quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Já estou como o outro: Bom Carnaval


E mais um MONTE de fotografias: anjos de duas faces, bruxas e ciganas vigiadas por um Zorro de acrílico, o tal, e a F. Chada bem acompanhada.

Não sendo esta quadra a melhor para tratar coisas sérias, foi em pleno Carnaval, num dos mais tradicionais “assaltos” de São Miguel, que, impressa na camisa do “mordomo da festa”, encontrei a chave de um socrático arcano que dura pelo menos desde que se tornaram públicos pormenores de uma célebre licenciatura, numa não menos célebre universidade, entretanto encerrada compulsivamente, não sem antes ter licenciado mais umas quantas celebridades. “Faça o culto”, lia-se na artística Tshirt, onde também constava uma caricatura do visado. Bingo, pensei eu – talvez inspirado pelo “barulho das luzes” –, aqui está a solução! É que, mais do que ironizar com “face oculta”, o caso, que tudo indica vai continuar e transformar-se em autêntica penitência quaresmal, a mensagem apontava, acertadamente, para a solução do problema real de que o personagem padece: um frustrado sentimento de adoração, de que parece estar carente quem, embora exímio no uso dos média, lida mal com as críticas e demais apreciações mais causticas que pela mesma via lhe são dirigidas. Só assim percebo, para mais porque vindo de quem usa a comunicação como um pilar da governação – muitas vezes raiando a propaganda –, que, quer a estridente insistência de Manuela Moura Guedes, o lúcido “pessimismo” de Medina Carreira, ou até a assertiva contundência de Mário Crespo, sejam um problema para resolver. Percebo mas não concordo: O verdadeiro problema, o problema que pode afectar todos e não só alguns, é o da escassa preparação e lastro (até democrático, pois é isso que o autoritarismo e a prepotência denunciam) de quem detém o poder; o problema, um sério problema, é que a política, poucos anos ainda haviam decorrido desde que deixara de ser monopólio de uns poucos, ainda antes de se consolidar como serviço público, já se transformara em actividade económica, “nicho de mercado” selvaticamente – embora a coberto da democracia – disputado por uns quantos; o problema, o dramático problema, é que a ninguém, por pior que faça, é pedida responsabilidade. Bem pelo contrário, não faltam benesses para distribuir, nem baias douradas para os acolher. Tal como não faltam cintos para mandar apertar, sempre aos mesmos. E não é como o Carnaval, que são só três dias!

A.O. 16/02/10; “Cá à minha moda"

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Deformar a “Rua Formosa”


Formosa e não segura, mas bem equilibrada com mamarrachos

Quando, depois de andar algum tempo em redor de temas correlativos, tinha por fim pensado em deixar de “bater no ceguinho”, eis que a publicitação de um novo “mamatacho” (que embora embrulhado em “papel de oferta”, e por alguns docilmente classificado de “projecto moderno”, não deixa de estar destinado a camuflar e afiançar mais estorvo para a cidade) me veio obrigar a não cumprir o premeditado.
Vistas amplas, e sólido sentido de subordinação do interesse individual, pessoal, ao interesse público, tiveram aqueles que ainda no século XIX, de forma visionária, e adoptando uma escala e rigor geométrico muito pouco habitual entre nós, projectaram a então Rua Formosa, hoje Rua de Lisboa (até na alteração do nome, a emenda à posteriori ficou muito aquém do original), indicando com um rasgo de modernidade a potencial zona de expansão da cidade. Anos depois, primeiro a Av. Roberto Ivens e logo a Príncipe do Mónaco, adoptando os mesmos parâmetros quando à escala e geometria, confirmavam claramente a direcção, e a amplitude desejada, para a expansão de Ponta Delgada. Já na “primavera marcelista”, tal como muitas vezes acontece quando se confunde inchaço com crescimento, o suposto “progresso” trouxe para ali um aeroporto, para, já em autonomia, e, sob o ponto de vista do ordenamento da área agravando ainda mais a situação, o seu prolongamento para Nascente (outros, mais ousados, prologavam para Poente, pelo mar adentro, tal como na Madeira), com o aberrante aterro que o sustenta, qual monstruoso abcesso artificial, desfigurar toda aquela zona.
Mas isso são contas de outro rosário, regressemos ao que agora interessa.
Hoje, século XXI, quando a tendência é deixar os carros fora das cidades e dotar estas de transportes públicos adequados (amigos do ambiente e cumprindo horários aceitáveis), eis que nos querem presentear com uma central de camionagem acoplada a um parque de estacionamento, tudo numa das principais vias de acesso ao centro da cidade, como se já não fosse suficiente o congestionamento de transito do local, mesmo fora das horas de ponta.Por este andar: construir, construir, quanto mais alto e compacto melhor, não obstante a oferta exceder em muito a procura (o que mais por aí há são ofertas de venda, e até empreendimentos inacabados, alguns quase ao abandono), ainda corremos o risco de ver demolir o Bairro Económico (passem por lá para ver o que é qualidade de vida quase no centro da cidade) para o rentabilizar como área de construção, permitindo ali mais uns não sei quantos “galinheiros de betão”.
A.O. 02/02/10; “Cá à minha moda" (ligeiramente acrescentado)