terça-feira, setembro 26, 2006

E nós por cá... tudo na mesma.



Completam-se hoje (ontem quando isto for publicado no AO*) 24 anos sobre a data em que, na Corunha, reuniu a Assembleia Fundadora do Bloco Nacionalista Galego. Vinte e quatro anos; quase tantos quantos aqueles que tem a democracia espanhola e a sua nova Constituição!
O exemplo mais visível é o económico. Mas não é só economicamente que a Espanha “dá cartas” a Portugal. Também no que respeita à consolidação da democracia, a Espanha, não obstante ter saído mais tarde da longa e cruel – mais cruel do que a portuguesa – ditadura que a atrofiou, está muito mais avançada do que Portugal. Pode mesmo dizer-se que entrou no século XXI de cabeça erguida, em nada se comparando com o vizinho ocidental, o Portugal complexado, colonodependente, cuja Constituição, mesmo depois das suas sucessivas revisões (a última das quais bem recente), continua tratando os Açores e a Madeira de forma muito semelhante com aquela que a Constituição de 1933 tratava Cabo Verde, São Tomé e as restantes colónias africanas.
Regressemos ao BNG. Com pouco mais de 10000 militantes, o “principal partido nacionalista galego da Galiza” tem autarcas eleitos em diversos concelhos da Galiza, deputados no Parlamento Galego, no Congresso Espanhol, tendo até, no auge daquele que foi o seu melhor ciclo eleitoral [1996; 2 deputados ao Congresso Espanhol/1997; 18 deputados no Parlamento Galego/1999; 589 deputados Municipais/2000; 3 deputados ao Congresso Espanhol], em 1999, eleito um deputado, Camilo Nogueira, para o Parlamento Europeu.
E nós por cá, como a lesma, sempre na mesma – “lá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim...” –, continuamos resignados a uma Constituição que, para além de apelidar de fascistas a quem defende a autodeterminação da sua terra, insiste na proibição dos “Partidos Regionais”.

* Razões ainda não completamente esclarecidas levaram-me, ontem, a enviar via e.mail um anexo sem o respectivo texto. Resta-me pedir desculpas; ao A.O. (já dei conta do quanto atrapalhei) e aos leitores (fiquei sabendo que os há. Assíduos).
Do próprio, algures in A. O. 27/09/06

terça-feira, setembro 19, 2006

Ponta Delgada sem carros


Ponta Delgada, 08:45 de 19 Setembro de 2006

No âmbito da III Semana Europeia da Mobilidade, mais uma vez sem o desejado carácter formativo e sensibilizador para a problemática do uso excessivo de carros na cidade, tampouco alertando e fazendo pedagogia para uma maior utilização dos transportes públicos – e das vantagens da articulação destes com parques de estacionamento à entrada da cidade –, com horário restrito, e em zona delimitada, Ponta Delgada voltou também a celebrar o “Dia Sem Carros”.
Não fosse “a festa” – sempre ela; viva a animação –, e nem se tinha dado pela “coisa”!
De facto, uma “Ponta Delgada sem carros” é incompatível com a Ponta Delgada que gasta milhões para arrumar os carros no mais profundo do seu âmago. Tal como numa Ponta Delgada que retira aos peões o usufruto e fruição das suas centenárias artérias – transformando-as em apetecível negócio de parqueamento capaz de subordinar alguns agentes da PSP à eficácia do seu controlo – faz pouco ou nenhum sentido trnasformar o “Dia Sem Carros” numa iniciativa, importante, para a redução das deslocações em transporte individual.
Porque é que “progresso” há-de ser, necessariamente, sinónimo de betão?
Porque é que um mega parque de estacionamento não é instalado a norte da cidade (da zona do hospital, imaginem um semicírculo com um raio de 400 ou 500mt, tendo por eixo horizontal a via rápida)?
Assim, para aí também poderia ser deslocada a tal central rodoviária, podendo tudo isso ser o ponto de partida de um eficaz sistema de transportes públicos (melhorar o existente; mais “minibuses”, maior frequência na sua rotação, e, sobretudo, articular o preço do estacionamento com o uso do transporte público) cobrindo não só o centro urbano como ainda as áreas adjacentes, e contemplando a diversificação modal com a desejável incorporação de transportes de emissão zero.
Do próprio, in A. O. 19/09/06; “Cá à minha moda”

terça-feira, setembro 12, 2006

Regressar a Santa Clara, à Nau da Índia, ao Apolinário, ao Farol.


