terça-feira, dezembro 18, 2007

Um presépio inesquecível

Quem, de entre aqueles que hoje se encontram pelo menos na “casa dos quarenta” (talvez até um pouco menos), que tenha vivido a sua adolescência em Santa Clara e arredores, não se lembra do “Presépio da Fábrica do Açúcar”?
Quando o Natal chegava, na memória dos habitantes daquela zona estava ainda o alvoroço causado pelas centenas de carroças puxadas por bois, com as altas cilhas de vimes carregadas até mais não poder de beterraba sacarina, que, literalmente, entupiam algumas ruas das redondezas. Bem presente também estava, no ar, o adocicado aroma da beterraba em transformação. Estas recordações, a insaciável curiosidade em ver por dentro (pouco que fosse) aquela instalação industrial, bem como o incontornável “espírito da época”, compunham o clima com que se preparava a visita ao presépio. Porém, transposta a porta do grande armazém de onde uma fragrância a verdura fresca sobressaía, habituada que estivesse a visão à escuridão de uma noite de Inverno bem simulada, logo a nossa atenção era dirigida a um cenário que, embora todos os anos semelhante, sempre nos parecia novidade: ao tradicional quadro bíblico sobrepunha-se o som característico de uma vigorosa chuvada, bem acompanhada de rasgados e luminosos relâmpagos, seguidos de temerários longos trovões.
Hoje, de novo, pode voltar a visitar este presépio. Em boa hora (já desde o passado ano) a Junta de Freguesia de Santa Clara – com a colaboração de José Manuel e Paulo Jorge Soares, descendentes de uma família que em Santa Clara, outrora, também montava um presépio movimentado – retomou esta iniciativa, reabilitando assim uma tradição interrompida durante décadas.
Fica o convite: passe por Santa Clara, visite o “presépio inesquecível”, acredite que a minúcia e engenho daquele trabalho merecem algum do seu tempo.
A. O. 18/12/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, dezembro 04, 2007

Acordar e cair na realidade


Deambulava calmamente por uma marginal bonita, muito desafogada, bem desenhada, sobretudo pensada para servir e dar prazer aos cidadãos enquanto peões. Éramos – eu e quem me acompanhava – só mais três indivíduos entre os muitos que, tranquilos, livres e convenientemente afastados da “selva automóvel”, por ali também passeavam. Nem todos, como nós, lá estavam de férias e apenas fruindo o prazer de um fim de tarde. A maioria, gente com ar de quem tinha acabado um dia de trabalho ou transitava de um, para outro local de labuta, de forma especial os pais que passeavam crianças acabadas de sair da escola, davam a nítida sensação daquela ser a sua rotina diária. Todos porém reflectiam o agrado daquele momento de descompressão, do muito verde que os rodeava, dos confortáveis equipamentos públicos existentes (parques infantis sem conta) e da cómoda tranquilidade que deve poder ter quem sabe que a zona está servida por uma eficaz rede de transportes públicos, modo de a qualquer momento os levar de regresso a casa, ou, em alternativa, a um parque de estacionamento periférico. Nem o persistente chuvisco, e algum frio que se sentia, impediam aquele agradável bulício!
Despertei (só na minha cabeça ainda vagueavam recordações da curta, e muito recente, passagem por Bilbau)! Afinal estava já em Ponta Delgada, caminhando ansiosamente numa marginal congestionadíssima de tráfego automóvel, completamente sufocada por obras; as últimas das quais, para trazer ao centro ainda mais veículos.
Dá pena ver que o nosso desenvolvimento continua fazendo-se por cópia daquilo que outros, entretanto, já identificaram como errado. “Convidar” automóveis para o centro da cidade, tal como “alisar” orlas marítimas, só até meados do século XX foi sinónimo de progresso.

A. O. 04/12/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, novembro 06, 2007

Continental; ou “do puto” como se dizia em Angola

Sem, como é habitual, ter conseguido durante o fim-de-semana adiantar – ou até mesmo completar – trabalho, foi ao cruzar-me hoje de manhã (segunda-feira; 08:30h.) com o meu amigo Carlos que encontrei o mote para estes 1800 caracteres de hoje. O Carlos (que para o caso de pouco importa saber se é nome falso ou verdadeiro) é um português a residir nos Açores há uns bons anos, entretanto já “nacionalizado” – mais que não seja por ser pai de uma linda açoriana –, e que, como quase sempre o faz para “engalinhar” comigo, a propósito já não sei bem de quê, retorquiu à provocação que lhe lancei conjuntamente com o cumprimento, com um: - “ pois pá, sabes como é, isto é porque eu sou continental….”.
E é verdade. Ele é continental; tão continental como os galegos, bascos, espanhóis, catalães, franceses, … (…) … romenos, ucranianos ou russos.
“Pois pá, sabes como é, isto é porque eu sou português...”, teria eu dito se estivesse em seu lugar. Só um preconceito neo-colonial pode levar os portugueses, sobretudo os que aqui vivem, a auto designarem-se, ou a aceitar serem chamados – com gosto ao que parece – por “continentais”. Eu cá, que olho com alguma desconfiança quem me chama “ilhéu” (sobressai na expressão uma quase óbvia intencionalidade de amesquinhar e depreciar) adoro a designação de açoriano. Sinto mesmo um enorme orgulho nisso.
Se o que está em causa são as reminiscências do Império, não percam tempo com aquilo que o próprio tempo se encarregará de resolver. Noutras paragens os ex portugueses (obrigados a decorar “a Portuguesa” e a receberem com palmas e acenando com bandeiras "os representantes imperiais") hoje são: Nos continentes; brasileiros, goeses, guinéus, angolanos e moçambicanos. E nas ilhas; cabo-verdianos, são-tomenses e timorenses.
A. O. 06/11/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, outubro 23, 2007

