terça-feira, outubro 26, 2004

Pelotão de Serviço a Parquímetros

Como se já não bastasse a estreiteza das ruas de Ponta Delgada – traçadas, já lá vão 500 anos, para diferente tipo de tráfego –, assiste-se, de uns tempos a esta parte, à sua agressiva exploração como negócio privado de parqueamento, legitimando pelo pagamento o atravancamento a que o excessivo estacionamento as sujeita!
Os peões – nem São Turismo os vale! –, coitados, são tidos como piões.
Tampouco importa saber se para quem nelas vive, ou está estabelecido, ficaram garantidas as condições de uso na sua função principal; via de circulação. O carregar e descarregar diário é uma aventura quando não mesmo um delito. Até os serviços regulares; distribuição de bens de primeira necessidade, de encomendas postais, de gás, e outros, estão cada vez mais dificultados. Bom, nem quero falar na eventualidade de uma emergência, médica ou de outra ordem; “longe vá o agoiro!”
O prioritário, parece, é rentabilizar ao máximo o negócio dos parquímetros. E como é eficaz o método utilizado – parceria Vigilantes/Polícias gratificados –; nunca se viu tanta gente, tão dedicada, em cata de tanto. Bom seria se, pelos mesmos locais, face a normais problemas de segurança pública, fossem adoptados métodos similares. De certo que diminuiriam os assaltos; o vandalismo; o ruído nocturno; o enorme rasto de lixo – copos, garrafas e até seringas – que se observa após “as noites de borga”; e até os excessos de velocidade!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 25, 2004

CIDADE MINHA

Das nuvens onde voava
Vi-te cidade minha
À noite, brilhando!
Vi-te bela e algemada
De mil cores vestida.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita em manso prado
Salpicada de luzes, colorida.
E amei-te serenamente.
Cidade minha, cidade bela.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita e delgada.
Pareces o céu estrelado,
Brilhando na noite,
Paraíso terreal
Onde sonhei uma infância
Descuidada e feliz
Sem ódio nem inveja,
Pelas tuas ruas estreitas.
Sem a malícia do malvado
Esparramado pelo chão da ira
E do impropério que resvala
No palácio senhorial,
Ou se arrasta pelo adro
Da igreja secular,
Carregando aos ombros
A luxúria de bêbado
Impotente e alvar
Que ao som dos sinos
Em abjecto escárnio
Abomina o talento
E o sucesso dos outros,
Inventando perfídias
Que lhe alimentam
O vazio porco
De imunda existência
E baixa condição.
Vi-te cidade minha
De torres e jardins,
Bordada de montes e mar
Vi castelo e pomar
E, sempre do ar,
Bebi perfumes
Ao recordar feliz
Que fui alguém
Por em ti nascer.
Inalei sons do teu canto
E apreciei o teu falar
Que ninguém ama
Senão os filhos que geraste.
Vi fontes e tanta gente,
Alegre ao passear.
Vi homens a pescar
E mulheres de encantar.
Vi sábios e estudantes,
E crianças a brincar.
Vi políticos a mandar
E nababos a descansar.
Vi velhinhos a chorar,
Por terem de te deixar.
Vi velhacos a enganar,
E Pobres a trabalhar.
Vi ricos a penar,
Por medo de gastar.
Vi ventos e chuvas
E males de espantar.
Vi bonança e céu azul,
E verdes de estontear.
Vi circos a bailar,
Vi pintores a decorar.
Vi poetas a chorar,
Vi bruxas, vi fadas,
Tanta coisa de pasmar.
Vi-te cidade minha de noite a brilhar.
E brilhando ficou minh’alma,
Ao lado da tua a descansar.

