terça-feira, maio 03, 2005

24 Abril 1974 / 02 Maio 2005

João e José não se falam já lá vão mais de trinta anos. Eram amigos, uma amizade resultante de diversos percursos comuns; o colégio, a catequese e consequente comunhão solene, o primeiro ano do liceu, e, mais tarde, já com o “Marcelismo” a agonizar, também a Mocidade Portuguesa!
Nenhum deles escapou à bem montada rede que recrutava nas escolas aqueles que; “cantado e rindo, levados, levados sim”, podiam, um dia “lá ir”. Ao João valeu-lhe a sua faceta desportiva, enquanto ao José, desde cedo um dos mais aplicados nos estudos, lhe foram valorizados outros atributos!
Durou pouco este último percurso comum de ambos. O João, tendencialmente utópico, sempre procurando ver mais além, mas já então impulsivo e frontal, foi expulso da MP após ter partilhado com um superior o convite – sobretudo a estranha sensação que este lhe causara – para comparecer numa sessão de esclarecimento (na Rua de S. João; a última em ditadura) da oposição democrática a um regime já velho e caduco. O José, este, continuou entusiasmado com a MP, organização que entretanto lhe retribuía a dedicação acenando-lhe com a possibilidade de ir frequentar o curso de “Graduados Guias”, patente recentemente adoptada em substituição da de “Comandante de Castelo”. Já em vésperas do 25 de Abril, João ainda publicava na imprensa local textos manifestando a sua satisfação e encanto – autênticas loas – por aquela organização juvenil.
Nem um ano tinha ainda passado sobre o “Abril libertador” quando ambos falaram pela última vez. Quem assistiu recorda José – que nem dotes atléticos possuía – após o seu extraordinário “flik-flak”, de dedo em riste, aos gritos, a apelidar João de “fascista e reaccionário”!
A dura discussão tinha um mote; a Independência dos Açores!
Do próprio. In Açoriano Oriental/Cónicas do Aquém






O comunicado de Out/72 e o "graffiti" de 6 de Junho de 2000 têm em comum a desinteressada colaboração do João, no primeiro caso, com enormes riscos; Oh... do que é capaz a juventude!