terça-feira, fevereiro 26, 2008

Viva a República Açoriana

Não!!! Isto não é, ainda, nenhuma consequência daquilo que há pouco mais de oito dias aconteceu no Kosovo. O título, retirado de um dos últimos “Se bem me lembro”, é tão e só a forma de me associar à comemoração do trigésimo aniversário do passamento de um dos grandes ícones da cultura açoriana, sem dúvida nenhuma, o mais universal dos combatentes pela autodeterminação e emancipação dos Açores.
Cada qual usa as armas que tem, ou pode. Vitorino Nemésio, desde muito cedo, sempre usou armas requintadas, cirúrgicas, com grande nível de sofisticação, cujos efeitos perduram, e que, com o passar do tempo, se mostram cada vez mais eficazes. Eis alguns dos seus petardos:
Em; Açorianidade. Insula. (1932).
Subscrevendo o basco Baroja, acentuou: “O ter nascido junto ao mar agrada-me, parece-me como um augúrio de liberdade e mudança”. E logo a seguir o maior dos açorianos: “Era este orgulho feito de singularidade e solidão que levava Antero a chamar aos portugueses da metrópole os seus “quasi patrícios””. Ainda no mesmo texto, antecipou: “Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade.”
Em; Açores, Actualidade e Destinos. Edições Atlântida. (1975).
“Seja qual for a configuração de direito público que o povo dos Açores venha a tomar, o que é notável, imediatamente histórico, é o grau de consciência a que chegou a sua singularidade territorial e cívica. Já se falou de “Estado federado”, que um alto responsável declarou “imaturo”. Ora, o que é imaturo significa também “que pode vir a amadurecer”.
Em; Alarme nas Ilhas. Sapateia Açoriana. (1976).
“ (…)
Fuma, se queres! /Na cinza parda o vento verde esconde as bombas /Da independência. /Há sombra em todas as lombas, /Espírito Santo na violência. / (…)”
A. O. 26/02/08; “Cá à minha moda”

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Uns vivem na raia, outros tiram disso o proveito

Fronteira ocidental, para aqueles que da Europa fitam a América, ou oriental, para os que da América miram a Europa, os Açores, a meio deste vasto Atlântico Norte, são um autêntico marco físico de fronteira.
De ocidente ainda chega directamente ao povo, embora cada vez mais desvanecido – na intensidade e substância –; o cheiro a “roupa da América”, o apelo de sangue dos muitos entes queridos que para lá emigraram, e o muito arreigado, embora nem sempre real, eterno sonho com fartura e liberdade. A banda de poente é também pródiga em negócios de geoestratégia, e rendem muitos milhões, mas é uma fartança que não chega a todos; sonhos, “candiles” e “roupa da América” para uns, mordomias e palácios na Lapa para outros!
Do oriente chegaram – ainda chegam, mas tempos houve que aparentavam inesgotável abundância – os subsídios destinados à nossa pretensa normalização; produzir valia pouco, no consumir é que, parecia, estava o ganho – que engano! Foi dinheiro a rodos, e como sempre; para uns, poucos, fartos milhões, e para os muitos outros, míseros tostões. Nunca se viveu tão bem como agora! Dizem. E é verdade. Mas também, nunca foi tão grande a diferença a separar uns poucos, os muito ricos, dos outros, os cada vez em maior número, muito pobres. E a factura, já em Euros, só agora está a chegar!
Os povos da raia aproveitam o que de bom há em cada um dos lados da fronteira. Para nós açorianos, infelizmente, não é o caso; ao “dono da quinta” está sempre destinado o melhor quinhão. É ele quem ganha com a localização de uma propriedade de onde, à distância, e sem correr riscos, retira farto usufruto. Nem cavaco nos dá; a Europa entrou-nos porta dentro sem pedir opinião, e agora, vão fazer do “nosso quintal” campo para treino de tiro – mesmo que só virtual –, quer queiramos quer não!
A. O. 12/02/08; “Cá à minha moda”