sábado, novembro 22, 2014

1923/1975: os outros campeonatos dos primeiros 50 anos da AFPD.


A Associação de Futebol deu os seus primeiros passos em 1923: era a “Associação” a dar os primeiros passos e a I Republica os derradeiros.
Logo em 1923/24 (há coisas que são como o célebre anúncio: “vêm de longe”), tendo como protagonistas os Drs. Francisco Luís Tavares e Lúcio Agnelo Casimiro, começaram as demandas sociopolíticas. Mas então, porque com o tempo iria endurecer, foi mesmo só isso: luta política! Na altura estava muito acesa a querela entre os “velhos republicanos” e os conservadores, muitos deles então ainda monárquicos, sendo que foram os mais conservadores quem depois acabaria por condicionar quase tudo e todos: também, logicamente, e quase por completo, os primeiros 50 anos de vida da Associação de Futebol!
Ao longo da década de vinte – 1924 / 1930 –, e sobretudo depois do 28 de Maio de 1926, novamente com o Dr. Lúcio Agnelo Casimiro encabeçando a falange que já então ganhava cada vez maior preponderância, este confronto político conheceu outro protagonista, o Dr. Jeremias da Costa, que muito a custo conseguiu manter a então AFSM como baluarte de democratas e “velhos republicanos”. Também por isso, em 1929/30, o Dr. Agnelo Casimiro chegou mesmo a criar um organismo alternativo à Associação de Futebol, com Ponta Delgada assistindo a dois campeonatos, que procuravam, cada um deles, “abafar” o outro. Do lado da "Associação", e dos “velhos republicanos”, ficaram o Club União Sportiva; o Sport Club Santa Clara – mantendo-se fiel ao posicionamento do “Santa Clara Velho”; o Operário Sport Club (da Federação Operária de Ponta Delgada); e o Micaelense Foot-ball Club. E do lado da Liga Desportiva Micaelense – foi este o nome do organismo criado pelo Dr. Agnelo Casimiro – e daqueles que a partir de 1931 iriam passar a controlar, quase completamente, os acontecimentos por longos anos, ficaram o Clube União Micaelense e o Clube Desportivo Santa Clara, juntando-se a estes o “Estrela” e o “Artista”, clubes da Ribeira Grande, antecessores do Ideal e do Águia. Esta “revolta” terminou em Agosto de 1930, com a chegada a Ponta Delgada de um Comunicado da Federação Poprtuguesa de Futebol, assinado pelo punho do histórico Ribeiro dos Reis, que ameaçando de exclusão o CUM e o CDSC colocou um ponto final à estratégia da LDM.
A “Revolução das Ilhas”, em 1931, fracassando no seu objectivo de derrubar o Estado Novo, entre nós teve como consequência a “decapitação” dos últimos “velhos republicanos” que estiveram na liderança da Associação de Futebol, os, Dr. Castanheira Lobo e Tenente Luís Lacerda Nunes.
A partir daí acabaram-se as “veleidades democráticas”, e, sempre que estas se esboçavam, lá aparecia uma “mão firme”: com o Sr. Horácio Teves sendo chamado a estas funções por várias vezes.
Tal como o regime, a vida da Associação de Futebol entrou então numa fase de quase perfeita tranquilidade, só suspensa pela interrupção da prática do futebol entre 1942 e 1945, o que aconteceu sobretudo por falta de recintos desportivos, mas também porque a II Grande Guerra atingia então o seu apogeu.
Com o recomeço do futebol federado em São Miguel uma nova geração chegou à liderança da AFPD, foram os casos o Dr. Carlos Bettencourt, embora por pouco tempo – custou-lhe ser apoiante do Movimento Unitário Democrático e, por tal, viu dificultada a tarefa de conseguir reunir os apoios (CMPD e JAPPD) para a obter o necessário recinto desportivo –, do Dr. Fernando Costa Matos, do Arq. Francisco Quintanilha, entre outros. Mas será o Sr. António Horácio Borges, com os quinze mandatos que entre os anos de 1955 e 1972 efectuou como Presidente – muitos deles consecutivamente –, quem, mais do que fazer o “ressurgimento do futebol local” (foi este o que António Horácio Borges atribuiu ao projecto que se propôs dinamizar e executar) acabou levando a cabo uma verdadeira revolução no futebol de São Miguel.
Na transição da década de 60 para a de 70, coincidindo com a “primavera marcelista” e com a aproximação da “nova era” que já se prenunciava, Eduardo Pereira Duarte foi eleito presidente da AFPD, deixando também ele bem visível a sua marca. Com Eduardo Pereira Duarte foi a vez da “revolução” chegar à vida administrativa e financeira da Associação de Futebol, sendo o seu desempenho muito bem acolhido pela imprensa da época, que publicou e elogiou os relatórios de contas e actividade dos seus mandatos.
A inauguração do Aeroporto de Ponta Delgada (na Nordela) e, em consequência disso, a decisão de se não construir o Estádio Distrital na “Mata da Doca”, em Santa Clara, obrigou Eduardo Pereira Duarte a procurar rapidamente outra solução, logo montando, dinamizando e levando a cabo, a campanha de angariação de fundos que se tornou decisiva para construção do Estádio na “Estrada da Ribeira Grande”, ainda hoje, o mais importante palco de futebol em São Miguel.
Já quando o calendário mostrava 1974, a greve dos árbitros, primeiro, e a chegada de Ted Smith, depois, (onde isto nos levaria: Ted Smith foi anunciado como indo do "Estoril" para o Irão, mas, como que conduzido pela “mão invisível do Tio Sam”, apareceu quase de surpresa em Ponta Delgada)… Escrevia então que a greve dos árbitros e a chegada de Ted Smith a Ponta Delgada já anunciavam claramente o que estava a chegar.
Pouco antes de Abril de 1974 João Gago da Câmara chegou à presidência da AFPD, sendo ele o presidente em funções, mas não em presença – fora detido em consequência do 6 de Junho de 1975 – quando terminou a última época dos primeiros 50 anos de vida da Associação de Futebol.
Foi “tão quente aquele verão” que a importante efeméride, o meio século de existência da AFPD, começada a preparar por António Horácio Borges quase uma década antes com a disputa das taças aniversário da AFPD, passou despercebida!
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Tal como já aconteceu com o Sr. Rolando Viveiros, outros presidentes merecem sair da penumbra em que os colocaram. Alguns foram mesmo ostracizados (como foi os casos dos Drs. Francisco Luís Tavares, Duarte Castanheira Lobo e Tenente Luís Lacerda Nunes), podia-se (devia-se), começar por estes. Fica a sugestão! 