FAROL: Local aprazado para a concentração; primeiros momentos.
Com os devidos agradecimentos ao "Zé Braçado" e VIDA NOVA FAROL

Estou de “peito cheio” com os primeiros resultados do “Projecto Participar” (o nome é já fruto do método). Ao sucesso da conferência – como parte interessada, perdoem-me a imodéstia –, seguiu-se outro; o da “visita guiada”. Um “brain-storming” que excedeu as expectativas, tanto quanto ao número de participantes, como, e sobretudo, no que concerne há qualidade e exequibilidade das ideias colhidas.
Em tarde de fim de verão, e até o sol mergulhar por completo por detrás da “Nordela”, calcorreamos “a beira da rocha”, entre “o Farol” e o “Calhau da Areia”, com a síntese da visita sendo efectuada paredes-meias com o “Castelhinho”, que, como alguém observou, dado o ambiente gerado (grupos familiares, conversas interessantes), já pouco faltava ao espaço para parecer um jardim.
Entre a “Ponta da Eira” (junto ao Farol), e a “Ponta da Sardinha” (a delgada e rasa (...)), recordando algumas das “bocas” que o meu texto de 29/08 suscitou, não pude deixar de relembrar o Apolinário Serrão e na sua história.
Repetindo a fonte; (Arq. dos Açores, Vol. X pg. 131 e seguintes), julgo não ser demais deixar-vos outras das preciosidades contidas num texto com mais de 400 anos, segundo o seu autor, escrito dentro da trincheira:
As cerca de 100 embarcações, que vindas por “Loeste” há mais de uma semana permaneciam ao largo da costa entre Santa Clara e Vila Franca, pertenciam à armada de Roberto de Bordéus, Conde de Essex, a mesma que no ano anterior havia tomado e saqueado Cadiz e Faro, então (Out. 1957), já acrescida com outros navios entretanto capturados. E foi neste cenário que o Governador mandou encalhar a Nau da Índia em pedra viva, com parte da descarga a fazer-se para as trincheiras de Santa Clara, em pequenos bateis, chegados até ao mar sobre parais.
Do próprio, in A. O. 12/09/06; “Cá à minha moda”

terça-feira, setembro 05, 2006

Independência(s)



No fim da década de oitenta, já “agarrado” ao cáustico, irónico e bem escrito estilo; Miguel Esteves Cardoso, porém farto, e cansado, dos excessivos kilos de papel que tinha que comprar para satisfazer um vício naquela altura “embrulhado” entre as dezenas de páginas do pesado Expresso, foi com uma enorme expectativa que passei a acompanhar, amiúde, as notícias que davam conta do lançamento, para breve, de um novo projecto jornalístico, no qual MEC ocuparia um lugar de especial destaque. A ânsia foi tanta que, uma ou duas semanas antes da data efectiva de publicação do primeiro número de “ O Independente” – a 18 anos de distância (como o tempo voa), penso ter então havido um ligeiro atraso no lançamento do novo semanário – eu já andava a perguntar por uma novidade que o próprio vendedor desconhecia no quiosque em frente ao antigo porto da Calheta, onde fui levantar o número zero do INDY, e depois dele, religiosamente ao longo de muitos anos, até o espaço encerrar para mudança de ramo ( mesmo quando me ausentava o jornal que lá ficava sempre à minha espera), gerindo o atraso com que os jornais chegam a Ponta Delgada, continuei passando para trazer cerca de nove centenas dos números que se lhe seguiram.
A agonia era perceptível. Os seus últimos números, nunca perdendo a qualidade que desde a primeira hora o caracterizou, já pouco tinham a ver com o fulgor de outrora. Faltava ali qualquer coisa, também a genialidade de MEC. Pior do que tudo isso foi o INDY se ter deixado “apanhar”, mesmo que só temporariamente, como instrumento da ambição política de Paulo Portas. A partir daí, por maior que tenha sido o esforço para “o reabilitar”, nunca mais recuperou. Para quem se auto intitula de independente, não há nada pior do que a perca de independência.
Ficou a escola; o grafismo, a fotografia e as primeiras páginas são disso o exemplo mais visível. A primeira página do último Independente é um fruto desta escola. Ponto Final!
Do próprio, in A. O. 05/09/06; “Cá à minha moda”