Quer o referendo realizado na Escócia, quer aquele que, na Catalunha, os
“espanhóis” tudo fazem para evitar que se cumpra, devem ser casos a acompanhar
com mais tempo e maior detalhe do que aqueles que a eles têm sido habitualmente
dedicados.
O caso escocês é exemplar. Não só porque nunca “uma derrota” foi tida por tão
vitoriosa, mas, e sobretudo, porque a mais velha democracia do mundo, afora as
suas deficiências, continua sendo exemplo de boas práticas democráticas, em
especial quando comparada com Espanha e Portugal, seus “velhos” e principais
competidores na demanda pelo mundo, quando se tratou de construir um Império. Diferente é o caso catalão: ou, aliás, o esforço que “Castela” está efectuado
para que o Referendo na Catalunha não se realize (passe o exagero, lembra o que
se passou, embora em sentido contrário, no Leste da Ucrânia: prepotência
imperial!). O desenrolar do processo dá bem nota de como continuam deixando
marca as ditaduras que, praticamente até ao último quartel do século XX, se
mantiveram a sudoeste dos Pirenéus. Um estigma tanto mais profundo quanto mais se
avança para ocidente na península. É que, apesar de tudo, os catalães – tal
como os bascos, galegos, canarinos e outros –, embora agora aparentemente impedidos
de se manifestarem em referendo secessionista, já há muito “ganharam” o direito
de democraticamente fazerem a defesa das suas aspirações independentistas.
Outra, para pior, é – e permanece, após já quase meio século de alguma democracia – a
sorte dos Povos Açoriano e Madeirense, a quem esta pretensão não só lhes está
vedada como é equiparada a fascismo!
Numa democracia civilizada e madura, tal como a inglesa, o Referendo é o
instrumento ideal para aferir a vontade emancipalista de um Povo. Mas, antes
deste, outros passos tiveram necessariamente de ser dados: a organização
política dos que defendam este desiderato é um deles (o que até na Espanha já é
permitido).
Não consentir a criação de partidos defensores da Independência dos Açores
(e da Madeira) é um dos sinais de como é curta, frágil e insegura a Democracia
Portuguesa. Será ainda culpa de Salazar?
AO. 08/11/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)