AO. 22/11/2014; “Cá à minha moda" (revisto e muito, muito acrescentado) 

sábado, novembro 08, 2014

Referendo sim, mas…



Quer o referendo realizado na Escócia, quer aquele que, na Catalunha, os “espanhóis” tudo fazem para evitar que se cumpra, devem ser casos a acompanhar com mais tempo e maior detalhe do que aqueles que a eles têm sido habitualmente dedicados.
O caso escocês é exemplar. Não só porque nunca “uma derrota” foi tida por tão vitoriosa, mas, e sobretudo, porque a mais velha democracia do mundo, afora as suas deficiências, continua sendo exemplo de boas práticas democráticas, em especial quando comparada com Espanha e Portugal, seus “velhos” e principais competidores na demanda pelo mundo, quando se tratou de construir um Império. Diferente é o caso catalão: ou, aliás, o esforço que “Castela” está efectuado para que o Referendo na Catalunha não se realize (passe o exagero, lembra o que se passou, embora em sentido contrário, no Leste da Ucrânia: prepotência imperial!). O desenrolar do processo dá bem nota de como continuam deixando marca as ditaduras que, praticamente até ao último quartel do século XX, se mantiveram a sudoeste dos Pirenéus. Um estigma tanto mais profundo quanto mais se avança para ocidente na península. É que, apesar de tudo, os catalães – tal como os bascos, galegos, canarinos e outros –, embora agora aparentemente impedidos de se manifestarem em referendo secessionista, já há muito “ganharam” o direito de democraticamente fazerem a defesa das suas aspirações independentistas. Outra, para pior, é – e permanece, após já quase meio século de alguma democracia – a sorte dos Povos Açoriano e Madeirense, a quem esta pretensão não só lhes está vedada como é equiparada a fascismo!   
Numa democracia civilizada e madura, tal como a inglesa, o Referendo é o instrumento ideal para aferir a vontade emancipalista de um Povo. Mas, antes deste, outros passos tiveram necessariamente de ser dados: a organização política dos que defendam este desiderato é um deles (o que até na Espanha já é permitido).

Não consentir a criação de partidos defensores da Independência dos Açores (e da Madeira) é um dos sinais de como é curta, frágil e insegura a Democracia Portuguesa. Será ainda culpa de Salazar?

AO. 08/11/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)