terça-feira, junho 21, 2011

Porque hoje é 21 de Junho




No hemisfério Norte o 21 de Junho coincide em regra com o Solstício de Verão. Este ápice místico e mítico, ancestralmente relacionado com a pujança e fertilidade, mesmo depois de cristianizado, com "a bênção" de S. João Batista, continua encontrando na folia, nas fogueiras e no orvalho matinal, referências actuais para a sua celebração. O momento é também fonte de bons presságios, de abundância, e, remetendo para o “Sol Invictus”, vaticínio de vitória.
Há coincidências? Claro que as há! Mas não acredito que tenha sido simples coincidência – sobretudo tendo em conta o saber e a cultura de indivíduos como o Dr. Lúcio Agnelo Casimiro, o Capitão Eduardo Reis Rebelo e o Tenente João Joaquim Vicente Jr. – a escolha do dia 21 de Junho de 1927 para a realização da AG de fundação do Clube Desportivo Santa Clara, um processo que então já decorria há mais de um mês.
De facto, na sequência a expulsão do Santa Clara Foot-ball Club da Associação de Foot-bal de San Miguel (12/03/1927), e mesmo depois de o Sport Club Santa Clara ter sido aceite na AFSM como sucessor e continuador do “velho Santa Clara” (30/03/1927), um ilustre grupo de cidadãos de Ponta Delgada, procurando apaziguar e reunir as facções santaclaristas desavindas, empenhou-se competentemente na constituição e organização do “Santa Clara” que chegou aos nossos dias. Assim, depois de a 12 de Maio de 1927 ter sido nomeada uma Direcção Interina (Eduardo dos Reis Rebelo, João Joaquim Vicente Jr., Humberto Pacheco Botelho, Álvaro Pimenta dos Santos e José Cardoso), o estabelecimento do CDSC conheceu o seu ponto mais importante na AG que, sob a Presidência João Joaquim Vicente Jr., aprovou os Estatutos de Fundação da nova colectividade (21/06/1927), documento que obteve o Alvará do Governo Civil a 29 de Julho de 1927, e levou à eleição dos primeiros O.S. do clube (5/08/1927), que ficaram assim constituídos: AG – João Batista Rodrigues, Jacinto Medeiros de Sousa e Carlos Manuel Simões; Direcção – Eduardo Reis Rebelo, João Joaquim Vicente Jr., Humberto Pacheco Botelho, Álvaro Pimenta dos Santos, José Cardoso, Ivo José Custódio e Carlos Augusto Raposo; CF – Manuel Inácio de Sousa, Júlio César Ferreira Pacheco e Amável de Medeiros Casanova.
No entretanto o CDSC havia feito chegar à AFSM uma missiva solicitando a sua inscrição naquele organismo, carta de Maio de 1927, escrita e assinada pelo punho de Eduardo Reis Rebelo, e que referia clara e textualmente (os documentos e a atenção aos seus pormenores ajudam muito no dissipar das dúvidas): “Tendo-se fundado nesta cidade uma nova agremiação desportiva com o nome de «Clube Desportivo Santa Clara» pretende a mesma ser inscrita nessa Associação (…)”.
Para além dos “Santas Claras” filiados na Associação: o Santa Clara Foot-ball Club, o Sport Club Santa Clara e o Clube Desportivo Santa Clara, há ainda o fenómeno sócio desportivo “Santa Clara”, e, aí sim, com este podemos recuar - à vontade e de forma séria - uma década.
Remontam pelo menos ao “four July” de 1917 os “Campeonatos de Santa Clara”, com o ataque do U 155, a pronta resposta da tripulação do “Orion” afugentando o submarino alemão, e algumas das consequências daí advindas, condicionando uma das importantes “Desforras” daquele Verão.
Com “os americanos no Field Azores” o futebol em Santa Clara esmoreceu, para voltar a reaparecer, em força, em 1919.
Em 1920 “brilhou” o Sport Club Terror. Ainda em 1920, mas sobretudo durante 1921 (já com Joaquim de Sousa por perto) apareceu o Ginásio Club Micaelense / Instituto de Educação Física. No Verão de 1922 (também com Joaquim de Sousa no processo) a União Sportiva dos Empregados do Comércio transformou-se em Club União Sportiva. Só depois disso, em Outubro de 1922, e de novo beneficiando das boas graças de Joaquim de Sousa – ainda Alferes – o primeiro dos três “Santas Claras” federados fez a sua estreia, e fê-lo com vitória folgada: uns expressivos 4-0 sobre o “velho e temível Terror”.
Passados alguns meses, em Março de 1923, a Associação de Foot-ball de San Miguel dava também os primeiros passos. Tenho-o dito!

