domingo, setembro 20, 2009

Álvaro Ramos ou "Mestre Alvarins": se preferirem


Na Guiné, em 1962/64, momento de descontração num "intervalo" da guerra.
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Em Santa Clara, Outubro de 2006, na "Mata da Doca" no 1º aniversário da Freguesia.
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A freguesia de Santa Clara perdeu muito recentemente outra das suas mais autênticas referências, alguém que, no desempenho da sua profissão, sobretudo pela alegria, jovialidade e proficiência com que o fazia, marcou muito e muitos, deixando amigos em várias gerações de santaclarenses.

Morreu Álvaro Ramos, ou “Mestre Alvarins Barbeiro”, como era por todos nós conhecido, alguém que, de pasta em punho, sempre de passada arqueada e ritmo apressado, cumprindo horários quase ao minuto, era visita regular da casa de muitos de nós, por parte significativa do seu metier ser efectuado ao domicílio.

Mestre “Alvarins”, acometido subitamente de enfermidade que raramente perdoa, manteve a sua actividade praticamente até ao momento em que a doença o colheu. Um achaque que lhe dominou o corpo, mas não o espírito, sempre alegre e conversador, pronto para uma crítica mordaz e contundente, mormente tratando o assunto de futebol, do seu Benfica, ou do nosso Santa Clara, mas também de outra qualquer actualidade, matéria que cultivava com prazer, surpreendendo-nos amiúde com a oportunidade e profundidade dos temas que abordava.

Será esta a imagem que procurarei guardar dele, uma recordação firmada na nossa última conversa, ao longo dos passeios, já vermelhos, da Príncipe do Mónaco, com ele, já doente, como a querer despedir-se do lugar, hoje freguesia, que o viu nascer, crescer e viver, disfarçando perfeitamente uma enfermidade, que, então, já era bem nítida observando a forma como se deslocava, mas praticamente imperceptível na sagacidade da conversa, um diálogo que versava a “Mata da Doca”, e a sua descrença, confirmada, em ver “a mata de baixo” transformada em “Jardim Padre Fernando”.

Haverá, onde estás, "pevides" com casca, para tu, também por aí, as comeres depois de descascadas a uma velocidade imbatível?
Não creio!

Descansa em paz "mestre Alvarins".

quarta-feira, setembro 02, 2009

Santa Clara - Vida Nova: AVANÇA UMA NOVA GERAÇÃO



O exemplo, e a força da palavra, têm uma enorme capacidade de intervenção. Mesmo quando isto acontece, aparentemente, de forma ocasional ou involuntária!

Quando se tornou oficial a apresentação no Parlamento Açoriano, pelo PCP, da proposta de criação da Freguesia de Santa Clara (já pouco falta para completar uma década sobre esta data), nas páginas do Correio dos Açores, em artigo de opinião com pouco mais de um milhar de caracteres, ainda empolgado com o facto daquela “luta antiga” ter finalmente condições de um feliz desfecho, saiu-me a seguinte frase:

(…) Se Santa Clara fosse uma freguesia, seria mais difícil arrasar a “Mata da Doca” – e o muito que ela representava para Santa Clara – sem ao menos terem oferecido outras alternativas de ocupação, sadia, dos tempos livres aos jovens do bairro (…) .

Só muito mais tarde, durante a pré campanha eleitoral para as autárquicas de 2005, tomei conhecimento da célebre homilia do Padre Fernando, na “Festa de Cristo Rei” em 1968, quando o principal mentor da criação da freguesia de Santa Clara, perante um alto responsável pelo Governo Civil, disse:

(…) Não se construiu a nova Igreja de Santa Clara na “Mata da Doca” e um jardim de dimensões óptimas, com parques de diversões e campos de jogos, porque os Senhores do Poder nunca o quiseram, não autorizando o andamento dos projectos. A paróquia de Santa Clara perdeu muito com isso, se Santa Clara já fosse freguesia talvez não fosse assim (…).

Não me recordo de ter ouvido esta homilia, mas uma coisa é certa, não sei desde quando, nem como, mas com certeza o meu subconsciente registava indelevelmente o grito de revolta que aquelas palavras do Padre Fernando representaram, levando-me, de uma ou de outra forma, como que a reproduzi-las em 2001.

Tendo passado mais de meio século em Santa Clara, não foi só aos da geração que me precedeu, ou da minha geração, que o Padre Fernando ajudou a formar o carácter. Como se vê pelo exemplo da Carolina da Elisa e da Rita (apenas três, mas há mais, muito mais), também muitos daqueles que agora estão na casa dos vinte, fazem brotar as características “semeadas” pelo Padre Fernando ao longo da vida em seus pais, e avós.
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O exemplo, mais do que a força da palavra, têm uma enorme capacidade de intervenção!