terça-feira, maio 22, 2007

Por entre coordenadas

Viagens por entre coordenadas” é título – e o mote – de uma preciosa mostra de mapas da ilha de São Miguel expostos em zona de grande circulação na Biblioteca Pública de Ponta Delgada (até 30 de Junho), que assim possibilitam ao mais comum dos mortais uma extraordinária proximidade com autenticas raridades (documentos datados de 1771, 1793, 1806 …), alguns deles exemplares únicos; quase como que um privilégio, logo ali ao virar da esquina, mesmo quando só de passagem!
Sou daqueles que encontra em Gaspar Frutuoso razões mais que suficientes para localizar a ponta Delgada em Santa Clara (não sei por mais quanto tempo – espero que muito -, mas, com ou sem POOC, enquanto “o progresso” não arrasar o pouco que sobra da orla marítima original de Ponta Delgada, ela, “a ponta delgada e rasa…”, lá está, podendo ainda ser cotejada tendo por base a detalhada descrição que o Cronista Mor fez do local). Porém, se estas razões não bastassem, as reproduções das cartas de Luís Teixeira (1584 e 1587; portanto, contemporâneas das “Saudades da Terra”), cosmógrafo e cartógrafo que ao serviço do soberano de então – Filipe II de Espanha, I de Portugal – calcorreou os Açores descrevendo e desenhando com grande rigor cada uma das ilhas (e todas elas no seu conjunto), permitiriam afastar qualquer dúvida que Frutuoso me suscitasse!
Como a Biblioteca Nacional de Florença não é local de visita regular, nem a “Portugaliae Monumenta Cartographica” (onde estão reproduzidos os mapas de Luís Teixeira) documento de fácil acesso, sinto um “arrepio na espinha” sempre que me detenho em frente às relíquias agora expostas. Até porque, em todos elas – sem nenhuma excepção –, lá está a ponta Delgada inequivocamente em Santa Clara, logo após o “Calhau da Areia”; ali mesmo atrás da Igreja.
Do próprio, in A. O. 22/05/07; “Cá à minha moda”

sábado, maio 12, 2007

O bailinho da Madeira

Goste-se ou não da forma e do estilo – se há quem não recomende, há também quem pareça não desgostar sobremaneira –, a inconfundível maneira de estar na política de Alberto João Jardim causa (pelo menos no que me diz respeito) bastante menos engulhos do que o excessivo número de mandatos que o mesmo já colecciona (e José Sócrates permitiu-lhe esticar este último por mais dois anos).
É na alternância dos detentores do poder que encontro uma das maiores vantagens da democracia. Um mandato pode ser pouco; dois, em condições normais, seria sempre o ideal. Três, em circunstâncias excepcionais, até pode ser aceitável; mais do que isso, sinceramente, é demais!
A vitória de Alberto João Jardim, uma expressiva vitória, é também um triunfo para o povo da Madeira, e mais ainda, uma inequívoca manifestação do seu desejo de mais e maior autonomia (o que não deixa de ser válido mesmo quando, na falta de melhor, “ao dono da quinta”, e para que este possa garantir a posse da dita, se obriga a “ que abra os cordões à bolsa”).
O desfecho da última disputa eleitoral na Pérola do Atlântico só surpreendeu pela dimensão da derrota que o PS/Madeira averbou. Nem mesmo as consequências da recente alteração à lei eleitoral daquela Região, alargando substancialmente a representação política com assento parlamentar na Assembleia Legislativa da Madeira, esbateram a retumbante vitória de Alberto João Jardim. Bem pelo contrario! Ficou a amostra; na Madeira – tal como nos Açores, espero – será cada vez mais difícil vencer eleições impondo soluções de fora para dentro, sobretudo quando estas assentam em políticas que tendem a acabrunhar a, já de si escassa, autonomia até agora conseguida.

terça-feira, maio 08, 2007

Santa Clara em tempo de festa

Hoje – quando motivos não faltam; com as eleições na Madeira apresentando-se como uma enorme tentação – sinto a obrigação de com estas linhas me associar à celebração do quinquagésimo aniversário da restauração do estatuto de paróquia da já freguesia de Santa Clara. Faço-o evocando o livro de Elsa Soares, e dele respigando um “inventário e balanço” reportado a Dezembro de 1949. Antes porém, recuemos no tempo.
Santa Clara, no século XVI a terceira paróquia/freguesia a ser criada em Ponta Delgada, e que a partir do primeiro quartel de setecentos alterou a sua denominação para São José deixando sob protecção do original orago um singelo curato, é desde 2002, de novo, uma freguesia, agora, a quinta e mais recente da cidade de Ponta Delgada, que completou ontem, 7 de Maio, meio século de existência como “nova” paróquia.
De facto, quando em Dezembro de 1949 o Padre Fernando (Vieira Gomes), chega a Santa Clara, depara-se com um paupérrimo curato, carecido de quase tudo, até de paramentos, cujo caixa – cinquenta centavos em dinheiro, e mais de vinte contos de dívidas –, espelhava bem a penúria das “almas” ali residentes. No entanto, a 7 de Maio de 1957, ainda nem uma década decorrera desde a sua chegada, o então jovem guia daquela comunidade vê concretizado um dos objectivos em que muito se empenhara; a criação da paróquia de Santa Clara. Era igualmente seu desejo, e em condições normais quase uma natural consequência da transformação do curato em paróquia, obter também a promoção de Santa Clara a freguesia, o que ao tempo não foi possível.
Nunca se desligando do projecto, o Padre Fernando ainda assistiu ao anunciar do feliz desfecho de uma lide que apadrinhou, mas cuja vitória final, infelizmente, já não pode saborear na plenitude. Nunca é demais recordá-lo.
Do próprio, in A. O. 08/05/07; “Cá à minha moda”