terça-feira, agosto 30, 2011

Os mesmos tiques de sempre




Portugal não é um país pequeno, diziam então.
Também posso dizer: nem os Açores serão!



Em tempo de “vacas gordas”, mesmo quando artificialmente engordadas, há um conjunto de “tiques”, reveladores de outros tantos preconceitos – no caso, mais do que isso, são claras manifestações neo-coloniais –, que com maior ou menor dificuldade conseguem ser disfarçados. Porém, quando a crise “bate à porta” – o fazer “cair máscaras”, tal como o “aguçar do engenho”, são das poucas vantagens das crises – sobejam, por vezes surpreendendo, as grandes revelações. Muitas delas insólitas!
Não há muito tempo, no decorrer de uma entrevista ao actual Ministro das Finanças de Portugal, a jornalista – Judite Sousa, se não estou em erro – instou o ilustre entrevistado a “ter mãos neles”. “Eles” eram o Governo dos Açores e da Madeira, Órgãos de Governo Próprio, meia volta/volta e meia tidos ou confundidos com uma simples autarquia, vezes sem conta referidos como Órgãos de Poder Local, e, porventura vingasse a vontade de alguns, “qualquer coisa” a ser completamente subjugada (umas vezes pela disciplina partidária outras pelo emaranhado do quadro politico/legislativo, pois importante mesmo é que sejam “autónomos”, mas não muito. Basta que conste!).
Em abono da verdade deve dizer-se que o governante em causa, não obstante a forma tendenciosamente dirigida como a questão lhe foi colocada, não amesquinhou, ainda mais, o Estatuto de Autonomia, forma de Lei que ao invés de progredir, de se consolidar e valorizar, tem sentido enormes dificuldades em se libertar das grilhetas que, de uma ou de outra forma, insistem em colocar-lhe. A mesma verdade manda também dizer que Alberto João Jardim se tem farto de dar trunfos aos adversários das autonomias: uma pena, porque aquele estilo destemido, e o correspondente “falar grosso”, fazem falta. Bom, mas deixemos a Madeira para os madeirenses!
Quanto aos Açores, nunca é demais lembrar a quem finge insistentemente esquecer, que ao contrário do que alguns gostam de fazer crer, é – e de maneira geral sempre foi – muito maior a contribuição daqui originária para “o grande império” do que aquilo que dele, “império” (em formato grande ou minúsculo), reciprocamente, aos Açores chega. Monta que apesar de tudo poderia aumentar substancialmente não fora a forma aparentemente displicente – há que disfarçar para melhor “vender por baixo da mesa” – com que “o senhorio” negoceia a justa valia da “enorme quinta do meio do Atlântico” com os senhores do “mercado internacional”.
Exemplos não faltam, com um dos últimos, a acontecer já no advento da crise de 2008, fazendo dos Açores, “a insignificante autarquia” – vejam lá se escolheram Lisboa, ou até mesmo Beja? – palco onde Durão Barroso (acompanhado de Bush, Blair e Aznar) se colocou “em bicos de pés” perante o Mundo e a Europa. Ele ainda hoje tira disso dividendos, para os Açores, além dos riscos, ficaram apenas as imagens!
Pior do que as crises que fazem vacas emagrecer são as crises de crescimento, e com estas os Açores têm uma má relação. Diria mesmo que a Autonomia dos Açores quando atinge a idade madura em vez de se fortalecer, “é deitada ao chão” (a Autonomia, não evoluindo, tende a apodrecer). Foi assim com Salazar (finais da década de 20, inicio da de 30 do século XX, com o fim da moeda própria anunciando o “golpe de misericórdia”. Eram também tempos de crise!) e assim, de novo, tentarão que seja. Sinais não faltam: é a crise; é a condescendência aos estilos autoritários (o consulado de Sócrates foi disso inusitado paradigma); e, “last but not the least”, uma conveniente troika: um Presidente, um Governo, uma Maioria (em estreia após “o tempo da velha senhora”).
“Aguçar o engenho”, sim. “Botar sentido”, também!



