terça-feira, fevereiro 15, 2011

O estado a que isto chegou


"Clike" sobre a imagem para a aumentar
.
1 – Cavaqueira em dia
C
avaco ganhou. Bom para ele. A questão é que, atendendo à fragilidade da sua vitória, ainda estou por perceber o entusiástico alvoroço com que alguns a celebraram.
Quer os muitos milhões de elitores que pura e simplesmente ignoraram os dramáticos apelos de Cavaco para irem às urnas, quer, sobretudo, a escassíssima margem com que foi conseguida uma vitória por regra fácil, em condições normais – julgo eu – recomendariam mais preocupação do que gáudio. Não faltaram porém impulsivos festejos. Custa a perceber! Ou, aliás, perceber, percebe-se: houve que aproveitar, mesmo tratando-se de uma vitória de Pirro!
Daquela noite, para além de um discurso de vitória embebido em bílis, ficaram ainda outras duas fortes impressões.
Primeira: a convicção de que se metade dos votos em branco tivesse ido parar à “cartola de um qualquer coelho” o fadário cavaquista não ficava resolvido logo ali.
Segunda: a imagem quixotesca de uns eufóricos “vivas ao PSD”, deixando atónito um parceiro de empreitada – não de partido – ali tido como mero figurante.
.
2 – Matadouro: insistir no presente envenenado
F
inalmente o tribunal decidiu. Felizmente a decisão não foi favorável a quem se prontificou oferecer aquilo que não tinha a certeza lhe pertencer. Por sinal, os mesmos que, por outro lado, teimam em não “abrir mão” naquilo que por direito podem, e devem!
Tão ou mais esquisito foi assistir ao insistir nas “ofertas envenenadas”. Bondade não é com certeza! Assim fora, e bem mais fácil do que instigar “boas vontades alheias” seria mimosear ofertando aquilo que é desejado (o Centro Cultural de Santa Clara e a forma como é gerido), ou, simplesmente, cumprir aquilo que há muito anda a ser adiado: a questão da 2ª Rua de Santa Clara (é só mais um exemplo).
A requalificação da zona do “Matadouro”, uma área bem maior do que parece, é muito importante para Santa Clara. Importante e urgente. Claro que não será outro “Açores Arena” aquilo que mais falta faz à freguesia. Resolver "o Matadouro” deverá ser também uma oportunidade para intervir urbanisticamente em Santa Clara (é bom não esquecer que a Canada da Carreira do Tiro só é “beco sem saída” porque entronca com "o Matadouro”), e a ocasião não pode ser negligenciada!
.
3 – Com este Estado nem depois da morte há paz
V
ai ficar conhecida como a “idosa da Rinchoa”. A senhora faleceu, depois dela faleceram também os seus fiéis companheiros de solidão: um cão e dois pássaros, amigos que a acompanharam para além do fim, num degredo pós morte que durou quase uma década. O que só por si já foi desumano o quanto baste, ganhou ainda maior impiedade ao conhecerem-se as razões que levaram à descoberta do cadáver.
- Os vizinhos estranharam a ausência da senhora, procuraram as autoridades. As Polícias amesquinharam a preocupação demonstrada: o Estado falhou!
- Os familiares igualmente deram pela falta da parente desaparecida. Procuraram quem de direito. A Justiça ignorou-os: o Estado voltou a falhar!
- Os impostos também foram parar a uma porta há muito fechada, procurar quem os liquidasse. Os mortos não abrem a correspondência, mas isso não deteve as Finanças: a casa foi para a penhora; a sua venda foi efectuada; os impostos foram pagos – sem que devolvessem à falecida a parte remanescente –, e só então a cidadã até ali ignorada, depois de passar por contribuinte incumpridora, foi finalmente encontrada. Os cobradores de impostos não falharam. O Estado, este, mais uma vez, falhou. E de que maneira. Vá de retro séquito cego, cruel e hediondo.
Há quem lhe chame Estado Social. Eu cá digo que é o estado a que isso chegou!

