domingo, agosto 05, 2012

Os eirós da Calheta de Pero de Teve



O antes, e um depois diferente da porcaria que lá está feita:
Mesmo não sendo para ficar como antes, podiam ao menos manter a enseada, o seu espelho de água e o uso da interessante muralha (que se mantém mas agora sem sentido). Mas, claro, não havia lugar para os "elefantes brancos", nem para os interesses privados que por regra são mais protegidos pelos decisores políticos do que o interesse público.  


De há uns anos a esta parte (digamos, grosso modo, uma dúzia deles), “meia volta, volta e meia”, quase sempre em período pré eleitoral mas sempre sem que se vá “até ao fundo da questão”, os “negócios” da Calheta de Pero de Teve “saltam para os jornais”.

Recordo-me de ir em criança, com outras crianças da altura (agora todas já na casa dos sessenta, mas que felizmente ainda estão por aí), para o ponto encontro do mar com varadouro poente do “porto da Calheta”, que quando a maré estava vazia, numas poças que recolhiam água salobra que de terra jorrava, se viam e apanhavam eirós. Aquela calheta, os seus dois varadouros, a confrontar com o tão austero quanto belo paredão (contendo diversos pontos de acesso ao natural “espelho de água” que a pequena enseada proporcionava), uma robusta construção que protegia as características casas que ali ainda existem transformando aquela histórica frente de mar numa zona muito pitoresca de Ponta Delgada, com tudo o mais que outrora fizera daquele local um dos importantes portos desta longitude da ilha, foram, de supetão, barbaramente entulhados e assim destruídos.

Este sim, foi o principal “crime” que vitimizou aquela zona: o primeiro, o “pai”, o originador de todos os outros “crimes” que se lhe seguiram. Os “elefantes brancos” depois ali plantados, que agora, e mais uma vez, dão azo a animada “esgrima política”, mais não são do que a natural – e pretendida – consequência daquele criminoso aterro. Um complexo emaranhado de interesses que umas vezes mais discretamente, outras nem por isso, parece que ainda não deixaram de alimentar os “eirós” e as “enguias” que empenhadamente contribuíram para a destruição do natural habitat dos verdadeiros (mas agora já lendários) eirós da Calheta de Pedro de Teve.

O processo de regeneração é lento (nem a mais velha democracia do mundo é exemplo de virtude) e é por isso que acredito que não basta mudar: há que RENOVAR. Só a renovação, nomeadamente a geracional e muito especialmente a das mentalidades, sobretudo ao nível das lideranças, é deveras regeneradora.
Como tudo seria mais fácil se isso não fosse, aparentemente, tão difícil de entender!

A.O. 06/08/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)