segunda-feira, janeiro 29, 2007

SIM,

... porque quando a lei vigente (nºs 2, 3 do Art.140 Código Penal) reza textualmente: “Quem, por qualquer meio e com consentimento da mulher grávida, a fizer abortar, fora dos casos previstos no artigo seguinte será punido com prisão até 3 anos. Na mesma pena incorre a mulher grávida que fora dos casos previstos no artigo seguinte der consentimento ao aborto causado por terceiro, ou que, por facto próprio ou de outrem, se fizer abortar”, e quando o que está de facto em causa é a pergunta: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”, em consciência, não tenho outra resposta a dar.
SIM porque, despenalizar a IVG até às 10 semanas não é sinónimo de obrigar quem quer que seja a abortar, e para além disso, elimina alguma da muita hipocrisia que, ignorando e até pactuando com “soluções topo de gama”, até aqui só tem deixado à mercê da lei “casos de vão de escada”.
SIM, porque, por muito que seja o respeito de deva existir por um projecto de vida, é ainda maior aquele que me merece a vida, a liberdade e a dignidade do ser humano completo que o acolhe no útero.
SIM, porque um Estado democrático, civilizado, moderno, e se deseja tolerante, cedendo a coacções confessionais para impor condutas que só ao foro pessoal íntimo devem dizer respeito, mesmo quando o não parece, aproxima-se de outros em que, por regra legal, a mulher é tida como ser inferior, no melhor dos casos, obrigando-se a sair à rua de rosto coberto.
SIM porque, não é com atitudes fundamentalistas que ainda hoje condenam milhares de humanos à morte (a “pecalização” do uso do preservativo por exemplo), ameaças de excomunhão (sorte nossa já não haver inquisição), nem “hábeis jogos de palavras”, que se combate um grave problema de saúde pública; o aborto clandestino.
Do próprio, in A. O. 30/01/07; “Cá à minha moda”

terça-feira, janeiro 16, 2007

De regresso

Com as oitavas da Festa e do primeiro dia do ano (dias em que o AO não foi publicado) coincidindo com duas Terças-feiras, como que ganhei umas férias, que logo me apressei a estender a outras actividades similares – também à “NET”, sobretudo quanto à “blogosfera” –, aproveitando para colocar em dia umas quantas tarefas que há muito aguardavam oportunidade, para assim, “acertado o passo”, melhor entrar no Novo Ano. Férias casuais, muito bem vindas, principalmente para quem, como eu, passa mal com os excessos – também de hipocrisia – em que a quadra natalícia é pródiga!
De regresso ao dia a dia habitual, fora portanto do “micro universo” em que entretanto me refugiara, claro, tudo continuava na mesma. Nalguns casos até piorara:
É o Bush que, após reconhecer o atoleiro em que “nos meteu”, continua insistindo em chafurdar ainda mais naquele lodo de petróleo fedendo a morte;
É o Chávez, que antecipando o eventual vazio a deixar por Fidel na zona, após usar a democracia para ser eleito, anuncia a sua “eternização” no cargo;
É o “aborto” desta pré campanha sobre o referendo para a despenalização da IVG, que, mais uma vez, contornando o problema fulcral e fugindo aos devidos esclarecimentos, transformada que está numa cruzada fundamentalista, ou muito me engano, ou já está a contribuir para abrir ainda maiores brechas nas hostes dos que muito teriam a ganhar com uma actuação mais sensata e discreta;
Foi a triste confirmação – e não faltou quem avisasse – de ter sido pior a emenda do que o soneto no agitado caso do transporte marítimo inter ilhas;
É a infeliz constatação – o caso McDolnad’s, apesar de muito visível, é apenas um pequeno exemplo – de que Ponta Delgada resiste cada vez menos ao “progresso” imposto pelos grandes interesses, sempre em detrimento do manifesto interesse público.
E basta; Bom Ano!
Do próprio, in A. O. 16/01/07; “Cá à minha moda”

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Futebol Carolino

Não podia ser melhor a decisão do novo PGR quanto à escolha da responsável para coordenar os estridentes e escaldantes efeitos do “apito de filigrana”. Temo porém, minado como parece estar o processo – até a constitucionalidade da lei está em causa –, pelo “calar” de uma voz incómoda; a de uma magistrada cuja reputação, frontalidade, competência e coragem é tida como um oásis no desesperante deserto da Justiça. Deseja-se que a Senhora seja feliz na sua nova incumbência, que a actuação que dela se espera “faça escola” e se estenda a outras latitudes.
É que, por maior que seja o “amor clubista”, não imaginam como é difícil – quase insuportável – assistir a um espectáculo onde um desavergonhado “artista”, sem mudar cenário nem adereços, troca o circense funambulismo por um drama melodramático. Passa fora; já lá vão três dias e ainda estou enojado!
Nem sempre foi assim. Tempo houve – algum ainda recente – em que o futebol convivia de perto com cultura, altruísmo e filantropia, ocupando estes um espaço, em grande parte, hoje tomado pela boçalidade, oportunismo e corrupção.
A propósito. Permitam que partilhe convosco um naco da obra de Rolando Viveiros (fundador da “Associação de Foot-ball de Sam Miguel”):

QUESTÃO DE CLASSES…
Para o comboio da Vida
a todos é dado um passe…
O mal é que a maioria,
numa inconsciência atrevida,
só quer andar, hoje em dia,
avante, em primeira classe…

HISTÓRIA DE UM JOGADOR (excertos)
(…)
Deixando-se levar pelos arrancos
de uma paixão do jogo, desmedia,
perdera, aquela noite, dez mil francos,
fazendo, contra a Sorte, uma investida.
(…)
(…)
Pus-me a fazer as cenas, de tropel,
para me colocar em evidência…
Deu isto que aqui vês – uma falência!
Arrepiar não posso já carreira!
É o caso de “asneira puxa asneira”…
(…).

Do próprio, in A. O. 19/12/06; “Cá à minha moda”

Come back

Mais de um mês depois, com a vidinha supostamente melhor organizada, aqui estou eu de volta.
No entanto, vou já avisando - sobretudo aos muitos resistentes que por aqui foram passando mesmo sem eu ter nada de novo para lhes dar - , daqui para a frente irei ser ainda bem mais poupadinho no tempo a empregar nesta função.
Como diria o Guterres; "É a vida"!