A.O. 15/02/2011; “Cá à minha moda" (revisto e ligeiramente acrescentado)

terça-feira, fevereiro 01, 2011

O 31 Janeiro e o Clube Desportivo Santa Clara



Quatro dos seis paineis que podem ser visitados no Aeroporto João Paulo II integrando a mostra: Santa Clara . Século XXI - 75 Anos no Nº21 da Travessa dos Mártires da Pátria (hoje Rua Comandante Jaime de Sousa)
Clikando aumentam

A 31 Janeiro de 1935, depois de, qual caracol, o Clube Desportivo Santa Clara durante os seus primeiros oito anos de vida ter ocupado outras tantas sedes, foi oficialmente inaugurada, no nº21 da então Travessa dos Mártires da Pátria – hoje Rua Comandante Jaime de Sousa – aquela que desde então se mantém como a sede do actual maior clube de futebol dos Açores.
Se a coincidência de oito anos / oito sedes dá uma média de ocupação correspondente a uma sede por ano, a realidade é bem diferente do que à primeira vista aparenta, pois a permanência efectiva do Clube Desportivo Santa Clara em cada uma das sedes por onde passou variou de pouco mais de um mês (Rua do Brum; Junho e Julho de 1927, e Rua de Lisboa; Junho e Julho de 1931) a mais de 24 meses (Rua Luís Soares de Sousa; Julho de 1927 a Novembro de 1929, e 2ª Rua de Santa Clara; Março de 1932 a Maio de 1934).
Para uma melhor compreensão desta itinerância, aqui fica a relação cronológica detalhada das sedes usadas pelo Clube Desportivo Santa Clara ao longo dos seus primeiros oito anos de vida:
Rua do Brum, 38 (Junho e Julho de 1927); Rua Luís Soares de Sousa, 41 (de Julho de 1927 a Novembro de 1929); Travessa da Conceição – em partilha com a LDM (Novembro de 1929 a Junho de 1931); Rua de Lisboa – em partilha com o Sport Club Santa Clara (Junho e Julho de 1931); Rua Direita de Santa Clara (de Julho de 1931 a Março de 1932); 2ª Rua de Santa Clara (de Março de 1932 a Maio de 1934); Rua Machado dos Santos, 43 (de Maio a Dezembro de 1934) e Travessa dos Mártires da Pátria, 21 (inaugurada oficialmente a 31 Janeiro de 1935).
Em 1936, no ano seguinte, naquela em que pela primeira vez no Clube Desportivo Santa Clara se associou o 31 de Janeiro a um aniversário, em brilhante festa que reuniu ilustres convidados, foi comemorado o primeiro aniversário da “nova sede”: fez ontem exactamente 75 anos!
*
Outra importante celebração de “bodas de diamante” no Clube Desportivo Santa Clara ocorrerá ainda durante este ano, a 25 Junho, altura em que decorrerão os 75 anos da eleição do Sr. Diniz José da Silva, terceiro presidente da Direcção do Clube Desportivo Santa Clara, um nordestense de rija tempera que dando continuidade à longa passagem do Capitão Eduardo Reis Rebelo pela direcção do clube (1927/1935) e à do Dr. Alberto Paula de Oliveira que se lhe seguiu (1935/36), apesar de receber o Clube Desportivo Santa Clara numa difícil situação financeira, com “vistas amplas” e grande capacidade de gestão e organização, rasgando horizontes, foi o principal responsável pela abertura que o já então clube de futebol dos Açores com maior número de associados passou a dar a outras actividades para além das desportivas – Excursões, Música, Dança –, dotando-o de hábitos e meios com os quais foi possível mais tarde criar um importante grupo dramático, e com o Teatro, resistir, subsistir, e até reforçar-se, enfrentando os difíceis tempos que se seguiram, numa altura em que até a Associação de Futebol se refugiou na sede do Clube Desportivo Santa Clara, nela ficando como inclina para além de Julho 1942 / Abril 1945, período em que o futebol oficial esteve inactivo em São Miguel.
Usando recorrentemente como bordão de oratória apelos à Verdade e à Justiça, é de Diniz José da Silva, inserta numa publicação do Clube Desportivo Santa Clara distribuída aos sócios na década de sessenta a propósito de um dos aniversários, uma frase que tenho sempre presente nestas ocasiões:
(…) Não é tarefa difícil falar do Santa Clara. E não o é, porque a sua história poderia dar, à vontade, matéria para mais de um livro, desde que quem o quisesse escrever partisse desta premissa: VERDADE E A JUSTIÇA”.
Por integrar desde a primeira hora as hostes do Clube Desportivo Santa Clara, e por ter acompanhado mais ou menos de perto a vida dos dois “Santa Claras” antes do Clube Desportivo Santa Clara filiados na Associação de Futebol, é fácil perceber como Diniz José da Silva sabia do que falava, e o quanto tinha razão – o que se mantém!

A.O. 01/02/2011; “Cá à minha moda" (revisto e ligeiramente acrescentado)