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A ida era sempre mais apressada. Volvida a esquina do Carvão logo se deparava com a rectilínea Rua de Lisboa, ou Formosa, já que este nome em tempos também tivera e assim ainda era conhecida. Moderna, pavimentada, com generosos passeios, ponteados por modestos mas bonitos e eficazes candeeiros, muito fluída para a época (desde que se não estivesse em época de laboração da Fábrica do Açúcar), num triz chegávamos ao Largo 2 de Março: à cidade, que segundo a gíria só ali começava.
A ida era sempre mais apressada. Volvida a esquina do Carvão logo se deparava com a rectilínea Rua de Lisboa, ou Formosa, já que este nome em tempos também tivera e assim ainda era conhecida. Moderna, pavimentada, com generosos passeios, ponteados por modestos mas bonitos e eficazes candeeiros, muito fluída para a época (desde que se não estivesse em época de laboração da Fábrica do Açúcar), num triz chegávamos ao Largo 2 de Março: à cidade, que segundo a gíria só ali começava.
O regresso
fazia-se com outra pausa. Por baixo, mais junto ao mar, pela “Santa Clara
velha”, calcorreando um sinuoso percurso, antiquíssimo: com mais de quinhentos
anos. Percorrendo-o,
mesmo que inconscientemente trilhava-se História, que, ora mais remota ora mais
coeva, se sentia presente a cada passo dado numa via então maioritariamente de terra batida.
Era
dupla a esquina de referência na volta: a do Hospital e a da não menos memorável
farmácia a ele anexa! O Castelo de S. Brás não passava despercebido, porém,
sendo verdade que quer um quer outro fossem “paredes meias” com a arcaica Rua
de Santa Clara – mais tarde dividida em Rua Teófilo Braga e Primeira Rua de
Santa Clara (esta última com indecisões de identidade que ainda hoje persistem e se
testemunham na esquina da Rua José Bensaúde e numa das esquinas “do Calço”) –,
dada a majestade de ambas aquelas construções ninguém se atrevia a negar ainda “estar na cidade”. A bem dizer, Santa Clara só começava após “a canada da
doca” (actual Av. Kopke). Além do cheiro a maresia, a presença de muitos
marítimos e outros trabalhadores do porto, tal como operários e mestres das
diversas artes requeridas pela antiga “Junta Autónoma do Porto” ajudavam a
definir “a fronteira”. Mas as marcas do percurso – sobretudo as retidas pela
saudade e alguma nostalgia de quem percorreu aquele caminho a meados do século XX – só se
tornavam nítidas depois de ultrapassada a Rua da Vila Nova de Baixo (actual
João Francisco Cabral). E começavam já ali, dependendo da hora, com a azáfama
originada pelo “Barracão de Peixe”. Mas logo continuava: a Loja do Sr. Tapia e
a sua discreta idiossincrasia; a Barbearia do Sr. Silva, com a muita banda
desenhada e as várias colecções de cromos que lá se vendiam; a torrefacção dos Bettencourt
e o seu característico aroma a farinha de milho torrado. E continuava do outro
lado da rua: a Pastelaria do Sr. Lopes (na casa onde nascera Teófilo Braga, S.E.&O.), os seus bolos de arroz e bolachas de limão; a entrada para o
“Estradinho”, antiga “porta para o mar de Ponta Delgada”, acesso para o recinto
de banhos onde um sem número de pessoas "daquelas bandas" aprenderam a nadar (com minúsculas
piscinas, uma poça entre pedras com grossas correntes a servir de módulo de segurança,
e já no mar, o “poceirão” ao lado do qual se esperavam as ondas para fazer “carreiras”);
a Geladaria Esquimó com seus sorvetes e sumos; e, quase no fim do percurso, a “Loja
do Sr. Manuel Pedro”, as “pimentas” (doce de açúcar envolto num palito de cana)
e os gelados caseiros de cacau ou baunilha, cujos sabores a memória ainda
retém.
Passado “o Calço” lá
estava de novo a Rua do Carvão, com o fim da viagem logo ali.A.O. 09/11/2013; “Cá à minha moda" (revisto e muito acrescentado)