terça-feira, setembro 09, 2008

Cantigas ao desafio


Em Abril de 1886, 25 anos após o início da construção do porto artificial da cidade, inaugurou o matadouro Municipal de Ponta Delgada, então uma instalação bem mais modesta do que aquela que, reconstruída e completamente remodelada, surgiu em meados do século XX como exemplo de avanço tecnológico e arrojo arquitectónico, e que agora se apresenta como uma miserável ruína que a todos, especialmente aos santaclarenses, envergonha e incomoda.
A 7 de Maio de 2008, mais ou menos de surpresa, o “Matadouro de Santa Clara” foi mote de uma “desgarrada” da qual, mais do que as inflamadas palavras que a animou, interessa sim conferir a pratica seguida até aqui – e a que irão seguir?! – pelas entidades envolvidas na demanda pela posse do obsceno destroço em que se transformou aquele antigo sinal de modernidade.
Na ocasião, ficou a ideia que os santaclarenses serão soberanos na escolha do destino a dar àquele espaço. Seria bom que assim fosse. Veremos se assim será, até porque aquela zona pode ser a ancora, e/ou o aprimorado remate, da urgente e necessária ordenação da orla marítima de Santa Clara, que apesar de tudo, é a única em Ponta Delgada a manter o seu perfil natural (mais ou menos original), inserindo-se neste, ainda, a “ponta delgada e rasa”, que deu a Ponta Delgada o seu nome.
Porém, e porque os “senhores do poder”, ao contrário do que nos pretendem fazer crer, continuam a existir – e não de modo muito diferente ao que, destemidamente, em 1968 o Padre Fernando denunciou –, não estou convencido da generosidade ali subitamente manifestada: é que não há nada melhor do que umas quantas toneladas de betão – no caso de Santa Clara, perfeitamente dispensáveis – para conciliar determinados interesses (veja-se o caso da Calheta de Pêro Teive). Também por isso temo que o melhor proveito para os santaclarenses não coincida com o das partes ali em disputa.

A. O. 09/09/08; “Cá à minha moda” (Revisto e acrescentado)