CARLOS MELO BENTO
Outubro de 2000

quarta-feira, outubro 20, 2004

Visita guiada

Convido-vos a uma visita guiada a Santa Clara.
É esta a forma que encontrei – depois de começar este texto, um sem número de vezes nunca me satisfazendo com a tentativa anterior – para corresponder ao convite do ilustre director daquele que é o decano dos jornais em língua portuguesa, participando nesta edição comemorativa dos quinhentos anos de elevação a vila, sede de concelho, do burgo onde nasci. Disfarçando alguma falta de talento para a abordagem que se irá seguir convém prevenir para o facto de, mais do que como cidadão de Ponta Delgada, aqui estou por ter sido nado e criado em Santa Clara, pois não fora esta casualidade possivelmente não tinha despertado da tese que atribuiu àquele modesto bairro – de certa forma desprezado (e não sendo por via do futebol, praticamente ignorado) –, uma invulgar importância na formação e baptismo, da hoje maior e mais importante cidade dos Açores.
Feitos que estão estes considerandos, proponho então que me acompanhem na visita ao bairro onde, eu e – segundo alguns nos quais também me incluo – a cidade de Ponta Delgada, nascemos.
Sendo possível, sugiro que sejam portadores do livro IV das “Saudades da Terra”, de preferência, a sua última edição - Instituto Cultural de Ponta Delgada 1998 -, ainda não esgotada e portanto disponível nas boas livrarias desta cidade.

Edição do Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1998

Escolhendo um dia claro e numa hora de maré vazia, iniciemos o nosso périplo no adro da actual igreja de Santa Clara. Avançando pela direita do templo, depois de atravessar uma passagem estreita, somos chegados a um recente e praticamente improvisado recanto com dois bancos e uma árvore, que, com muitta dificuldade, pois o ar marítimo, ali, dificilmente o permitirá, algum dia poderá vir a proporcionar sombra.

Embora a árvore primitiva já tivesse sido substituída, hoje, é este o "amanho" do local.

Sentemo-nos num dos bancos. Nas nossas costas está um pequeno núcleo de casas, algo desorganizado quando analisados em função da lógica da situação actual, mas que ainda num passado recente permitia que algumas delas, orientadas como estão para nascente, estivessem simultaneamente de frente para o mar. Mesmo por baixo de nós, ainda há alguns meses atrás, eram visíveis ruínas, que muito bem poderiam ser as de uma das primeiras construções de pedra, barro e cal de Ponta Delgada. Levantemo-nos, e recomecemos o passeio. Continuando em frente, e depois de atravessar a via que agora aqui existe, entre os carros e autocarros que usam o muito entulho por aqui depositado como parque de estacionamento, chegamos então à “beira da rocha”, já próximo da Ponta Delgada.

Assim!

Avancemos agora para poente cerca de cento e cinquenta metros; aí está a “Ponta da Sardinha”, nome porque é vulgarmente conhecida em Santa Clara uma fina e baixa língua de basalto, agora também ela praticamente toda coberta de entulho, apenas com a sua extremidade ainda à mostra, entrando pelo mar adentro, que mesmo depois de submersa assim continua prolongando-se por cerca de mais cento e cinquenta metros, terminando num baixio a dois ou três metros do nível do mar.

Anos60/70.Uma família de Santa Clara - a família Moniz - "à beira da rocha", em local onde mais ou menos hoje está o parque de estacionamento do Restaurante Farol. Ao fundo vê-se a extremidade da "Ponta da Sardinha", Ponta de Santa Clara ou ainda Ponta Delgada, quando esta, ainda pouco entulhada, visivelmente entrava pelo "mar adentro".

Local muito próximo do anterior, hoje em dia!

Para aqueles que se fizeram acompanhar do livro, é chegada a altura de, pela primeira vez o abrir, e, na página cento e setenta e dois, ler: “Esta cidade de Ponta Delgada é assim chamada por estar situada junto de uma ponta de pedra de biscouto, delgada e não grossa como as outras da ilha, quase rasa com o mar, que depois, por se edificar mais perto dela uma ermida de Santa Clara, se chamou ponta de Santa Clara; entre a qual e a da Galé se faz uma grande enseada, já dita, de compridão de três léguas.”
Por favor digam lá! Emoldurada por tetrápodes, coberta de lixo e apesar do muito entulho que tem sido aqui depositado, não é possível reconhecer a ponta que Frutuoso descreveu?
Independentemente da vossa resposta, continuemos a caminhar para poente. Logo a seguir ao farol existe um pequeno promontório que protegeu e dissimulou a casamata e o paiol da “peça de Santa Clara”, que aqui instalada pelo exército dos EUA, no fim da Primeira Guerra Mundial defendeu a costa e o acesso ao porto da cidade. Subamos ao alto desta pequena elevação.

