domingo, agosto 19, 2012

Triste sina


Pior do que a “cruzada” (só em democracia já com quase quatro décadas) que desrespeitando a Declaração Universal dos Direitos Humanos continua a criar obstáculos – até constitucionais – à verdadeira “Livre Administração dos Açores pelos Açorianos”, pior ainda do que a actual manifesta tendência para castrar a escassa Autonomia conquistada desde o 25 de Abril para cá, pior do que tudo isso, dizia, só mesmo sermos governados por autênticas marionetes do ultra liberalismo internacional, que, por não existirem outros, apresentam como atributo de valor o facto de serem referidos como os “meninos bonitos” – sim, porque “bom aluno” é outra coisa – da “senhora mestre escola”.

O resultado está à vista. Apenas um ano volvido, são mais que muitas as fragilidades patenteadas por Passos Coelho para entregar a Garcia a carta que tanto prometeu. Como se já não bastasse o recente “estou-me lixando para as eleições”, esgar de verbo que pela oportunidade com que foi usado fez “mossa de tinir”, o homem na “rentrée” continuou desnorteado. Nem parecia que vinha de férias: mais pareceu uma retirada para repouso, por esgotamento!

As contradições começaram com a escolha do local. Passar da praça pública, tão ao gosto dos “relvas/passistas”, para um comício “in-door”, deu bem conta da insegurança das hostes. Também não era para menos: se as contínuas “trapalhadas” de Relvas e o ufano “encher de peito” que estas proporcionam a Portas já inquietavam qualquer um, é imaginar o que não fazem a quem já está fragilizado! Mas contradições a sério, aquelas que vão deixar marcas e serão muito recordadas, foram as em volta dos dois mais fortes “bitaites” daquela noite: “o fim da recessão anunciado já para 2013” e o “fim do regabofe”. O primeiro, mais não foi do que a tentativa de imitação (barata) de Sócrates. Só que em 2008 foi o “ajudante” Teixeira dos Santos o porta-voz e agora – sintomático! – os “ajudantes” tiveram que saltar a terreiro para minimizar os estragos da tirada do chefe. Bom, quanto ao segundo “bitaite”, só pode ter sido um momento de ironia mal conseguido. Fim do regabofe? E o Catorga? E as recentes nomeações na ARS do Norte?

Tenham dó!

A.O. 20/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)


domingo, agosto 05, 2012

Os eirós da Calheta de Pero de Teve



O antes, e um depois diferente da porcaria que lá está feita:
Mesmo não sendo para ficar como antes, podiam ao menos manter a enseada, o seu espelho de água e o uso da interessante muralha (que se mantém mas agora sem sentido). Mas, claro, não havia lugar para os "elefantes brancos", nem para os interesses privados que por regra são mais protegidos pelos decisores políticos do que o interesse público.  


De há uns anos a esta parte (digamos, grosso modo, uma dúzia deles), “meia volta, volta e meia”, quase sempre em período pré eleitoral mas sempre sem que se vá “até ao fundo da questão”, os “negócios” da Calheta de Pero de Teve “saltam para os jornais”.

Recordo-me de ir em criança, com outras crianças da altura (agora todas já na casa dos sessenta, mas que felizmente ainda estão por aí), para o ponto encontro do mar com varadouro poente do “porto da Calheta”, que quando a maré estava vazia, numas poças que recolhiam água salobra que de terra jorrava, se viam e apanhavam eirós. Aquela calheta, os seus dois varadouros, a confrontar com o tão austero quanto belo paredão (contendo diversos pontos de acesso ao natural “espelho de água” que a pequena enseada proporcionava), uma robusta construção que protegia as características casas que ali ainda existem transformando aquela histórica frente de mar numa zona muito pitoresca de Ponta Delgada, com tudo o mais que outrora fizera daquele local um dos importantes portos desta longitude da ilha, foram, de supetão, barbaramente entulhados e assim destruídos.

Este sim, foi o principal “crime” que vitimizou aquela zona: o primeiro, o “pai”, o originador de todos os outros “crimes” que se lhe seguiram. Os “elefantes brancos” depois ali plantados, que agora, e mais uma vez, dão azo a animada “esgrima política”, mais não são do que a natural – e pretendida – consequência daquele criminoso aterro. Um complexo emaranhado de interesses que umas vezes mais discretamente, outras nem por isso, parece que ainda não deixaram de alimentar os “eirós” e as “enguias” que empenhadamente contribuíram para a destruição do natural habitat dos verdadeiros (mas agora já lendários) eirós da Calheta de Pedro de Teve.

O processo de regeneração é lento (nem a mais velha democracia do mundo é exemplo de virtude) e é por isso que acredito que não basta mudar: há que RENOVAR. Só a renovação, nomeadamente a geracional e muito especialmente a das mentalidades, sobretudo ao nível das lideranças, é deveras regeneradora.
Como tudo seria mais fácil se isso não fosse, aparentemente, tão difícil de entender!

A.O. 06/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)