sábado, novembro 12, 2011

Pois é... “não se ponham a pau”, não!



Incomoda-me muito menos assistir à forma “mandona” e prepotente como a chanceler Merkel e o presidente Sarkozy tratam os “seus pares” europeus, do que – sobretudo quando acomanhado da indiferença dos que lhes são mais próximos e deles até se dizem seus amigos –, presenciar, ouvir, ou pura e simplesmente apenas admitir terem existido as tão ufanas quanto autoritárias sentenças dos recém chegados “salvadores da pátria”, alguns deles (não tão poucos assim), autênticos “salazarzinhos”, pretensos aprendizes da arte de bem subjugar.
Como é habitual nestas ocasiões, com excepção dos mais poderosos (ou daqueles que ao passarem pelo poder poderosos também se tornaram, pelo menos perante a Justiça: lista que cresce a cada dia que passa), “tudo o que mexe leva”. Para os novos “pais da pátria” (e nisso até o outro - o Salazar “à sério”- se preocupava em parecer mais justo) parece ser mais fácil “sacar” 50% de um salário mínimo a quem ganha pouco mais de 600€/mês, do que retirar uma pensão vitalícia, de milhares de €/mês, que outra origem não teve do que o desempenho, temporário (que quando mais breve fora, tanto melhor teria sido), de um cargo político. Como mais fácil também parece ser sobretaxar um bem de primeira necessidade, tipo água e luz, quando se desfazem em cerimónias para taxar bens de luxo, ou rendimentos privilegiados.
Mas não se pense ser só a este nível que se assiste à enorme degradação da vida democrática, pelo menos tal como a temos conhecido nas últimas três para quatro décadas. É que este afã autoritário nem as instituições poupa. Tal como as Autonomias (dos Açores e da Madeira – das quais nem sou grande defensor: em especial para os Açores ambiciono muito mais), que têm atraindo sobre si fortes e nefastas agressões.
Para não ir mais longe (nem recuar muito):
- Quem já se esqueceu das “corajosas”, “justas”, “muito bem fundamentadas” e “exemplarmente dialogantes” sentenças do Ministro Miguel Relvas, aquando da sua reunião com os deputados eleitos para o Parlamento Açoriano, sobre a “RTP/A, janela”?
- Ou ainda mais recentemente, quando, como se já não existisse Governo dos Açores, Órgãos de Poder Local são directamente contactados pelo Governo de Portugal, para lhes ser pedido parecer sobre a “Reforma da Administração Local”, como se esta, nos Açores, não fosse competência NOSSA.
“Inconstitucionalidades” existem muitas, para todos os gostos e “feitios”. Com os Açores como pano de fundo, algumas, como já testemunhamos, até provocaram interrupções de férias e exigiram cerimoniosos e avultados “temos de antena”. Porém, para outras, não faltarão “orelhas moucas”. Podem ter a certeza!
Por tudo isso, nestes dias, tenho-me lembrado, e muito, daquele sermão proferido por um pastor luterano, em pleno nazismo, que, mais coisa menos coisa, assim rezava:
“Um dia vieram e levaram o meu vizinho judeu. Não sendo judeu, não me incomodei. No seguinte vieram e levaram outro vizinho, que era comunista. Não sendo eu comunista, também não me incomodei. Ao terceiro dia vieram de novo e desta vez levaram um vizinho católico. Como não era católico, voltei a não me incomodar. Ao quarto dia levaram-me: já não havia mais ninguém para reclamar!”
Não, “não se ponham a pau”, não!


A.O. 08/11/2011; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)