A "peça" instalada em Santa Clara no final da I Guerra Mundial, quando já se preparava para ser desmontada e retirada para outro local. Vê-se também, em segundo plano, o promontório que abrigava o paiol e a casamata, e ao fundo, as antigas chaminés da Fábrica do Açucar de Santa Clara ainda intactas.

De frente para o mar e ligeiramente virados a poente, temos sob o nosso olhar a “ponta da eira".


De Poente para Nascente; a Ponta da Eira em primeiro plano, com a Ponta da Sardinha (versão popular local), ou Ponta Delgada em segundo plano - por baixo dos tetrápodes - , e a Ponta da Galera - só com a foto ampliada se vê - sobre a linha de orizonte.

De Nascente para Poente; a Ponta da Eira, com a Ponta Baltazar Roiz em fundo. (Recorte. Pág. 459 do livro "PONTA DELGADA a História e o Armorial. Manuel Ferreira 1992)

É assim que é conhecida em Santa Clara, por associação aos moinhos de vento que outrora por aqui existiram, esta última saliência da costa antes que esta, iniciando definitivamente a sua orientação para noroeste, se torne alta e alcantilada praticamente até aos Mosteiros.

A Ponta Baltazar Roiz ao fundo, com o muro da antiga fábrica de conservas - que agora ocupa a área onde outrora estiveram os moinhos de vento - em primeiro plano.

É então altura de abrir mais uma vez o livro e fazer uma nova leitura, agora na página cento e setenta e oito. Lá está: “Da ponta de Santa Clara começa a varrer a costa com rocha baixa para noroeste, até uma pequena ponta ao mar, que se chama a ponta de Baltazar Roiz (porque morou ali um homem principal, deste nome) em que se acaba o comprido da cidade. Vai logo além alevantando a rocha mui alta, e fazendo uma baía, na qual está o lugar da Relva, meia légua da cidade, ao longo da costa (…)”.

Ainda sem fechar o livro, neste mesmo lugar, viremo-nos agora um pouco para nascente fazendo um esforço para imaginar como seria a costa sem o enorme maciço artificial que é o porto, desde a ponta da Galera até ao local onde nos encontramos.

A enorme baía balizada pelas duas pontas; a da Galera e a Delgada (de Santa Clara ou da Sardinha segundo versão local), agora com o Porto de Ponta Delgada dissimulhando-lhe o profundo recorte original.

Feito o exercício de imaginação – facilitado, já que o recorte da costa que o porto abriga é bem visível deste ponto – regressemos ao livro, agora a páginas cento e quarenta e um, para aí ler outra descrição do cronista: “ ( a ilha …) é de comprido dezoito léguas e de largura duas e meia, a partes, e em algumas, uma, que é no meio dela, onde a fazem mais estreita duas baías grandes que tem, uma da parte do sul, de uma ponta que se chama da Galé até à ponta de Santa Clara, da cidade de Ponta Delgada, e outra, da parte norte (…)”

Em minha opinião as descrições que Frutuoso fez, coincidem com os locais que temos andado a visitar e ver, sendo óbvio que estamos na extremidade poente da enorme baía iniciada, lá ao fundo, na Ponta da Galera.
Antes de abandonar este local, sugiro que, virando as costas para o mar, olhemos em direcção ao interior da ilha. Lá está, por cima do casario, como que atraindo o nosso olhar, a enorme elevação artificial que suporta o acrescento em tempos feito à pista do aeroporto.

Sem palavras
O cenário daqui obtido nem sempre foi este. Ainda recordo a frondosa mata que ocupava quase toda aquela extensão, terminando nas “pedreiras da doca”, por cima da qual existiam terrenos de cultivo confrontando a Norte com o Ramalho e a Este com a Relva.
Amostra, do pouco que sobrou da frondosa "Mata da Doca".
Pormenor da foto aérea já "postada", desta feita com detalhes do interior de Santa Clara antes referido, realçando-se a "mata da doca" quando o campo de futebol ainda existia estando as barrocas da pedreira ainda bem visíveis. Vêem-se também os terrenos de cultivo do Ramalho (em cima), e da Relva (à esquerda), e à direita, a Avenida do Principe do Mónaco com a respectiva rotunda ao cimo.

