terça-feira, junho 19, 2007

Um tiro no “porta-aviões”

Não sei porquê – talvez tenha algo a ver com a data em que “foi para o ar”; 6 de Junho –, mas foi praticamente nenhum o eco que entre nós se ouviu da mais recente, e como sempre acutilante, “alfinetada” de Ana Gomes sobre a forma, quase negligente, como os interesses dos Açores são defendidos por Portugal no “Acordo das Lajes”, realçando o facto do documento, ratificado pelo Parlamento português em 1995, e que por via disso tem para Portugal estatuto de Tratado Internacional, não obrigar de forma recíproca os EUA.
A partir de finais da década de 70, por razões que se demonstram cada vez mais óbvias – não explicitar a capacidade dos Açores gerarem avultadas receitas próprias por conta das contrapartidas financeiras provenientes da utilização pelos EUA “da sua” 65th Air Base Wing, na Terceira, Açores –, deu-se início uma estratégia que visando alegar a desvalorização do interesse geo-estratégico do arquipélago – e da base –, rapidamente transformou em espécie os pagamentos correspondentes à sua utilização. Resultam daí: a FLAD (chorudas fortunas em Lisboa/míseras migalhas para os Açores); amplos arsenais empilhados com material bélico (milhões de euros com pouca ou nenhuma utilidade), e, para os aborígenes locais, pouco mais do que alguns postos de trabalho (cada vez em menor número e de maior precariedade).
Não é que nada disso – e até muito mais – já não tenha por cá sido dito, escrito e denunciado. Acontece que 500 anos de isolamento (e outros tantos de terna submissão) deixam marcas. Uma delas é a recorrente depreciação das nossas próprias capacidades; “tudo o que vem de fora é melhor e mais importante” (mesmo as notícias). Não será perda de tempo rever com atenção a lúcida prosa de Mário Crespo e Ana Gomes (SIC-Notícias, Jornal das 9, 6/6/07).
Do próprio, in A. O. 19/06/07; “Cá à minha moda”