No meio de uma sociedade
indiferente, que se atrofia e definha com as intermináveis espoliações do
fisco, nunca é demais um estímulo.
Temos sido demasiadamente
brandos. E não basta o protesto de hoje, porque a sangria foi grande; é
necessário que não deixemos os governos provocar a seu talante as hemorragias
continuadas. Façamos a homostase de uma vez para sempre para que não dêem
connosco na sepultura.
O Povo Açoriano, (…), precisa de
saber as causas da sua degenerescência, os motivos das suas angustias, as
razões da sua fraqueza. Degeneramos, porque nos esgotam com impostos; sofremos,
porque não temos tido energia para repelir imposições; somos fracos, porque
queremos, porque não há coesão política, porque não nos unimos nas horas de
combate e porque temos a ingenuidade de acreditar em promessas do poder
central.
(…)
Os governos portugueses há mais
de vinte anos que deixaram de desempenhar o papel sublime, a que os obriga a
ascensão às culminâncias do poder. Esqueceram-se as noções antigas de economia
e moralidade, diminuindo dia a dia o respeito pela lei. As garantias de
liberdade foram sofismadas, a podridão de costumes e de caracteres determinou
as lutas apaixonadas de uma política demente, resultando de tudo isso o desprezo
pelas imunidades populares. Hoje para ser ministro basta saber minar como
toupeiras, farejar como cães e ter reputação de talento superior. A
experiência, porém, vai demonstrando que para bem governar mais vale o
escrúpulo da honradez impoluta do que as transcendências de um talento
fenomenal.
Os açorianos estão fartos de
discursos e de deficits, de promessas
e de asneiras. Parece que o país chegou à inverosímil mas real colisão de ter
mais gente talentosa que honrada! É de temer que neste evolucionar da espécie,
o cérebro venha a queimar com as suas fosforências as flores delicadas da
consciência humana…
Para os que ainda o não notaram –
embora ao revisitar “Questões Açorianas” não me saiam da cabeça um sem número
de iluminados e predestinados “salvadores da pátria” do Século XXI –, os
trechos atrás transcritos, não obstante a sua quase integral actualidade, são
da autoria de Gil Mont’Alverne de Sequeira e datam de 24 de Julho de 1891 (quatro anos depois mudou qualquer coisinha).
A.O. 16/03/2013; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado e com outro título)