terça-feira, novembro 24, 2009

A face visível das forças ocultas





Já não é só o futebol. Os Pintos, os Costas e os Loureiros agora já não são os mesmos, e há outros, muitos outros. Aparecem de onde menos se espera. Infelizmente, só a ponta do iceberg anda à vista. Não admira pois que no ranking dos países menos corruptos, que a Nova Zelândia e Dinamarca lidera, e onde a Somália, o Sudão e o Iraque ocupam os últimos lugares, a “ocidental praia lusitana”, como que dramaticamente atraída para o lodaçal, reserva ecológica onde parece prosperar a fina flor do entulho – e da sucata –, em cada ano que passa afasta-se ainda mais dos primeiros daquela lista. Isto, quando a tabela publicada ainda não reflecte as repercussões das mais recentes depravações, em especial, no que respeita às negociatas com o “Império da Sucata”, cujo soberano, detentor de privilegiada “via verde” para acesso aos poderosos, não obstante as cumplicidades comprovadas, tal como noutros casos, irá com certeza “cair” sozinho!
Pena que às primeiras páginas só cheguem as transacções de elite, fenómeno que a própria ordem jurídica já segmenta por mercados (a grande, e a pequena), uma infecção que para chegar ao topo tem de percorrer, desde a base, um longo e perverso caminho. O mais das vezes, iniciando-o com actos aparentemente irrelevantes, raramente noticiados, mas que, até pelo despotismo que revelam, logo denunciam os óbvios pequenos passos com que se inicia um longo e rentável percurso. Ou não serão destas “traficâncias” que se trata, por exemplo, no caso do funcionário camarário que é deslocado de determinada freguesia (onde até ali desempenhava função tida por relevante) só porque nas eleições para a Junta local ganhou um partido diferente daquele que se manteve o poder no Concelho que integra a Junta em causa?
Todos sabemos que, mesmo sujeitos às sevícias da nova censura, onde a publicidade institucional tem mais eficácia que o antigo “homem do lápis azul”, títulos como: “Vara ao Sol”, “Aglomerado de Penedos” ou “Figo de luxo”, ainda se lêem mais vezes do que, por exemplo: “Coveiro desaparecido”! Mas, e porque “é de pequenino que se torce o pepino”, também se sabe, que, só quando acabarem as pequenas traficâncias, poder-se-á, um dia, admitir ver reduzido o tentacular (e já institucional) polvo, eficazmente domesticado pela elite dominante (seja ela qual for)!

A.O. 24/11/09; “Cá à minha moda" (Revisto e acrescentado)