segunda-feira, outubro 25, 2004

CIDADE MINHA

Das nuvens onde voava
Vi-te cidade minha
À noite, brilhando!
Vi-te bela e algemada
De mil cores vestida.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita em manso prado
Salpicada de luzes, colorida.
E amei-te serenamente.
Cidade minha, cidade bela.
Cidade de Santa Clara
Ponta estreita e delgada.
Pareces o céu estrelado,
Brilhando na noite,
Paraíso terreal
Onde sonhei uma infância
Descuidada e feliz
Sem ódio nem inveja,
Pelas tuas ruas estreitas.
Sem a malícia do malvado
Esparramado pelo chão da ira
E do impropério que resvala
No palácio senhorial,
Ou se arrasta pelo adro
Da igreja secular,
Carregando aos ombros
A luxúria de bêbado
Impotente e alvar
Que ao som dos sinos
Em abjecto escárnio
Abomina o talento
E o sucesso dos outros,
Inventando perfídias
Que lhe alimentam
O vazio porco
De imunda existência
E baixa condição.
Vi-te cidade minha
De torres e jardins,
Bordada de montes e mar
Vi castelo e pomar
E, sempre do ar,
Bebi perfumes
Ao recordar feliz
Que fui alguém
Por em ti nascer.
Inalei sons do teu canto
E apreciei o teu falar
Que ninguém ama
Senão os filhos que geraste.
Vi fontes e tanta gente,
Alegre ao passear.
Vi homens a pescar
E mulheres de encantar.
Vi sábios e estudantes,
E crianças a brincar.
Vi políticos a mandar
E nababos a descansar.
Vi velhinhos a chorar,
Por terem de te deixar.
Vi velhacos a enganar,
E Pobres a trabalhar.
Vi ricos a penar,
Por medo de gastar.
Vi ventos e chuvas
E males de espantar.
Vi bonança e céu azul,
E verdes de estontear.
Vi circos a bailar,
Vi pintores a decorar.
Vi poetas a chorar,
Vi bruxas, vi fadas,
Tanta coisa de pasmar.
Vi-te cidade minha de noite a brilhar.
E brilhando ficou minh’alma,
Ao lado da tua a descansar.

CARLOS MELO BENTO
Outubro de 2000