“Brigam
dois se um quer”, refrão velho e acertado, não é porém, como quase todos
os outros aforismos populares, uma verdade absoluta!
Em
Santa Clara, onde nasci e cresci, havia um generalizado hábito – não creio ser
exclusivo de Santa Clara, mas só lá o presenciei –, quase sempre estimulado por
terceiros que não os dois contendores em confronto, que tinha por objectivo
impelir uma luta entre dois rapazes. Acontecia quando o “conflito” estava quase
a ser amenizado, em regra porque um deles, o mais ponderado, o mais das vezes o
mais forte e seguro de si, o tentava evitar. Nesta ocasião sempre havia alguém
que “picasse” para que a coisa não ficasse por ali. O costume era, um dos
“outsiders”, geralmente mais velho que ambos os “putos” em questão, colocar “um
pauzinho” sobre o ombro de um deles – tendencialmente do adversário daquele que
conscientemente procurava evitar “a briga” –, dizendo ao outro: «Vê lá se és
capaz de “tirar o pauzinho”, se não o tirares é porque tens medo dele!». É
óbvio que “a briga” começava logo ali, geralmente acabando sem grandes
consequências, e, apesar de tudo, muitas vezes cimentando amizades que se
prolongaram pela vida. As excepções existem, mas são irrelevantes!
Também
só excepcionalmente o vencedor “da briga” não era aquele que, sensatamente, a
tinha procurado evitar. Claro que “aos terceiros”, com pouco a perder fosse
qualquer que fosse o desfecho da refrega, o que mais interessava era o
espectáculo e só por isso o incentivavam, para tal chegando a convencer aquele
que pela consequência lógica dos acontecimentos logo se tornaria vítima, que o mais ponderado, mais seguro de si e em
regra mais forte, estava a evitar “a briga” por fraqueza ou por alguma
debilidade momentânea: não por ponderação, humildade (aquela que só alguns
vencedores têm) e interesse geral de todo o grupo.
Logo
que “a briga” acabava tudo voltava ao normal. Ainda antes de “saradas as
feridas” já todos tinham percebido que afinal não brigam dois só porque um
quer; que “os terceiros”, “moquencos” e ávidos de por uma “briga”, tinham sempre
uma enorme cota parte na demanda. Mas algum tempo depois já se tinham esquecido
da lição, caindo de novo noutras “esparrelas”!
A.O. 28/09/2013; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)