Mas muito antes da exploração as pedereiras e da intervenção paisagística do Eng. Dinis da Motta, quando o lugar da ponta delgada era ainda um “solitário ermo”, tal como escreveu Frutuoso, toda esta zona era um cerrado matagal.
De novo recorrendo ao livro, agora logo na página dez, podemos ler: “E de Vila Franca vinham correndo a costa em barcos, e saindo na Ponta Delgada, cinco léguas de Vila Franca, na Ponta de Santa Clara, iam a montear, e, entrando por terra adentro um tiro de besta, e tiro e meio, sem poder mais entrar nela, pelo mato ser muito maninho e espesso, estavam dois dias e três, em que carregavam de porcos monteses, com que se tornavam para suas casas bem providos.”
E depois, já na página duzentos e vinte e sete: “ Os porcos do monte eram tantos e tão bravos que davam grande trabalho aos monteiros. Havia infinidade deles além da cidade da Ponta Delgada, para aquela banda de Santa Clara, e até à casa de Francisco Ramalho, onde os iam montear os moradores de Vila Franca, levando mantimentos em seus bateis para alguns dias, nos quais, fazendo salga neles, se tornavam com muitos para a mesma Vila"."
Feito que está, o possível “retrato” desta área, regressemos ao ponto de partida, para nos determos um pouco na extrema oeste do improvisado parque de estacionamento. Avançando agora para nascente, depois de ultrapassadas as pedras que delimitam esta improvisada zona, já mesmo sobre o limite do aterro, muito próximo do já soterrado “Cunhal da Maré”, uma enorme pedra em formato de ovo que a natureza moldou sobre um a base também de basalto, uma referência nesta zona da costa.

O "Cunhal da Maré", hoje completamente soterrado, é a enorme pedra que está por detrás do braço direito da criança representada em primeiro plano.

Algures, aqui por baixo, está agora o "Cunhal da Maré"


Desolador aspecto do que resta do "Calhau da Areia", com a "Entrada" e respectiva ponta em fundo, vendo-se ainda os "Tanques do Óleo" sobre aquela que Frutuoso chamou de "Ponta dos Algares"

Daqui até à Ponta da Entrada – lá ao fundo -, separada pelo “esguicho” (um poceirão outrora fundo, excelente para mergulhar, nadar e pescar) da Ponta do Salteio (nome como em Santa Clara é conhecida a ponta sobre a qual estão os “tanques do óleo”. A Ponta dos Algares como Frutuoso escreveu), estende-se o “Calhau da Areia”, nome popular desta pequena enseada onde hoje só existe “calhau rolado”.

Também este local já foi bem diferente. Mais recortado, muito mais limpo, com muito mais areia. Era uma aprazível zona de banhos para os habitantes de Santa Clara. E quanto mais recuarmos no tempo, maior e mais profunda foi esta baía em que o mar chegava até à primeira linha de construções que hoje daqui vemos.
Chegou a hora de, pela última vez abrir o livro que vos sugeri, e, na página cento e setenta e oito, ler como Frutuoso descreveu o “Calhau da Areia”. Tenhamos porém em conta que o fez de uma posição exactamente oposta aquela em que nos encontramos; de nascente para poente: “Além, pouco espaço da Fortaleza para loeste, está uma ponta que se chama dos Algares (…) Defronte da qual está um baixo, entre o qual e terra passam barcos, e logo está uma pequena baía de areia, defronte das casas do em tudo grandioso Francisco Arruda da Costa, merecedor de grandes coisas, por toda a sua indústria, e com grande custo seu cercada de muros e cubelos, com sua porta para o mar, tudo muito defensável, e pegado com a porta, chamada de Santa Clara, por ali estar a igreja paroquial desta Santa, onde se acaba a principal costa da cidade, que ainda chega à outra ponta de Baltazar Roiz. Entre a qual e a da Galé (como já se disse), fica a grande baía de três léguas de comprido ( … )”

A Ponta dos Algares - do Salteio segundo a versão popular ou ainda das Aringas -vista do antigo Estradinho, cumprindo o sentido da descrição feita por Gaspar Frutuoso.

Costa de Santa Clara, com o "Calhau da Areia" ao centro entre a Ponta Delgada e a Ponta das Aringas (ou dos Algares), cuja estrema oeste é popularmente conhecida por Ponta da Entrada. Eram aliás, a Ponta da Entrada, a nascente, e o "Cunhal da Maré", a poente, o que definia em concreto a enseada em cujo extremidade mais abrigada se situava o "Calhau da Areia".

