Não, não é só o
facto de após tantos anos Portugal se voltar a organizar enriçado num
presidente, numa maioria e num governo, todos afinados pelo mesmo diapasão, germânico,
quiçá mesmo ariano, que em união nacional lá vai cantando e rindo, levando-nos,
levando-nos sim, de encontro à engrenagem do trapiche que nos irá espremer até sacar a última gota, de tudo, até
do suco vital. Mais do que este emaranhado de interesses pouco recomendável (o
“velho desígnio” sempre inspirou pouca confiança, confirmando-se agora a sua
perigosidade, agravada por os protagonistas estarem a léguas da integridade
política e consistência democrática do seu criador: Sá Carneiro), mais até do que
o consequente autoritarismo, insensível, que lhe está associado, este Portugal
novo, tal como o do Estado Novo, começa também a tornar evidentes os seus
tiques despóticos, centralistas, neocolonialistas e até saudosistas da
“grandeza imperial” a que muitos parecem ainda atados.
A recente
apresentação do “novo mapa de Portugal”, do “Portugal do Mar”, com a pirosa mise en scène que o envolveu, foi disso
exemplo eloquente. Como que se já não bastasse a falácia geofísica da dita “extensão
da plataforma continental”, toda aquela cena nos remeteu para o Portugal
salazarista, o tal Portugal “do Minho a Timor”, com Províncias Ultramarinas e
Ilhas Adjacentes, sujeito a um regime que logo na escola primária iniciava a sua
doutrinação imperial/colonialista, para tal ostentando mapas cujo objectivo
mais não era do que impingir as “grandezas” de um país decadente,
“orgulhosamente só”, supostamente disposto a deixar-se levar por tretas como: “soldados e marinheiros
vitoriosos ou mortos”, tal como aconteceu no caso da Índia, ou: “rapidamente e em força”, logo depois,
tratando-se de Angola.
Propaganda
e manias de grandeza que parecem jamais ter fim, agora já que não em terra
firme, no mar, Atlântico Norte adentro, com uma suposta plataforma continental,
elástica, ajeitando-se para “cercar”, mais ainda, os Açores e a Madeira.
A estes senhores já só lhes falta também dizer,
assumidamente: “Temos uma doutrina e
somos uma força”!A.O. 15/03/2014; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado, incluindo o título)