domingo, dezembro 21, 2014

Os prós dos contras



Há ocasiões em que me lembro imediatamente de Manuel Ferreira, em especial o seu “O ALEVANTE DA ISCA”, sem nunca me cansar de transcrever passagens como: “Lisboa só nos mandava daquelas encomendas!” / “Qual autonomia, nem meia autonomia? Nem na nossa casa uma pessoa manda!”.
Vem isso a propósito do último “Prós e Contras”, programa que nos seus tempos áureos praticamente nos ignorou, mas agora, desgastado no formato e degradado nas audiências, tal como a maioria dos circos e/ou bandas POP nas mesmas circunstancias, vê fora da “Capital do Império” – no caso, numa das últimas colónias – o modo de ganhar folgo e sobrevivência. Valha-nos que, como quase sempre, nem tudo foi mau. As intervenções do Presidente do Governo dos Açores, em especial a de abertura, roçaram o brilhantismo (viu-se que se preparou bem), dando boa imagem do próprio, do cargo e dos Açores. O mesmo se pode dizer da intervenção do Ex Reitor da Universidade dos Açores, Prof. Dr. Machado Pires, cuja “lição” foi também de grande nível. Não obtendo a minha total concordância, há também que considerar as mensagens do Dr. Álvaro Monjardino (sempre inteligente, mas estou cada vez mais impenetrável ao seu discurso bairrista e português/dependente), em especial quando recordou que os portugueses nos deixaram aqui, só de nós se lembrado para, depois, virem cobrar impostos; ou quando comparou o alargamento do território marítimo – do nosso mar: o Mar dos Açores – ao “Mapa Cor-de-rosa”, chamando a atenção para a necessidade de o ocupar (para Álvaro Monjardino, de forma portuguesa/dependente, para mim, cada vez mais sob nosso – dos açorianos – exclusivo controlo!).
De resto foi o resto (que mal ficaram outros bairristas!? / E que dizer do cenário montado em Angra?). Excluindo, claro, a referência ao Dr. José de Almeida e com ela, implicitamente ao processo de total emancipação dos Açores, que continua actual, não uma “estória” com 40 anos, como foi referido. Mesmo que convidados à última da hora e após vários recados (alguns muito directos), estavam presentes independentistas. Foi pena que, sobre o assunto INDEPENDÊNCIA, não lhes fosse dada a palavra, ao invés de sobre este assunto ela ter sido atribuída ao congressista açor-americano Tony Cabral: isto sim, no mínimo, merecia um protestativo vigoroso agitar de bandeiras: das nossas!

AO. 20/12/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado) 

domingo, dezembro 07, 2014

José de Almeida: a obra e o sonho



A ignorância de muitos e a conveniência de outros tantos tem dado a ideia que a “INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES” é CAUSA recente, pós 25 Abril. É falso! Mais aproximado da verdade será dizer que foram as consequências do 25 de Abril – que não só a chegada da Democracia (uma democracia, “à portuguesa”, que até impede a constituição de partidos pró independência nos Açores) – e a histórica e corajosa acção do Dr. José de Almeida o que democratizou a “CAUSA INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES”, trazendo até ao povo o que antes fora só uma “QUESTÃO” das elites.
Hoje já é consensual dizer que sem José de Almeida e a sua integra, coerente, frontal e corajosa defesa da INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES, nem esta escassa autonomia de que alguns tanto se orgulham teríamos. Isto, sim, é verdade! Mas verdade também é que a “CAUSA” de José de Almeida não foi a autonomia, sim a INDEPENDÊNCIA!
Será – já o era de uns tempos a esta parte – grande a falta que o Dr. José de Almeida irá fazer ao processo de Total Emancipação dos Açores. O seu carisma; as suas inatas capacidades de liderança; o seu histórico percurso; a sua profunda cultura e consistente preparação para o cargo; a sua grande capacidade de gerar consensos; a sua enorme integridade pessoal, tal como a imensa coragem e frontalidade com que sempre defendeu a “CAUSA”, muito dificilmente poderão ser igualadas. Mas a sua OBRA ficou. O mais difícil está feito! Há que saber dar continuidade, e, tal como rezam as escrituras, e foi lembrando em oração fúnebre perante o seu féretro, “a semente só germina depois de morta e lançada à terra”!

O sonho do Dr. José de Almeida – “assistir em vida à INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES” – não se realizou! Mas nem todos os sonhos são para realizar. Muitos deles são só e apenas para “comandar a vida”, com a aspiração de INDEPENDÊNCIA DOS AÇORES comandando quase por completo a vida de José de Almeida. Convenhamos, perante tão importante desiderato é quase sempre assim. Lembro, apenas por proximidade arquipelágica, Amílcar Cabral: Ele também não assistiu ao “grande dia”, mas isso não impediu de Cabo Verde ser hoje um país independente!

AO. 06/12/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)