Sendo tantas, e tão exactas as referências a todos estes locais, permitam-me admitir ter sido no “Calhau da Areia”, quando era maior e tão apropriado para desembarcar que até foi necessário defendê-lo com uma muralha, que os caçadores de Vila Franca deixavam os seus barcos quando para aqui vinham montear. E assim tendo sido, possível se torna aceitar, que alguns deles tivessem, naturalmente, por aqui se fixado dando origem ao início do povoamento do lugar da ponta delgada.
Vou já terminar, mas não sem antes escrever que enquanto o “progresso” não a arrasar completamente, sem grande esforço – e com muito prazer -, podia também conduzir-vos até ao que julgo ser o que resta da muralha com cubelos que Francisco Arruda da Costa construiu, e que poderá ser uma forma de se chegar à localização da ermida original em evocação a Santa Clara, que estando na origem do renomear da ponta, lhe retirou o nome inicial para com ele baptizar; primeiro o lugar, depois a aldeia, e mais tarde a vila que deu lugar à cidade de Ponta Delgada.
Do próprio. Texto (revisitado) publicado no suplemento do Açoriano Oriental de 19 de Julho de 1999, comemorativo dos 500 anos do Concelho de Ponta Delgada



terça-feira, outubro 19, 2004

"VIVA OS AÇORES"

Já desde os, por muitos quase esquecidos – e por outros, desconhecidos – anos 76 e 80, que a açorianidade se não tinha mostrado tão determinante na obtenção de uma vitória eleitoral. Acresce importância ao facto se tivermos em conta que a democracia entretanto foi “amadurecendo”; que os cadernos eleitorais agora integram uma nova geração; e que, em alternância, os dois principais partidos “inverteram os papeis”!
O Azul e Branco predominou como cenário dos vencedores, e o discurso político – do PS ao BE – deixou de evidenciar alguns dos complexos da esquerda local contrariando um dos mais gratos princípios da esquerda em geral; a defesa da autodeterminação dos povos. Bom prenúncio.
A 17 Out. 2004, em confronto com a descarada conivência e subjugação ao “poder de Lisboa”, ganharam as instituições açorianas reforçando a escassa autonomia até agora conquistada. O que não é de somenos importância, tendo em conta a descomunal diferença de meios empregues – incluindo a instrumentalização dos OCS públicos –, para a auto estima dos açorianos como Povo!
Melhor, mas a requerer ainda maior amadurecimento democrático, só mesmo quando na ALR existir mais pluralidade. Aliás, a única nota menos positiva destas eleições foi a redução do leque de representatividade partidária no Parlamento Açoriano. Decq Mota dispensava “o presente” que lhe foram levar à Horta. Foi, também neste caso, a insensibilidade “do poder central”!
Última nota: Será que haverá quem continue encomendando sondagens IPOM?
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 18, 2004

domingo, outubro 17, 2004

Orla marítima de Santa Clara II


Pormenor de uma foto aérea de 1955, publicada por Manuel Ferreira no seu livro:
"As voltas que Santa Clara deu" - 2003
Posted by Hello

Orla marítima de Santa Clara I


Carta com pormenores da costa de Santa Clara (meados da década de sessenta do século XX), incluindo as curvas bati métricas de maior proximidade, estas, de grande interesse para comparar a "evolução" - é de degradação, de facto, que se trata - da orla marítima daquela zona.

Descrição que Gaspar Frutuoso fez desta zona da costa de Ponta Delgada:
"Além, pouco espaço da Fortaleza (1) para loeste, está uma ponta que se chama a Ponta dos Algares (3), porque saem ali dois com suas bocas, (...) Defronte da qual ponta está um baixo(2), entre o qual e terra passam barcos, e logo está uma pequena baía de areia(4), defronte da casa do generoso e em tudo grandioso Francisco Arruda da Costa(?) (...), com sua porta para o mar, tudo muito defensável, e pegado com a porta, chamada de Santa Clara, por estar ali a igreja paroquial desta Santa, onde se acaba a principal costa da cidade, que ainda chega à outra ponta de Baltazar Roiz (5)".