Madeira/Açores

Na tropa – dizem! -, a antiguidade por si só é um posto. Daí talvez, não obstante à luz dos tempos que correm não serem muito expressivos os anos de diferença entre a descoberta e colonização de cada um dos arquipélagos, o significativo avanço, e a maior maturidade patenteada, regra geral a nosso desfavor, sempre que se comparam as realidades; Açores/Madeira. Até no futebol!
O “Marítimo da Madeira” esteve (mais uma vez) entre nós, e uma vez mais marcou a diferença – claro que não me refiro ao resultado do jogo! – entre as duas realidades desportivas. Como anfitrião o CDSC procurou estar à altura. Este esforço, justamente reconhecido – os visitantes não pouparam palavras de agrado –, terá tanto mais utilidade quanto esta ocasião puder ser também aproveitada como um “curso intensivo de dirigismo desportivo”. Há oportunidades que não se devem perder, e “as lições” (protocolo, representatividade, organização desportiva) e “os manuais” que por cá ficaram, para quem quiser ou puder aprender, foram, e são muito úteis.
É óbvio que já não estamos em 1925, quando o “Marítimo da Madeira” – um ano antes de ser campeão de Portugal –, a convite da Associação de Futebol, então liderada pelo Dr. Agnelo Casimiro, veio pela primeira vez a São Miguel efectuar um autêntico curso de futebol, proporcionando simultaneamente um grande festival de golos (nos quatro jogos efectuados marcou 36 golos e apenas sofreu 3). Nem estamos em 1935, quando, no Funchal (durante uma escala do “Carvalho Araújo” – entre as 08:00 e as 16:00 - em viagem entre Lisboa a Ponta Delgada), o Clube Desportivo Santa Clara e o Club Sport Marítimo se defrontaram pela primeira vez, com o resultado do encontro cifrando-se num volumoso 6-0.
Já em 2007 continua a haver muito para aprender. O saber não ocupa lugar, nem nunca é tarde. Basta vontade, e querer!
A. O. 23/10/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, outubro 09, 2007

Por um projecto que se chama Açores

Para começar, aqui deixo uma declaração de interesses: Quando se trata de eleições para a Presidência da Republica, exerço o meu dever cívico colocando na urna um voto em branco. Não que seja partidário da restauração da Monarquia. A questão é mesmo republicana; fosse outra a Republica (uma Republica Federal dos Açores, por exemplo) e, claro, o uso que faria da “arma do povo” em acto similar seria necessariamente outro.
Já agora – e ainda no âmbito dos “pontos prévios” –, exige a verdade que diga (ou recorde), ter, durante a última disputa eleitoral para a Presidência da Republica Portuguesa andado mais próximo de Manuel Alegre do que de Cavaco Silva. É que, como na altura escrevi – e agora se comprova – nada de melhor podia acontecer a um “Sócrates determinado” do que a eleição de um “Cavaco deliberado” (o vice-versa é também verdadeiro). “Estava na cara” que ambos se complementariam, fazendo uma dupla tipo; “quando um diz: - mata, logo o outro returque: - esfola”!
Dito isso (e foi para à vontade dizer o que se segue, que, atrás, disse o que disse), é importante reconhecer que a magistratura de Cavaco Silva, pelo menos para com os Açores – até aqui –, tem sido bem mais amigável e generosa do que a exercida pelo seu antecessor. Enquanto Jorge Sampaio, descendente de açorianos como gostava de dizer, já entendia a autonomia no limite do admissível, Cavaco Silva – a costela Algarvia não engana – fez questão em sublinhar o êxito político e económico da solução autonómica.
Com o tempo – como eu gostava de viver este tempo – uns e outros, cá e lá, em maioria, todos haverão de reconhecer que quanto maior for a autonomia (o desejo de Livre Administração dos Açores Pelos Açorianos, é anterior à Republica), tanto maior será o êxito político e económico dos Açores.
Do próprio, in A. O. 09/10/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, setembro 25, 2007

Odisseia

É a Maddie, ou melhor, o trágico mistério que a envolve, com a opinião pública a baloiçar ao sabor das ondas; ora agitadas por sentimentos contraditórios, mais ou menos espontâneos, ora impelidas no sentido que determinam as milionárias campanhas que à sua volta são desencadeadas.
...É o Scolari, e logo o Mourinho, confirmando – como se fosse necessário – que ainda para muita gente naquele ramo de negócio é “a paixão” o que comanda, sobretudo quando “a razão” depende da carteira que a sustenta, qualquer que seja a origem do seu conteúdo.
...É o novo Código do Processo Penal, que – dizem vozes de credibilidade insuspeita –, tendo passado “ao de leve” pelo crivo legislativo entrou em vigor “à afogalaça”, e ao desagravar penas, e acrescer garantias, em casos de crimes odiosos cujos suspeitos são “gente fina” (Casa Pia por exemplo), presta-se a ressuscitar fantasmas.
...É a faceta “caritativa” do Eng. Sócrates, que, no intervalo das suas funções de “soberano europeu”, e após nos espremer até ao tutano, oferece computadores, telemóveis e o mais que os seus assessores entenderem “estar a dar”, iniciando assim a fase do “amaciar pêlo”.
...É a “Guerra dos Luíses” por uma “pole position” na corrida do poder, facilitando com isso – estou em crer – o adiamento da era pós socrática, uma querela onde nem tem faltado a exibição pública dos “podres” de ambos, como da sua casa comum (nem o PSD/Açores escapou).

Farto de tanto e tão pouco – e do zapping –, abro o livro que tenho à mão (edição barata da Europa América), e ao acaso, mas todo o propósito, os olhos prendem-se no início do diálogo de Telémaco, filho de Ulisses, com a deusa Atena, visando os pretendentes que em farto festim aguardavam a demorada decisão de Penélope:
“ -Vês o que agrada a esta gente: a cítara e o canto. Ah, não lhes custa, pois comem impunemente os haveres de outrem (…)”
Do próprio, in A. O. 25/09/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, setembro 11, 2007

Um sonho já quase realidade

Em véspera do Domingo de Santa Clara, e preparando-se para celebrar o seu segundo aniversário, a Junta de Freguesia de Santa Clara – resultado do alargado projecto de cidadania que saiu vitorioso no primeira acto eleitoral realizado na nova freguesia –, assinou um importante protocolo com o Governo Regional, o qual vai permitir a requalificação paisagística do pouco que sobra da Mata da Doca, uma das principais bandeiras do seu compromisso com os eleitores de Santa Clara.
É óbvio que esta é ainda, só, uma primeira etapa. Mas é já uma etapa palpável. Provado fica que vale sempre a pena sonhar, batermo-nos para “forçar os sonhos”, e usar energias tentando realizar sonhos, só inatingíveis para quem nem ousa tê-los!
O projecto é muito feliz, e coerente com o que afirmou na ocasião Ana Paula Marques, responsável pela SRAM: “A qualidade de vida no espaço urbano mede-se, também, pela quantidade de espaços verdes que proporcionam lazer e de que os cidadãos podem usufruir”.
Recordando a “Mata da Doca”, nem imaginam o quanto isso, em Santa Clara, faz todo o sentido.
É enorme a falta que faz aquele autêntico pulmão de Ponta Delgada, local que antes de ser progressivamente atrofiado pelo “progresso” a todos permitia usufruto, e só por “milagre” não desapareceu completamente.
Diniz da Mota sonhou com o “seu” Parque da Alegria. Sonhando com uma vida melhor, gerações de santaclarenses recrearam-se na frondosa “Mata da Doca”, em cujo âmago, o “Campo Açores”, outros tantos sonhos acalentou. A geração que recentemente chegou à idade adulta, já mesmo sem tirar proveito da “Mata da Doca”, também sonhando, soube com firmeza segurar o testemunho. O prémio será para os seus filhos.
Já faltou mais para voltar a brincar, e merendar, no pouco que sobra da “Mata da Doca”.
Do próprio, in A. O. 11/09/07; “Cá à minha moda”
Outros "post's" sobre este mesmo assunto:

