terça-feira, outubro 21, 2008

Sim, foi. Pois, claro que é!



O Povo Açoriano – em rigor, há que descontar os mais de 50% de abstencionistas – respondeu com clareza às duas questões mais profusamente divulgadas na campanha eleitoral:

Melhor é possível”, afirmavam uns. Sim, foi; confirmou-o o Povo. Votando de modo a fazer-se representar com maior amplitude, e, sobretudo, de forma menos exclusiva.

Que bom é ser açoriano”, repetiram outros quase até à exaustão. Pois claro que é; e mais uma vez o Povo corroborou, indiciando, claramente, que tanto melhor assim será, quanto mais plural for a forma como estiver parlamentarmente representado.

Ironias à parte; finalmente aconteceu – embora ainda me não satisfaça completamente – um significativo alargamento da base de representatividade do Parlamento Açoriano! Convenhamos que era frustrante, quase 35 anos depois do Abril que terminou com 48 anos de ditadura (5 de Revolução Nacional, 37 de Estado Novo Salazarista e mais 6 de Primavera Marcelista), que, aqui nos Açores, mesmo que democraticamente eleitos, se não encontrasse melhor substituta para a União Nacional do antigamente, do que uma união conjuntural de interesses, à volta da qual, o serviço cívico que a política deveria desempenhar, na prática, esteja praticamente transformado numa actividade económica para sustento de carreiras profissionais privilegiadas.
Se para mais não servir – e servirá, estou convicto! –, o resultado eleitoral do passado Domingo prova que o trabalho inteligente, esforçado, metódico e organizado, independentemente dos meios disponíveis, é geralmente bem recompensado. Tal como terá, com certeza, enorme relevância política o facto de, agora, quase todas as forças políticas concorrentes (será desta que o PDA aprende?) terem ganho representação parlamentar. E, o que não deixa de ser menos importante, nem todas o conseguiram só “por obra e graça” do circulo de compensação!
Sim: foi possível fazer melhor.
E, claro que é – e cada vez mais assim será – muito bom ser açoriano.

Pena é que, alguns, só recentemente se tenham disso dado conta!
A. O. 21/10/08; “Cá à minha moda” (Revisto e acrescentado)

segunda-feira, outubro 13, 2008

Tal como nos ensinou Lavoisier:

Roubado aqui.


Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”,

o que, em política, e tendo em conta o que se está assistindo, me dá uma enorme pena!
Recordar Lavoisier é o mínimo que me ocorre quando observo o actual PGA e líder do PS/Açores que, perdendo uma oportunidade histórica de fazer muito diferente – para melhor – do que o que aconteceu na recta final do “motaamarelismo”, em muitos aspectos mais não faz do que copiar os métodos usados em finais de 80, inicio de 90; o que, ironia das ironias, eram práticas que o próprio C. César, então, também denunciava e criticava com veemência.


Tudo isto vem a propósito desta campanha eleitoral, que continua frouxa e desinteressante, embora, agora que se aproxima da recta final, e se concentra em terrenos eleitoralmente mais produtivos – São Miguel, com ou sem circulo de compensação, continua sendo o reduto eleitoralmente mais rentável –, não obstante ter aumentado o seu “nível do ruído”, pouco ou nenhum contributo tem acrescentado em termos de esclarecimento essencial. Talvez por isso, confirmando-se os “zuns-zuns” que por aí circulam, a abstenção dispare para números nunca antes vistos (o que até acaba favorecendo quem os abstencionistas, inconscientemente, julgam castigar).
Se nas fileiras do poder é o que se vê, com um César imperial centrando em si as atenções – como que para disfarçar, ou até mesmo, quiçá, envergonhado das estrelas mortiças ou já mesmo cadentes da constelação que encabeça (eis aqui outra das semelhanças com o final do ciclo anterior) –, o principal grupo oposicionista não está melhor. Aí, ao contrário, o “líder” é como que “empurrado” pelo que sobra de um exército destroçado, caduco – porque não dizê-lo! –, desalinhado, assim provando à saciedade o provérbio que reza: “em casa onde não há pão…”.


À margem:
É verdade, ou será apenas mais um boato, que se está vivendo no redemoinho de uma crise financeira global, sem precedentes para a maioria dos vivos?
É que, tratando-se de boato, então passo a entender o porquê deste não ser um tema de campanha!

Jornal de Campanha - AO 14/10/2008 (Revisto e eacrescentado)

