terça-feira, novembro 18, 2008

American dreams



São elevadas, muito elevadas mesmo, as expectativas criadas à volta da eleição de Barack Obama. Não só nos EUA, onde para já – o resto poderá vir depois – o homem também se apresenta como solução para a crise que o ajudou a eleger, e que agora, muitos esperam seja ele capaz de a resolver. Mas também, já que o próximo presidente dos conterrâneos do Tio Sam reuniu à sua volta enorme consenso fora dos EUA (desde o norte oriental; Rússia e China, até ao centro e sul ex-colonial; Africa e América Latina), são de amplitude quase global as esperanças depositadas no primeiro negro que irá ocupar a Casa Branca.

Alterações de paradigma conseguidos assim de forma tão ampla quanto brusca, só mesmo na América; este é mais um dos sonhos americanos tornado realidade!
A propósito: Que diria hoje Martin Luther King – octogenário se ainda fosse vivo –, podendo testemunhar, apenas quarenta e cinco anos após ter proferido o célebre “ I have a dream”, a concretização de um passo bem mais arrojado do que alguns daqueles que os seus sonhos consubstanciavam?
Para a história fica também a galhardia e nobreza de carácter de John McCain, sobretudo na hora de reconhecer, e saudar, a vitória do adversário. Aliás, estou em crer que McCain daria também um excelente presidente. Especialmente se, manipulando em conjunto a “máquina do tempo” e os poderosos aparelhos que colocam os candidatos às eleições americanas na linha de partida, tivesse sido possível, no início do século XXI, lançá-lo em lugar de Walker Bush.

De sonho – e como seria bom isso “fazer escola” e transformar-se em “lição” –, foi também o facto da recente eleição ter sido entre dois “outsiders” da lógica partidária vigente, senhores de invulgar estatura democrática, espírito de serviço cívico, e currículos recheados de trabalho em prol de causas sociais!

A.O. 18/11/08; “Cá à minha moda” (Revisto e acrescentado)

terça-feira, novembro 04, 2008

Da abstenção à sucessão


Feita que foi a saudação ao acréscimo de pluralidade com que as eleições de Outubro p.p. brindaram o Parlamento dos Açores, é chegada a hora de abordar uma outra das particularidades do último acto eleitoral.
Pela primeira vez, em eleições do género, foi ultrapassada a barreira dos 50% (53,24 para ser mais preciso), cifra que adicionada aos 2,72% de votos brancos e nulos – decisões maioritariamente conscientes e com uma expressão quantitativa que daria folgadamente para eleger mais um deputado pelo circulo de compensação – atira para cerca de 56% o número de eleitores “fora do sistema”.
Claro que, numa clara tentativa de minimizar os danos, chegaram-se à frente alguns responsáveis políticos reconhecendo ser dos partidos a grande responsabilidade pelo enorme, e em crescendo, alheamento cívico que a elevada abstenção expressou. Pois sim. Mas é importante não colocar tudo no mesmo saco, mas sim apontar, inequivocamente, a que partidos se devem assacar aquelas responsabilidades. Aos mais pequenos, que até, no caso, regra geral, reforçaram significativamente a sua votação, não deve ser com certeza!
56% do eleitorado é de facto muita gente! Tal como é também muita gente aquela que, aos poucos, começa a ter a certeza – pois a percepção já há muito que a tinha – que este “sistema de vasos comunicantes”, independentemente das suas oscilações da direita para a esquerda e vice versa, acaba sempre regando as mesmas flores. É a velha história do “prato das papas”, que umas vezes mais, outras menos, mas rotativamente vai sempre parar às mesmas mesas!
O melhor exemplo disso foi assistir à forma como a sucessão que podia – e devia – ser feita no PS o não foi, para aquela que já há muito devia – e podia – ter sido feita no PSD só agora acontecer.
É tanto o calculismo que mais parece acordo tácito prévio.
Pois então bons negócios; com lucros garantidos e dividendos a depositar no mesmo BPN cujas acções, agora, querendo ou não, todos teremos de subscrever e pagar.

A.O. 04/11/08; “Cá à minha moda” (Revisto e acrescentado)