terça-feira, agosto 28, 2007

Sai-te mês de Agosto

Atípico. Sem chuva, quase sempre sombrio, mas sufocante. Praticamente desde o seu primeiro dia já cheirando a Outono – a meados do mês já o plátano aqui de casa parecia flutuar sobre uma carpete constituída pelas suas próprias folhas –, sem que no entanto nos permitisse beneficiar da frescura outonal, este mês de Agosto passou rápido que nem um raio (o Julho já assim fora), deixando por fazer quase tudo o que havia sido programado para ficar pronto até seu final. Não foi férias, nem falta de esforço. Antes fosse, pois por mais que lutasse contra a enorme “moleza” que me atormentou este Verão, pouco ou nenhum era o resultado visível, e quase nula a produtividade obtida.
É da idade, dizem-me! Como se fosse necessário lembrar. Porém, prefiro pensar que, talvez, tal qual como acontece com a natureza, também eu esteja a ser vítima do “aquecimento global”, ou do “efeito de estufa”. Do que quer que seja. Tudo menos admitir a lei natural das coisas, e reconhecer que parte substancial do problema está na PDI, síndroma facilmente detectado aos outros, mas que aos próprios, custa a identificar. Certo, certo é que este ano, até a minha habitual “neura natalícia”, zelosa maleita geralmente reservada só para os curtos, frios e escuros dias de Dezembro, parece ter chegado em Agosto. No pino do Verão!
Tardam os dias mais frescos. Nunca senti tanto a falta das brisas de Setembro. Nem sabem como desejo o Verão, mas o de São Martinho.
Quem sabe se chegou a hora – e a idade – de entender uma frase feita, bem entranhada no vocabulário popular, e geralmente usada quando algo não corre lá muito bem, o espontâneo; “sai-te mês de Agosto”.
Mas aprendi. Nunca mais me oponho ao poderoso ciclo natural; Agosto é para parar. Ir a banhos. Não compensa contrariar a mãe natureza.
Do próprio, in A. O. 28/08/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, agosto 14, 2007

Entrevista

PO que pensa do actual momento político?
R
– O que se mete pelos olhos dentro de toda a gente: que nem os homens da Situação compreenderam ainda que estão a levar o país ao desespero, nem a Oposição se considera vencida ao cabo de trinta anos de opressão.
PJulga então que caminhamos para um ponto crítico da nossa vida colectiva?
R
– Pois julgo. O fosso que divide a família portuguesa torna-se de hora a hora mais profundo. E uma tensão desta natureza não se pode prolongar indefinidamente. É ver como basta que se abra uma fenda de expressão no muro de silêncio que nos empareda para que as duas metades se mostrem como são: uma a dar livre curso à sua indignação represada; a outra, aterrada perante a avalanche, a colmatar o rombo de qualquer maneira. (…)

Foram estas as duas primeiras perguntas, e respectivas respostas, formuladas ao médico Adolfo Correia Rocha com o intuito de serem incluídas numa entrevista escrita para o Diário de Lisboa – que não chegou a ser publicada por aquele jornal –, por morte de Carmona, estava então em curso a campanha eleitoral de 1951 (Craveiro Lopes, Quintão Meireles e Ruy Gomes).
Hoje, salvaguardadas as comparações; então a ditadura decorria à trinta anos, outro tanto tempo tem a actual democracia, a Miguel Torga, apartidário activista social, que já em democracia foi autor de alfinetadas do género; “fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura”, continuariam a não faltar razões para mais, e mais profundos lamentos.
O autor de “Bichos” não lamentaria porém, estou certo, as ausências institucionais que marcaram a celebração do centenário da data em que nasceu. “Pão Ázimo” já esgotou há muito.
Do próprio, in A. O. 14/08/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, julho 31, 2007

O evangelho segundo Saramago

Beneficiando da amplificação pública que geralmente tem tudo que diz o mais recente Nobel português – desde a “Lariana inquisição”refugiado em Lanzarote, Canárias –, parece ter causado tão grande quanto inusitado alarido a convicção com que José Saramago afirmou: “Portugal acabará por integrar-se na Espanha”. De facto, e com a subordinação económica já praticamente consumada, não entendo o espanto que possa causar o cenário de anexação profetizado pelo visionário autor de “Ensaio sobre a cegueira”. Ou, para quem preferir, do “Ensaio sobre a lucidez”.
O iberismo é doutrina velha. Já “Santo Antero”, um dos nossos maiores – o mesmo Antero de Quental que aos portugueses chamava “quási patrícios” – a defendeu. Mesmo contabilizando já cerca de 800 anos, é ainda muito mais artificial a cicatriz que separa a Galiza de Portugal, do que o cordão umbilical – já maduro (com 500 anos diria mesmo “ressequido”) –, que une os Açores, a Madeira e porque não; também Cabo Verde, a Portugal.
Sobre a contemporânea “invasão espanhola”, em concreto, a propósito das grandes aquisições feitas em Portugal por Espanha; das estratégicas substituições de quadros portugueses por espanhóis; e da subalternização a tudo isso inerente, recordo o que escreveu recentemente José António Saraiva (SOL 28/07); “É exactamente para evitar isto que a independência serve: para os naturais de um país não se sentirem estranhos na sua própria terra”.Nem mais – onde é que já ouvi isso? Que o digam os açorianos. Sobretudo agora, quando, mais do que nunca está à vista de todos: como Portugal é tão ou mais dependente do que nós; que é gerindo interdependências que se alicerça a autonomia dos pequenos estados; e, – O MAIS IMPORTANTE – que só a soberania garante esta preciosa, e inestimável mais valia.
Do próprio, in A. O. 31/07/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, julho 17, 2007