Descrição actual - incluindo os nomes populares adoptados - da mesma zona da costa:
Partindo do Castelo de S. Braz (1) para poente, temos então; o Estradinho (A), a Baixa das Aringas (2), a Ponta das Aringas, dos Algares, (do Salteio ou da Entrada nas versões populares) (3), (o "Calhau da Areia" também na versão popular) (4), a Ponta Delgada ou Ponta de Santa Clara, (da Sardinha na versão popular) (B), e por fim a Ponta Baltazar Roiz, (da Eira ou do Farol nas versões populares) (5).
Posted by Hello

sábado, outubro 16, 2004

MEDEIROS CABRAL IV


Estudo - Nu masculino
Lapis de cor sobre papel 41x30
Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL III


Estudo - Nu masculino
Lápis de cor sobre papel 41x30
Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL II


Auto Retrato
Acrílico sobre tela 73x53,5


Posted by Hello

MEDEIROS CABRAL


José Manuel de Medeiros Cabral
Ponta Delgada - Açores
Setembro 1955 - Dezembro 1979

Em 1977 expõe individualmente o tríptico " A História" no Museu Carlos Machado e ingressa na ESBAP (Escola Superior de Belas Artes do Porto).

Ainda muito jovem - 1973, com 18 anos - participa na exposição colectiva do Extrenato do Infante em Ponta Delgada, para dois anos depois, 1º de Maio de 1975, expor individualmente na Praça Gonçalo Velho, também em Ponta Delgada; "Uma exposição para trocar".

Os seus trabalhos integraram as exposições colectivas "Os Sentidos"( apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian) 1989, e "Meio Século de Arte nos Açores", promovida pela Direcção Regional da Educação e Cultura por ocasião da Presidência Aberta, ainda em 1989.

Está representado no Museu Carlos Machado em Ponta Delgada assim como em várias colecções partirculares.
São de sua autoria as vinhetas que ilustram "O Barco e o Sonho"; primeiro livro de Manuel Ferreira.
Posted by Hello

sexta-feira, outubro 15, 2004

O tríptico "A História"


O Esclavagismo
Acrílico sobre tela 100x60 - 1977
O Feudalismo
Acrílico sobre tela 100x80 - 1977
O Capitalismo
Acrílico sobre tela 100x100 - 1977
Medeiros Cabral Posted by Hello

quinta-feira, outubro 14, 2004

quarta-feira, outubro 13, 2004

A TENDA DO MESTRE VIRGÍNIO

Julgo não exagerar se considerar “a tenda do Mestre Virgínio” – algures entre os nºs 132 e 136 da 1ª Rua de Santa Clara – como mais um dos locais de culto em Santa Clara, que, infelizmente, já deixaram de existir!
Desde sempre – e até recentemente quando já próximo do fim da sua vida tive oportunidade de com ele privar e conversar longamente – tinha interiorizado a ideia que o Mestre Virgínio era um homem distante e “carrancudo”. Desde criança via-o passar, sempre sozinho, com aquele passo seguro de “falso lento”, e com os olhos ora no chão ora no infinito, como quem se está consumindo em nada de acordo com a vida simples e pacata que parecia ter.
Já mais “crescidinho”, quase adulto, alguém – sinceramente já não me recordo quem! – disse-me que Mestre Virgínio era comunista e que a sua muito discreta tenda de barbeiro, teria sido um importante local da logística do PCP nos mais difíceis tempos de oposição clandestina. Se isso é verdade, nem o próprio mo confirmou quando tive oportunidade – começamos a ficar mais à vontade um com o outro dois ou três anos após termos iniciado longas e francas conversas – de lhe questionar pessoalmente sobre o assunto. Na altura, o melhor que lhe consegui arrancar, foi um sorriso quase inexpressivo, acompanhado de um mal dissimulado brilho nos olhos!
Logo nos primeiros tempos após o 25 de Abril – quase como que confirmando que a partir daquela altura aquele local poderia ser dispensável – a tenda do Mestre Virgínio mudou de dono.
Foi lá, com amigos já na altura possuidores de consistente formação política – iniciada, primeiro na JOC de Santa Clara, e mais tarde aprofundada nos contactos e saberes que a SEXTANTE proporcionou -, que mantive longas e profundas discussões, enquanto se mudavam algumas pedras num tabuleiro de xadrez , em dupla competição, onde era muito mais renhida, e acalorada, a troca de ideias propriamente dita do que a partida de xadrez em si.
Depois de ter sido também um embrião da dinamização cultural, a tenda do Mestre Virgínio foi ainda, durante algum tempo, o espaço que José Manuel Medeiros Cabral –“ Zé Manel Cabral” para os amigos, e Medeiros Cabral no mundo das artes – utilizou como atelier.
Lá assisti - mais uma vez entre interessantes e intermináveis conversas – ao demorado parto da sua obra prima; o tríptico “A HISTÓRIA”, que denunciando com a emoção daquela época a sempre presente luta entre opressores e oprimidos, na terceira tela do conjunto; “O CAPITALISMO”, perpetuou o registo da Santa Clara Industrial do início do século XX.
Estou convicto que atenda mo Mestre Virgínio foi o último bastião – talvez o único que, resistindo à ditadura tenha chegado até ao último quartel do século XX –, dos vários que chegaram a existir em Santa Clara, dando corpo ao anarco-sindicalismo que antecedeu a Republica, e mais tarde, aos movimentos operários dos primeiros anos do século XX.