A.O. 30/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


quarta-feira, agosto 17, 2011

Conveniências, conluios: há quem lhes chame coincidências


Outras Troikas, que com trocas e baldrocas criaram a aprofundaram o buraco BPN



A "instalação Bidão", a ganhar "patine" para se candidatar ao "CMC Niemeyer"


Fotos "roubadas" na net, a do "Bidão" no FB do João Raposo

Existem assuntos sobre os quais, por mais que prometa a mim mesmo não voltar a eles, atazanam-me de tal forma que quando dou por mim já falhei ao prometido.
Seguem-se dois bons exemplos:
1 – O BPN, que apesar de parecer já antigo, porque se reinventa, torna-se inesgotável – com cada fase mais bizarra do que a anterior – mantendo-se sempre actual!
Onde é que vão as centenas de M€ que Miguel Cadilhe pediu (em forma de aval) para dar solução ao assunto? Quantos mil M€, no entretanto, já ali foram “enterrados”? De Miguel Cadilhe – tire-se-lhe o chapéu, pois não fora ele a “agitar o lodo daquele pântano”, talvez hoje nem os “casos de polícia” (que se irão eternizar qual Casa Pia e outros que tais) existissem – já nem se fala. Não descansaram enquanto o não neutralizaram. Como já não se fala de Victor Constâncio, o ineficaz “fiscalizador”, promovido que foi, e agora no BCE, à distância, melhor do que nunca para continuar a “ver a banda passar”. Teixeira dos Santos vai pelo mesmo caminho. Só do BPN, mesmo depois de mudar de nome, dificilmente se poderá deixar de falar. Nacionalizaram o que era “doloroso” deixando “escapar” o que podia valer alguma coisa (a SLN), como quem diz, à descarada: o Passivo pagam todos, os Activos é para “eles se abotoarem”. O problema aqui – que não é de somenos importância – é quem são “eles”: um qualquer “desgraçado” falha um pagamento e logo lhe penhoram a conta bancária, a casa, e o mais que houver. Mas Dias Loureiro, por exemplo, já não tem bens (em seu nome) que possam servir de garantia para o normal desenrolar da investigação em curso. Agora, para “rematar o ramalhete”, a reprivatização segue os mesmos moldes. O que não presta foi de novo repartido por TODOS, para ALGUÉM – e nunca alguém é só alguém – comprar “chicha” pelo preço “da uva mijona”! “Tolos a dar, espertos a aceitar”, não custa entender. A questão é que, ou há quem saiba explicar tudo isso muito bem, ou não convencem – ninguém – que isto “não está tudo ligado”!
2 – Quem diria que a requalificação da 2ª Rua de Santa Clara, uma promessa eleitoral de Setembro de 2005 – “Estou certa que com a requalificação que defendemos e que iremos desenvolver desde a rotunda de Santa Clara até ao inicio desta via, quer a freguesia de Santa Clara quer a própria Relva não mais serão as mesmas.”-, ainda para mais quando associada a uma provocação logo depois muito difícil de digerir – “Esperamos agora que o Governo possa também cumprir a promessa de requalificação da Avenida Príncipe do Mónaco (…).”–, e ao longo dos tempos sempre reforçada com um – “cumprimos o que prometemos” –, o que como se vê, infelizmente, não se aplica a todos, passado todos estes anos estivesse ainda por cumprir?
Um conjunto de “azares” e burocracias, dizem, está na origem deste crónico incumprimento. “Azares” sucessivos, digo eu, que por mero acaso (ou não), ao que parece, só acontecem em Santa Clara. Coincidências! Noutros locais, e para outros destinatários, não faltam empenhos, esforços que chegam ao ponto de “contornar” o PDM, ou a desmanchar e refazer o que foi recentemente feito! Só para a 2ª Rua de Santa Clara não há “mãos à obra” neste "Concelho Feliz" que lhe valham. Coincidências! E as coincidências ficam por aqui, agora, porque não é tempo de referir outras “coincidências”.
Consequência de sucessivos “azares” e burocracias não será com certeza, também, a prolongada “distracção” que votou ao abandono os “bidões” colocados para sinalizar a derrocada da “Rocha da Nordela”. Velhos, enferrujados, podres, carregados de lixo, passados cinco anos eles lá continuam. Para a segurança do local contribuem pouco – está provado –, o que não deixam de ser, feliz ou infelizmente, é um forte de sinal de desmazelo (só muito recentemente minimizado com uma "limpeza" de ocasião) e do óbvio incumprimento de promessas recorrentemente anunciadas, para logo serem adiadas. Seis anos. É muito tempo! Como seria se todos fossem assim?