ZEE 200 milhas; mais um passo em frente

Os Açores, na demanda que mantêm com as autoridades europeias – aqui é bom recordar que o novo Regulamento Comunitário das Águas Ocidentais, reduzindo 200 para 100 milhas a ZEE açoriana, foi aprovado com o apoio do Governo português –, ganharam, recentemente, um importante aliado; a administração Norte-Americana.
Não podia ser mais clara a posição do vizinho do lado de lá do atlântico: "Os Estados Unidos da América incitam Portugal a apoiar a petição açoriana". Nem mais!
Há pouco mais de um ano o ministro português Jaime Silva, aqui nos Açores, e sobre este mesmo assunto, perdendo uma excelente oportunidade para estar calado, “quase entregava o ouro ao bandido”. Permitam-me repetir o que então escrevi (AO 11/07/06):
«Mesmo que a Causa se apresente como “missão impossível” – o que de facto não é! –, abdicar comodamente de uma tenaz luta em prol da defesa de uma ZEE de 200 milhas para os Açores é um acto de cobardia. Salvaguardadas algumas diferenças – não muitas – até faz lembrar Timor. Ou melhor dizendo; o caso do seu abandono perante a invasão Indonésia!
Para os Açores, a luta por uma ZEE de 200 milhas tem de ser encarada como questão de soberania. De soberania e de sobrevivência; a pedincha, e as facilidades a curto prazo, geralmente maus negócios no futuro, um dia vão acabar. Há que ser firme e exigente na defesa e manutenção dos recursos próprios. Para mais este não é um assunto de âmbito exclusivamente europeu. Pensar e decidir sobre as 200 milhas é um processo que deve envolver de forma abrangente toda a Macaronésia, com Cabo Verde, para já o único arquipélago estado do grupo, apresentando-se como um parceiro fundamental para a necessária adaptação do Direito Público Marítimo a esta importante questão!».
E, “ a luta continua” …!
Do próprio, in A. O. 17/07/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, julho 03, 2007

Indice “Uncle Joe”

Haverá leituras para todos os gostos. Porém, facto é que – e difícil também será deixar de pensar nas possíveis razões que a isso levam – o determinado Joe Berardo, aquele mesmo que ultimamente confrontou com êxito a nata dos poderosos, só vacilou perante um “modesto” jogador de futebol. Sim. Depois de com altivez levar a melhor sobre a família Azevedo no caso da PT; de, sobranceiro na abordagem e muito efusivo na comemoração, travar o magnânimo Jardim Gonçalves por ocasião da tentativa de blindagem dos estatutos do BCP; de, não satisfeito, com imponência, se atirar à Opa do Benfica; e de, depois disso tudo, impiedoso – principalmente para com Mega Ferreira (sem no entanto, com o acto, deixar de salpicar toda a hierarquia) – também “opar” o CCB, Joe Berardo só recuou perante Rui Costa. Que, quisesse “o maestro”, até teria o Comendador a seus pés para ser perdoado. Poderoso. Mágico. É o mundo do futebol!
Independentemente das “cambalhotas”, de estarmos ou não de acordo com os meios, certo é que, quanto aos fins, a estratégia do multimilionário parece infalível, ou resultar amiúde. Senão, vejamos; as acções do Benfica dispararam, e – o que também não deixa de ser notável –, mesmo sem terem sido içadas as bandeiras da discórdia, a afluência de público ao CCB atingiu números nunca antes vistos. Pelo menos assim foi durante os primeiros dias.
Rindo – para melhor explicitar a ironia –, diria que há um novo paradigma a despontar; tal como em Nova York o “Nasdaq” complementa o “Dow Jones”, em Lisboa, mais dia, menos dia, também o “Uncle Joe” complementará o PSI-20. Com as acções do S.L. Berardo (SLB…, SLB…, SLB…; nem os Non Name Boys necessitam modificar os cânticos) já bulindo, só falta colocar no mercado o C.C. Berardo. Dez anos são tempo de sobra. Olé…olé!
Do próprio, in A. O. 03/07/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, junho 19, 2007

Um tiro no “porta-aviões”

Não sei porquê – talvez tenha algo a ver com a data em que “foi para o ar”; 6 de Junho –, mas foi praticamente nenhum o eco que entre nós se ouviu da mais recente, e como sempre acutilante, “alfinetada” de Ana Gomes sobre a forma, quase negligente, como os interesses dos Açores são defendidos por Portugal no “Acordo das Lajes”, realçando o facto do documento, ratificado pelo Parlamento português em 1995, e que por via disso tem para Portugal estatuto de Tratado Internacional, não obrigar de forma recíproca os EUA.
A partir de finais da década de 70, por razões que se demonstram cada vez mais óbvias – não explicitar a capacidade dos Açores gerarem avultadas receitas próprias por conta das contrapartidas financeiras provenientes da utilização pelos EUA “da sua” 65th Air Base Wing, na Terceira, Açores –, deu-se início uma estratégia que visando alegar a desvalorização do interesse geo-estratégico do arquipélago – e da base –, rapidamente transformou em espécie os pagamentos correspondentes à sua utilização. Resultam daí: a FLAD (chorudas fortunas em Lisboa/míseras migalhas para os Açores); amplos arsenais empilhados com material bélico (milhões de euros com pouca ou nenhuma utilidade), e, para os aborígenes locais, pouco mais do que alguns postos de trabalho (cada vez em menor número e de maior precariedade).
Não é que nada disso – e até muito mais – já não tenha por cá sido dito, escrito e denunciado. Acontece que 500 anos de isolamento (e outros tantos de terna submissão) deixam marcas. Uma delas é a recorrente depreciação das nossas próprias capacidades; “tudo o que vem de fora é melhor e mais importante” (mesmo as notícias). Não será perda de tempo rever com atenção a lúcida prosa de Mário Crespo e Ana Gomes (SIC-Notícias, Jornal das 9, 6/6/07).
Do próprio, in A. O. 19/06/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, junho 05, 2007

ALARME NAS ILHAS

Porque amanhã é o 6 de Junho, hoje, deixo-vos na distinta companhia de Vitorino Nemésio, o criador da palavra “açorianidade”, com o hino por ele escrito aqui em Ponta Delgada (na noite de 11 para 12 de Março de 1976) quase meio século após a célebre missiva de Cruz de Celas. Fruam:

Torres de Ponta Delgada,

Araucárias da Horta, muros de Angra,

Nuvens, verdes profundos,

Campos de Março à lua:

Uma espada no mar, afarolada, sangra,

Ponta Delgada é tua.


Mas quem te deu assim pronome a estas paragens?

Quem separa estas ilhas?

Quem nos tira as viagens,

Os cais, as vacas, as filhas?


Placidez açoriana

Nos teus olhos de china,

Argolas de cigana: Passam-lhes cabos baleeiros:

Um pouco de amor a mais… e a borda guina!


– Orça! – diz o gajeiro.

E eu sem sal nos meus poemas!

Vais à cozinha? Traz-me caldo.

Pouco é o dinheiro: Vende os diademas.


Empunho açores de fogo, armo sotis às arvelas,

Que adriça picarota ardeu no teu cabelo?

Partiram todas as janelas,

Faço greve de zelo:

Nas palavras poupadas,

Nos amores escondidos,

Na graça do que é teu,

Mãos dadas que Deus nos deu.


Fuma, se queres!

Na cinza parda o vento verde esconde as bombas

Da independência.

Há sombras em todas as lombas,

Espírito Santo na violência.

