terça-feira, setembro 13, 2011

Anthero de Quental (18/04/1842 – 11/09/1891)


Solar do Bom Despacho, Rua direita do Ramalho, Santa Clara - Ponta Delgada - Açores
Propriedade pertencente à famíla de Antero de Quental, e por ele muito visitada

Casa onde nasceu Antero de Quental. Rua do Castilho, São Sebastião - Ponta Delgada - Açores

Por ser o nosso maior, porque nunca é demais recordar Antero, permitam-me que, com sua e vossa licença, o convoque aqui para este espaço.
Antecipadamente agradecido.
Ponta Delgada, 11 de Setembro de 2011

Excertos da carta autobiográfica enviada a Wilhelm Storck, Maio de 1887

“Nasci nesta ilha de São Miguel descendente de uma das mais antigas famílias dos seus colonizadores, em Abril de 1842.

(…)
Dela saiu, no século XVII. O Padre Bartolomeu de Quental, varão douto e de grandes virtudes, fundador, em Portugal, da Congregação do Oratório, e cujos sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade. Meu avô, André da Ponte de Quental, foi da roda de Bocage, e, segundo o testemunho deste, poeta nada vulgar; infelizmente, nada resta das suas composições porque as não escrevia. A sua reputação morreu com ele.
(…)
Morrerei, depois de uma vida moralmente tão agitada e dolorosa, na placidez de pensamentos tão irmãos das mais íntimas aspirações da alma humana, e, como diziam os antigos, na paz do Senhor! – Assim o espero.”
Fotobiografia, INCM, Abril de 1986

E três sonetos mais ou menos a eito:

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Sonho oriental

Sonho-me às vezes rei, n’alguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha…

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente …
Lambe a orla dos bosques vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha…

E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto n’um cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descalça debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.

Aspiração

Meus dias vão correndo vagarosos,
Sem prazer e sem dor parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.

Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém, do pressentir dá-ma a certeza,
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!


A.O. 13/09/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)

(um destes dias, após me decidir por quais, coloco mais um ou dois sonetos do "santo")