Do próprio. Texto (revisitado) publicado na imprensa local no fim da década de 90.

terça-feira, outubro 12, 2004

ALTAS e baixas pressões

Em democracia “o poder” não é exercido só por quem governa. Tampouco o 4º poder, cada vez mais presente e poderoso, é independente. Depende de quem o sustenta, via mercado publicitário, ou, sobretudo, quando estão em causa negócios e interesses fundamentais para a sua sobrevivência. É abrir os olhos e ver. Tarefa fácil por exemplo no nosso meio. Com excepções. Claro. Poucas!
O verdadeiro poder está na sociedade – no povo segundo o discurso político –, mas só quando esta tem uma vivência democrática amadurecida; já lhe proporcionaram níveis aceitáveis de instrução e conhecimento; exige, com naturalidade, o que sabe ser seu de direito. Em suma, quando já exerce a plena cidadania. O que, convenhamos, trinta anos após o 25 Abril, ainda é excepção e não regra! É ver como mesmo em círculos restritos, quase diariamente, se assiste à auto-censura. É ver como, com indesejada frequência, se constatam várias e variadas tentativas de silenciamento às vozes incómodas!
O “caso Marcelo” – esta alta pressão continental – só o é por ter sido com quem foi; por ocorrer em clima de denso rebuliço político; por bulir com estrondo com uma audiência superior a um milhão de almas. Paradigmático é como este acaba remetendo para o devido lugar um outro caso – o telefonema em CD –, qual baixa pressão atlântica de grande aparato mas insignificante intensidade.
Enfim, campanha eleitoral!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

segunda-feira, outubro 11, 2004

O "Field Azores"


Com o avançar da exploração da Pedreira da "Mata da Doca", a base dos diversos filões de basalto, à medida que este ia sendo extraído, transformava-se em terreno plano que ia sendo progressivamente ocupado pelo estaleiro, pelos resíduos resultantes de toda aquela actividade, e pelo depósito dos "blocos" - enormes paralelipipedos (em média : 5mt comp. por 3mt larg. e 2mt alt.) constituídos por enúmeras peças de basalto chumbadas umas às outras com cimento - destinados à construção do porto e respectivo quebra mar.
Foi na zona nascente desta planície artificial, depois de devidamente limpa e preparada para o efeito, que no final da I Grande Guerra esteve acantonado o "destacamento americano" encarregue, entre outras funções, de operar " a peça" instalada em Santa Clara para defesa da costa e do porto.
O "Field Azores", é mais tarde, depois de definitivamente denominado "Campo Açores", o berço do futebol micaelense; um recinto que após de ter deixado de servir para a prática de futebol oficial, adoptando popularmente o nome de "Campo da Mata da Doca", manteve utilização prática até ficar completamente soterrado pelo prolongamento do aeroporto de Ponta Delgada. Posted by Hello

domingo, outubro 10, 2004

Pic-Nic na "Mata da Doca"