À lâmpada me esperes.


Deves? o quê e a quem?

Um monte nos chega, a terra nos tem,

E a liberdade o que seria

Sem essas mãos de lança

E este ar de Santa Maria

Que tens, de barro, desde criança?


Olha a chuva nas couves,

Foge da erva molhada.

Um tiro. Não ouves?

Contigo ao pé não foi nada.


É o povo que finge,

O avião que passou:

Muda como uma esfinge

Ficaste alerta às ilhas do perdão

E a noite me acalentou.

Que geotérmico,

À bomba auricular,

É o teu coração,

Pois nunca rebentou de tanto amar,

Como a caldeira, de cachão.

Do próprio, in A. O. 05/06/07; “Cá à minha moda”


terça-feira, maio 22, 2007

Por entre coordenadas

Viagens por entre coordenadas” é título – e o mote – de uma preciosa mostra de mapas da ilha de São Miguel expostos em zona de grande circulação na Biblioteca Pública de Ponta Delgada (até 30 de Junho), que assim possibilitam ao mais comum dos mortais uma extraordinária proximidade com autenticas raridades (documentos datados de 1771, 1793, 1806 …), alguns deles exemplares únicos; quase como que um privilégio, logo ali ao virar da esquina, mesmo quando só de passagem!
Sou daqueles que encontra em Gaspar Frutuoso razões mais que suficientes para localizar a ponta Delgada em Santa Clara (não sei por mais quanto tempo – espero que muito -, mas, com ou sem POOC, enquanto “o progresso” não arrasar o pouco que sobra da orla marítima original de Ponta Delgada, ela, “a ponta delgada e rasa…”, lá está, podendo ainda ser cotejada tendo por base a detalhada descrição que o Cronista Mor fez do local). Porém, se estas razões não bastassem, as reproduções das cartas de Luís Teixeira (1584 e 1587; portanto, contemporâneas das “Saudades da Terra”), cosmógrafo e cartógrafo que ao serviço do soberano de então – Filipe II de Espanha, I de Portugal – calcorreou os Açores descrevendo e desenhando com grande rigor cada uma das ilhas (e todas elas no seu conjunto), permitiriam afastar qualquer dúvida que Frutuoso me suscitasse!
Como a Biblioteca Nacional de Florença não é local de visita regular, nem a “Portugaliae Monumenta Cartographica” (onde estão reproduzidos os mapas de Luís Teixeira) documento de fácil acesso, sinto um “arrepio na espinha” sempre que me detenho em frente às relíquias agora expostas. Até porque, em todos elas – sem nenhuma excepção –, lá está a ponta Delgada inequivocamente em Santa Clara, logo após o “Calhau da Areia”; ali mesmo atrás da Igreja.
Do próprio, in A. O. 22/05/07; “Cá à minha moda”

sábado, maio 12, 2007

O bailinho da Madeira

Goste-se ou não da forma e do estilo – se há quem não recomende, há também quem pareça não desgostar sobremaneira –, a inconfundível maneira de estar na política de Alberto João Jardim causa (pelo menos no que me diz respeito) bastante menos engulhos do que o excessivo número de mandatos que o mesmo já colecciona (e José Sócrates permitiu-lhe esticar este último por mais dois anos).
É na alternância dos detentores do poder que encontro uma das maiores vantagens da democracia. Um mandato pode ser pouco; dois, em condições normais, seria sempre o ideal. Três, em circunstâncias excepcionais, até pode ser aceitável; mais do que isso, sinceramente, é demais!
A vitória de Alberto João Jardim, uma expressiva vitória, é também um triunfo para o povo da Madeira, e mais ainda, uma inequívoca manifestação do seu desejo de mais e maior autonomia (o que não deixa de ser válido mesmo quando, na falta de melhor, “ao dono da quinta”, e para que este possa garantir a posse da dita, se obriga a “ que abra os cordões à bolsa”).
O desfecho da última disputa eleitoral na Pérola do Atlântico só surpreendeu pela dimensão da derrota que o PS/Madeira averbou. Nem mesmo as consequências da recente alteração à lei eleitoral daquela Região, alargando substancialmente a representação política com assento parlamentar na Assembleia Legislativa da Madeira, esbateram a retumbante vitória de Alberto João Jardim. Bem pelo contrario! Ficou a amostra; na Madeira – tal como nos Açores, espero – será cada vez mais difícil vencer eleições impondo soluções de fora para dentro, sobretudo quando estas assentam em políticas que tendem a acabrunhar a, já de si escassa, autonomia até agora conseguida.

terça-feira, maio 08, 2007

Santa Clara em tempo de festa

Hoje – quando motivos não faltam; com as eleições na Madeira apresentando-se como uma enorme tentação – sinto a obrigação de com estas linhas me associar à celebração do quinquagésimo aniversário da restauração do estatuto de paróquia da já freguesia de Santa Clara. Faço-o evocando o livro de Elsa Soares, e dele respigando um “inventário e balanço” reportado a Dezembro de 1949. Antes porém, recuemos no tempo.
Santa Clara, no século XVI a terceira paróquia/freguesia a ser criada em Ponta Delgada, e que a partir do primeiro quartel de setecentos alterou a sua denominação para São José deixando sob protecção do original orago um singelo curato, é desde 2002, de novo, uma freguesia, agora, a quinta e mais recente da cidade de Ponta Delgada, que completou ontem, 7 de Maio, meio século de existência como “nova” paróquia.
De facto, quando em Dezembro de 1949 o Padre Fernando (Vieira Gomes), chega a Santa Clara, depara-se com um paupérrimo curato, carecido de quase tudo, até de paramentos, cujo caixa – cinquenta centavos em dinheiro, e mais de vinte contos de dívidas –, espelhava bem a penúria das “almas” ali residentes. No entanto, a 7 de Maio de 1957, ainda nem uma década decorrera desde a sua chegada, o então jovem guia daquela comunidade vê concretizado um dos objectivos em que muito se empenhara; a criação da paróquia de Santa Clara. Era igualmente seu desejo, e em condições normais quase uma natural consequência da transformação do curato em paróquia, obter também a promoção de Santa Clara a freguesia, o que ao tempo não foi possível.
Nunca se desligando do projecto, o Padre Fernando ainda assistiu ao anunciar do feliz desfecho de uma lide que apadrinhou, mas cuja vitória final, infelizmente, já não pode saborear na plenitude. Nunca é demais recordá-lo.
Do próprio, in A. O. 08/05/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, abril 24, 2007

