domingo, dezembro 15, 2013

Um presépio inesquecível


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Quando as memórias de infância se enredam com presépios, para além daquele que se fazia lá em casa; quase sempre no mesmo canto, quase igual de um ano para o outro e com bonecos tal como “casinhas” já usados pelas gerações anteriores, recordo sempre em simultâneo outros três: o “da Ribeira Grande”; pelo encanto dos movimentos resultantes da sua arcaica mecanização ao que acrescia o prazer do longo passeio que proporcionava. O da Igreja de São Pedro; pela juvenil sensação de aventura que se sentia ao entrar na longa “caverna” que a arte o engenho e a muita imaginação do Padre Baptista criava para ao longo dela instalar as cenas bíblicas que o completavam. E o “da Fábrica do Açúcar”; o mais vezes visitado, já que estava mesmo ali ao virar da esquina”, literalmente!
O grande impulso para o revisitar acontecia quase espontaneamente ao passar no portão principal (alguns metros a Poente do actual). Ultrapassado este, já em frente da “velha balança” era possível ver, localizado à direita dos tanques de descarga da beterraba o amplo armazém que acolhia o objecto daquela impetuosa visita, em cujo interior, como que por um passe de mágica, se “fazia noite”. Rapidamente ficávamos presente um encenado firmamento, quase tão escuro como o breu, onde sobressaíam as muitas estrelas cujo brilho garantia a escassa iluminação ali existente. Um agradável aroma a verdura picada acentuava o despertar dos sentidos que a ausência de luminosidade já havia convocado, para, quando menos se esperava, o forte clarão de um simulado relâmpago iluminar toda a área, revelando e/ou realçando pormenores até ali encobertos. Desaparecidos de cena os coriscos e respectivos clarões, com o regresso à penumbra chegava também um ruidoso fingido trovão, após o qual, sonorizado pela zoada de água a correr, um compacto conjunto de fios brilhantes pendentes, cintilando, criavam a ilusão de uma chuvada torrencial. O tempo passava num ápice. Por vezes até se perdia o primeiro filme da matiné do Coliseu.
A propósito: Inspirado no “Presépio da Fábrica do Açúcar” a partir de amanhã estará patente ao público o “Presépio de Santa Clara”. Visite-o!  

A.O. 07/12/2013; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)