Não sendo, poderá, no entanto, parecer paradoxo: - Santa Clara é ... aldeia na cidade!
A sua característica feição toponómica, a solidão da sua rua "direita", longa e tortuosa como afinal são a de todas as aldeias, os costumes da sua boa gente, e até mesmo a típica pronúncia dos seus naturais, levam-nos a afirmar, sem receio de qualquer comentário, menos sincero, que Santa Clara, o nosso populoso bairro, é de facto aldeia na cidade.
Na sua igrejinha, humilde e simples, pequenina e linda, na sua encosta, ora areenta e baixa, ora alta e escarpada, no seu geral aspecto, ora sombrio triste e solitário, ora movimentado alegre e tipicamente singular, o velho bairro de Santa Clara sugeriu, na sua existência e nos hábitos da sua modesta gente, estas considerações, a quem de perto, bem perto, sentiu e viveu, durante alguns anos, a vida que se vive no seio desta pitoresca aldeia da nossa Ponta Delgada.
Santa Clara, que em tempos idos fora por excelência o primeiro bairro piscatório açoriano, e onde durante vários anos o destino das gerações se sucediam sempre sobre o mar, é hoje, sem dúvida, o nosso maior centro operário.
Um dia, esse mar que levara o avô, levou o pai, e mais tarde o irmão também!
E nesse roubo impiedoso e cruel perdeu o mar um escravo, um amigo, e finalmente uma geração inteira. E os anos sucederam-se e, espalhando-se pelas mais diversas artes, o pescador, por sangue, trocou pelo mar o torno e a forja, o malho e o martelo, o compomedor, o metro e o livro, o escopro e a brocha, o pincel e as picaretas, a vassoura e até mesmo o sacho! Tudo, tudo ... mas o mar ... esse ladrão ... não! Esse, nunca, nunca mais!
E o bairro que ontem fora piscatório é hoje sem dúvida um dos maiores centros operários açorianos!
Mas para que se dissipe qualquer dúvida sobre as afirmações que acabamos de fazer, damos, aos nossos leitores amigos, breves traços, leves pinceladas da estranha mas simples vida íntima da grande família do popular e simpático bairro de Santa Clara.
Abertura de um extenso e detalhado texto da autoria de Lopes de Araújo, publicado sob o mesmo título em A Ilha, a 12 de Julho de 1947
A sua característica feição toponómica, a solidão da sua rua "direita", longa e tortuosa como afinal são a de todas as aldeias, os costumes da sua boa gente, e até mesmo a típica pronúncia dos seus naturais, levam-nos a afirmar, sem receio de qualquer comentário, menos sincero, que Santa Clara, o nosso populoso bairro, é de facto aldeia na cidade.
Na sua igrejinha, humilde e simples, pequenina e linda, na sua encosta, ora areenta e baixa, ora alta e escarpada, no seu geral aspecto, ora sombrio triste e solitário, ora movimentado alegre e tipicamente singular, o velho bairro de Santa Clara sugeriu, na sua existência e nos hábitos da sua modesta gente, estas considerações, a quem de perto, bem perto, sentiu e viveu, durante alguns anos, a vida que se vive no seio desta pitoresca aldeia da nossa Ponta Delgada.
Santa Clara, que em tempos idos fora por excelência o primeiro bairro piscatório açoriano, e onde durante vários anos o destino das gerações se sucediam sempre sobre o mar, é hoje, sem dúvida, o nosso maior centro operário.
Um dia, esse mar que levara o avô, levou o pai, e mais tarde o irmão também!
E nesse roubo impiedoso e cruel perdeu o mar um escravo, um amigo, e finalmente uma geração inteira. E os anos sucederam-se e, espalhando-se pelas mais diversas artes, o pescador, por sangue, trocou pelo mar o torno e a forja, o malho e o martelo, o compomedor, o metro e o livro, o escopro e a brocha, o pincel e as picaretas, a vassoura e até mesmo o sacho! Tudo, tudo ... mas o mar ... esse ladrão ... não! Esse, nunca, nunca mais!
E o bairro que ontem fora piscatório é hoje sem dúvida um dos maiores centros operários açorianos!
Mas para que se dissipe qualquer dúvida sobre as afirmações que acabamos de fazer, damos, aos nossos leitores amigos, breves traços, leves pinceladas da estranha mas simples vida íntima da grande família do popular e simpático bairro de Santa Clara.
Abertura de um extenso e detalhado texto da autoria de Lopes de Araújo, publicado sob o mesmo título em A Ilha, a 12 de Julho de 1947