POOC, e “Alabote” pró baú

Está aberta a discussão sobre o ordenamento da costa sul de S. Miguel. Do valioso património natural que Santa Clara possuía, após o aeroporto ter destruído quase por completo a “Mata da Doca”, resta preservar, requalificando sem arrasar, a pitoresca e historicamente consagrada orla marítima de Santa Clara. Não é desenvolvimento o “progresso” que sufoca sem deixar alternativas. Depois, é o que se vê!
Da “Mata da Doca” e “Calhau da Areia” de outrora ficam as histórias. Como a que me foi recordada recentemente, com pormenores que não conhecia, por um dos seus protagonistas:
Em finais da década de 60 brincavam três amigos numa das extremas da “Mata da Doca” – viver em Santa Clara sem ganhar alcunha é raridade. Aqui vão os “apelidos” do trio; “Macarrão”(ainda por cá), “Gigante” (já falecido) e “Língua” (emigrado) –, quando, tendo encontrando um baú velho, lhes ocorreu transformarem-no numa embarcação. Depois de impermeabilizarem o fundo da arca com alcatrão e areia, dirigiram-se para o calhau, onde, literalmente “de bliquinha de fora”, deram início ao que, segundo seus desejos, seria apenas um bordejo sem perder de vista o “Cunhal da Maré”. Embora o “capitão Macarrão” se esforçasse por indicar o rumo, foram; o vento e as correntes, quem de facto os comandou. O “bote” não obedecia aos improvisados remos!
Já aos olhos dos três imberbes aventureiros a costa de Santa Clara pouco mais era do que uma silhueta, quando, recolhidos por tripulantes de um petroleiro, e depois de convenientemente agasalhados e alimentados, os “marinheiros de baú” foram entregues à “lancha dos pilotos” que os trouxe para terra.
“Márinho” ainda recorda a sova que mestre Juvenal, seu pai, inflamado pelo alarido armado em Santa Clara, lhe deu junto às antigas instalações do Clube Naval. Pudera!
Do próprio, in A. O. 24/04/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, abril 10, 2007

Canudos a metro

Não tem sido nada edificante a imagem que a “novela” Universidade Independente nos vem proporcionado por estes dias, com os seus mais altos dignitários, todos supostamente respeitáveis senhores doutores, mas que ao invés de se comportarem como responsáveis agentes de educação que o são – ou deveriam ser –, têm antes vestido a roupagem de mediáticos actores, vilões de uma série policial, como que inseridos num “drama de faca e alguidar” que parece nunca mais ter fim. E tudo isto acontecendo quando uma das bandeiras do momento é, precisamente, a melhoria de competências e qualificações!
Nunca como durante as ultimas semanas recordei, tantas vezes, uma frase proferida com um misto de graça e convicção quando chamam de “sôtor” a um bem-humorado amigo, não licenciado, que nestas ocasiões logo se apressa a retorquir: “Olhe por favor, chame-me simplesmente senhor. É que doutores e engenheiros já são tantos que sendo a sua intenção distinguir-me, ou agraciar-me, nem sabe como lhe agradeço ser apenas tratado por senhor. Estes sim, os verdadeiros Senhores, já são poucos. Cada vez menos. Uma autêntica raridade”.
Esta semana promete, e muito mais do que a curiosidade que tenho – e, confesso, é alguma – em conhecer os intricados pormenores que envolvem a licenciatura do “Eng. Sócrates”, verdadeiramente interessado estou, é, em saber quantos outros (tal como já fez um dos sócios da empresa proprietária da UnI respondendo às suspeitas levantadas, pelo então ainda reitor, sobre a validade da licenciatura em Direito que aquele diz possuir, “canudo” obtido no estabelecimento que ambos desejavam controlar, razão pela qual uns quantos estão a contas com a justiça) poderão continuar a dizer; “o meu diploma é tão verdadeiro como o do senhor primeiro-ministro”.
Só mesmo em Portugal!
Do próprio, in A. O. 10/04/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, março 27, 2007

A propósito de um “Diga Leitor” (23/03/07)

Irei, por bem, deixar passar; o “inqualificável”, o “despropositada”, e o “é de lastimar” – nem sempre as palavras identificam quem as usa –, e vou abordar, só ao de leve, as básicas inverdades habituais, no caso; a época em que decorreu o primeiro campeonato (1923/24), quem o venceu (o SCFC), e quem, em 1927, ganhou o direito à posse do troféu correspondente (o CUS).
Feito isso, regressemos à data de fundação do CDSC (atenção; do CDSC! É que, embora os defensores da “farsa do 31 Janeiro de 1921” tudo façam para o esconder, facto é que antes do CDSC existiram outros “Santa Claras”). Mantenho (tal como as alvíssaras); são de Maio de 1927 as primeiras referências ao CDSC.
É velha e nebulosa – presa à responsabilidade de alguns no aniquilamento do Santa Clara Foot-ball Club – “a tese” da alteração de denominação. Mas ao invés do que por exemplo ocorreu com a AFSM/AFPD, no caso do SCFCvsCDSC não foi isso que aconteceu. O documento de fundação do CDSC (acta de 21 Junho de 1927 onde está exarada a versão original dos Estatutos e registada a sua aprovação) é disso prova cabal. Passo a citar: art. 1º; “Com a denominação de Clube Desportivo Santa Clara (C.D.S.C.) é fundada uma agremiação (…)”. A mesma demonstração pode ser feita noutros documentos, alguns fundamentais, como por exemplo; o primeiro pedido de inscrição do CDSC na AFSM. Volto a citar: “Tendo-se fundado nesta cidade uma nova agremiação desportiva (…)”, “Para este novo clube entraram alguns dos jogadores do antigo clube Santa Clara F. Club, (…)” – os sublinhados são meus.
Caricato – aqui sim, aplicar-se-ia, com propósito, o “intrigante” e o “incompreensível” – é que, com verdade – e JUSTIÇA –, nenhum dos três Santas Claras “oficiais”; SCFC, Sport Club Santa Clara e CDSC, foi fundado a 31 Janeiro de 1921.
Esta é que é esta (sobre isso dobro as alvíssaras)!
Do próprio, in A. O. 27/03/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, março 13, 2007

O “Castelinho de Santa Clara”