Sinal dos tempos



Roubados: aqui e aqui

Cheguei a pensar ser apenas impressão minha, mas quanto mais se fala no assunto, e sobretudo à medida que o tempo passa, é cada vez mais notória a falta de entusiasmo, senão mesmo a apatia, que perpassando todo o pré período oficial que lhe foi destinado, continua instalada pelo menos nestes primeiros dias da campanha propriamente dita.
Não é que sinta saudades de ver as ruas entulhadas de cartazes tipo “arraial saloio”. O que acho grave é que eliminado o espalhafato superficial – que é de saudar –, o tempo, o dinheiro e as energias que aí se poupam não tivessem sido dirigidas ao essencial; coisas tão simples como confrontar, debatendo ou simplesmente ir anunciando, o que as diferentes forças políticas concorrentes incluem, e as diferencia, nos seus programas eleitorais. Isto sim; é de lamentar!
Tão ou mais grave ainda, é que não fora os tempos de antena – que não entram nos orçamentos de campanha – quase que ficávamo-nos pelo “Melhor é possível” ou pelo “Que bom é ser açoriano” e seus sucedâneos, se a isso, ingénua ou franciscanamente, não quisermos associar o celebérrimo KIT.
Certo, certo é que cada vez mais se nota a crescente indiferença reinante; nem parece que só faltam dez dias para “a festa da democracia”, entretanto – comportamento gera comportamento – como que transformada numa calculista e burocrática rotina, com a qual, salvo raras e honrosas excepções, apenas têm contribuído para que, "mudando qualquer coisinha", o tempo se encarregue de fazer com que tudo fique na mesma!

Neste campeonato desigual, onde o “círculo de compensação” veio trazer algum alento aos menos poderosos, são naturalmente os “grandes” que mais gastam e desperdiçam. Mais gastam; porque só o somatório dos seus orçamentos ronda os 3MEuros. E desperdiçam; porque não é necessário ser profissional deste “metier” para se dar conta que, numa hora destas, tanto J. Sócrates como Manuela F. Leite para além de dispensáveis, são claros empecilhos para quem cá está.
Com justiça, o mesmo não se pode dizer das minúsculas formações partidárias que se esforçam por aproveitar “os restos”. Destes, para o bem e para o mal, mas assumidamente com grande desassombro, no rácio efeitos/meios destaca-se o MPT – Partido da Terra, isto, ainda antes da última “ajuda”; o “caso SATA”.

Jornal de Capanha - Ao 9/10/2008 e 13/10/2008 (revisto e ligeiramente acrescentado)

terça-feira, outubro 07, 2008

Dias de Melo

Tinha pouco mais de dez anos, frequentava o então primeiro ano do antigo “ciclo preparatório” da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, na ocasião, funcionando em edifício adaptado para tal ao fundo de uma pequena quinta paredes meias com o Jardim José do Canto, quando tive o privilégio de conhecer, no desempenho do seu mester, o professor “baleeiro”.
Tal como eu, muitos, estou certo, foram os alunos por ele indelevelmente marcados pela forma simples, prática e à vontade, com que connosco tratava e nos confrontava com a língua e a literatura portuguesas enquanto meigamente trincava a boquilha do cachimbo que mantinha, quase permanentemente – muito do tempo apagado – no canto esquerdo da boca (“O fumo do meu cachimbo” era só para os jornais). Isto para além da sua característica voz: um acentuado sotaque picoense; palavras ditas de forma muito pausada; timbre rouco, nem sempre fácil de entender e com uma sonoridade que parecia resultar da enorme caixa de ressonância por onde o verbo passava, como que indeciso, por estar melhor destinado para a escrita do que para a fala. Talvez por isso, entre nós, alunos, e de forma mais carinhosa do que ofensiva, lhe chamávamos “Fanfan”.

Na falta de palavras melhor adequadas, permitam-me usar as do próprio para aqui deixar este humilde registo em memória de quem, de forma magistral, descreveu, também em verso, substantiva parte dos Açores, e da vida dos açorianos:

AS ILHAS DOS AÇORES

(…)

As pérolas do Atlântico
Muita gente lhes chamou
São o resto da Atlântida
Que neste mar se esfumou.

Este grande continente
Que há muito sossobrou
Levou consigo toda a gente
Nem um habitante escapou.

Diz-se que esse povo guerreiro
Muitos povos massacrou
Que Deus do mundo inteiro
O destruiu e castigou

Restam estas nove ilhas
Eram os pícaros das serras
Encontradas pelos navios
Que buscavam novas terras.


(…).

Ou, já num registo mais próximo daquele que todos conhecemos; o da habitual, e militante, intervenção social:

O BALEEIRO ENGANADO

Minha vida foi baleeiro
Nesta maldita Calheta
Mas em vez de dinheiro
Saiu-me foi uma peta

Mentiram os armadores
mentiram os oficiais
mentiram os trancadores
motoristas e arrais.

Neste sarilho de enganos
também eles são enganados
mentem há muitos anos
mas nunca serão saciados.


VINTE ANOS DEPOIS – RESCALDO DE UMA VIDA

(…)

Eu sou filho de baleeiros
e neto de pescadores
nesta vida os primeiros
nestes mares dos Açores

Deram vida à Freguesia
deram vida aos Açores
quando por aí só havia
miséria com seus horrores

Pescando peixe do fundo
baleias por todo o mar
buscaram por todo o mundo
uma vida para nos dar

Esta vida foi roubada
com bem poucos sentimentos
por uma tão vil cambada
de vis porcos bem nojentos

E quando eu lhes dizia
que era bom acautelar
o que era da freguesia
não se deixava roubar

Faziam troça de mim
olhando muito a sorrir
mas ficavam todos assim
e agora?…querem fugir

(…)
Abril de 1972
Continua a hipocrisia

não recebam os Judas

A. O. 07/10/08; “Cá à minha moda” (Revisto e muito acrescentado)