Uma família de Santa Clara em pic-nic domingueiro na "Mata da Doca".
Com uma foto tirada cerca de quarenta anos depois de escrito o texto de Bruno Diniz que parcialmente reproduzimos no "post" anterior, e como que cumprindo o sonho do Eng. Diniz Moreira da Motta, aqui fica registado um hábito frequente entre as classes populares de população de Ponta Delgada, de modo muito especial, das gentes de Santa Clara, uma forma de ocupar as quentes tardes dos Domingos de Verão.
Foto pertencente à coleção particular da família Santos
Posted by Hello

A Mata da Doca, ou, Parque Diniz da Motta

(…)

Desapareceram as antigas Pedreiras da Doca!
Por sobre aqueles montículos pitorescos, colocado pelos vales em cima das esplanadas, bordando veredas e caminhos, estende-se, cerrado, o arvoredo q’ entremeia e tece os ramos, numa confusão imensa de folhagens, matiza os seus verdes diferentes e derrama, gratamente, por sobre a terra que o nutre, uma sobra protectora e amiga.
Dum deserto fez-se um bosque! Por entre as pedras brotaram acácias e pinheiros; o antigo solo abrasado ostenta hoje carvalhos, angélias, araucárias, rubínias, piteiras …e sobre aquela terra vermelha e tórrida, que escaldava, que feria a vista, estendeu-se um tapete verde de relva húmida e tenra que nos descansa a retina.
Quanto podem o entusiasmo de um homem, o escorregar vagaroso do tempo e o forte viço das plantas!
No meio do parque – seu coração – espairando-se largamente como a arena de um coliseu titânico – O Campo Açores. Plano, nivelado, extenso, presta-se magnificamente a todos os jogos, a todos os desportos: tennis, foot-ball, croquet, birlo, barra, gyncanas, corridas de velocidade, de resistência, de bicicleta, concursos hípicos etc. (…)

(…) Diniz da Motta acariciava este projecto; mas não se limitavam a isso os seus projectos. Desejava traçar ali avenidas de rodagem, arruamentos para peões, veredas e atalhos nos sítios mais íngremes. Propunha-se desbastar o arvoredo, semeado assim compacto com intuitos de protecção e para obviar às recusas tão frequentes das plantas mais delicadas, introduzindo depois espécies mimosas e belas mas de resistência menor. Ajardinaria uns dois ou três pontos, deixando o resto na sua rudeza de mata, convidando às excursões, aos piqueniques.
Junto à casa do Século XX abrir-se-hia um lago (a cargo do mar enche-lo), e construir-se-hia uma piscina. Uns barquinhos, montes de areia aqui e além, algumas redoiças e outros brinquedos eram destinados às crianças…
Assim haveriam de passar algumas horas de bom ar, paz e simplicidade aqueles a quem a Vida não permitisse gozar o campo nos meses de verão.
O estabelecimento do seu Parque da Alegria (assim tencionava chamar-lhe); a organização da Praia de S. Roque, aproveitando a variante da Estrada Nacional entre S. Roque e o Pópulo (chegou a expropriar os terrenos precisos), que viria a proporcionar a Ponta Delgada as vantagens de uma praia, que o acaso verdadeiramente lhe destinou; o aproveitamento da Ribeira dos Tambores, feito paralelamente com a construção da estrada da Ribeira Quente (serviço que deixou começado), – tais foram as três últimas ideias que lhe inflamavam o coração altruísta “É o meu testamento à minha terra”, disse uma vez, com um sorriso nos olhos de veludo.
Dentro de poucos dias expirava…

Bruno Diniz
28 – XI – 1920.

Exploração da Pedreira da "Mata da Doca"


Exploração mecanizada da Pedreiras da "Mata da Doca", vendo-se ao centro uma das históricas locomotivas rodeada de vários dos seus "wagons", equipamento que ali teve desempenhodeveras importante Mantendo-se em actividade até meados da década de 60 do século XX.
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terça-feira, outubro 05, 2004

ZAPATOS EN PONTA DELGADA II


Recorte de 03.29

Pormenor do exercício de José Silva

In:
CAMBIO + ENERGIA + INFORMACIÓN / PALACIOS DE LA DIVERSIÓN / ISLA DE SAN MIGUEL / MEMORIA DE PROYECTOS CURSO 2003/04 / UNIDAD Q - ETSAM
Juan Herreros Posted by Hello