A proposta do Presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara – para que a CMPD desencadeie o processo de classificação do Forte de Santa Clara como “Imóvel de Interesse Municipal” –, ao ter sido aprovada por unanimidade na última Assembleia Municipal (28Fev2007), acabou constituindo mais um importante passo na valorização do património edificado dos Açores, e um forte contributo para a desejada requalificação da zona histórica de Santa Clara, tal como da sua memorável orla marítima, na qual se encontra a ponta que dá nome a Ponta Delgada.
Ainda com Vila Franca como capital, sendo então o lugar da ponta delgada não mais do que um “solitário ermo” – dá-nos disso conta Gaspar Frutuoso ao narrar a caça aos porcos monteses –, e, possivelmente, devido “à ponta delgada e rasa …”, já a zona que depois se chamaria Santa Clara era uma marcante referência a sudoeste da ilha. Nos primeiros tempos de Ponta Delgada, continuando com Frutuoso, mas agora quando localiza e descreve a casa de Francisco Arruda da Costa – “cercada de muro e cubelos” (…) “tudo muito defensável” –, é clara a noção que fica da necessidade em defender a vulnerabilidade do Calhau da Areia, “pequena baía de areia” entre duas pontas; a Delgada a poente, e a dos Algares a nascente. Mas, é de 1597 – já com outro; o próprio Governador, como cronista – o registo de uma das mais espectaculares histórias de defesa da ilha, também com a orla marítima de Santa Clara em cenário e um jovem; Apolinário Sarrão, como herói. Desde então “o Castelinho”, cuja primeira grande reparação foi efectuada três anos após a defenestração de Miguel de Vasconcelos, segue seu percurso, longo, História com cerca de 400 anos, os últimos dos quais, tendo em conta o estado a que chegou, não orgulham quem quer que seja!
Do próprio, in A. O. 13/03/07; “Cá à minha moda”

sábado, março 03, 2007

O “jogo de cintura” e os factos II

É como se segue o novo artigo primeiro dos estatutos do CDSC:
“O Clube Desportivo Santa Clara, abreviadamente designado por C. D. S. C., herdeiro das primeiras associações desportivas da zona de Santa Clara, com data de constituição popular assumida de 31 Janeiro de 1921 e formalização legal em 29 de Julho de 1927, pessoa colectiva de direito privado, de tipo associativa, qualificada de Instituição de Utilidade Pública pela Resolução do Governo Regional dos Açores nº 388/87, é uma Colectividade Desportiva, recreativa, educativa e cultural, de duração ilimitada, que se rege pelos presentes Estatutos, regulamentos internos e pela Legislação em vigor.”
Seguindo a mesma lógica, não fora o visível clima de birrenta teimosia que este tema sempre faz surgir, seria esta a proposta (até admitindo prescindir do que nela está entre parêntesis) que me tentou a mais algum esforço:
“O Clube Desportivo Santa Clara, (fundado a 21 Junho de 1927,) abreviadamente designado por C. D. S. C., pessoa colectiva de direito privado tipo associativa, com Alvará concedido pelo Governo Civil de Ponta Delgada a 29 de Julho de 1927 e qualificado de Instituição de Utilidade Pública pela Resolução do Governo Regional dos Açores nº 388/87, é uma Colectividade Desportiva, recreativa, educativa e cultural, de duração ilimitada, que se rege pelos presentes Estatutos, Regulamentos internos e pela Legislação em vigor.
1 – O C.D.S.C. é o herdeiro natural dos vários grupos desportivos que o precederam no bairro de onde é originário, nomeadamente os dois “Santa Clara” antes dele também filiados na “Associação de Foot-ball de Sam Miguel”, hoje; Associação de Futebol de Ponta Delgada.
2 – Desde 1949 que o C.D.S.C. comemora o seu aniversário tendo por referência o 31 Janeiro de 1921.”
Esta é a verdade. Dura. Que dói; como também dói ver tudo regressar à estaca zero!
Do próprio, in A. O. 04/03/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, fevereiro 27, 2007

O “jogo de cintura” e os factos

Surpreendido, e, não o posso deixar de referir, moderadamente agradado, dei conta de que na proposta de alteração aos estatutos do CDSC (versão levada ao Conselho Santaclarense, sobre a questão em apreço, a mesma que foi aprovada na AG), finalmente, se havia tomado a iniciativa de enfrentar “a farsa do 31 Janeiro de 1921”.
Embora sem estar em completo acordo com o teor do novo art. 1º, não pude – nem posso – deixar de apreciar a tentativa de aproximação à verdade, sobretudo, quando recordo o comportamento do passado ainda recente, onde, a acrescer à então reinante trapalhada, sobre este assunto, era só cinismo e hipocrisia; um permanente “fazer orelhas moucas”, o sistemático remeter para calendas gregas dos diversos compromissos assumidos no sentido de estudar e esclarecer uma verdade de que desde há muito, teimosamente, alguns, se esforçam em escamotear.

Nunca é demais repetir factos:
É falso que o CDSC tenha sido fundado a 31 Janeiro de 1921;
São de Maio de 1927 (dão-se alvíssaras a quem as encontrar antes desta data) as primeiras referências sobre o CDSC;
Ocorreu a 21 Junho de 1927 a AG de aprovou os estatutos de fundação do CDSC; Data de 29 Julho de 1927 o alvará concedido pelo Governo Civil ao CDSC;
A inscrição do CDSC como sócio da Associação de Futebol acontece em Novembro de 1927;
Só a 20 Novembro de 1927 ocorreu o primeiro jogo oficial do CDSC;
…e por aí em diante!
É evidente que estou consciente dos constrangimentos que tudo isso cria. É óbvio que, mesmo não aceitando, até compreenda (por mais primária que se apresente) a argumentação de alguns. Mas – é razoável, julgo –, a minha tolerância é inversamente proporcional ao nível de instrução dos que persistem em bater com o pé as pancadas de Moliére que sempre precedem esta récita.
Do próprio, in A. O. 27/02/07; “Cá à minha moda”

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Day after

Aqui; despenalização vs legalização. Ali; “bêbê” vs embrião. Acolá; se o aborto vai ou não continuar crime passado que seja um dia após os setenta que a lei tolerará, e, sinceramente, já estava a tornar-se insuportável esta sebenta e tortuosa campanha eleitoral; uma pena, tratando-se – como foi o caso – de um dos raros momentos em que o sistema nos permite recorrer à democracia directa.
Serenados os ânimos, e procurando manter um frio alheamento aos apelos que enfatizando emoções básicas acabam resvalando para – e revelando – um certo fanatismo religioso (uma “feroz”, poderosa, e bem organizada legião de leigos, qual guarda avançada, assumiu – e assim continua -, posições bem mais radicais do que a própria hierarquia da Igreja Católica), talvez seja hora de, tipo balanço, com quatro perguntas que também apenas pedem um SIM ou um NÃO como resposta, fazer um ponto de situação:
1ª - Após a vitória do sim, e quando a lei em vigor for alterada, ao contrario daquilo que durante a campanha eleitoral alguns, com veemência, pareceram querer fazer crer, alguém irá ser obrigado a abortar?
2ª - Estabelecida a nova situação, quem é que irá impedir os que, sobretudo quanto à questão em causa, se regem por dogmas de fé, de assim continuarem a actuar?
3ª - Não era muito mais desadequado manter a imposição de uma moral e ética particulares a quem as não deseje adoptar?
4ª - Com esta alteração ficam ou não criadas mais e melhores condições de apoio à Vida, principalmente quando esta resulta de uma maternidade desejada, logo, tendencialmente mais feliz?
Penso que a resposta continua sendo o SIM. Da mesma forma espero, que a partir de agora, uns e outros se mantenham coerentes com posições que em campanha pareceram consensuais; o devido aconselhamento prévio, um efectivo apoio à maternidade desejada, uma eficaz educação sexual e uma doutrina de modernidade quanto a métodos e meios de planeamento familiar!
Do próprio, in A. O. 13/02/07; “Cá à minha moda”