A.O. 21/06/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

terça-feira, junho 07, 2011

2011: um 6 de Junho diferente


Saber Açores, nº55, Junho de 2004








6 de Junho: 1975, 1976, 1977, 1978 e sempre



Ontem (hoje quando escrevo) foi 6 de Junho – mais um, o 36º após o histórico 6 de Junho de 1975 –, por coincidência ou talvez não (no caso, mais do que o Divino Espírito Santo foi o Senhor Santo Cristo dos Milagres o determinante), um 6 de Junho cujo “day before” tenderá ofuscar-lhe, ainda mais, a visibilidade e dimensão que deveria ter, e não tem!
Na presente conjuntura, e em falta de “uma marca política açoriana” mais genuína (mas aglutinadora o suficiente para marcar posição), valha-nos a diferença horária, já que tem sido esta, mais do que a completa “mão cheia” de deputados por cá eleitos, o que nos Açores contribuiu de forma bem visível no condicionar da vida política portuguesa, sobretudo em dia de eleições. É a consolação dos subjugados: deixar Portugal suspenso durante uma hora. Adianta muito pouco, mas não deixa de ser uma consolação!
Quanto ao resto, nestes penedos, não obstante o variar da cor predominante no habitual 3x2, não existem – nem agora são de esperar – grandes diferenças. A não ser para os próprios, num dos casos, salvo erro, já com pelo menos dois recordes acumulados: o da antiguidade na função, e o de ser, actualmente, o único que deputou nos dois diferentes regimes. Tirado isso, e apesar da indiferença da maioria; da grande euforia de uns; da preocupação de outros; e da justificada tristeza de uns quantos (por uma unha negra Artur Lima não fez a diferença), no que de importante há para resolver, os avanços são poucos ou nenhuns. Se não vejamos:
Quase quatro décadas depois o “papão do fascismo” – como que por ironia do destino vertido em texto constitucional que se pretendia libertador – é ainda uma das alegações que continua a obstruir os açorianos de, por forma legal, lutarem pela sua total emancipação. Um escárnio! E a situação é de tal vilipêndio que chega ao ponto, passado todo este tempo, de não ser necessário andar nem procurar muito para se encontrarem, ainda, referências – até toponímicas – em louvor da “Revolução Nacional” de 1926, ou do “Estado Novo”. Porém, e à luz da actual Constituição Portuguesa, continua sendo fascista quem defende a Independência dos Açores. Parece anedota: é equivalente a fascismo defender a Independência dos Açores, mas, “democraticamente proibido” criar partidos açorianos. Isto, 37 anos após o 25 de Abril!
Por tudo isso, na falta de melhor e jogando pelo seguro, um VIVA para o fuso horário e outro para o anticiclone. Assim, quando, mais dia, menos dia, for inconstitucional, e logo proibido, que a hora dos Açores seja diferente da hora de Portugal, só nos restará o anticiclone: bem mais difícil de ser condicionado pela Constituição Portuguesa. Uma Constituição, dizem os entendidos, avançadíssima. Que permite quase tudo: aos políticos constituírem-se em casta prenhe de direitos e mordomias sem que a tal corresponda deveres e obrigações proporcionais; aos interesses instalados terem trocado o escudo pelo euro, mesmo sem consultar os óbvios e principais prejudicados; e, até, à “Troika”, governarem por procuração depois de terem obrigado os seus delegados a realizarem um acordo prévio, ao que parece, “assinado de cruz”. Uma Constituição exemplar como se vê, que só não permite uma coisa básica e fundamental: que o Povo dos Açores – e já agora o da Madeira – se organize politicamente tendo em vista a sua emancipação e total autodeterminação.
Só mesmo com um novo 6 de Junho, mas desta vez reivindicando conquistar Portugal.
Em 1975, gritando por Independência conseguimos uma “autonomiazinha”. Quem sabe se agora, ameaçando conquistar Portugal, não obtemos a Independência?




A.O. 07/06/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)