O Médio Oriente arde. O que se passa no Líbano é uma barbaridade. De parte a parte. E bárbaros também são todos aqueles que podendo fazer algo mais, nada mais parecem querer fazer do que insistir na retransmissão do seu lamento; do que chorar, hipócrita e cumplicemente, o desfecho de tão previsíveis acontecimentos!
Há pouco mais de dez anos, da última vez que calcorreei vários cantos daquela encruzilhada religiosa, iniciava-se então (com destaque para Jericó) o processo de transferência de poderes para a Autoridade Palestiniana, eu, ingénuo – mas também contagiado pela enorme tranquilidade que testemunhei existir em zonas tidas como “muito quentes” –, cheguei a pensar que, por fim, se aproximava a solução do problema. Imperfeita. Mas uma solução. A possível!
Há de facto problemas que parecem não ter (não querer ter) resolução!
Falta-me fé para acreditar que se possa compatibilizar, e racionalizar, tantos, e tão grandes, excessos de Fé.
Faltam-me também as palavras. Recorro a um "santo". Evoco a sua imensa sabedoria. Procuro recordar, de memória, uma das suas orações. Não consigo!
Dirijo-me ao seu altar do “Jardim do Colégio”. Lá está a prece. Releio. Copio. Partilho:
"Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando.
Que é o mundo ante mim? Fumo ondeando,
Que é o mundo ante mim? Fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre o vácuo insondável rastejando...
E dentre a névoa e a sombra universais
E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
E a queixa, o profundíssimo gemido.
Das coisas, que procuram cegamente
Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentido..."
Palavras sábias; até parecem ter sido escritas de propósito, também para isso!
Do próprio, in A. O. 01/08/06; “Cá à minha moda”