segunda-feira, janeiro 29, 2007

SIM,

... porque quando a lei vigente (nºs 2, 3 do Art.140 Código Penal) reza textualmente: “Quem, por qualquer meio e com consentimento da mulher grávida, a fizer abortar, fora dos casos previstos no artigo seguinte será punido com prisão até 3 anos. Na mesma pena incorre a mulher grávida que fora dos casos previstos no artigo seguinte der consentimento ao aborto causado por terceiro, ou que, por facto próprio ou de outrem, se fizer abortar”, e quando o que está de facto em causa é a pergunta: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”, em consciência, não tenho outra resposta a dar.
SIM porque, despenalizar a IVG até às 10 semanas não é sinónimo de obrigar quem quer que seja a abortar, e para além disso, elimina alguma da muita hipocrisia que, ignorando e até pactuando com “soluções topo de gama”, até aqui só tem deixado à mercê da lei “casos de vão de escada”.
SIM, porque, por muito que seja o respeito de deva existir por um projecto de vida, é ainda maior aquele que me merece a vida, a liberdade e a dignidade do ser humano completo que o acolhe no útero.
SIM, porque um Estado democrático, civilizado, moderno, e se deseja tolerante, cedendo a coacções confessionais para impor condutas que só ao foro pessoal íntimo devem dizer respeito, mesmo quando o não parece, aproxima-se de outros em que, por regra legal, a mulher é tida como ser inferior, no melhor dos casos, obrigando-se a sair à rua de rosto coberto.
SIM porque, não é com atitudes fundamentalistas que ainda hoje condenam milhares de humanos à morte (a “pecalização” do uso do preservativo por exemplo), ameaças de excomunhão (sorte nossa já não haver inquisição), nem “hábeis jogos de palavras”, que se combate um grave problema de saúde pública; o aborto clandestino.
Do próprio, in A. O. 30/01/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, janeiro 16, 2007

De regresso

Com as oitavas da Festa e do primeiro dia do ano (dias em que o AO não foi publicado) coincidindo com duas Terças-feiras, como que ganhei umas férias, que logo me apressei a estender a outras actividades similares – também à “NET”, sobretudo quanto à “blogosfera” –, aproveitando para colocar em dia umas quantas tarefas que há muito aguardavam oportunidade, para assim, “acertado o passo”, melhor entrar no Novo Ano. Férias casuais, muito bem vindas, principalmente para quem, como eu, passa mal com os excessos – também de hipocrisia – em que a quadra natalícia é pródiga!
De regresso ao dia a dia habitual, fora portanto do “micro universo” em que entretanto me refugiara, claro, tudo continuava na mesma. Nalguns casos até piorara:
É o Bush que, após reconhecer o atoleiro em que “nos meteu”, continua insistindo em chafurdar ainda mais naquele lodo de petróleo fedendo a morte;
É o Chávez, que antecipando o eventual vazio a deixar por Fidel na zona, após usar a democracia para ser eleito, anuncia a sua “eternização” no cargo;
É o “aborto” desta pré campanha sobre o referendo para a despenalização da IVG, que, mais uma vez, contornando o problema fulcral e fugindo aos devidos esclarecimentos, transformada que está numa cruzada fundamentalista, ou muito me engano, ou já está a contribuir para abrir ainda maiores brechas nas hostes dos que muito teriam a ganhar com uma actuação mais sensata e discreta;
Foi a triste confirmação – e não faltou quem avisasse – de ter sido pior a emenda do que o soneto no agitado caso do transporte marítimo inter ilhas;
É a infeliz constatação – o caso McDolnad’s, apesar de muito visível, é apenas um pequeno exemplo – de que Ponta Delgada resiste cada vez menos ao “progresso” imposto pelos grandes interesses, sempre em detrimento do manifesto interesse público.
E basta; Bom Ano!
Do próprio, in A. O. 16/01/07; “Cá à minha moda”

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Futebol Carolino

Não podia ser melhor a decisão do novo PGR quanto à escolha da responsável para coordenar os estridentes e escaldantes efeitos do “apito de filigrana”. Temo porém, minado como parece estar o processo – até a constitucionalidade da lei está em causa –, pelo “calar” de uma voz incómoda; a de uma magistrada cuja reputação, frontalidade, competência e coragem é tida como um oásis no desesperante deserto da Justiça. Deseja-se que a Senhora seja feliz na sua nova incumbência, que a actuação que dela se espera “faça escola” e se estenda a outras latitudes.
É que, por maior que seja o “amor clubista”, não imaginam como é difícil – quase insuportável – assistir a um espectáculo onde um desavergonhado “artista”, sem mudar cenário nem adereços, troca o circense funambulismo por um drama melodramático. Passa fora; já lá vão três dias e ainda estou enojado!
Nem sempre foi assim. Tempo houve – algum ainda recente – em que o futebol convivia de perto com cultura, altruísmo e filantropia, ocupando estes um espaço, em grande parte, hoje tomado pela boçalidade, oportunismo e corrupção.
A propósito. Permitam que partilhe convosco um naco da obra de Rolando Viveiros (fundador da “Associação de Foot-ball de Sam Miguel”):

QUESTÃO DE CLASSES…
Para o comboio da Vida
a todos é dado um passe…
O mal é que a maioria,
numa inconsciência atrevida,
só quer andar, hoje em dia,
avante, em primeira classe…

HISTÓRIA DE UM JOGADOR (excertos)
(…)
Deixando-se levar pelos arrancos
de uma paixão do jogo, desmedia,
perdera, aquela noite, dez mil francos,
fazendo, contra a Sorte, uma investida.
(…)
(…)
Pus-me a fazer as cenas, de tropel,
para me colocar em evidência…
Deu isto que aqui vês – uma falência!
Arrepiar não posso já carreira!
É o caso de “asneira puxa asneira”…
(…).

Do próprio, in A. O. 19/12/06; “Cá à minha moda”

Come back

Mais de um mês depois, com a vidinha supostamente melhor organizada, aqui estou eu de volta.
No entanto, vou já avisando - sobretudo aos muitos resistentes que por aqui foram passando mesmo sem eu ter nada de novo para lhes dar - , daqui para a frente irei ser ainda bem mais poupadinho no tempo a empregar nesta função.
Como diria o Guterres; "É a vida"!