só isso:
luta política! Na altura estava muito acesa a querela entre os “velhos
republicanos” e os conservadores, muitos deles então ainda monárquicos, sendo que
foram os mais conservadores quem depois acabaria por condicionar quase tudo e
todos: também, logicamente, e quase por completo, os primeiros 50 anos de vida da
Associação de Futebol!
Ao longo da década de vinte – 1924
/ 1930 –, e sobretudo depois do 28 de Maio de 1926, novamente com o Dr. Lúcio
Agnelo Casimiro encabeçando a falange que já então ganhava cada vez maior
preponderância, este confronto político conheceu outro protagonista, o Dr. Jeremias
da Costa, que muito a custo conseguiu manter a então AFSM como baluarte de
democratas e “velhos republicanos”. Também por isso, em 1929/30, o Dr. Agnelo
Casimiro chegou mesmo a criar um organismo alternativo à Associação de
Futebol, com Ponta Delgada assistindo a dois campeonatos, que procuravam, cada
um deles, “abafar” o outro. Do lado da "Associação", e dos “velhos republicanos”,
ficaram o Club União Sportiva; o Sport Club Santa Clara – mantendo-se fiel ao posicionamento do
“Santa Clara Velho”; o Operário Sport Club (da Federação Operária de Ponta
Delgada); e o Micaelense Foot-ball Club. E do lado da Liga Desportiva Micaelense
– foi este o nome do organismo criado pelo Dr. Agnelo Casimiro – e daqueles que
a partir de 1931 iriam passar a controlar, quase completamente, os
acontecimentos por longos anos, ficaram o Clube União Micaelense e o Clube Desportivo Santa Clara, juntando-se a estes o
“Estrela” e o “Artista”, clubes da Ribeira Grande, antecessores do Ideal e do
Águia. Esta “revolta” terminou em Agosto de 1930, com a chegada a Ponta Delgada
de um Comunicado da Federação Poprtuguesa de Futebol, assinado pelo punho do histórico Ribeiro dos Reis, que
ameaçando de exclusão o CUM e o CDSC colocou um ponto final à estratégia da
LDM.
A “Revolução das Ilhas”, em 1931,
fracassando no seu objectivo de derrubar o Estado Novo, entre nós teve como
consequência a “decapitação” dos últimos “velhos republicanos” que estiveram na
liderança da Associação de Futebol, os, Dr. Castanheira Lobo e Tenente Luís Lacerda
Nunes.
A partir daí acabaram-se as “veleidades
democráticas”, e, sempre que estas se esboçavam, lá aparecia uma “mão firme”: com
o Sr. Horácio Teves sendo chamado a estas funções por várias vezes.
Tal como o regime, a vida da Associação
de Futebol entrou então numa fase de quase perfeita tranquilidade, só suspensa
pela interrupção da prática do futebol entre 1942 e 1945, o que aconteceu sobretudo
por falta de recintos desportivos, mas também porque a II Grande Guerra atingia
então o seu apogeu.
Com o recomeço do futebol federado em São Miguel uma nova
geração chegou à liderança da AFPD, foram os casos o Dr. Carlos Bettencourt,
embora por pouco tempo – custou-lhe ser apoiante do Movimento Unitário Democrático
e, por tal, viu dificultada a tarefa de conseguir reunir os apoios (CMPD e
JAPPD) para a obter o necessário recinto desportivo –, do Dr. Fernando Costa
Matos, do Arq. Francisco Quintanilha, entre outros. Mas será o Sr. António
Horácio Borges, com os quinze mandatos que entre os anos de 1955 e 1972
efectuou como Presidente – muitos deles consecutivamente –, quem, mais do que
fazer o “ressurgimento do futebol local” (foi este o que António Horácio Borges
atribuiu ao projecto que se propôs dinamizar e executar) acabou levando a cabo
uma verdadeira revolução no futebol de São Miguel.
Na transição da década de 60 para
a de 70, coincidindo com a “primavera marcelista” e com a aproximação da “nova
era” que já se prenunciava, Eduardo Pereira Duarte foi eleito presidente da
AFPD, deixando também ele bem visível a sua marca. Com Eduardo Pereira Duarte
foi a vez da “revolução” chegar à vida administrativa e financeira da Associação
de Futebol, sendo o seu desempenho muito bem acolhido pela imprensa da época,
que publicou e elogiou os relatórios de contas e actividade dos seus mandatos.
A inauguração do Aeroporto de
Ponta Delgada (na Nordela) e, em consequência disso, a decisão de se não
construir o Estádio Distrital na “Mata da Doca”, em Santa Clara, obrigou Eduardo
Pereira Duarte a procurar rapidamente outra solução, logo montando, dinamizando
e levando a cabo, a campanha de angariação de fundos que se tornou decisiva para
construção do Estádio na “Estrada da Ribeira Grande”, ainda hoje, o mais
importante palco de futebol em
São Miguel.
Já quando o calendário mostrava
1974, a greve dos árbitros, primeiro, e a chegada de Ted Smith, depois, (onde
isto nos levaria: Ted Smith foi anunciado como indo do "Estoril" para o Irão, mas,
como que conduzido pela “mão invisível do Tio Sam”, apareceu quase de surpresa em Ponta Delgada)… Escrevia
então que a greve dos árbitros e a chegada de Ted Smith a Ponta Delgada já anunciavam
claramente o que estava a chegar.
Pouco antes de Abril de 1974 João
Gago da Câmara chegou à presidência da AFPD, sendo ele o presidente em funções,
mas não em presença – fora detido em consequência do 6 de Junho de 1975 –
quando terminou a última época dos primeiros 50 anos de vida da Associação de Futebol.
Foi “tão quente aquele verão” que
a importante efeméride, o meio século de existência da AFPD, começada a preparar
por António Horácio Borges quase uma década antes com a disputa das taças
aniversário da AFPD, passou despercebida!
....
Tal como já aconteceu com o Sr. Rolando Viveiros, outros presidentes
merecem sair da penumbra em que os colocaram. Alguns foram mesmo ostracizados (como
foi os casos dos Drs. Francisco Luís Tavares, Duarte Castanheira Lobo e Tenente
Luís Lacerda Nunes), podia-se (devia-se), começar por estes. Fica a sugestão!
AO. 22/11/2014; “Cá à minha moda" (revisto e muito, muito acrescentado)