A.O. 16/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, agosto 02, 2011

A “Fontinha da Alta”


A "Fontinha da Alta" (em 1947), o seu proprietário, e João Mariano (filho do distinto jogador e Capitão do CDSC nas décadas de 30 e 40), ainda de bibe e "xucha" ao pescoço.
"Clikando sobre a foto esta aumenta, mostrando pormenores"


Nos finais da década de 40 início da de 50 do século passado, bem “no coração” de Santa Clara, já depois do Largo da Igreja, após percorridos os primeiros cem metros da 2ª Rua de Santa Clara, quem por ali circulasse deparava-se com a “Fontinha da Alta”, uma “Chic” Cervejaria/Café, referência em Ponta Delgada nos estabelecimentos do ramo. Licores finos, reputadas marcas de vinhos do Porto, champanhes, espumantes, outros vinhos licorosos, vasta e requintada doçaria, um esmerado serviço – imagem de marca do proprietário – e a discrição e tranquilidade que aquele espaço proporcionava, apresentavam-se como vantagens competitivas apreciáveis, seriamente prezadas pela significativa clientela que, vinda de Ponta Delgada, da “Fontinha da Alta” faziam local de culto e paragem tão tranquila quanto retemperadora. Futebol e política (esta especialmente discutida sob um ponto de vista conservador, bastas vezes saudoso dos tempos da monarquia) eram temas frequentes nas tertúlias da “Fontinha da Alta”.
António José Carreiro e Silva, “o Sr. Antoninho Carreiro” como era conhecido em Santa Clara, proprietário e promotor do projecto, expandira naquele sentido o negócio que já há muito dedicada e meticulosamente geria, com o novo empreendimento a ser levado a efeito paredes meias com a sua original “loja”, um ícone já então contando mais de três décadas, umbilicalmente ligado aos “Campeonatos de Santa Clara” e com estes ao popular fenómeno sócio desportivo ocorrido pelo menos entre 1917 e 1922, sucessão de “desafios” vs “desforras” e outros episódios que desempenharam um importante papel na promoção e divulgação do futebol em São Miguel, culminando na organização associativa da modalidade.
De facto os “Campeonatos de Santa Clara” tiveram as “lojas” da localidade como núcleo agregador, organizador e patrocinador das equipas que os disputavam, e destas, por factores que tinham a ver com concorrência comercial, mas também com óbvias divergências politicas entre os proprietários – “o sal” da rivalidade das equipas que ambos representavam –, duas destacavam-se como as grandes animadoras daquelas renhidas disputas: a loja do Sr. João Travassos, estabelecimento que não obstante depois conhecer muitos outros administradores continua a desempenhar actividade similar no mesmo local (Largo da Igreja); e a loja do Sr. “Antoninho Carreiro”, que já não existe, com o prédio que a comportava hoje apenas destinado a habitação, transformação que só aconteceu após o falecimento do proprietário (Abril de 1974), não sem que antes, na senda da cuidada gestão que era apanágio do seu detentor, o negócio se ter expandido, dando lugar ao requintado Café/Cervejaria que é mote destas linhas, cuja firma, “A Fontinha da Alta”, isso mesmo parecia indicar logo à partida.

Fazem falta “Fontinhas da Alta” em Santa Clara, mas adiar sistematicamente promessas como a de proceder há urgente e necessária requalificação da 2ª Rua de Santa Clara, por muito esforço que outros façam, em nada contribuiu para o colmatar desta, e de outras carências.
Quando será que, em Santa Clara, as “Mãos à Obra” deste “Concelho Feliz” transformam velhas promessas, já estafadas de incumprimento, em realidades levadas à prática?

A.O. 02/08/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)